Florestas do futuro: viveiros de plantas nativas combatem desmatamento no interior de Alagoas

ONG atua com projetos de educação ambiental e reflorestamento envolvendo comunidade em defesa do desenvolvimento sustentável e conservação da biodiversidade

Por Lucas França e Valdete Calheiros - Repórteres / Bruno Martins: Revisão / Edilson Omena: Foto da capa | Redação

O reflorestamento é fundamental no enfrentamento das mudanças climáticas, trazendo diversos benefícios, como o aumento dos recursos hídricos, a redução dos danos na agricultura em função de enchentes e a promoção de um estoque sustentável de madeira legal. Além disso, ele auxilia na redução do efeito estufa. E é assim que, em Alagoas, uma associação não-governamental vem atuando desde 1988 quando foi implantada, com foco no reflorestamento e na educação ambiental.

A Associação Nordesta de Reflorestamento e Educação Ambiental é uma instituição reconhecida pela utilidade pública em defesa do desenvolvimento sustentável e da educação no Brasil, que vem desenvolvendo projetos de preservação da floresta para comunidades localizadas em áreas próximas às reservas florestais e todos os seus projetos são em prol da sustentabilidade.

VIVEIROS

A equipe de reportagem do portal Tribuna Hoje foi até a cidade de Quebrangulo, no Agreste de Alagoas, para conhecer de perto o trabalho da Associação Nordesta. Fundada em 1985 pela doutora em ciências Anita Studer, a associação tem sede internacional em Genebra, na Suíça, e apoia programas de conservação da biodiversidade e de educação ambiental. Além disso, desenvolve projetos como a meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão).

Em 1988, a associação implantou o primeiro viveiro na cidade de Quebrangulo. Atualmente considerado de alta tecnologia, o viveiro conta com quase 500 mil mudas de 150 espécies de plantas nativas diferentes. O projeto deu tão certo que ganhou um efeito multiplicador em 14 estados do país que passaram a ter viveiro, registrando plantio de cerca de cinco milhões de árvores em todo o Brasil.

Viveiros da Nordesta em Quebrangulo (Foto: Edilson Omena)

Segundo Adrien Chardet, diretor da Organização Não Governamental (ONG) Nordesta e filho da fundadora, além das árvores que já foram plantadas a associação está fazendo um corredor florestal que liga vários fragmentos de mata à reserva de Pedra Talhada, onde as árvores foram plantadas, para tirá-la do isolamento.

“Os reflorestamentos da Reserva Biológica de Pedra Talhada, localizada em Quebrangulo, interior de Alagoas, e em cidades de Pernambuco foram feitos com plantas nativas do bioma Mata Atlântica deste viveiro e o trabalho de reflorestamento continua até hoje. Estamos também reflorestando ao redor dos rios Paraíba e Mundaú. Este trabalho de mata ciliar é essencial para minimizar os efeitos causados pelas cheias e enchentes nas cidades ribeirinhas”, pontuou Adrien Chardet.

Ainda na reserva de Pedra Talhada, a equipe de reportagem conheceu Luís Batista de Freitas, responsável técnico pelos viveiros da Nordesta. O profissional, que atua desde que a associação foi implantada, disse que já perdeu as contas de quantas árvores plantou, mas para ele é um trabalho que dá muito orgulho.

Luís Batista, responsável técnico pelos viveiros da Nordesta (Foto: Edilson Omena)

“Todos os projetos da associação são importantes tanto para o meio ambiente quanto para nós. Estou na associação desde a fundação, fui um dos primeiros. Também já viajei para outros estados onde a Nordesta atua levando informações e buscando aprimorar os conhecimentos para ajudar ainda mais o nosso bioma”, falou Luís Batista.

O responsável técnico mostrou como é feito o beneficiamento das sementes antes de serem levadas ao viveiro. “Aqui é o coração da Nordesta, neste espaço fazemos o beneficiamento das espécies”, explicou. Ao final da reportagem está disponível em vídeo a entrevista completa com Adrien e Luís Batista.

Adrien Chardet afirma que a implementação de viveiros e o manejo são essenciais no cotidiano do trabalho e que eles ajudam na preservação. “Os viveiros servem para o melhor conhecimento das técnicas do plantio de árvores nativas. Geralmente, semeamos árvores provenientes de sementes colhidas na região do viveiro. Eles também são um ponto de partida para a divulgação de dados ligados à ecologia das florestas, como manter a biodiversidade, reduzir a erosão, proteger os solos e ajudar no aumento do volume das nascentes de água”, explicou.

Sementes ficam armazenadas em sala climatizada (Foto: Edilson Omena)

Ainda conforme o diretor da Nordesta, o reflorestamento é o eixo central das atividades. “Ele está no cerne do nosso compromisso com o meio ambiente. Partindo da necessidade de replantar árvores ao redor da Reserva Biológica de Pedra Talhada para retirá-la do isolamento, o reflorestamento se expandiu para outras regiões do Brasil, como os estados do centro-sudeste e do nordeste da Amazônia. Isso é feito na forma de corredores ecológicos, formação de novas florestas, plantio ao redor de fontes de água ou até mesmo arborização urbana. As árvores são consideradas uma solução crucial para o aquecimento global. Além dos benefícios já conhecidos, elas armazenam dióxido de carbono. Estima-se que uma árvore pode prender até uma tonelada de CO₂ durante o seu crescimento. As árvores atraem chuvas, freiam a erosão do solo e favorecem a infiltração da água para abastecer os lençóis freáticos. As árvores também são portadoras importantes de biodiversidade, incluindo insetos e pássaros”.

'Criamos um viveiro no local e começamos o reflorestamento desta vertente. Até hoje estamos dando continuidade a este projeto plantando mudinhas de cipoeiras, árvores nativas e flores nativas para atrair os animais também desse bioma' - Adrien Chardet

(Foto: Edilson Omena)

Reserva Biológica de Pedra Talhada

A Reserva Biológica Federal de Pedra Talhada pertence ao bioma Mata Atlântica, atualmente tem 50 quilômetros entre os municípios de Quebrangulo, Chã Preta, Lagoa do Ouro e Correntes (estados de Alagoas e Pernambuco). Segundo dados da associação, a reserva é hoje um dos últimos resquícios florestais atlânticos deste tamanho em toda a Região Nordeste e contém 169 nascentes catalogadas que abastecem anualmente as barragens que levam água a seis municípios do entorno.

Segundo os estudiosos da associação, a riqueza de espécies do reino animal e vegetal na região se dá por três fatores: o tipo de relevo que permite a diversidade da fauna e flora, que contém uma altitude de mais de 900 metros entre o fundo dos valões e o topo rochoso, a localização geográfica no ponto de convergência dos ecossistemas Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga, os dois últimos típicos do Nordeste, e a abundância de água fornecida por mais de 160 nascentes que formam riachos e brejos.

Reflorestamento da Mata Suíça e educação ambiental

Os técnicos e voluntários da associação disseram que antes havia um forte declive às margens do Rio Paraíba e isso estava colocando em perigo a população ribeirinha, com risco de desmoronamento que podia modificar o percurso do rio. Em 1994 eles começaram a plantar mudinhas no entorno.

“Criamos um viveiro no local e começamos o reflorestamento desta vertente. Até hoje estamos dando continuidade a este projeto plantando mudinhas de cipoeiras, árvores nativas e flores nativas para atrair os animais também desse bioma”, comentou Chardet.

A associação também realizou percursos pedestres colocando placas de sinalização e identificando árvores. Os voluntários e profissionais da Nordesta recebem alunos de escolas ensinando sobre a preservação do meio ambiente. Conheça um pouco da Mata Suíça no vídeo abaixo.

"O projeto leva a educação para quem mora próximo às áreas da mata para que eles mesmos conheçam a importância de prevenir que as árvores sejam derrubadas. Mostramos de maneira dinâmica a importância do projeto com cartazes educativos e recreativos, já realizamos exposição de fotos da entrada da mata mostrando a riqueza que ela tinha e desapareceu, porém que está destinada a voltar e como podemos observar aqui já temos árvores de 20 anos, espécies de vários animais”, comentou Adrien, acrescentando que o trabalho é contínuo e não pode parar. “Aqui o trabalho é diário e feito com muito amor pensando também nas futuras gerações. Nosso maior desejo é que isso continue, precisamos destes projetos para a nossa sobrevivência”, disse, enquanto alimentava macaquinhos com bananas.

Ainda de acordo com informações da associação, em 2010 eles reforçaram o plantio de espécies nativas durante a época de chuva e hoje já é possível notar uma diferença bem grande. A mata, que está bem alta, protege definitivamente as margens do rio.

“Ações como essas, associadas a outras tantas que demonstram que o conceito de meio ambiente sustentável é muito mais do que um jogo de palavras e que a preservação é de responsabilidade de todos nós”, falou o diretor da associação.

A jornada de Anita Studer: como tudo começou

Antes da colonização europeia, o Brasil era coberto por vastas florestas primárias, incluindo a Amazônia e a Mata Atlântica. Essas florestas se estendiam ao longo da costa brasileira, do sul de Belém a São Paulo, cobrindo cerca de 3.200 km e uma área de um milhão de km². Mais de 500 anos de exploração da terra destruíram 95% da Mata Atlântica, deixando apenas fragmentos. Um desses remanescentes é a floresta "Pedra Talhada" no Nordeste do Brasil, abrangendo os estados de Alagoas e Pernambuco.

É aqui que se desenrola a história de Anita Studer e da Nordesta Reflorestamento e Educação. Tudo começou em 1976, quando a bióloga Anita Studer viajou ao Brasil pela primeira vez para estudar as numerosas espécies de pássaros locais. Cinco anos depois, ela avistou em uma pequena floresta no estado de Alagoas, no Nordeste do país, um pássaro muito ameaçado chamado Curaeus forbesi pelos cientistas e Anumara pelas populações locais.

Ela relatou sua descoberta ao seu diretor de pesquisa, que concordou que este pássaro seria um excelente tema para uma tese. No entanto, ela precisava apressar seus estudos porque o rápido desmatamento da área condenava sua sobrevivência a curto prazo a cerca de nove a 10 anos. Juntamente com o Anumara, todas as outras espécies endêmicas da região desapareceriam.

Durante um sobrevoo da região, Anita percebeu a extensão da catástrofe e a ameaça iminente para todo o ecossistema. O maciço de Pedra Talhada, abrangendo 5.000 hectares, era o último remanescente de floresta tropical primária da região, cercado por vastas terras secas, “um oásis no meio de um deserto”. Assim, a missão de Anita tomou um rumo drástico. Ela mudou seu foco da pesquisa ornitológica e começou a iniciar esforços de conservação para a floresta de Pedra Talhada.

Bióloga suíça Anita Studer (Foto: Arquivo pessoal)

Anita reconheceu a importância de colaborar com a população local para alcançar seus objetivos de conservação. No entanto, os esforços iniciais foram desafiadores, pois os moradores viam a floresta principalmente como uma fonte de caça e madeira ou uma área perigosa devido às cobras. Diante da falta de interesse dos proprietários de terras e de uma população local motivada economicamente, Anita elaborou um novo plano. Ela identificou a água como um recurso crucial na região propensa à seca e usou isso para garantir reuniões públicas com prefeitos, vereadores, proprietários de terras e sindicatos de trabalhadores rurais.

Em 1985, Anita se encontrou com Frederico Maia e Marcelo Lima (in memoriam), o prefeito e vice-prefeito de Quebrangulo. Dada a sua situação social e econômica precária, eles expressaram preocupações sobre a complexidade de conscientizar a população sobre a conservação da floresta.

Anita propôs uma solução: ela se comprometeria a reconstruir uma escola local dilapidada em troca da colaboração dos prefeitos na petição ao governador para a proteção da floresta. O acordo, selado com um aperto de mão, marcou um momento decisivo na jornada da Nordesta. Frederico Maia coletou assinaturas de todos os sete municípios beneficiados pelas nascentes de água de Pedra Talhada. Como resultado, em 18 de agosto de 1985, a escola foi construída e o governador Divaldo Suruagy assinou o decreto n° 6551, instituindo a criação do Parque Estadual de Pedra Talhada.

Em 15 de maio de 1985, Anita criou oficialmente a Associação Nordesta Reflorestamento e Educação com o objetivo de financiar projetos para a população de Quebrangulo em troca do compromisso deles de proteger a floresta. Nos anos seguintes, a Nordesta lançou vários programas voltados ao desenvolvimento socioeconômico da região de Pedra Talhada através de projetos educacionais. A construção de escolas e o apoio a centros infantis forneceram abrigo, alimentação, cuidados, educação e treinamento vocacional para a população, especialmente para crianças de rua.

Risco de extinção do pássaro Anumara motivou reflorestamento na região (Foto: Anita Studer / Arquivo pessoal)

Simultaneamente, a Nordesta implementou seu primeiro projeto de reflorestamento. Em 1988, a organização criou o primeiro viveiro de árvores com espécies nativas da Mata Atlântica, visando reconectar fragmentos de floresta isolados e desenvolver corredores para a circulação da fauna e flora e permitir trocas genéticas. Essa iniciativa também visava proteger áreas de nascentes e margens de rios contra a erosão. Junto com os esforços de reflorestamento, a Nordesta continuou implementando ações sociais, incluindo a construção de escolas, centros de saúde e oficinas de treinamento profissional.

Após duas décadas de colaboração entre a Nordesta e a população local, a floresta de Pedra Talhada foi designada como "Reserva Biológica Federal de Pedra Talhada", garantindo a proteção e o crescimento da população outrora ameaçada de Anumara. Hoje, a reserva florestal de Pedra Talhada no Centro de Endemismo de Pernambuco é uma das áreas de biodiversidade mais ameaçadas e críticas da Mata Atlântica. Esforços contínuos e pesquisas são essenciais para educar as futuras gerações, proteger hotspots ameaçados como Pedra Talhada e inspirar ações coletivas em prol do desenvolvimento sustentável.

O IMA e o reflorestamento em Alagoas

  • O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) afirmou que desenvolve ações de reflorestamento e educação ambiental em comunidades próximas às áreas de preservação da Mata Atlântica. Entre os projetos, destaca-se o Alagoas Mais Verde, que promove o plantio de mudas nativas com a participação de escolas e moradores.
  • O IMA explicou que também realiza atividades educativas por meio das gerências de Unidades de Conservação e de Educação Ambiental, orientando a população sobre o uso sustentável dos recursos naturais. O órgão ambiental elabora ações em parceria com instituições públicas e privadas, além de entidades da sociedade civil.

Um caminho para a conservação das espécies tanto da fauna quanto da flora

O biólogo João Alberto Paschoa dos Santos diz que todos os cidadãos, pais e professores têm um papel como educadores ambientais, segundo o Conselho Regional de Biologia. A atuação de biólogos como educadores ambientais pode se dar em diversas frentes, como palestras, cursos, visitas guiadas, projetos e consultorias.

“A educação ambiental, portanto, é um processo contínuo e integrado que busca formar cidadãos mais conscientes e responsáveis, capazes de construir um futuro mais sustentável. A educação ambiental, desde os primeiros anos escolares, é vista como a melhor forma de prevenir o agravamento dos problemas ambientais e fomentar uma mudança de comportamento na sociedade. É um processo que visa construir valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, um bem comum essencial à qualidade de vida e à sustentabilidade”, ressaltou.

Reflorestamento beneficia fauna e a flora local (Foto: Allan Rodrigues)

Santos diz que a educação ambiental é importante porque conscientiza a população sobre problemas ambientais e a importância da preservação dos recursos naturais; promove práticas sustentáveis – incentivando ações responsáveis e a adoção de hábitos que minimizem o impacto ambiental; forma cidadãos conscientes, permitindo que as pessoas entendam seu papel no meio ambiente e a importância de suas ações; influencia políticas públicas, ou seja, uma população mais bem informada e engajada contribui para a formulação de leis ambientais mais eficazes e desperta o pensamento crítico, estimulando a reflexão sobre as relações entre sociedade e meio ambiente.

Em Alagoas, órgãos de proteção também realizam atividades em prol da educação ambiental

O Ministério Público Federal (MPF) em Alagoas atua na área de educação ambiental e reflorestamento, com o objetivo de recuperar e preservar o meio ambiente, com foco em ações que promovem a sustentabilidade e a conscientização da população.

O órgão acompanha e investiga casos de crimes ambientais, como desmatamento ilegal e poluição, com intuito de buscar e responsabilizar os infratores e de recuperar danos ambientais. Além disso, busca conscientizar a população em geral sobre a importância da preservação ambiental, realizando projetos e parcerias com instituições de ensino e ONGs.

INCENTIVO AO REFLORESTAMENTO

O MPF em Alagoas apoia ainda iniciativas de reflorestamento, especialmente em áreas degradadas e de mata ciliar, como as que a Associação Nordesta faz em Alagoas e Pernambuco, buscando a recuperação da biodiversidade e a melhoria da qualidade ambiental.

BUROCRACIA

Em Alagoas, o órgão busca soluções consensuais para conflitos ambientais, promovendo acordos e termos de ajustamento de conduta (TACs) que visem à recuperação ambiental e à prevenção de novos danos. E acompanha a implementação de políticas públicas relacionadas ao meio ambiente, buscando garantir que sejam efetivas na proteção do meio ambiente e na promoção do desenvolvimento sustentável.

AÇÕES E PROJETOS

O MPF pode apoiar e incentivar projetos de reflorestamento em áreas degradadas, como matas ciliares, visando a recuperação da vegetação nativa e a melhoria da qualidade da água; pode realizar parcerias com escolas para promover atividades educativas sobre meio ambiente, como palestras, oficinas e visitas a áreas de reflorestamento; pode ainda promover eventos sobre educação ambiental, como seminários, palestras e exposições, para conscientizar a população sobre a importância da preservação ambiental; fiscalizar empreendimentos que possam causar impactos ambientais negativos, buscando garantir que sejam realizados de forma sustentável e respeitando a legislação ambiental etc.

Reflorestamento (Foto: Allan Rodrigues)

“A educação ambiental é fundamental para a formação de cidadãos conscientes e responsáveis, capazes de atuar na proteção do meio ambiente e na promoção do desenvolvimento sustentável. A conscientização sobre a importância da preservação ambiental e a adoção de práticas sustentáveis são essenciais para garantir um futuro mais equilibrado e saudável para todos”, destaca o órgão.

Para mais informações sobre a atuação do MPF em Alagoas na área de educação ambiental e reflorestamento, recomenda-se consultar o site do MPF e buscar informações sobre projetos e ações específicas desenvolvidas na região.

MP/AL e o relacionamento com projetos de conscientização ambiental e reflorestamento

Agregar parceiros do setor público e da iniciativa privada em estratégias de conservação e preservação do meio ambiente, com ações que incluem a conscientização e a participação popular tem sido o novo paradigma do Ministério Público do Estado de Alagoas (MP/AL) na área ambiental e que, segundo o promotor Alberto Fonseca, titular da 4ª Promotoria de Justiça da Capital (Defesa do Meio Ambiente), tirou o órgão de uma postura reativa para uma atuação proativa e com maior capacidade de cumprir seu papel.

O promotor fez essa afirmação durante a 1ª Semana da Sustentabilidade, promovida pela Usina Caeté no dia 1 de julho deste ano no auditório do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), em Penedo. Na oportunidade, Alberto Fonseca e a promotora Lavínia Fragoso, titular da 5ª Promotoria de Justiça da Capital (Recursos Hídricos), também falaram sobre a colaboração interinstitucional do órgão para a conservação de espécies ameaçadas de extinção por meio de um Programa de Refaunação.

“A atuação dos órgãos de Justiça e do próprio Ministério Público se dava de forma reativa para punir e impor medidas aos infratores. Ao mesmo tempo, comprovamos que as áreas desmatadas, por exemplo, começam a perder biodiversidade, reduzindo seus exemplares da fauna, além de haver redução de água na natureza, da qualidade do ar e, consequentemente, da qualidade de vida das pessoas”, ressaltou Alberto Fonseca.

Promotor Alberto Fonseca (Foto: Edilson Omena)

“Em Alagoas, o bioma Mata Atlântica ocupa menos de 10% do que já foi sua área original e, como agravante, esses fragmentos perderam seus sons originais justamente pelo desaparecimento ou redução severa de algumas espécies. Para sermos proativos, no sentido de reunir todas as forças, para dar um basta no processo constante de degradação ambiental, passamos a buscar um novo paradigma, principalmente quando o MP/AL instituiu o seu Planejamento Estratégico”, acrescentou o promotor.

Conforme a promotora Lavínia Fragoso, o Planejamento Estratégico 2023-2029 do MP/AL consolidou o Programa Pró-Espécies, que se deriva em diversos Planos de Ação Estadual (PAE), os quais incluem não apenas a refaunação, isto é, a reinserção dos animais de volta aos seus habitats, mas também a conservação e ampliação dos fragmentos de Mata Atlântica e Caatinga que servem de abrigo para esses bichos.

Entre os animais abrangidos pelos PAEs estão o papagaio-chauá, papagaio-do-mangue, macaco-prego-galego, macuco e mutum-de-alagoas. O papagaio-chauá e o mutum, por exemplo, já começaram a ser reinseridos em fragmentos do bioma Mata Atlântica em Alagoas.

Mutum-de-alagoas foi reinserido após ação do MP/AL (Foto: Ascom MP/AL)

Paralelamente, o MP/AL criou o Pró-Reservas e o Pró-Manguezais, iniciativas que ajudam a proteger e ampliar as áreas de matas. Algumas delas são estrategicamente escolhidas para reinserção de espécies ameaçadas. Como consequência, há o programa de incentivo à criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), as quais, após regulamentadas, devem ser preservadas de maneira perpétua. Com essas medidas, o órgão dá apoio institucional ao setor privado que deseja criar ou manter áreas de preservação.

“São áreas que podem ser usadas para fins de soltura de animais, bem como atividades de pesquisa científica, educação ambiental e observação de espécies, de forma sustentável e em prol sempre da preservação, as quais permanecem como propriedades particulares. Nesse processo, temos tido uma adesão muito significativa do setor sucroenergético”, acrescentou a promotora de Justiça Lavínia Fragoso. Ainda segundo ela, essas unidades de conservação ajudam a diminuir os efeitos das mudanças climáticas.

Promotora Lavínia Fragoso em ação de recuperação de manguezais (Foto: Ascom MP/AL)