Alisson Barreto
A ministra, a castidade e o carnaval
Ministra, ministra! Ministrais.
O carnaval está começando
E o povo animado, pulando.
Assim, são os carnavais.
A DIFERENÇA ENTRE O QUE A MINISTRA FALOU E O QUE FOI COMENTADO NA TELEVISÃO. Acerca da questão da gravidez na adolescência, a imprensa televisiva noticiou que o governo brasileiro iria fazer campanha de abstinência como o meio a evitar a gravidez. Entretanto, o que o governo encabeçou foi a inserção da abstinência como um meio para se evitar a gravidez na adolescência. A deturpação de transformar um artigo indefinido (um) em artigo definido (o) gera uma falácia terrível. Quando se diz “um meio” de prevenção, não se nega a possibilidade de outros; entretanto, quando se diz que foi dito “o meio”, diz-se que aquele é o meio escolhido, desconsiderando outros. Ou seja, no caso em tela, a substituição do artigo definido pelo indefinido gerou fake News no conteúdo e críticas baseadas em falseamento de notícia. Não obstante, convém analisar o caso da abstinência.De muito o que propagas
A imprensa muda as falas.
Pesa mais o quem dá mais.
A ABSTINÊNCIA: ATÉ QUE PONTO SERIA EFICAZ? A abstinência consiste em um ato de não fazer, não consumir, não executar. Quem faz abstinência de sexo engravida? É óbvio que não. Se uma pessoa que se dedica a viver a abstinência engravida, ela não engravida em situação de abstinência, mas por sair da abstinência. O X da questão é outro. A abstinência é uma alternativa, mas também um risco; uma vez que muita gente, ainda mais em nosso país, tem tendência ao proibido. Assim, por ex., uma pessoa coloca um brigadeiro à sua frente e se diz (na 1ª vez) “não vou comer doce”, (depois) “Não vou comer doce...” e depois até já esquece o não e se entrega ao sabor do doce que lhe apetece. A solução subsiste em permutar o não fazer por um fazer virtuoso. A DIFERENÇA ENTRE ABSTINÊNCIA E CASTIDADE. A abstinência pode realizar-se como aspecto da castidade ou como ato isolado, distinto dela. Para saber bem a diferença é preciso compreender o que castidade, qualidade da pureza. Portanto, sejam observados dois casos: (1) uma pessoa pode ter um foco tão grande nas realidades celestes que vê as outras pessoas com pureza, sem interesse sexual, e isso a leva e mantém em estado de abstinência por castidade. (2) Outra pode olhar pornografia, ter conversas impuras, compartilhar mensagens de safadeza e buscar se negar a fazer sexo para viver a abstinência. Qual das duas você acha que vai conseguir não fazer sexo? Pois bem, o segundo exemplo é o da abstinência por si, mas o primeiro é o da abstinência em decorrência da castidade.Se a abstinência é eficaz,
Depende do porquê de quem a pratica.
Se por pureza ou prática contumaz.
A ESCOLHA NA ADVERSIDADE. Como se viu, a castidade é uma alternativa viável, não apenas religiosamente como socialmente. A questão é como viver a pureza dos pensamentos e intenções diante da exibição de tantos corpos trabalhados em academia para se tornarem atraentes no carnaval? Somam-se a isso fatores como álcool e fenômenos da coletividade. Assim, como uma pessoa pode ser calma em casa e no trânsito ou no meio de uma torcida virar uma fera, agindo irreconhecivelmente; também uma pessoa pode envolver-se com a situação carnavalesca e exceder-se. No tocante à castidade, os antigos diziam: evite as ocasiões de risco. Assim, se uma adolescente quer viver a castidade, mas combina com um paquera, namorado ou “ficante” (o crush, como dizem) para assistir a um filme em sua casa, a sós, ela entra em situação de risco, não por dedução de periculosidade por índole, mas porque em algum momento os anseios químicos do instinto reprodutivo podem assumir o controle cerebral de ambos. Portanto, vive melhor a castidade não é quem acredita na própria força, mas quem exercita outra virtude: a humildade. E por ela, precavem-se. Talvez o leitor tenha ficado a perguntar-se “e no caso dos jovens, no quarto, já tomados pelo ímpeto sexual”? Ora, ali eles teriam que tomar uma decisão forte: ou (A) o não radical e a saída imediata da situação de risco ou iminente sexo, ou (B) (tendo desistido da abstinência) utilizar os meios que a ciência propunha, desde que não atente como a vida, como o fazem os meios contraceptivos abortivos. Ainda assim há uma grande diferença entre as duas opções aqui: em ambos os casos houve falha na prevenção, mas na opção A houve uma saída heroica, ainda que possivelmente ofensiva. Na opção B, entretanto, salvaguardou os jovens da gravidez, mas não os livrou do pecado contra a castidade. Portanto, em se tratando de cristãos ou judeus, houve cometimento de pecado.A abstinência pode não ser o que você queria.
Mas a castidade pode ser o valor que você não sabia.
Quem sabe, refletindo um pouco mais, pense:
Eu via a solução e não percebia.
Enfim, não esperem por televisão ou professores, a responsabilidade de tal educação é dos pais e da própria pessoa. Se você não falar aos seus filhos que eles não precisam fazer sexo, eles ouvirão mais o apelo do “use camisinha” do que ensinamentos do cuidar-se, saber esperar o momento e não se resumir a um genital. O amor previne e o autodomínio liberta. Maceió, 22 de fevereiro de 2020.Alisson Francisco Rodrigues Barreto*
*Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo; bacharel em Direito, pós-graduado; autor do livro “Pensando com Poesia”, da revista digital “Pio” e do blog “Alisson Barreto”. Este, em TribunaHoje.com, desde 2011. (Site pessoal do autor: https://sites.google.com/view/alissonbarreto) [embed]https://youtu.be/5iQFTqpgoAk[/embed]SONETO
A ministra, a castidade e o carnaval
Ministra, ministra! Ministrais!
O carnaval está começando
E o povo animado, pulando.
Assim, são os carnavais.
.
De muito o que propagas
A imprensa muda as falas.
Pesa mais o quem dá mais.
.
Se a abstinência é eficaz,
Depende do porquê de quem a pratica.
Se por pureza ou prática contumaz.
.
A abstinência pode não ser o que você queria.
Mas a castidade pode ser o valor que você não sabia.
Quem sabe, refletindo um pouco mais, pense:
Eu via a solução e não percebia.
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Maceió, 22 de fevereiro de 2020.
Alisson Francisco Rodrigues Barreto
Alisson Barreto
Sobre
Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió), bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado em Direito Processual (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), com passagens pelos cursos de Engenharia Civil (Universidade Federal de Alagoas) e Teologia (Seminário Arquidiocesano de Maceió). Autor do livro “Pensando com Poesia”, escritor na Tribuna com o blog “Alisson Barreto” (outrora chamado de “A Palavra em palavras”), desde 2011. O autor, que é um agente público, também apresenta alguns dos seus poemas, textos e reflexões, bem como, orações no canal Alisson Barreto, no Youtube, a partir do qual insere seus vídeos aqui no blog.