Alisson Barreto
Conectavírus: uma nova realidade se descortina
25 de maio de 2020
Conectavírus: uma nova realidade se descortina
Descortinando uma realidade onde fica a indagação sobre qual grupo vencerá, se o dos beija-flores ou o dos gafanhotos, o das orcas ou dos tubarões. Convém notar mudanças nas relações entre grupos em situações antropológicas como (I) as colonizações da América, (II) o mundo pós-guerra e (II) a conectividade pós-pandemia. (I) Nas primeiras, a ocupação de espaços foi sustentada pela força bélica dos europeus e recuo ou destruição de povos nativos. (II) Nas segundas, o êxito se dava na conquista sustentável entre a garantia de segurança de fronteiras e o desenvolvimento econômico, este muitas vezes garantido por tratados internacionais. (III) As terceiras relações se dão em contexto de globalização econômica potencializada pela internet e que põem frente a frente visões de mundo completamente diferentes (religiões, ideologias etc.). E, enquanto ensejam conflitos de interesses de coletividades multi-regionais, a situação da atual pandemia causou situações de isolamentos sociais que levou a uma mudança de estágio no cenário globalizante atual, transformando serviços acidentais em essenciais, como o caso da entrega de alimentos. Uma nova realidade se descortina. De repente, os cidadãos se viram conclamados ao refúgio de seus lares. Para alguns, o retorno à celula mater, a família; para outros, a saudade dos familiares e para outros a tentativa de substituir os vínculos familiares por outras coletividades. Mas a apreciação da presença só dos que habitam seus lares ou segundo a distância de segurança. A questão é o que podemos aprender a partir da realidade pandêmica para os dias futuros? Quais benefícios a humanidade pode ter a partir dessa situação? O primeiro bloco de benefícios é o do aprendizado de cuidados que deveriam ser básicos: lavar corretamente as mãos, usar máscaras em quadros virais respiratórios ou de riscos respiratórios e a higienização de roupas e produtos que chegam às casas. O segundo bloco é à revisão da utilidade, qualidade e segurança de serviços e trabalhos à distância, passando a um quadro de necessidade de desenvolvimento e melhor aproveitamento de suas funcionalidades econômicas, educacionais e sociais, incluindo aí as “teleconferências” em festas e encontros familiares. O terceiro diz respeito às situações que requerem reanálise de tecnologias, conforme abordado abaixo. A necessidade de maiores cuidados com a saúde pode levar (a) a melhor utilização de energias limpas, como meios de transportes elétricos, (b) a revisão da salubridade de ambientes coletivos - como supermercados, ambientes de estudos, bancos e academias - e (c) desenvolvimento e melhor utilização de recursos tecnológicos como a inteligência artificial. Nessa terceira linha, é possível adiantar que há sistemas de identificação facial e térmica que possibilitam o reconhecimento de pessoas, de uso de máscaras e possibilidade de febre por meio de inteligência artificial, serviço que já começa a ser utilizado em aeroportos como o de Brasília e que pode ser utilizado em escolas, bancos e órgãos públicos. Some-se a isso aparelhos de higienização de ambientes por meio de raios ultravioleta, entrega de encomendas por meio de drones e sistemas de transportes elétricos e até mesmo informatizados, atendimentos à distância (serviços públicos ou privados, de saúde, jurídicos, educacionais etc.), todos já utilizados e alguns aguardando regulamentação. A pergunta que era se o homem estava preparado passa a ser, o homem vai adaptar-se satisfatoriamente? Além de ensejar outra pergunta: o Brasil ingressará nessa produção e controle tecnológico ou será mero consumidor de tecnologia estrangeira? A resposta a essa pergunta está em outra: o sistema educacional brasileiro continuará sendo medíocre ou vai dar uma guinada? Há um quarto bloco de benefícios que merece ser analisado separadamente. Olhando para dentro do ser humano é possível observar que as células, ainda que sejam diferentes umas das outras trabalham em conjunto no funcionamento do corpo humano, sem que uma tome para si os recursos à subsistência das outras, em perfeita cooperação. Planetariamente, diversos seres vivos habitam e formam equilíbrios em ecossistemas. Mas e quanto ao homem, ele consegue lidar com o equilíbrio de relações no ambiente que o cerca? É preciso, portanto, repensar a sustentabilidade e a capacidade de cooperação nas relações em que os seres humanos fazem parte. A pandemia apresentou à humanidade a importância do papel de cada um para cada outro. No ambiente biológico, o microscópio enxerga o coronavírus; no ambiente humano, os olhos acordam para o “conectavírus”. De repente, brota um convite a enxergar a humanidade como um grande time em que o que cada um faz ou deixa de fazer afeta o desempenho do time. Hoje, numa esfera global, a humanidade é mais uma vez desafiada a enfrentar seus demônios, enxergando quem é quem, quem está disposto a cooperar para o bem comum ou vai querer sugar a última gota de sangue da coletividade. A pandemia enseja refletir a dimensão globalizada em que a humanidade está, como se vê, não apenas em relação à transmissão globalizada de informações pela internet, mas também pelo fluxo de mercadorias e pessoas e, consequentemente, dos micro-organismos que carregam. Por fim, espera-se que a humanidade aprenda a ser mais mais plenamente humana. Já não basta saber que um ser humano não perde a dignidade de pessoa humana, é preciso aperceber-se de quão grande dignidade porta cada um e defendê-la enfaticamente, ciente de que o bem ou mal que um faz espalha resultados aos demais. Até porque a qualidade, o valor e o porquê da dessa dignidade está cada vez mais esquecido ou ignorado. Que o homem não faça da Terra um país destruído por gafanhotos humanos, mas reassuma seu papel de gestor das coisas criadas e partícipe garantidor do equilíbrio planetário, em um cosmos que não se restringe a um planeta! O antropocentrismo tantas vezes tomado pelo egoísmo plasmou uma grande parcela da população em endeusamento do dinheiro e de pessoas. A situação atual alerta para o fosso que é tal escolha e convida a reorientar a centralidade valorativa. Mas a verdade é que, neste momento, existe um antropocentrismo que se salva e pode salvar a humanidade: um antropocentrismo de autodefesa com vistas a um algo mais, o qual se sabe só poderá ser encontrado quando o antopocentrismo se tornar cristocentrismo, inserindo o homem em um antropocentrismo teocêntrico. Ou seja, o homem buscando a perfeição de ser encontra no Homem Verbo a plenitude de seu destino, voltando-se para o transcendente à medida que se desenvolve no ventre eclesial. E o que tem a ver igreja com conectividade humana? Eu diria que a igreja é a realidade “reunitiva” da humanidade, ou seja, que reúne os homens na unidade do Verbo, viabilizando o updating humano na atualização dos mistérios de Cristo na vida de cada um. Entre folhas e flores, a vida segue e nós podemos escolher se seremos abelhas ou gafanhotos, nos mares bravios da vida, onde escolhemos sermos orcas e golfinhos ou tubarões. Afinal, amar ou ignorar é decisão de cada um. A paz na vida é também saber estar em uma uma guerra sem abandonar à sorte os que não conseguem conosco lutar. Vídeo de poesia relacionada: https://youtu.be/Q27_XmYeq80 Maceió, 25 de maio de 2020.Alisson Francisco Rodrigues Barreto
Sobre o autor: Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió), bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado em Direito Processual (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), tendo também cursado, parcialmente, os cursos de Engenharia Civil (Universidade Federal de Alagoas) e Teologia (Seminário Arquidiocesano de Maceió). Autor do livro “Pensando com Poesia” e escritor do blog “Alisson Barreto” (outrora chamado de “A Palavra em palavras”), desde 2011, e da Revista Pio. Alisson Barreto na internet: Site pessoal: Alisson Barreto, acesso em https://sites.google.com/view/alissonbarreto Revista pessoal do autor: Revista Pio, acesso em https://alissonbarreto14.wixsite.com/revistadigital-pio "Blog" do autor: Alisson Barreto, acesso em http://tribunahoje.com/blog/a-palavra-em-palavras/ Twitter: @alissonbarreto1 (acesso em https://twitter.com/alissonbarreto1) LinkedIn: @alissonbarreto1 (acesso em https://www.linkedin.com/in/alissonbarreto1/)
Alisson Barreto
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Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió), bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado em Direito Processual (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), com passagens pelos cursos de Engenharia Civil (Universidade Federal de Alagoas) e Teologia (Seminário Arquidiocesano de Maceió). Autor do livro “Pensando com Poesia”, escritor na Tribuna com o blog “Alisson Barreto” (outrora chamado de “A Palavra em palavras”), desde 2011. O autor, que é um agente público, também apresenta alguns dos seus poemas, textos e reflexões, bem como, orações no canal Alisson Barreto, no Youtube, a partir do qual insere seus vídeos aqui no blog.
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