Alisson Barreto

A ministra, a castidade e o carnaval

Alisson Barreto 22 de fevereiro de 2020
A ministra, a castidade e o carnaval
Reprodução - Foto: Assessoria
  Quando o atual governo brasileiro anunciou que uma das campanhas educativas sobre sexualidade seria relacionada à não prática sexual, a imprensa censurou. Ainda mais em tempos de carnaval, convém questionar até que ponto a castidade ou a abstinência poderiam ser instrumentos eficazes na sexualidade. Preliminarmente, convém, se for o caso, deixar de lado preconceitos acerca de quem falou para poder fazer análise adequada. Com preconceitos subjetivos não se faz adequada abordagem objetiva. Assim, valem as máximas de não deixar de ver o coração por conta da face ou religião e de não deixar de ir em frente porque do lado direito estão direitistas e do lado esquerdo, esquerdistas. É preciso ir adiante!

Ministra, ministra! Ministrais.

O carnaval está começando

E o povo animado, pulando.

Assim, são os carnavais.

  A DIFERENÇA ENTRE O QUE A MINISTRA FALOU E O QUE FOI COMENTADO NA TELEVISÃO. Acerca da questão da gravidez na adolescência, a imprensa televisiva noticiou que o governo brasileiro iria fazer campanha de abstinência como o meio a evitar a gravidez. Entretanto, o que o governo encabeçou foi a inserção da abstinência como um meio para se evitar a gravidez na adolescência. A deturpação de transformar um artigo indefinido (um) em artigo definido (o) gera uma falácia terrível. Quando se diz “um meio” de prevenção, não se nega a possibilidade de outros; entretanto, quando se diz que foi dito “o meio”, diz-se que aquele é o meio escolhido, desconsiderando outros. Ou seja, no caso em tela, a substituição do artigo definido pelo indefinido gerou fake News no conteúdo e críticas baseadas em falseamento de notícia. Não obstante, convém analisar o caso da abstinência.

De muito o que propagas

A imprensa muda as falas.

Pesa mais o quem dá mais.

  A ABSTINÊNCIA: ATÉ QUE PONTO SERIA EFICAZ? A abstinência consiste em um ato de não fazer, não consumir, não executar. Quem faz abstinência de sexo engravida? É óbvio que não. Se uma pessoa que se dedica a viver a abstinência engravida, ela não engravida em situação de abstinência, mas por sair da abstinência. O X da questão é outro. A abstinência é uma alternativa, mas também um risco; uma vez que muita gente, ainda mais em nosso país, tem tendência ao proibido. Assim, por ex., uma pessoa coloca um brigadeiro à sua frente e se diz (na 1ª vez) “não vou comer doce”, (depois) “Não vou comer doce...” e depois até já esquece o não e se entrega ao sabor do doce que lhe apetece. A solução subsiste em permutar o não fazer por um fazer virtuoso. A DIFERENÇA ENTRE ABSTINÊNCIA E CASTIDADE. A abstinência pode realizar-se como aspecto da castidade ou como ato isolado, distinto dela. Para saber bem a diferença é preciso compreender o que castidade, qualidade da pureza. Portanto, sejam observados dois casos: (1) uma pessoa pode ter um foco tão grande nas realidades celestes que vê as outras pessoas com pureza, sem interesse sexual, e isso a leva e mantém em estado de abstinência por castidade. (2) Outra pode olhar pornografia, ter conversas impuras, compartilhar mensagens de safadeza e buscar se negar a fazer sexo para viver a abstinência. Qual das duas você acha que vai conseguir não fazer sexo? Pois bem, o segundo exemplo é o da abstinência por si, mas o primeiro é o da abstinência em decorrência da castidade.

Se a abstinência é eficaz,

Depende do porquê de quem a pratica.

Se por pureza ou prática contumaz.

  A ESCOLHA NA ADVERSIDADE. Como se viu, a castidade é uma alternativa viável, não apenas religiosamente como socialmente. A questão é como viver a pureza dos pensamentos e intenções diante da exibição de tantos corpos trabalhados em academia para se tornarem atraentes no carnaval? Somam-se a isso fatores como álcool e fenômenos da coletividade. Assim, como uma pessoa pode ser calma em casa e no trânsito ou no meio de uma torcida virar uma fera, agindo irreconhecivelmente; também uma pessoa pode envolver-se com a situação carnavalesca e exceder-se. No tocante à castidade, os antigos diziam: evite as ocasiões de risco. Assim, se uma adolescente quer viver a castidade, mas combina com um paquera, namorado ou “ficante” (o crush, como dizem) para assistir a um filme em sua casa, a sós, ela entra em situação de risco, não por dedução de periculosidade por índole, mas porque em algum momento os anseios químicos do instinto reprodutivo podem assumir o controle cerebral de ambos. Portanto, vive melhor a castidade não é quem acredita na própria força, mas quem exercita outra virtude: a humildade. E por ela, precavem-se. Talvez o leitor tenha ficado a perguntar-se “e no caso dos jovens, no quarto, já tomados pelo ímpeto sexual”? Ora, ali eles teriam que tomar uma decisão forte: ou (A) o não radical e a saída imediata da situação de risco ou iminente sexo, ou (B) (tendo desistido da abstinência) utilizar os meios que a ciência propunha, desde que não atente como a vida, como o fazem os meios contraceptivos abortivos. Ainda assim há uma grande diferença entre as duas opções aqui: em ambos os casos houve falha na prevenção, mas na opção A houve uma saída heroica, ainda que possivelmente ofensiva. Na opção B, entretanto, salvaguardou os jovens da gravidez, mas não os livrou do pecado contra a castidade. Portanto, em se tratando de cristãos ou judeus, houve cometimento de pecado.

A abstinência pode não ser o que você queria.

Mas a castidade pode ser o valor que você não sabia.

Quem sabe, refletindo um pouco mais, pense:

Eu via a solução e não percebia.

  Enfim, não esperem por televisão ou professores, a responsabilidade de tal educação é dos pais e da própria pessoa. Se você não falar aos seus filhos que eles não precisam fazer sexo, eles ouvirão mais o apelo do “use camisinha” do que ensinamentos do cuidar-se, saber esperar o momento e não se resumir a um genital. O amor previne e o autodomínio liberta. Maceió, 22 de fevereiro de 2020.

Alisson Francisco Rodrigues Barreto*

*Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo; bacharel em Direito, pós-graduado; autor do livro “Pensando com Poesia”, da revista digital “Pio” e do blog “Alisson Barreto”. Este, em TribunaHoje.com, desde 2011. (Site pessoal do autor: https://sites.google.com/view/alissonbarreto)   [embed]https://youtu.be/5iQFTqpgoAk[/embed]  

SONETO

A ministra, a castidade e o carnaval

Ministra, ministra! Ministrais!

O carnaval está começando

E o povo animado, pulando.

Assim, são os carnavais.

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De muito o que propagas

A imprensa muda as falas.

Pesa mais o quem dá mais.

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Se a abstinência é eficaz,

Depende do porquê de quem a pratica.

Se por pureza ou prática contumaz.

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A abstinência pode não ser o que você queria.

Mas a castidade pode ser o valor que você não sabia.

Quem sabe, refletindo um pouco mais, pense:

Eu via a solução e não percebia.

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Maceió, 22 de fevereiro de 2020.

Alisson Francisco Rodrigues Barreto