Alisson Barreto

O serviço público e a inteligência artificial

Alisson Barreto 16 de julho de 2019
O serviço público e a inteligência artificial
Reprodução - Foto: Assessoria

O serviço público e a inteligência artificial

Por Alisson Barreto Publicado em 16/7/2019

Considerando a forma como os servidores públicos são escolhidos e as funções que exercem, vale questionar serviços públicos e teriam suas funções suscetíveis de serem substituídas por inteligências artificiais. Quais funções e por quanto tempo poderiam ser substituídas?

Insubstituível quem seria?

Único quem será? Onde está a capacidade?

Onde está o amar? A humanidade onde estaria?

Já não se discute se a inteligência artificial virá a ser utilizada, tornou-se realidade prática. Vive-se em uma realidade onde carros avisam se o vidro está baixo com o ar-condicionado ligado ou se o motorista deixou o farol aceso; redes sociais captam informações dos cidadãos e selecionam propagandas e vídeos relacionados aos seus perfis, aos seus gostos; centrais de atendimento ligam ao consumidor e oferecem opções de acordo com o que o consumidor fala ao telefone. Isso não é cenário futurista, é 2019.

Seus atos são registrados. O big brother não precisa mais de câmeras.

Suas famas estão por um triz. O que cantam?

Efêmeros não plantam tâmaras.

O serviço público é dotado de funções burocráticas e muitos atos vinculados, técnicos, habituais e circunstanciais que podem ser substituíveis por inteligências artificiais, insuscetíveis de corrupção. O amor, a arte, a criatividade, intuição e a percepção extrassensorial são diferenciais da espécie humana; porém, diferentemente deles, a técnica e a comparação objetiva são passíveis de substituição por inteligências artificiais. Tomando como base o serviço público e os fatores supracitados, quais atividades poderão vir a serem substituídas? É preciso pensar nisso.

Vincula-te, ó Homem, ao ser humano!

É desumano não se solidarizar.

E não amar é “autoengano”!

É importantíssimo repensar o serviço público e os critérios de ingresso. Atualmente, os critérios de seleção aos cargos efetivos são, em regra, baseados na capacidade de memorização e interpretação dos dados memorizados, mas isso seria facilmente efetuado por um computador. Quando se trata de funções de liderança se recorre a cargos comissionados e, quando de atos que requeiram dose de criatividade, a comissionados ou a serviços terceirizados. Mas e onde fica o servidor público em geral?

Que acabe a farra de cargos!

Que se acabem os encargos!

E se encarregue, a humanidade, de ser humana.

O princípio da legalidade e o servidor público, diante da inteligência artificial: a questão dos atos vinculados e discricionários. Sabe-se que, enquanto ao cidadão comum é possível fazer tudo o que a lei não proíbe, ao servidor público só cabe fazer o que a lei determina, de forma estrita (vinculada) ou com margem de escolha. Ora, se um ato é vinculado, qual o óbice à inteligência artificial? E se for discricionário (com margem de escolha por critérios de conveniência e oportunidade), é possível delimitar quais os critérios poderiam ser adotados e em quais prioridades para a execução do sopesamento. Assim, se forneceriam os critérios necessários para a inteligência artificial qualificar os pontos e escolher a opção mais adequada do agir.

Diria um programador: dá-me a lei e eu te dou o julgamento.

Dá-me os exames e eu te dou medicamento.

Dá-me a necessidade e eu te dou o agir.

Dos critérios de avaliação nos concursos públicos e do exercício profissional. A maioria dos concursos públicos, o concursista é avaliado quanto ao grau de conhecimento memorizado. Ora, um computador não assimilaria melhor tais informações? Uma inteligência artificial, nutrida das regras gramaticais, dos textos, jurisprudências e legislações pertinentes não identificaria as melhores respostas? Logo se perceberá que se precisará mais dos profissionais capazes de desenvolver as inteligências artificiais, desenvolver e nutrir seus bancos de dados, bem como de analistas dos resultados de tais procedimentos e menos das pessoas que até então desempenham tais funções.

Ó Brasil, dizei-me! O que quereis, fazei!

Enquanto se disputam “fakes” e se iludem com “faces”,

A vida corre, o tempo transcorre e a humanidade vira grei.

A humanidade tende a entrar numa era onde haverá mais pessoas existentes do que seres humanos necessários a produzir. Como ficarão os sobressalentes? Se é que essa era já não chegou, é preciso questionar os parâmetros morais de sustentação da sociedade. Não mais basta taxar os excluídos de “maus” por preguiça ou vítimas de uma sociedade “má”. A verdade é que o país precisa de mão de obra qualificada e se vê diante de universidades que não comportam toda a população em fase universitária, uma população que não tem nível suficiente ao requerido em uma boa universidade, tudo em uma sociedade cujo conhecimento universitário já não é mais suficiente para preencher as necessidades de mercado. Ou os seres humanos aprende a abraçar a humanidade ou fortalecerá a lei do mais forte até que o mais forte não seja o ser humano, mas o “super frankstein” que está por inventar. Se a humanidade não se converter, passará do ateísmo do “super homem” niilista para a promoção do “super frankstein” da inteligência artificial e o embate do resta um.

Do “super homem” ao “super frankstein”,

dizei-me, ó homem, o que buscais?

Poderiam os animais humanos se tornarem irracionais?

Médicos, pesquisadores, advogados, juízes, psicólogos, nutrólogos, engenheiros, arquitetos, soldados… Como ficarão as profissões no futuro? O ser humano se reinventa e é hora de se reinventar. O avanço tecnológico tende eliminar o profissional que faz a comparação visual ou a mera observação de dados. Ou seja, o médico que só analisa exames, o advogado que só adéqua o fato à norma, o juiz que apenas sopesa os pedidos das partes ante a lei, o engenheiro que só empregue fórmulas e escolha materiais. O profissional do futuro precisará ser um gerenciador de informações analisadas e sopesadas pela inteligência artificial e com habilidade para utilizar essas informações de forma humanizadora.

Reinventa-te, ó homem!

Acorda e ama!

E volta a, no homem, pensar.

Paralelamente, é preciso repensar a escolha de líderes e o emprego da ética, globalmente. Líderes extremamente competitivos e descompromissados com a ética podem utilizar a inteligência artificial e a engenharia genética para sobrepujar povos, subjugar seres humanos e dominar populações, inclusive fazendo uso de seres humanos modificados genética e “informaticamente”. Os seres humanos precisam acordar para a humanidade, para o respeito humano, para a qualidade global de vida humana. É preciso reaprender a enxergar cada indivíduo. É necessário voltar a abrir os olhos e enxergar o amor em cada ser humano.

É preciso reinventar os direitos humanos

para garantir o direito de nascer e aos nascidos, o de viver.

Diferençar menos e amar mais! Quais são seus planos?

Em suma, ou o ser humano aprende a amar e a reconhecer o que é próprio do ser humano ou traçará o autodestrutivo caminho da falsa autossuficiência, reclassificando os homens entre superiores e inferiores, renomeando discriminações e reinventando a escravidão, como já reinventou o abortamento.

Maceió, 16 de julho de 2019.

Alisson Francisco Rodrigues Barreto1

1 Poeta, filósofo; bacharel em Direito, pós-graduado. Autor do blog “A Palavra em palavras”, em TribunaHoje.com, desde 2011. @alissonbarreto1 (LinkedIn, Twitter e Instagram)