Alisson Barreto

O PARADOXO PADRE CÍCERO

Alisson Barreto 17 de outubro de 2019
O PARADOXO PADRE CÍCERO
Reprodução - Foto: Assessoria

O Paradoxo Padre Cícero

Por Alisson Barreto Publicado em 16/10/2019.

Para muitos, é incontestável a santidade de Pe. Cícero Romão Batista; Para outros, a não canonização contesta a santidade. Quanto às virtudes da obediência e pobreza, ele as cumpriu ou descumpriu? A verdade é que se conhece a árvore pelos frutos. Sendo os frutos bons, por que ainda não foi canonizado? Qual seria a chave de análise?

Quantos santos não canonizados são?

Quantos nãos se dão aos que estendem a mão?

Quantos são os que se fazem na humildade de um grande irmão?

A chave de resposta pode ser a questão da virtude da obediência, diante de possível abuso de autoridade. A questão aqui é enquadrar as virtudes da justiça e caridade no caso da obediência diante de preceito injusto. Não há virtude sem caridade (amor) e esta realiza a justiça, bem como as demais virtudes. Elas, portanto, são o código pelo qual se realiza a virtude da obediência.

Ó obediência cuja ciência não a das a qualquer um!

Ó virtude do humilde que sabe realizar a justiça, no amor!

Ensina-me a contigo ser um

E estarei configurado no Senhor!

O paradoxo Padre Cícero também é perceptível na perspectiva da Igreja. A indagação sobre a prática da obediência, em cumprimento às virtudes da caridade e justiça, aponta o cumprimento da virtude da obediência para a perspectiva da obediência a Deus. Nessa perspectiva, a Igreja pode estar diante de um dilema: se reconhecer que Padre Cícero agiu corretamente tal agir acusa o proceder de seu superior hierárquico, o bispo; mas como defender a virtude da obediência se aquele a ser obedecido exige ato cujas virtudes da justiça e caridade exigem que não se cumpra?

A obediência pede justa dosagem: não subserviência;

Ama a sapiência: é sem prepotência, é equilíbrio; não fama.

Avessa à arrogância, é amor que não se atravessa.

Não é um anverso, é a coisa em si: é bem mais que um verso.

A solução é a aplicação de outra virtude: a humildade. É preciso que o corpo olhe para a Cabeça e aprenda que, em Cristo se realizam todas as virtudes; logo, o corpo de Cristo (que é a Igreja) tem o dever de cumprir também esta virtude, pela qual se reconhecem as falhas de seus membros para delas curá-los. Tal reconhecimento convida a igreja a meditar sobre deveres e responsabilidades de autoridades. Por conseguinte, também acerca de questões básicas como abuso de autoridade, princípio da razoabilidade e postulado da proporcionalidade.

Ó mão, age com o coração e obedece à Cabeça!

Ó cidadão, aceita sua razão e não desfaleça!

Ó cristão, és corpo de Cristo, não da desavença!

Como se vê, se o paradoxo de Padre Cícero enveredar pela canonização, ele dará início ao paradigma de Padre Cícero: separando a observação da obediência nos seminários e ordens religiosas em antes e depois de Padre Cícero. Ou seja, sua canonização convida a olhar diferente sobre quem está em situação de obediência.

Portanto, está-se diante de um paradoxo paradigmático que abrilhanta duas perguntas: em quem está a virtude e quem está na virtude? Que o Espírito Santo guie a Santa Igreja no discernimento!

Desse paradoxo a paradigma, diga-me:

Há como seguir Jesus sem oração e cruz?

Nela entendemos o siga-Me:

A santificação nem a todos reluz!

Dado em Maceió, 16 de outubro de 2019.

Alisson Francisco Rodrigues Barreto1

1Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo, bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), autor do livro “Pensando com Poesia” e do blog “A Palavra em palavras”. Este, desde 2011, na Tribuna (TribuaHoje.com).