Alisson Barreto
No eu, a relação do amor com a Quaresma
No eu, a relação do amor com a Quaresma
Como fica o valor do “eu” nas penitências quaresmais? Como avaliar o próprio ganho espiritual após as penitências escolhidas para viver a Quaresma? Essas e outras questões podem ser resolvidas a partir da compreensão do que é a quaresma e o porquê de penitências. Em termos numéricos, a quaresma são os quarenta dias que vão da Quarta-Feira de Cinzas ao Tríduo Pascal. Em sentido espiritual, a quaresma é o tempo litúrgico preparatório para uma boa vivência do período mais alto da fé cristã: a Páscoa. A Páscoa é o Domingo dos domingos (em latim: dies domini, ou seja, dia do Senhor). A Páscoa cristã é a passagem da morte para a vida, a comemoração da vitória de Cristo sobre a morte. Ou seja, na Páscoa, o cristão comemora a ressurreição de Jesus Cristo, após seu julgamento na calada da noite da quinta-feira da Paixão, sua crucificação ao meio-dia e morte às 15h da sexta-feira da Paixão. A espera do sábado foi saciada com a chegada do Senhor, ao término do sábado e começo do Novo Dia: o dia da ressurreição, o Domingo. Assim, os judeus comemoravam como páscoa a libertação da escravidão no Egito, destacada na passagem do Mar Vermelho. Os cristãos passaram a comemorar como páscoa a libertação da escravidão do pecado, destacando a vitória de Cristo sobre a morte e o Mal, enfatizada na passagem da morte na Sexta-Feira da Paixão para a ressurreição no Domingo Pascal. Considerando o domingo o ponto central da liturgia, os cristãos se preparam ao longo dos dias da semana para seu dia maior, o oitavo dia, o primeiro dia da nova criação. No calendário litúrgico, a Páscoa é tão importante que os cristãos se preparam por 40 dias (a Quaresma) para chegarem bem a tal dia. A questão é se as penitências que uma pessoa faz são válidas para tal preparação. Todo indivíduo precisa fazer uma autoavaliação para enxergar se com as penitências escolhidas estão agindo com mais amor ou não. O Amor é a plenitude da Lei (torá, em hebraico) e dos profetas. De modo que se sua penitência não o(a) faz progredir no amor, você está equivocando-se. O valor da subjetividade nas penitências quaresmais é, justamente, o ganho do “eu” mediante as penitências. E como se dá isso? As próprias escolhas, por amor, de fazer algo para crescer no amor já é um ganho, pois se trata de ato de amor. A persistência no ato de amor gera uma repetição benéfica chamada virtude. A virtude opõe-se aos vícios e envereda seu praticante em caminho de autodomínio dos próprios anseios, libertando o “eu” das interferências que dificultam ou mesmo impedem o indivíduo de agir livremente. Assim, os exercícios quaresmais, como seria melhor chama-los, preparam o indivíduo para ser mais dono de si, libertando-os de vícios e paixões que lhe dificultem a plenitude da liberdade como pessoa. No cristianismo, sempre se diz que Jesus Cristo liberta. E de fato Ele o faz tanto no sentido objetivo, pela eficácia de sua Páscoa, como no sentido subjetivo, libertando o indivíduo de suas amarras viciosas e passionais. Libertando o homem do vício para a virtude e da paixão cega para a paixão amorosa. A Paixão de Cristo, portanto, não é uma paixão de objetividade cega; é um amor apaixonado que se doa totalmente para que o indivíduo humano possa participar do amor que o liberta das cegueiras temporais, que o afastam de seu destino à plenitude que não o limita ao mundo. O amor requer conhecimento e Deus, em Nosso Senhor Jesus Cristo, se dá a conhecer, revelando-Se totalmente à humanidade. Os homens, porém, cegos pelo pecado não conseguem enxergar, plenamente, essa revelação quando imersos nas escravidões do pecado. A quaresma é tempo propício para o homem sair do si que o escraviza no pecado para o “eu” pleno, após a libertação proporcionada por Cristo através dos sacramentos e das penitências. As penitências quaresmais, portanto, ajudam o “eu” a ser mais pleno, libertando-o do que lhe atrapalhe a vivência do amor. É no encontro consigo mesmo que o homem aprende a amar e é assim que as penitências quaresmais devem ajudar o indivíduo. A todos os leitores de “a Palavra em palavras” desejo uma cristificante Quaresma, pois é n’Ele que nos encontramos e nos unimos, é n’Ele que somos libertos, é n’Ele que aprendemos a amar e é no amor que nós nos realizamos plenamente.Maceió, 13 de março de 2019.
Com amor e orações,Alisson Francisco Rodrigues Barreto[1]
[1] Poeta, filósofo; bacharel em Direito, pós-graduado. Fundador dos Amigos Marianos Missionários da Eucaristia – Amme (reunião todo 3º sábado de cada mês às 15h, na paróquia de Santa Rita, Maceió). Autor do blog A Palavra em palavras, na Tribuna, desde 2011.Alisson Barreto
Sobre
Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió), bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado em Direito Processual (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), com passagens pelos cursos de Engenharia Civil (Universidade Federal de Alagoas) e Teologia (Seminário Arquidiocesano de Maceió). Autor do livro “Pensando com Poesia”, escritor na Tribuna com o blog “Alisson Barreto” (outrora chamado de “A Palavra em palavras”), desde 2011. O autor, que é um agente público, também apresenta alguns dos seus poemas, textos e reflexões, bem como, orações no canal Alisson Barreto, no Youtube, a partir do qual insere seus vídeos aqui no blog.