Alisson Barreto

ALÁ É DEUS?

Alisson Barreto 15 de dezembro de 2015
 Alá é deus?

Até que ponto se pode coadunar com a afirmação “Alá é deus”?

Ora, caro leitor, faça uma viagem no tempo e se coloque na Roma ou Grécia antigas, ou adjacências. Depare-se com uma situação em que encontrará pessoas que seguem ao deus Thor, ao deus Apolo, ao deus Baco, ao deus Poseidon, dentre outros. Você poderia dizer que o deus deles não é Deus ou poderia evitar dizê-lo para não entrar em atrito, concorda?

Na concepção de quem serve a um desses deuses, eles os consideram deuses; ainda que outro possa não os considerar. Na época, a sociedade era politeísta e estava acostumada a se deparar com adorações a diversos deuses.

Por essa perspectiva, é possível afirmar que Alá é deus, pois muitos o adoram. Portanto, numa visão relativa, qualquer um que seja adorado é considerado deus; todavia, numa visão absoluta, só há um Deus e os chamados deuses são, na verdade, ídolos. Filosoficamente, há (1) o Deus que é o Ser, Absoluto, e (2) os deuses que são entes, frutos do pensamento do homem, de suas crenças ou de outros seres, como no caso dos demônios, que são anjos decaídos, ou seja, seres espirituais que se negaram a adorar ao Deus Absoluto.

Certamente, um muçulmano escreverá que Alá é Deus e um judeu diria que não se trata de Deus, mas de um deus (com “dê” minúsculo), um ídolo, ou seja, um deus pagão. E quanto a um cristão, como ele poderia chamar Alá: Deus ou deus? Por óbvio, outra forma de se dizer a indagação é: “trata-se do Deus ou de um deus?”.

Voltando o olhar para a Antiguidade Clássica, percebe-se que os deuses cultuados pelos romanos e pelos gregos eram, na verdade, mitos. Não eram verdadeiros deuses, mas os povos que os cultuavam acreditavam que eram. Também não se pode dizer que seriam demônios. Por exemplo, passando o olhar para outros povos da Antiguidade, percebe-se que um índio ou um egípcio que cultuava o deus Sol não cultuavam um demônio, mas um ente estrelar criado por Deus: o Sol. No caso da mitologia, um deus tanto poderia ser o (a) endeusamento de algo criado por Deus (assim como o Sol, também a Lua, forças da natureza etc.) como poderia ser (b) algo criado pela cabeça do homem. Afinal, por ex., imaginar que um deus move os ventos não é cultuar o vento, mas um ser que os move. Assim, para um mesmo fenômeno da natureza poder-se-iam adorar a dois deuses: o deus vento e um deus movedor de ventos.

Os mitos podem ser desmitificados pelo raciocínio lógico, pela ciência, por revelações teológicas etc.. Assim, por exemplo:

Pelo raciocínio lógico, se as características de Deus são ser onisciente, onipotente, onipresente e falta um ser não tem um desses atributos não seria Deus;

Pela ciência, se, por exemplo, algo é constatado como um fenômeno físico, manipulável, passível de experimento não é Deus; pois Deus não é passível de experimento e o que não é passível de comprovação por experimento não pode ser objeto da ciência;

Por revelações teológicas, tem-se se que algo crido como revelado pode desmitificar algo. Assim, na aparição de Nossa Senhora em Guadalupe, tendo em vista que ela pisava a Lua, os índios se converteram ao Cristianismo e se viram livres da escravidão de terem que matar pessoas em sacrifício à deusa Lua para que o Sol continuasse nascendo, segundo o que eles criam.

O Islamismo surgiu por volta do ano 600 d.C., fundado por Maomé, que nasceu em 570 d.C., numa sociedade politeísta, mas onde havia judeus e cristãos. Notadamente, Maomé tinha preferência pelo Deus Único. Isso fá-lo sentir-se atraído, sabendo ou não, pelo Deus de Abraão, Isaac e Moisés.

Acontece, porém, que Maomé não chegara a conhecer os grandes santos do Cristianismo, que deixaram preciosos testemunhos, dentre outras coisas, de como o Maligno tenta pela vaidade e é capaz até de aparecer como anjo de luz para confundir e tentar os homens que buscam a Deus.

Como Maomé vivera em uma sociedade politeísta, crer no Deus único por si já era aderir a uma grande revelação. O que ele não percebeu é que, após isso, ele não imergiu no senso de unidade que Deus inseriu nos corações cristãos, pelo qual Deus busca gerá-los no Corpo do Filho. Assim, Maomé acreditou numa visão e creu tratar-se do Arcanjo São Gabriel.

Pela visão que teve, ele foi tentado de modo particular sob alguns aspectos: dar um novo nome a Deus e passar a pronunciá-lo, tornar-se profeta e fundar uma nova denominação de crentes que não quiseram a unidade com o Corpo de Cristo nem a obediência ao sucessor do Pedro (o Papa).

Assim, o Islamismo se assemelha ao Protestantismo, na medida em que partem de premissas de se seguir a uma realidade religiosa sem que precise seguir à unidade que Cristo fundou, ao formar uma igreja que tem Sua Mãe como mãe de cada um e Ele próprio (a Pedra Angular) edificá-la sobre a Pedra (Pedro, o Papa). Também em relação ao nome de Deus, tanto o Protestantismo como o Islamismo deram um novo nome a Deus e o pronunciam deliberadamente, Jeová e Alá, respectivamente. No Cristianismo e no Judaísmo o nome de Deus é indizível, por zelo, respeito e para não confundir com as coisas criadas, às quais o próprio homem deu nome.

Uma diferença básica entre ambos é que, enquanto os protestantes costumam desprezar a Mãe de Jesus, os muçulmanos a respeitam com carinho. Porém, (1) para os protestantes, Jesus Cristo é Deus; (2) para os muçulmanos, Jesus não é considerado o Cristo e, portanto, não é considerado Deus, mas um profeta, um grande profeta, pouco abaixo de Maomé. Se por um lado estes pecam por não considerar Jesus Deus; por outro, aqueles pecam por, ainda que O considerem Deus, não respeitam nem honram Sua Mãe. Os protestantes, obviamente, incorrem em duas grandes contradições: (1) quanto ao respeito do Filho e desrespeito à Mãe e (2) por, se considerarem membros do corpo de Cristo e não honrarem à Mãe do Corpo de Cristo. Em ambos os casos, se se consideram cristãos, os protestantes pecam contra o mandamento de honrar os Pais e, por conseguinte, não honram o Filho.

O grande problema do Islã (Islamismo) é que, não considerando Jesus Deus, não entendem a infalibilidade de Jesus, ou seja, sua santidade absoluta. E, assim sendo, não compreendem bem a oração sacerdotal de Jesus: “UT UNUM SINT”, na qual Ele olha para Deus Pai e diz: Pai, só Vos peço uma coisa: que todos eles sejam um como Eu e Vós somos um!

Sendo Deus a Verdade e a Justiça, e sendo Jesus Deus, Ele não entraria em contradição ao orar para que todos sejam um em Cristo e, após, enviar um anjo para formar um novo povo (apartado dos cristãos), negando a ação do Filho que enviou o Espírito Santo para guiar a Sua Igreja em unidade.

Os cristãos ficaram afastados dos judeus não por escolha dos cristãos, mas porque os judeus rejeitaram a Pedra Angular (Jesus Cristo) e, por conseguinte, a Pedra que Jesus escolheu para n'Ela erguer a Santa Igreja. No caso dos muçulmanos, eles resolveram seguir uma interpretação particular de uma visão particular que os separou dos seguidores do Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó.

Sendo Jesus Deus, deve ser respeitado. Sendo respeitado e sendo Deus, ao pedir a Deus Pai que todos sejam um n'Ele, não poderia Ele próprio dividir e formar uma religião apartada do Cristianismo (Uno, Santo, Católico e Apostólico).

Assim, para o cristão, que crê que Jesus é Deus, não pode Ele afirmar que o mesmo deus muçulmano é o Deus cristão.

 

O Deus dos cristãos é onisciente, onipresente e onipotente;

O Deus dos cristãos é uno, indivisível, eterno, absoluto, pleno, Ser, Ato Puro, é o Eu Sou, Ele é;

O Deus dos cristãos é o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó;

O Deus dos cristãos é trino: Pai, e Filho, e Espirito Santo;

Deus é o Logos, o Verbum: é a Palavra, o Verbo, Que Se fez Carne, Homem, Pão e habitou, e habita entre nós e em nós (cristãos);

Deus é o Alfa e Ômega, o Princípio e o Fim;

O Deus dos cristãos é Absoluto, Santo e Perfeito lógica, filosófica e teologicamente.

Sabe-se que, em regra, os adoradores de Alá não têm interesse em unidade com cristãos e judeus. Sendo o Islamismo mais recente que o Cristianismo, negam que Jesus é o Cristo, que Jesus Cristo é o Senhor, que o Senhor Jesus Cristo é Deus; adorando, por conseguinte, a um outro deus.

Por outro lado, alguns deles buscam a verdade e a caridade, nisso, buscam a Cristo, ainda que não saibam ou não queiram admitir. Afinal, todo aquele que busca a verdade busca a Jesus Cristo - o Caminho, a Verdade e a Vida.

Assim, em regra, um cristão pode dizer que Alá é um deus, mas não que Alá é Deus. O cristão só adora a um Deus, que é uno e trino e sabe que vive em um mundo onde muitos adoram a deuses, os quais chamamos de ídolos. É tensa essa afirmação porque pode incomodar os muçulmanos. Para um muçulmano é revoltante ler isso! Não obstante, ainda que um muçulmano esteja indignado com este texto, sabe que se trata de uma análise lógico cristã que demonstra a incompatibilidade da crença cristã com a islâmica. O respeito pelas escolhas deve haver, mas a afirmação de se tratar do mesmo Deus não pode ser feita. Até porque se pudesse, estar-se-ia diante de uma religião "cristoislâmica", obviamente, anômala e incoerente. Pois [1] (a) para o Islã, Jesus não seria Deus e (b) para o Cristianismo, Jesus Cristo é Deus. [2] (a) Para o Islã, Maomé recebeu uma revelação divina que o levou a fundar o Islamismo; (b) para o Cristianismo, Deus quer Seu povo unido no Corpo de Cristo.

O Cristianismo tem a plenitude da revelação no tempo e apresenta a revelação através dos tempos para que, dia a dia, a humanidade possa se alimentar da Palavra e conhecer cada vez mais a Verdade, até que chegue o fim dos tempos. Na eternidade, todos poderão ver plenamente a Verdade, uns para a felicidade ao lado do Deus Absoluto, outros para a condenação e pleno afastamento de Deus.

É importante buscar a Verdade Absoluta, pois toda mentira tem seu sustento num pedaço de verdade relativa. Ninguém traça uma mentira sem buscar algo que a fundamente e lhe dê credibilidade, o mesmo faz o Maligno, que é o pai da mentira.

Mas Deus é a Verdade e a Verdade é o Caminho que liberta, e só n'Ela pode ser encontrada a felicidade. Deus é amor, o amor que nos revela a Verdade e nos salva para a Plenitude, nos direciona para o Céu!

Fica a reflexão.

Atenciosamente,

ALIsson Francisco Rodrigues Barreto*

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*Poeta, filósofo, bacharel em Direito, pós-graduado.