Alisson Barreto

A ÁRVORE

Alisson Barreto 07 de novembro de 2017
A árvore Certo dia, uma árvore olhou ao redor e disse: – Nossa! Como eu estou grande, vejo tudo daqui de cima. Sou mais alta que todas as outras árvores. Então, o passarinho lhe disse: – Verdade, ó árvore! És grande e sou grato por seus galhos, por suas folhas e sombra. Porém, estou pensando em me mudar. A noite chegou e o passarinho dormiu. – Mas por quê? Por que te preocupas tanto? – Indagou a grande árvore, no dia seguinte. – Não sei ao certo, mas a urbanização tem chegado ao nosso redor, muitas das árvores e plantas que estão ao nosso redor já rolaram morro abaixo e eu até já fui atacado por petecas dos filhos desta cidade. – Respondeu, preocupado, o passarinho. Escondendo-se, em seguida, pois a chuva lhes alcançara. Confiante e orgulhosa de si, responde a árvore: – Talvez para tu que voas, realmente, seja mais preocupante. Para mim, no entanto, não há com o que me preocupar: sou alta, tenho resistido mais do que as outras árvores e minhas raízes alcançam com sucesso as águas sob a terra. Veio outro dia e outra chuva, levando consigo mais das árvores que cercavam a grande árvore. No outro dia, o passarinho pergunta: – Quer que eu tente fazer alguma coisa? Que lance sementes ao seu redor para que você não fique sozinha? Ou que cante bem forte para que os homens a percebam? Com uma risada, respondeu a grande árvore: – Não precisa, sou forte e sortuda! Não percebeu? Sou mais forte do que as outras. Se as outras caíram morro a baixo, aqui reino sozinha! Sou imponente, não me abaixo; com minhas raízes eu me basto. O inverno foi rigoroso. Chuva após chuva, a árvore resistira. Mas o passarinho não arriscou seu ninho e num telhado foi morar. O carinho pela árvore não deixou, mas a sua família foi proteger! Veio a chuva, a tempestade, a areia começou a ceder ao redor, a avançar perigosamente junto as raízes. Mas a árvore brincava: – Vê, passarinho! Tu temes e te resguardas! Mas a água que temes só com a minha sede acaba. Daqui vejo imponente a cidade que se instala. Nem sequer fico a tremer, sou mais forte do que as águas. Veio a noite e a ventania, a tempestade se achegou. Trouxe raios e relâmpagos, fez as águas mais correntes, riachos de cachoeirinhas. Mais que a brisa do oriente, trouxe os rios das montanhas. Naquela noite, a árvore conheceu as trevas e, na escuridão, suas raízes conheceram o ar. O passarinho cantou as dores da perda de sua preciosa amiga. Pensara se poderia ter feito diferente; mas seu consolo foi lhe ter oferecido amor. Sua oferta não foi aceita, mas ao oferta-la, amou. E voou para junto dos seus para a sombra da casa que lhe dera abrigo, onde cantara as maravilhas do Senhor. Pois assim são os passarinhos: cantam.

Foi dessa forma, amados leitores, que, olhando para as raízes de uma árvore, destacadas no declive de uma encosta, escrevi o texto acima para convidá-los a refletir comigo sobre a própria vida. Olhando para o espelho da alma, pensem comigo: será que sou como a árvore, que confio em minhas próprias forças? Será que me considero imbatível no tempo? Será que acho que me basto? Será que, realmente, o que me cerca não me atinge, que não tenho a ver com as pessoas atingidas ao meu redor ou que as quedas delas não me são importantes? Será que não estou deixando de ouvir os alertas dos pássaros, os sinais da alma, os alertas dos amigos de Deus?

Há, na verdade, muitos de nós que até desafiam os raios, que desdenham da realidade que nos circundam, que ignoram as investidas diabólicas. Uns por absoluta cegueira, outros por arrogante ignorância, alguns por ilusória autossuficiência. Ó, meus amigos, quem como Deus? Que estultícia é entrar numa tempestade e ignorar Aquele que manda e elas calam! Que asnice é não buscar a ajuda d’Aquele que pode acalmar as tempestades da alma!

Será que estamos fincados no chão, reféns de nossos orgulhos e cegueiras? Que tal irmos ao confessionário para podermos quebrar as correntes do orgulho e do pecado? Então, poderemos abrir as asas e voar para os montes seguros e abrigando-nos sob as asas do Onipotente. Será que vamos ficar assistindo às nossas famílias caírem pelo morro do pecado, nas tempestades da alma, ou vamos plantar nossos ninhos na Casa do Senhor? Será que ignoraremos nossos próximos, até mesmo nossos familiares, ou voaremos a espalhar o amor e amparar os nossos próximos?

A todos um abençoado novembro e o brilho do amor de Deus em nossas frontes!

Paz e Bem!

Dado em Maceió, 1º de novembro de 2017.

Alisson Francisco Rodrigues Barreto[1]

  [1] Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo; bacharel em Direito, pós-graduado. Seminarista, estudante de Teologia no Seminário Nossa Senhora da Assunção, da Arquidiocese de Maceió. Autor do blog A Palavra em palavras, desde 2011.