Alisson Barreto
Comentários filosóficos à Ascensão Skywalker
No mundo, entre guerras e filmes,
Vendo filmes de guerras. Vendo elas,
As guerras que se ocultam às telas.
As filosofias chinesa e grega A primeira questão a ser observada é a questão da luta Bem x Mal. Para tanto é preciso analisar o chamado “problema do mal”, ou seja: a força do Mal é igual à do Bem ou superior à do Bem? O Mal é coeterno ao Bem? O Mal existe por si só? Para tais respostas, usar-se-á a Metafísica; mas antes, convém observar a multimilenária cultura chinesa e a filosofia do Yin e Yang. Há indícios de que a cultura chinesa possa ter mais de 4000 anos de existência, se considerar verdadeira a dinastia Xia (2070 a 1600 a.C.); mais de 3000 anos se considerarmos os registros históricos da dinastia Shang e das cidades-estados (1250 a.C.) e 2241 anos, se considerarmos a unificação do império chinês (221 a.C.). Ao longo desse período a filosofia Yin Yang incorporou elementos da Física. Resumidamente: trata-se de uma filosofia de forças antagônicas que se atraem, rivalizam-se e coexistem. É representada por um símbolo cujo lado negro é o Yin e o lado branco é o Yang, que simboliza uma harmonia onde “em todo Yin haveria Yang e em todo Yang haveria Yin”. A sabedoria dessa filosofia consiste em considerar a existência de dualismos (Sol e Lua, dia e noite, bem e mal, movimento e estático, positivo e negativo, por ex.), relacioná-los e fazer uso desse conhecimento. Para os chineses tudo o que existe faz parte dessa relação. Portanto, baseia-se numa visão panteísta ou ateia da realidade. A civilização ocidental atual moldou-se com base em dois baluartes medievos: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Aquele mais dualista e este mais dialético e “científico”. Ambos retomaram e desenvolveram a filosofia clássica (séc. VIII a.C.): Santo Agostinho embasado em Platão; São Tomás de Aquino, em Aristóteles. Foi a partir da releitura das obras de Aristóteles que São Tomás de Aquino ensejou o método científico, que deu origem à ciência moderna. Para compreender a questão da existência do mal e sua capacidade de atuação é preciso compreender a realidade de Deus e suas condições. A filosofia clássica envereda pela existência de hierarquias entre as coisas: por ex., se uma coisa que se mexe é mais relevante do que uma parada, a capacidade de mover-se é mais significativa que sua incapacidade. Em suma, deve haver uma realidade que mova sem ser movida, que seja ato (ser efetivamente) e não potência (possibilidade de ser efetivamente), que seja mais capaz do que qualquer coisa e que nada lhe limite, enfim, que seja onipotente, onipresente e onisciente. Em resumo: tal realidade é chamada de Ato Puro ou Ser Absoluto, Ser por Si Mesmo, Sumo Bem, Deus. Assim, a teologia dos cristãos embasa-se na filosofia segundo a qual Deus é o Sumo Bem e tem como características básicas a onipotência (sua força não tem limitação, Ele tudo pode), onipresença (sem limitações de lugar) e onisciência (tudo sabe). Portanto, se Deus não pudesse com o Mal Ele não seria Deus, pois não seria onipotente. Então, pergunta-se: em que consiste o Mal e por que o subsiste? Por que o Mal não seria uma força absoluta, que não pudesse ser vencida? A resposta a essas perguntas vêm com a Metafísica. O bem é essência e o mal é negação. Ora, se o mal fosse absoluto ele seria uma negação tal que negaria a si mesmo, mas se assim ele fosse aniquilar-se-ia. Portanto, olhando os representantes máximos das forças Bem e mal, Deus é onipotente e criador. O Diabo é uma criatura que, não podendo combater contra o Onipotente se volta contra as demais criaturas, tentando seduzir os homens a corroborar com seu plano de revolta contra o Sumo Bem. O mal, portanto, só existe em algo com existência inicialmente boa. Ou seja, o mal não é um “não ser”, é um ser corrompido, um “não-ser”. Quando, na oração do pai-nosso, o cristão diz a Deus “livrai-nos do Mal”, esse mal é grafado com letra maiúscula por se tratar uma criatura específica, o Diabo (do grego “diabolos”, que significa divisor).Que filosofia está por trás de sua vida?
Que vida se realiza nas filosofias?
Que ilusão atribuir tudo ao acaso!
O acaso só o ilude ao caso.
Filosofando com “Starwars” A série de filmes Guerra nas Estrelas (Starwars) apresenta o combate dualista de bem x mal como um duelo de forças entre lados de uma mesma força. Os guerreiros empunhadores desses lados da força são chamados de Jedi (lê-se jedai) e Sith. Como pano de fundo do embate, o cenário toma dois tipos de ares, conforme a força dominante nas galáxias: república, quando o lado jedi domina, ou império, quando o lado sith domina. Aquele é pró-diálogo e este pró-imposição. Nota-se, portanto, uma linha de raciocínio à yin-yang, uma vez que não há uma alteridade onipotente que guie o bem na luta contra o mal a querer corromper a sociedade. Mas uma luta “panpotente”, sem um Ser Onipotente, em que (alerta de spoiller. Não leia o restante do parágrafo caso queira evitar spoillers) os combatentes lutam pelo domínio da força para a dominância e perpetuação do estado de república ou império. Por fim, percebe-se a vitória de um lado, mas que deixa no ar uma indagação: se sempre há dois sith, como os sith teriam deixado de existir? Ou é falsa a afirmação de sempre haver dois sith ou a heroína estaria grávida e teria dentro de si dois sith e sua vitória seria o assumir o “lado negro da força” colocando-o sob seu jugo. Mas uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo (princípio do terceiro excluído). Afinal, se ela fosse pela mentira não estaria com a verdade (leia-se “verdade objetiva”). Ademais, o filme lança cena de ideologia de gênero, mostrando mais uma vez que o cinema é, cada vez mais, instrumento de condução ideológica, não mais aquele simples meio de diversão e relaxamento com que outrora os povos estavam acostumados. Bons tempos em que o cinema era apenas entretenimento criativo!O mal agiganta-se para tentar convencer a desistir.
Tenta contra a esperança, tenta desacreditar você.
Tenta, tenta para que deixes de crer.
Mas o bem crê é no amar!
Considerações finais Um dos aspectos muito intrigantes na série de filmes Guerra nas Estrelas é questão da dialética da república em relação à revolução do império. Onde se percebe que um dos instrumentos de manipulação atrativa do “lado negro da força” é a atração para a imposição do que se acredita ser o correto. Permitindo perceber que o lado revolucionário utiliza a falácia de que os fins justificam os meios, um evidente atentado contra os valores morais. Em outras palavras, o enredo de Starwars enseja uma oportunidade de reflexão sobre valores, filosofias e anseios.Toda tela enseja informações.
Informações se compõem de dados.
E há dados passíveis de manipulações
Maceió, 14 de janeiro de 2020.Alisson Francisco Rodrigues Barreto
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Sobre
Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió), bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado em Direito Processual (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), com passagens pelos cursos de Engenharia Civil (Universidade Federal de Alagoas) e Teologia (Seminário Arquidiocesano de Maceió). Autor do livro “Pensando com Poesia”, escritor na Tribuna com o blog “Alisson Barreto” (outrora chamado de “A Palavra em palavras”), desde 2011. O autor, que é um agente público, também apresenta alguns dos seus poemas, textos e reflexões, bem como, orações no canal Alisson Barreto, no Youtube, a partir do qual insere seus vídeos aqui no blog.