Alisson Barreto
A discriminação opositora
Nem toda discriminação positiva é promoção.
A proteção ao ser humano tem que ser irrestrita.
Ou não passará de comoção passional e defesa restrita.
ABORTAMENTO E COMPANHIA. O mais lastimável é quando a suposta minoria defendida argui direito de matar ou escravizar indivíduos. Soou estranho? Acaso a mulher que solicita o suposto direito ao abortamento não está pedindo para ter direito de matar quem não nasceu? Acaso quem suscita o suposto direito à legalização das drogas não está pedindo para ter direito à escravidão de consumo por meio do vício? Quando um tribunal ou congresso, seja em que país for, decide por legalizar o aborto, indubitavelmente, decide por autorizar a morte de quem não nasceu, desconsiderando o seu direito à dignidade humana. Ora, a dignidade da pessoa humana é peculiar a qualquer ser vivo que traga em seus genes as características do genoma humano, é direito inalienável, imprescritível, irrenunciável e inegável, devendo ser protegido enquanto se realizarem as características de ser ser humano, o que ocorre da fecundação à morte natural. O genoma humano, portanto, não é algo adquirido com a primeira respiração ao nascer, mas desde que o óvulo materno é fecundado pelo espermatozoide paterno. Isso é óbvio, mas temos que recordar porque juristas e médicos esqueceram essas lições básicas da escola. Se juristas e legisladores decidem desconsiderar um ser humano como pessoa humana por meio de lei ou decisão jurídica e a sociedade aceita, qual a garantia de que, em um futuro, uma lei ou decisão jurídica não poderá desconsiderar uma pessoa de determinada etnia como ser humano?Dignidade humana tem valor natural e ético.
Sem isso é discriminação legalista,
Falseamento da paz, em condão bélico.
LEGISLAÇÕES PROTETIVAS. Um dos problemas atuais é que agrupamentos se empenham em proteger determinados grupos humanos em detrimento de outros, em vez de proteger indiscriminadamente quaisquer seres humanos que sofram discriminação. A ineficiência do sistema educacional público tem que ser cobrada de quem colocou as ideologias acima do desenvolvimento humano e da capacidade competitiva e solidária que se deve promover em um país que quer tornar-se competitivo e humano no cenário global. O pobre tem que ter reforço em sua educação (também alimentação e higiene) porque precisa de pão e educação de boas qualidades, não em função da cor de um ou de outro. O pobre precisa ser amparado não por sua cor ou sexo, mas em função de sua peculiar necessidade de amparo estatal e promoção de desenvolvimento humano e social. Tal promoção deve ser por adequada formação, não por artificialismos legais. GLOBALIZAÇÃO, ANTROPOLOGIA E IMPACTOS HUMANOS. Uma dos fatores de o ser humano ser um ente social (Ubi Homo Ibi Societas, como dizia Ulpiano) é sua natural propensão a ir ao encontro do outro. Ao ir ao encontro do outro, formam-se agrupamentos e agrupamentos requerem ordenamentos, os quais geram normatividades. Quando esses agrupamentos se deparam com outros agrupamentos ocorrem encontros de culturas, que podem gerar confluências ou divergências. A internet e a globalização comercial colocaram culturas e ideologias muito distintas frente a frente. Quando as linhas ideológicas tomam a dianteira, interesses são defendidos como se fossem direitos e as bandeiras gritam mais do que os argumentos. Mas as sociedades estarão cada vez mais em contato com o diferente e precisarão decidir como lidar com pessoas que creem em Jesus ou Maomé, se ouvem a biologia ou a ideologia, o pensamento racional ou passional. Se o homem desistir de pensar, deparar-se-á, por exemplo, com fichas médicas que se esquecem do que significa a palavra gênero na ciência (só para lembrar, na Biologia, o gênero é classificação que fica entre a ordem e a espécie) e na língua portuguesa (gênero é termo relativo ao geral, nada tem a ver com questão de sexo ou opção sexual. É palavra que dá origem a general). Ora, os ramos de conhecimento têm seus termos próprios, assim, um médico deve agir conforme a ciência médica; um matemático com a linguagem matemática. Se um ramo da ciência abre mão da clareza de sua linguagem técnica fomenta ambiguidades e imprecisões, negando a própria forma de ser da ciência.Ir ao encontro do outro é defrontar-se com o diferente.
Mas quantas vezes olhar para dentro de si não é assim, minha gente?
Nem sempre o que uma pessoa sente é o que faz bem para si.
O outro não é irrelevante como muitos sentem.
Convém observar que muitas das fake News se propagam apenas porque grupos ideológicos passaram a ver o pensamento do outro grupo como irrelevante ou, previamente, falso. Assim, por exemplo, a polarização ideológica separa esquerda da direita levando seguidores de tais lados a se negarem a ler fontes dos lados opositores, deixando de ver possíveis razoabilidades em argumentos. Nisso, observa-se que é possível dizer que muito do que se defende como direito de um grupo é, na verdade, aversão a outro. Assim, portanto, não basta condenar as mortes causadas pelos nazistas, é preciso condenar também as causadas pelos comunistas; não basta condenar os testes feitos com humanos pelos alemães, mas também os feitos por estadunidenses (sim, essa palavra existe e não é ideológica). Em outras palavras, é preciso ir em frente pelo caminho da razoabilidade e do respeito humano, em vez de ser apenas mais um choramingão esquerdista ou direitista. É preciso promover o respeito humano além das cadeias ideológicas e, por conseguinte, voltar a defender as pessoas pelo simples fato de terem, irretiravelmente, a natureza humana. Se o amor não vencer em nós, a humanidade perder-se-á em entrelaçamentos.A vida tem seus percalços, tantos os laços.
Mas o amor tudo supera, quando nele se crê e se espera.
Ele gera a verdade que liberta os passos,
Na ciência, que nos livra de ocasos.
Maceió, 2 de março de 2020.Alisson Francisco Rodrigues Barreto*
*Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo, bacharel em Direito. Auto do livro Pensando com Poesia, da revista digital Pio e do Blog Alisson Barreto desde 2011. https://youtu.be/JGqCXdo5CYgAlisson Barreto
Sobre
Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió), bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado em Direito Processual (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), com passagens pelos cursos de Engenharia Civil (Universidade Federal de Alagoas) e Teologia (Seminário Arquidiocesano de Maceió). Autor do livro “Pensando com Poesia”, escritor na Tribuna com o blog “Alisson Barreto” (outrora chamado de “A Palavra em palavras”), desde 2011. O autor, que é um agente público, também apresenta alguns dos seus poemas, textos e reflexões, bem como, orações no canal Alisson Barreto, no Youtube, a partir do qual insere seus vídeos aqui no blog.