Alisson Barreto
Extinções profissionais e dignidade na reconfiguração trabalhista
Uma nova tecnologia pode tomar o emprego de alguém
E gerar emprego para outrem
Mas e se a vaga daqui for ocupada em Jerusalém?
A) A DEFASAGEM TECNOLÓGICA RURALIDADE. Voltando no tempo, tome uma sociedade bucólica - viva ela da agricultura, pesca ou caça - ao deparar-se com outras sociedades militarizadas, qual a consequência? A história mostra situações como (1) a expansão do império romano e (2) ocupação do continente americano. Assim, o ataque do metal venceu o da pedra; o do fogo, a da lança e o atômico venceu o kamikaze. Com o tempo, algumas sociedades perceberam que o desenvolvimento educacional poderia gerar uma sociedade cada vez mais competitiva. INDÚSTRIA. Os países que primeiro adentraram na revolução industrial depararam-se com problemas entre proletários e industriais, mas depois solucionaram seus problemas sociais e lideraram o desenvolvimento econômico e social. De modo que, por muito tempo, usamos a classificação entre países industrializados e não industrializados. Mas chegou um tempo em que já não basta ter indústria, é necessário ser o detentor da tecnologia empregada na indústria. Fábricas há em todos os lugares, mas produzir a tecnologia empregada e possuir o capital de domínio sobre uma fábrica é outra história. Em outras palavras, uma fábrica pode ser instalada no Amazonas, mas se o proprietário daquela tecnologia é da Holanda, é a Holanda quem vai lucrar com aquela fábrica, não o Brasil. Nesse exemplo, o Brasil seria apenas o fornecedor de mão de obra e matéria-prima baratas. Como se sabe, o Brasil não investe satisfatoriamente na educação e favorecimento produtivo, de modo que o “seria” da conjetura supracitada é um “é”, em diversas situações fácticas. Basta olhar o exemplo dos grandes bancos privados estrangeiros no Brasil: o país entra em recessão econômica, mas eles sse mantêm em exorbitantes lucros. Para onde o leitor acha que vai esse dinheiro? EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA E EDUCAÇÃO. As tecnologias evoluíram para uma nova realidade, na qual não é mais a mera questão da simplicidade do natural frente a utilização de instrumentos, cada vez mais tecnológicos, e passou à instrumentalização dos utilizadores de tecnologia. Paulatinamente, a realidade virtual passou a ocupar tempo cada vez maior dos utilizadores, indo do lazer infantil ao trabalho adulto. O abismo educacional que separa a qualidade educacional de países como o Brasil da de países desenvolvedores de tecnologias gerou um vão cada vez maior. Enquanto o Brasil tentava iludir com cotas e copas; outros países estavam desenvolvendo o potencial de seus estudantes desde a tenra infância. Com pessoas cada vez menos preparadas (o português de internet, que se reflete em artes digitais, já revela isso), o poder de discernimento fica cada vez mais limitado e a capacidade de manipulação por ideologias ou falácias fica maior. Isso se reflete em níveis governamentais. De modo que o encanto por novas tecnologias, por ex., pode levar governantes a aceitar tecnologias que sejam armadilhas aos seus cidadãos. Quando se paga por tecnologias importadas, normalmente, haverá duas consequência: evasão de divisas e submissão do cidadão. Assim, o cidadão paga por algo cujo dinheiro vai para o estrangeiro e, por exemplo, passa a trabalhar em algo subordinado ao capital estrangeiro.Na era campestre, era tudo natural,
Bastava acordar e ir à roça, o trabalho era natural.
Mas a situação ficou ruça, com tanto desemprego, não há quem possa!
Surgiu o subemprego virtual. E para aumentar: a inteligência artificial.
B) A NOVA DEFASAGEM TECNOLÓGICA CONSUMO PASSIVO. A nova sociedade de consumo acaba por consumir, passivamente, ou seja, sem maiores critérios. É a sociedade que liga a televisão para assistir a o que estiver passando ou compra um celular apenas porque é lançamento. Quando uma pessoa entra em redes sociais ou passa a usar aplicativo mais com o intuito de vanguarda do que por motivos sustentáveis, ela passa a ficar a mercê do que lhe é proposto, podendo ficar muito mais no usar por usar do que por benefícios reais. Isso deixa a mercê de um automatismo que toma tempo, causa acidentes de trânsito e disseminação de notícias falsas.Quando o homem perde as rédeas do seu destino.
Não mais escolhe aonde vai, o peregrino.
Profissões dos antepassados, aquelas com que sonhou,
Já não existem. Ou estão com os dias contados, ó menino!
DIRECIONAMENTO GOVERNAMENTAL. Se os governos não assumirem a própria responsabilidade por suas competências, tentando deixar o futuro de seu povo apenas aos ventos do setor privado, um dia acordará com um país cuja população esteja toda registrada e fiscalizada por empresas e governos estrangeiros. Despertará e verá que nichos profissionais terão sido tomados por inteligências artificiais e aplicativos cujo resultado pecuniário da produção seja, em sua maior parte, destinado ao estrangeiro. Não precisa de maiores detalhes para ver que, enquanto governantes lavem as mãos sobre suas responsabilidades e se ocupem com os resultados de suas retóricas, os rumos da economia de seus cidadãos estarão nas mãos do estrangeiro. Talvez até tais rumos sejam motivados por decisões ministeriais. Se não cuidar, vagas de concursos podem ser tiradas para serem dadas aos amigos do rei ou ao capital alienígena.Um governante, de si mesmo ou de um país,
Que acredita desenvolver sem se envolver
É como quem larga o leme e deixa o vento dar a diretriz.
Que Deus nos salve da corrupção e da cegueira dos governantes!
Maceió, 10 de fevereiro de 2020.Alisson Francisco Rodrigues Barreto*
*Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo; bacharel em Direito, pós-graduado; autor do livro “Pensando com Poesia”, da revista digital “Pio” e do blog “Alisson Barreto”. Este, em TribunaHoje.com, desde 2011. (Site pessoal do autor: https://sites.google.com/view/alissonbarreto) Palavras-chave: ocupabilidade, abismo educacional, desenvolvimento humano, governo, concursos, redes sociais, capital estrangeiro, economia, educação, ruralidade, indústria, digital.Alisson Barreto
Sobre
Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió), bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado em Direito Processual (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), com passagens pelos cursos de Engenharia Civil (Universidade Federal de Alagoas) e Teologia (Seminário Arquidiocesano de Maceió). Autor do livro “Pensando com Poesia”, escritor na Tribuna com o blog “Alisson Barreto” (outrora chamado de “A Palavra em palavras”), desde 2011. O autor, que é um agente público, também apresenta alguns dos seus poemas, textos e reflexões, bem como, orações no canal Alisson Barreto, no Youtube, a partir do qual insere seus vídeos aqui no blog.