Alisson Barreto

O Passo e o Samaritano

Alisson Barreto 12 de setembro de 2018
O Passo e o Samaritano
Reprodução - Foto: Assessoria

Por Alisson Francisco @alissonbarreto1

Quase todo cristão já ouviu a passagem do Bom Samaritano (Lc 10,25-37). Mas será que sabemos nos colocar com o olhar daquele misericordioso homem? Nas linhas que se seguem, relatarei situação pela qual passei e que nos leva a recordar tal passagem. Estava eu a retornar para Maceió, sentado num quase banco de praça… Ou seja, um contorno de canteiro que serve de banco aos transeuntes. Meio que parodiando a música, poderíamos dizer ou cantar: aos quatro cantos cheguei e todo mundo passou, chegando a canseira, os carros passando e tanto calor. E naquele colorido da praça, tudo pela graça de Nosso Senhor, que me segura em todo cansaço, segura por todo passo. Passava o tempo, passavam os carros e nada de van ou carro de lotação a passar. Sol a pino, no começo, e eu tranquilo, no amor de Deus. Àquela altura a coluna já começava a incomodar… O corpo começava a cansar, mas o espírito sustentava. Quando o incômodo físico começou a aumentar, elevei os olhos para o Alto, de onde me vem o socorro. O Pai de Amor não abandona os filhos que a Ele recorrem. Quando ainda estava dizendo a Ele o que se passava e pedindo ajuda, eis que um carro à esquerda parou e seus donos me ofereceram carona. Na perícope do Bom Samaritano, supracitada, um homem fora assaltado, agredido e jogado à margem da rua. Por ele passaram fariseus e vários outras pessoas sem que lhe prestassem socorro. Mas foi um samaritano que se compadeceu, acudiu-o, prestando socorro e levando a um lugar onde pudera recuperar-se, deixando tudo pago. Lógico que a experiência que relatei nem de longe chega ao nível do que ocorrera na passagem bíblica. A questão, no entanto, não é a semelhança quantitativa, mas os porquês, as motivações, a sensibilidade de enxergar o outro. Quantas e quantas vezes, bêbados e moradores de rua são tratados apenas como pessoas que incomodam, meros incômodos ou motivos de piada por tantos. Quantas e quantas vezes até questões físicas são motivos de discriminação. Quantas e quantas vezes o outro é só um número diante das metas pessoais. Se por um lado, Deus me ouviu quando clamei; também aquela família ouviu a Deus que os tocou. A questão aqui se desenrola no amor de Deus que nos ouve e na abertura do coração humano a ouvir a Deus. Aquela família, não disse “ele é da nossa religião, vamos ajuda-lo”; pois não o eram. Não obstante, se por um lado o nome específico da religião nos separava, por outro, a motivação que nos liga a Deus nos unia. Ora, todo aquele que ama a verdade, de coração sincero, ama a Cristo, ainda que não consiga compreender tal realização, como nos ensina Santa Edith Stein. Também todo aquele que defende a vida humana; todo aquele que se permite sair de sua comodidade para ir ao encontro do outro; que se compadece com as necessidades dos demais membros da comunidade humana, optando pelo amor em vez do egoísmo: nisso, vivencia a lei de Deus, enquanto vivencia o amor, a plenitude da lei. Há, portanto, muitos dos nossos que não estão conosco e muitos conosco que não são dos nossos. Pois há muitos que se juntam a nós, mas não conseguem amar e muitos dos que amam e nem nos conhecem. Mas Deus a todos vê, a todos sonda, a todos ama e espera. Que essa lição de hoje nos ensine a aprender a amar o outro, enxergando no outro não as diferenças que nos separam; mas a realidade e as necessidades do outro, que nos convidam à união. Se no tempo não aprendermos a amar, o que levaremos para a eternidade a não ser o reflexo de uma perda de tempo? Que o tempo não nos seja perda, mas encontro! Encontro com Cristo e com os irmãos; encontro com o Caminho, a Verdade e a Vida; encontro a semear o amor. É preciso dar novos passos, renovadores passos, passos de amor! A todos uma abençoada semana! Paz e Bem!

Maceió, 11 de setembro de 2018.

(publicado em 12/9/2018)

Sob as asas do Pai e junto à Mãe da Assunção,

Alisson Francisco Rodrigues Barreto[1]

[1] Poeta, filósofo; bacharel em Direito, pós-graduado. Estudante de Teologia, no Seminário Arquidiocesano de Maceió. Fundador dos Amigos Marianos Missionários da Eucaristia – Amme (nas redes sociais: @amme.33), autor do livro “Pensando com Poesia” (disponível em americanas.com) e autor deste blog (“A Palavra em palavras”), disponível na Tribuna (leia-se TribunaHoje.com), desde 2011.