Da China ou dos Estados Unidos da América? Persiste a disputa. Teria saido de um laboratório? Ou veio mesmo da natureza?
Algumas perguntas técnicas e outras meramente especulações políticas partidárias.
Um livro que já mencionei, em português, Contágio de David Quammen, jornalista científico americano, publicado em 2012 com o título de Spillover: Animal Infections and Next Human Pandemic será citado aqui. A editora é a Companhia Das Letras.
"O segredo é a conectividade", disse-me Epstein ( Jonathan H. Epstein - EcoHealth Alliance). "O segredo é compreender como os animais e as pessoas estão interligados." Diz David. " É aí que está o risco do spillover" (spillover = transbordamento).
"Muitos desses vírus , muitos desses patógenos que migram de animais selvagens para animais dométicos ou humanos existem na fauna silvestre há muito tempo." "Eles não necessariamente causam doenças."
Segundo David, o novo hospedeiro pode ser qualquer animal. O cavalo na Austrália, a civeta-de-palmeira na China, mas muitas vezes é o ser humano, porque estamos presentes de forma tão intrusiva e abundante. Nós oferecemos um sem-número de oportunidades.
Continua David: a história do HIV / Sida, é a de um vírus que saltou para outra espécie e que poderia ter chagado a um beco sem saída, mas não foi o que aconteceu. Em grande parte é uma questão de acaso.
David volta a citar Epstein. " O principal é que quanto mais oportunidade os vírus têm de saltar para novos hospedeiros, mais oportunidades terão de passar por mutações quando encontrarem novos sistemas imunológicos." "Assim mais cedo ou mais tarde um desses vírus acaba tendo a combinação certa para se adaptar ao seu novo hospedeiro." Quammen continua: "Já as taxas de replicação e de mutação de um vírus de RNA, a diferença no êxito de diferentes cepas do vírus, a adaptação do vírus a um novo hospedeiro - isso é evolução." " Não imagine que esses vírus tenham uma estratégia deliberada, disse Epstein. Não pense que eles em si contém uma intenção contra os seres humanos. É uma questão de oportunidade." "Eles não vêm atrás de nós." " De um jeito ou de outro, somos nós que vamos atrás deles."
Concluindo com uma citação importante para mim, David conversa com Epstein. "Mas o que acontece com os morcegos?, perguntei. Por que tantos desses vírus zoonóticos - pelo menos parecem ser muitos - se transmitem para os seres humanos a partir da ordem quiróptera dos mamíferos? Ou será essa a pergunta errada? "É a pergunta certa", disse ele. "Mas creio que ainda não há uma resposta certa para ela".
Podemos entender que os seres humanos estão cada vez mais perto dos animais silvestres. Praticam desmatamentos. Com a reprodução dos seres humanos temos aumento da população que precisa de espaço para viver, morar, como também saciar a sede e a fome. Então o habitat dos animais silvestres vai diminuindo ou desaparecendo. Cada dia mais estamos vendo animais selvagens aparecendo nas cidades e cercanias.
Com a abertura das fronteiras e a facilidade de fazermos viagens facilitamos a circulação de pessoas e junto delas os vírus. A zoonose irá nos acompanhar cada vez mais de perto. É o transbordamento, o contágio. Teremos que ter vacinas prontas para o futuro. Lembrem-se do H1N1 já vamos em quantas mutações? H1N1, H2N2 e H3N2.
Sérgio Toledo
Sobre
Médico ortopedista e do esporte. Pioneiro no alongamento ósseo, transplante de tendões e neurorrafia, como também no tratamento por ondas de choque.
Formado em 1972, pela Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco, hoje UPE.
Pós graduação no IOT (Instituto de Ortopedia e Traumatologia) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Concursado do antigo INAMPS, hoje Ministério da Saúde, já estando aposentado. Atendeu por muito tempo no PAM Salgadinho.