Alisson Barreto

O MARKETING E SEUS EFEITOS DANINHOS

Alisson Barreto 14 de janeiro de 2016

O MARKETING E SEUS EFEITOS DANINHOS

Já parou para observar o quanto o marketing encanta empresas e pessoas? A ponto de muitos buscarem por pautar seus atos no marketing pessoal. Mas será que isso é realmente um bem ou pode causar prejuízos reais? E quando se trata de um país moldado em tal perspectiva?

O marketing tende a mostrar uma propaganda cuja proporção do valor intrínseco nem sempre corresponde ao divulgado. Quando não corresponde, gera efeitos imediatos que podem ser bons, mas pode causar sérios danos, a longo prazo. Quando corresponde à realidade intrínseca, em regra, pode ser bom; entretanto, no caso de pessoas, pode atentar contra a discrição, no orgulho e na egocentricidade, a qual pode gerar, inclusive, uma egolatria.

NAS EMPRESAS, o marketing gera um benefício imediato, na apresentação do produto da empresa. Entretanto, se a diferença entre o que se vê e o que se é aumenta significativamente, leva a uma futura queda na bolsa, por se tornar insustentável tal diferença. Chega-se a um ponto que a empresa se depara com a percepção das pessoas de que a propaganda não corresponde à situação real. Por ex., por mais que você faça propaganda que um produto é melhor e mais barato que os demais, diante da constatação fática de que o produto é de péssima qualidade e seu preço desproporcional, o cliente fica insatisfeito e muda para a concorrência.

NAS PESSOAS, ainda que se iludam outros, em algumas situações, não há como alcançar eficiência. Observe que por mais que uma pessoa se vista e faça a propaganda de ser uma pessoa conhecedora, na hora de uma prova de concurso ou faculdade, se não sabe de nada valerá a aparência de saber. Além do mais a propaganda de si é uma espécie de egocentrismo, ante o interesse em atrair olhares para si ou promover-se a patamares superiores. Uma coisa é valorar-se, que é agregar valores a melhorar essencialmente; outra é valorizar-se, que é levar outros a apreçar uma certa qualidade acerca da pessoa, ainda que possa ser falsa. Enquanto o caminho da humildade leva à discrição, o do marketing aponta para a divulgação, ainda que silenciosa. Enquanto a humildade desemboca na simplicidade e na realização como ser, o marketing deságua na alimentação do orgulho e na aparência do estar. Por fim, pode levar ao narcisismo e à egolatria, onde o homem deixa de colocar Deus em primeiro lugar para se colocar no primeiro lugar de suas escolhas e oferendas: um endeusamento de si próprio.

NAS RELIGIÕES. Algumas pessoas falam de marketing católico, evangélico, islâmico etc.. Entretanto, o que é o marketing se não uma promoção de produtos baseada no público consumidor desejado? Ora, acaso a fé é um bem comercializável? Para muitos, sim e a prova é que muitos usam os nomes de Jesus, Jeová, Alá e Maomé para angariar partidários e patrocinadores de seus cultos e ações. Contudo, a verdadeira religião não está à venda, a verdadeira fé é inegociável e o verdadeiro culto é invendível. Na santa Igreja, a melhor apresentação é a litúrgica, que mostra o sacrifício de Cristo sem rodeios, sem enfeites, sem desviar a atenção para outras coisas. A liturgia tem como centro Jesus, ninguém mais e nada menos. Assim, não cabe espetáculos na Santa Missa. Não se batem palmas para o sacrifício de Jesus Cristo, não se autopromove às custas da flagelação e crucificação do Senhor. O caráter incruento do sacrifício do Altar não retira a natureza sacrifical da celebração. Quando Jesus diz “repartam entre si a minha túnica e lancem à sorte a minha túnica”, Ele reza o Salmo e se refere aos atos dos seus algozes. Os algozes repartem entre si os despojos, lucram às custas do Cordeiro de Deus.

NAS NAÇÕES. Quando se trata de um país, percebe-se – ao longo da história – que muitos governantes, ideologias e filosofias consolidaram seus poderes às custas da propaganda promovedora de seus ideais e de suas supostas conquistas. Na antiga URSS, um Ministro da Economia foi morto por não camuflar as dificuldades econômicas resultantes do agir socialista e, entre 1932 e 1933, foram mortos de fome cerca de 7,5 milhões de russos e ucranianos. No Brasil, o marketing de que o partido socialista que assumiu o poder teria tirado milhões de pessoas da pobreza e o país teria se tornado rico, levou à compra de votos por meio do programa bolsa-família e a sediar uma Copa do Mundo de futebol, onde se gastou milhões de reais em estádios megalomaníacos, gerando uma crise sem precedentes com quebra de diversas empresas, fechamento de inúmeros empreendimentos e prejuízos incalculáveis à estatal de petróleo do país com custas a ser paga pelos proprietários de carro, cuja quantidade aumentou pouco antes da crise, com a redução temporária de tributos. Ou seja, o consumidor e o eleitor caíram em armadilhas e depois veio a conta a pagar. O marketing estadual muitas vezes assume o que se chama de populismo, pois há uma preocupação muito maior em atrair admiração do que de estruturar a Nação.

O marketing é uma estratégia empresarial de otimização de lucros por meio da conjugação entre ofertas e necessidades do público-alvo, ainda que possa ser necessário gerar a aparência de necessidade de tais produtos ao público-alvo. Dados as aplicações reais, poder-se-ia dizer que se trata de uma estratégia de otimização de resultados por meio da conquista do cliente por engendramento de uma boa imagem.

Uma estratégia de otimização não é problema, o problema é quando o anseio por lucro ou, no caso de homens, egocentrismo acarreta uma apresentação distorcida da verdade. No caso do egocentrismo, para os cristãos é algo negativo pois egocentrismo é voltar o centro das atenções para o “eu” e o cristianismo suscita que o foco seja Jesus Cristo. Ademais, o egocentrismo tenta a humildade. Isso porque o egocentrismo coloca o “eu” em primeiro lugar, enquanto o Cristianismo e o Judaísmo colocam Deus em primeiro lugar.

Vale lembrar que atentar contra a verdade é ir de encontro a Deus; tendo em vista que buscar a verdade ir ao encontro de Deus, a na pessoa do Filho: caminho, verdade e vida.

Afastemos de nós as ervas daninhas. Separemos o joio do trigo e busquemos o Pão da Vida!

Maceió-AL, 14 de janeiro de 2016.

Alisson Francisco Rodrigues Barreto*

*Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Nossa Senhora da Assunção); bacharel em Direito (Ufal), pós-graduado (Esmal). Desde 2011, autor do blog A Palavra em palavras, em TribunaHoje.com