Alisson Barreto
A virtude, entre a avareza e a prodigalidade
A virtude, entre a avareza e a prodigalidade
Por Alisson Barreto
Publicado em 26/11/2019
Exacerbação da usura| Tolerância e realização da virtude |Exacerbação por dissipação (U) ← avareza |← controle estrito ← equilíbrio → generosidade→| prodigalidade → (P) Há pessoas que gastam mais do que têm ou podem e há pessoas que se fecham no venha a nós sem qualquer busca por justa retribuição. Se fechar-se sem ir ao outro não é virtude e tampouco se ir ao outro sem se guardar não o é, onde está a virtude?(I)
Ó virtude, onde estás?
Se exageramos na mão aberta, prodigalizamos.
Se nos voltamos demasiado para nós, usuramos.
Segundo Aristóteles, “a virtude está no meio”, é uma medida justa, proporcional, ponderada entre o excesso e a falta. Portanto, entre o excesso e a escassez há um equilíbrio chamado virtude. Nele, o indivíduo exercita a justa proporção entre a preservação e o desenvolvimento, a manutenção e a doação, a aquisição e a solidariedade, o ir ao encontro de si e o ir ao encontro do outro.Ó justa medida, como te busco!
Saber a ponderação das coisas…
Ó virtude que me ganhas!
(U) Considerando como dois polos a usura e a prodigalidade. Convém anotar que a usura é um vício pelo qual se realiza a avareza, um dos sete vícios capitais, pois encabeçam outros vícios e pecados.
Longe de mim, ó usura!
Foge de mim, ó avareza!
Que a generosidade me ensine a grandeza!
E viverei a virtude, tenho certeza.
Dentro da generosidade, credito classificar dois tipos: generosidade altruísta e generosidade inconsciente. Esta beira a inconsequência e, portanto, é risco de prodigalidade; enquanto aquela é virtude propriamente. No quadro acima, a generosidade se concretiza dentro da realização da virtude.
Ó generosidade: és altruísta, inconsciente ou inconsequente?
Esta é vício, é exagero, é excesso.
A mediana é medíocre, é risco em processo.
Mas a altruísta, ó bela virtude, é a que quero!
Acrescento, porém, a falsa generosidade, que seria a generosidade na distribuição que visa mais lucro de bens que multiplicação do bem, ou seja, por motivos de investimento (sejam favores, dinheiros ou o que for), que distribui com ares de generosidade, mas a finalidade é para obter lucros egoísticos; portanto, não é virtude. Nesta falsa generosidade, encontram-se as ofertas falsamente generosas a Deus, onde se acredita que vai ganhar mais porque pagou mais, como se Deus estivesse à venda.
(II)
Retira-te, ó falsidade!
Retira-te, ó falsa generosidade!
Se não me levas a amar, és enganar.
Brilhe, Senhor, a Tua verdade!
Dentro do controle restrito, credito classificar entre autocontrole rigoroso (sovinice) e controle egoístico (sovinice exacerbada ou avareza). Este é vício e aquele é rigor no domínio dos próprios gastos, que pode tornar-se vício. O autocontrole rigoroso permanece na tolerância da virtude, enquanto zelo, pois pode ser virtude enquanto for meio necessário a equilibrar gastos excessivos ou doações generosas. O autocontrole rigoroso, por exemplo, é desenvolvido quando se faz jejum ou restrição de consumo para exercer a generosidade aos mais necessitados. Se o autocontrole rigoroso realizar usura adentra na avareza, que incide em vício de exasperação negativa.
Nem todo o que controla o gasto tem autocontrole.
Às vezes um alto controle oculta um egoísmo.
Não tão diferente do pródigo descontrole.
O outro polo é o da prodigalidade. Ela pode dar-se por falta de zelo pelo que se tem (o desdém pelo que se herdou, por ex.) ou por excesso de sede pelo gasto, pelo efêmero ou hedônico [São duas possibilidades reunidas no conectivo de disjunção (ou), não precisando ser disjunção exclusiva (ou... ou) para se concretizar]. A prodigalidade se dá desde quando alguém torra uma herança ou prêmio lotérico a quando alguém torra o próprio salário, gerando um débito maior que o crédito, independentemente do tamanho do crédito. A prodigalidade também pode ocorrer em função de vícios decorrentes do uso de drogas ou jogos de azar (dívidas ilícitas que podem custar carros e casas, por exemplo) ou mesmo do anseio por fama e notoriedade (para bancar roupas, carros, passeios ou viagens, por ex.).
Do desprezo ou desapego brota a prodigalidade.
Não tem idade nem bolso, estoura cartões de crédito.
Envergonha famílias. Cresce por circunstância ou amoralidade,
Faz a alegria dos bancos da cidade.
Nota-se, portanto, que há uma linha talvez ténue entre (U) o controle restrito e a avareza, bem como (P) entre a generosidade e a prodigalidade. O que pode ajudar a explicar porque há pessoas que incorrem na oscilação entre os dois polos: adquirindo débitos demasiado elevados para suas condições e sendo demasiado avaro para com os próximos. É quando se precisa parar, olhar ao redor, fazer as contas, olhar o equilíbrio entre o que se quer e o que se faz, pedir a iluminação de Deus, hierarquizar as coisas e prioridades, identificar como o amor pode melhorar essa situação e melhorar.
Na estreita porta do equilíbrio está a justiça.
Por ela só no amor a pessoa passa.
É a virtude que prepara à graça.
A porta pode ser estreita a quem a observa, mas o amor é a força capaz de ampliar o ângulo de visão e tornar possível o percurso. De modo que a virtude se daria num altruísmo equilibrado com realização da generosidade dentro das margens do autocontrole e zelo pelo que se tem. Assim, realiza a gratidão, a valoração das conquistas próprias e do próximo, bem como o mérito intrapessoal, alheio e coletivo.
[embed]https://youtu.be/BEHP2BmnO0g[/embed]Em suma, pode-se dizer que o caminho da virtude não pode encerrar-se na mesquinhez nem na prodigalidade, mas é cumprido na prática reiterada do bem na justa medida.
Maceió, 26 de novembro de 2019.
Alisson Francisco Rodrigues Barreto1
1 Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo, bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), autor do livro “Pensando com Poesia” e do blog “A Palavra em palavras”. Este, desde 2011, na Tribuna (TribuaHoje.com).
Alisson Barreto
Sobre
Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió), bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado em Direito Processual (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), com passagens pelos cursos de Engenharia Civil (Universidade Federal de Alagoas) e Teologia (Seminário Arquidiocesano de Maceió). Autor do livro “Pensando com Poesia”, escritor na Tribuna com o blog “Alisson Barreto” (outrora chamado de “A Palavra em palavras”), desde 2011. O autor, que é um agente público, também apresenta alguns dos seus poemas, textos e reflexões, bem como, orações no canal Alisson Barreto, no Youtube, a partir do qual insere seus vídeos aqui no blog.