Religiosidade Ideológica
Alisson Barreto
Data da publicação: 3-8-2020
A uma forma de enxergar e buscar a virtude da religião que envereda por nuances de religiosidade marcadas por ideologias. Trata-se de um fator influenciado por correntes filosóficas e que por fideísmo a pensadores pode levar a extremismos, o qual pode ser potencializado por redes sociais.
Para bem compreender do que se trata, convém partir da compreensão dos termos - virtude, religião, virtude da religião, religiosidade, fé, espiritualidade e ideologia - refletir sobre tais e tirar as conclusões buscadas. Sem pretensão de esgotar a definição, mas simplificar, é possível assim resumir:
VIRTUDE é uma prática benéfica e habitual. RELIGIÃO é um conjunto de preceitos, práticas e ritos pelo qual pessoas se identificam como forma de crer e pertença capaz de viabilizar o “religar” a Deus ou a deus(es). VIRTUDE DA RELIGIÃO é uma virtude que impulsiona o indivíduo a querer prestar a Deus o culto que Lhe é justo prestar. RELIGIOSIDADE é uma forma peculiar de buscar cultuar e compreender uma doutrina religiosa. FÉ é uma virtude telogal infusa no coração humano pela qual a pessoa é capaz de crer em Deus. ESPIRITUALIDADE é uma realização subjetiva de uma realidade de fé ou um carisma pelo qual se vive a virtude da religião. IDEOLOGIA é um sistema ideário e valorativo pelo qual se dá uma consciência social, política, econômica ou mesmo religiosa, como se observará.
Considerando o caso do Brasil. Tomando em conta a ilustração dos termos supracitados e considerando que há uma forma peculiar de se buscar cultuar e compreender a doutrina cristã com base em uma forma valorativa e ideária que ensejou em muitos uma forma de consciência social, política, econômica e religiosa que toma como base a polarização entre esquerda e direita, é possível identificar a existência de uma religiosidade ideológica. Ou seja, há uma forma ideológica de se viver uma fé ao ponto de gerar um tipo distinto de religiosidade a qual passo a chamar de religiosidade ideológica.
Segundo essa religiosidade - caracterizada pela visão polarizada dos comportamentos humanos, gerando uma visão dicotômica da realidade e divindo antagonicamente as pessoas - os indivíduos seriam dividos em dois lados da prática religiosa. Em regra a religiosidade ideológica é praticada, principalmente, por dois grupos de praticantes: o dos que dividem as pessoas em “ou de esquerda marxista ou de direita tradicionalista” e o dos que dividem em pobres versus ricos, pretos versus brancos, mulhers versus homens ou brasileiros versus romanos. Tais extremos representam dois polos de uma mesma oposição dualista e em seus debates ignoram a realidade pluralista do país e do mundo.
O problema maior desse dualismo dá-se que, em termos de religião cristã, migram o eixo da busca por estar à direita de Nosso Senhor Jesus Cristo para enquadrar as pessoas entre direita ou esquerda de uma ideologia, ignorando ou negando que para estar à direita de Nosso Senhor Jesus Cristo é preciso ser progressista em alguns campos e conservador em outros. Por exemplo, o Cristianismo é progressista ao trocar o dia da espera (sábado) pelo dia da ressurreição (domingo, dies Domini) e conservador em cultuar o Deus Único; é progressista ao cristificar elementos não judaicos e conservador ao restaurar, ao voltar todas as coisas para Deus.
Observa-se, nos dualismos das religiosidades ideológicas - mais marcadamente a teológico libertadora de Gustavo Gutiérrez e Leonardo Boff e o tradicionalismo relativista de Olavo de Carvalho - há a facilitação mnemónica de dividir as realidades humanas em dois polos, onde se colocam os interesses da classe de seguidores contra as propostas da classe antagônica. Assim, a simplória categorização das realidades humanas em dois pontos, viabiliza a massificação do pensamento ideário e favorece o arrebanhar de seguidores. A atualidade traz um plus: as redes sociais favorecem a conquista do rebanho e seu uso como via de persuasão combate os que não se enquadram no perfil do lado lado a que defendem.
Nota-se, portanto, que a religiosidade ideológica envereda por uma via ideológica onde a religiosidade vivida faz parte de um todo ideológico caracterizado pela visão dualista do mundo ao ponto de trocar o cristocentrismo pela centralidade no lado defendido. Nesse sentido, as coisas deixam de ser observadas em função de Deus, mas a própria compreensão de quem é Deus fica submetida à perspectiva ideológica buscada.
Enfim, é preciso voltar a enxergar Deus como Criador Onipotente e não um enquadrado numa realidade ideológica. Jesus Cristo é o Salvador (não um revolucionário ou tradicionalista) e, portanto, Seu Corpo (a Igreja) deve ser caminho de salvação. Afinal, o Senhor é Deus, não uma ideologia.
Segue a poesia relacionada ao texto em tela:
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Maceió, 3 de agosto de 2020.
Alisson Francisco Rodrigues Barreto
Sobre o autor:
Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió), bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado em Direito Processual (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), tendo também cursado, parcialmente, os cursos de Engenharia Civil (Universidade Federal de Alagoas) e Teologia (Seminário Arquidiocesano de Maceió). Autor do livro “Pensando com Poesia” e escritor do blog “Alisson Barreto” (outrora chamado de “A Palavra em palavras”), desde 2011, e da Revista Pio.
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Alisson Barreto
Sobre
Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió), bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado em Direito Processual (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), com passagens pelos cursos de Engenharia Civil (Universidade Federal de Alagoas) e Teologia (Seminário Arquidiocesano de Maceió). Autor do livro “Pensando com Poesia”, escritor na Tribuna com o blog “Alisson Barreto” (outrora chamado de “A Palavra em palavras”), desde 2011. O autor, que é um agente público, também apresenta alguns dos seus poemas, textos e reflexões, bem como, orações no canal Alisson Barreto, no Youtube, a partir do qual insere seus vídeos aqui no blog.