Ansiedade: um mal da Geração Z

Jovens nascidos entre 1995 e 2012 relatam que frustração e cobrança abalam a saúde emocional; especialistas alertam para responsáveis ficarem atentos às mudanças de comportamento

Por Lucas França / Revisão: Bruno Martins / Lucas França: Foto de capa | Redação

[ALERTA: O material abaixo aborda assuntos como ansiedade, depressão e suicídio, temas que mexem com o emocional e podem ser gatilhos para algumas pessoas. Caso você se identifique, tenha depressão, crises de ansiedade frequentes ou pensamentos suicidas, procure apoio no Centro Voluntário à Vida pelo telefone 188. O contato é feito de forma sigilosa. Se sua saúde emocional está abalada, procure ajude, você não está sozinho]

“Vejo que a recuperação é mais difícil do que parece... A cada nova ida ao psiquiatra e psicólogo, é aumento em dosagens de remédios e remédios novos. Estou desempregado e sempre à procura de um emprego, lidando com as pessoas difíceis que tenho em casa e a pressão da faculdade que tem sido intensa. Mas nisso busco melhora, por enquanto sem resultado”, este é apenas um trecho do relato do estudante universitário Renaldo Batista Ferreira Neto, de 24 anos, que desde os quatro anos tem que lidar com mudanças de rotina.

O jovem é natural de Viçosa, na Zona da Mata de Alagoas, mas atualmente mora em Paulo Jacinto, município da mesma região. A história de Renaldo é forte, emocionante e por muitas vezes triste, mas ele espera sair dessa situação.

Renaldo conta que morou com os pais até os quatro anos de idade, dos cinco aos sete teve que morar com a avó. “Meu pai recebeu uma proposta de emprego e acabei tendo que morar com minha avó, me fazendo sentir um pouco de abandono. Minha avó não era uma pessoa fácil de lidar, sempre que surgia algum problema já partia para agressões físicas. Enfim, até meus sete anos, que foi quando consegui vir morar em Paulo Jacinto, passei por coisas conturbadas, dentre elas algumas que me causaram traumas até hoje. A partir de quando vim morar aqui, vi que a vida já não era tão fácil, pois na casa da minha avó eram três salários - contando com o da minha tia -, enquanto aqui em Paulo Jacinto era só o salário mínimo do meu pai e logo tive que me adaptar a isso”, detalhou o jovem.

Além disso, o estudante conta que precisou fazer novas amizades, o que acabou sendo um problema também. “Tive que fazer novos amigos, já que os de Viçosa tinham ficado para trás”.

MUTILAÇÃO E TENTATIVA DE SUICÍDIO

O universitário relata que a primeira consulta ao psicólogo foi entre os nove e 10 anos. “Mesmo tão novo tinha que aprender a lidar com minhas crises de raiva. Entre os 12 e 13 anos, comecei com o alcoolismo. Sim, bem jovem, mas era algo que eu sempre via em casa por meu pai sempre beber e achei que era normal. Porém, foi o que me fez ser um adolescente problemático, querendo tardar na rua, faltando aula e andando com gente de índole questionável, isso se manteve por um bom tempo. Aos 16, terminei o ensino médio, mas mantive o estilo ‘problemático’. Até aí, eu não sabia o que era a depressão, mas me machucava para sentir o ‘alívio’ da dor mental, passando para a dor física”, relatou.

Estudante universitário Renaldo Ferreira (Foto: Arquivo pessoal)

“Na véspera dos meus 20 anos tentei suicídio, me enforquei na janela do quarto após uma ligação com meu irmão em que eu chorava muito e me despedi dele. Após uns minutos apagado, minha mãe, com a chave reserva, conseguiu entrar no meu quarto e chamou meu pai às pressas. Fui levado ao hospital e de lá fui encaminhado para o CAPS [Centro de Atenção Psicossocial] em Maceió, onde quase fiquei internado”, recordou Renaldo Batista.

Conforme o universitário, foi após este episódio que ele passou a frequentar mais rotineiramente psicóloga e psiquiatra. Mas, mesmo com essa situação, ele conta que em casa ninguém o tratava como um depressivo.

“As coisas em casa voltaram a ficar difíceis, com um episódio que meu pai foi comigo na psiquiatra querendo me aposentar... E fiquei um ano sem ir. Mais pra frente, com uns problemas em casa, minha mãe foi embora, ficamos apenas eu e meu pai para gerenciar casa e bar, algo que exigiu muito da minha mente, ainda mais por lidar com ele. E então, num certo dia, ele chega em casa bêbado, discutindo comigo, o que me deu uma crise de pânico que me fez socar o vidro da porta e querer me machucar mais com os cacos de vidro. Passei um tempo em Viçosa com minha mãe, após esse tempo ela voltou pra casa e eu voltei com ela. Nessa turbulência toda, passei na faculdade que queria, mas fiquei um ano sem ir por falta de informações, o que me fez ter um ano conturbado pela ansiedade de começar a faculdade”, explicou.

Renaldo conta que após um ano conseguiu frequentar a faculdade e desde então se mantém indo para psiquiatra. “A recuperação é mais difícil do que parece, admito não ter tanta força de vontade, mas sim, sei que é necessário buscar ajuda e desejo sair dessa situação”.

Ansiedade faz jovens “anteciparem” o futuro

Assim como Renaldo; as estudantes Karina Ataíde, 16 anos; Vitória Beatriz, 17; e Ana Lúcia, 24 (nomes fictícios das personagens que ainda não se sentem à vontade para falar abertamente sobre o assunto, que segue sendo delicado para elas); também sofrem com características que vêm marcando os nascidos entre 1995 e 2012, a chamada Geração Z, que são a ansiedade e a baixa tolerância à frustração.

Karina conta que tudo começou de forma sutil, como um incômodo no peito e pensamentos acelerados. “No início, eu achava que era só estresse ou cansaço, mas com o tempo, percebi que algo estava errado. As crises começaram a vir com mais frequência: falta de ar, choro sem motivo aparente, uma sensação constante de que algo ruim ia acontecer. É como se minha mente ficasse presa em um loop de medos que nem sempre fazem sentido. Penso muito, às vezes demais. Questiono tudo: se estou fazendo certo, se estou sendo boa o suficiente, se algo ruim vai acontecer comigo ou com quem eu amo. E isso cansa. A ansiedade me faz viver no futuro, me preocupando com o que nem aconteceu ainda. Às vezes, já pensei em desistir de tudo — não porque quisesse acabar com minha vida, mas porque queria parar de sentir essa dor invisível”, relatou.

Para a estudante, alguns fatores podem ter contribuído para as crises. “Acredito que essas crises surgiram por uma mistura de coisas: pressão, insegurança, medo de decepcionar e talvez até por guardar sentimentos por muito tempo. Eu classificaria minhas crises como moderadas — nem sempre me derrubam, mas também não são leves o suficiente pra ignorar. Ainda não procurei ajuda profissional, mas sei que é o próximo passo. Conversar com quem confio tem me ajudado e o apoio da minha família e das poucas pessoas que me entendem faz uma diferença enorme. Principalmente meu namorado, Marlon, que esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis. Ele sempre tentou me acalmar, me ouvir e me lembrar de que sou amada. Ter esse apoio foi essencial pra eu não me perder de mim mesma. Pensar no futuro me deixa ansiosa, sim. A pressão de escolher uma carreira, arrumar um bom emprego, ser alguém ‘de sucesso’ pesa bastante. Mas, apesar de tudo, tenho esperança de melhorar. Quero me cuidar, me entender e aprender a viver no presente — um passo de cada vez”.

Geração mais conectada acaba se isolando mais que as outras (Foto: Lucas França)

A busca por um emprego

A Geração Z quer um trabalho que esteja alinhado aos seus valores pessoais e que também leve ao sucesso e, além disso, por terem nascido em meio à tecnologia tendem a achar que entendem tudo. Ao primeiro não, eles ficam frustrados e a ansiedade bate.

“Tem dias em que eu paro e fico pensando em tudo que estou vivendo. A ansiedade bate, silenciosa ou barulhenta, e me faz questionar se um dia vou encontrar um bom emprego, se vou realmente ser tudo aquilo que sonho. Às vezes sinto que estou correndo, me esforçando tanto, mas sem saber exatamente se estou indo na direção certa. E isso cansa. Dói. Às vezes me comparo com os outros e me sinto para trás. Tem dias em que o medo me paralisa, me fazendo duvidar até das coisas que antes eu tinha certeza. E tudo isso vira um turbilhão dentro de mim. Só eu sei o quanto já chorei calada, o quanto já pensei em desistir, mesmo sem querer de verdade. É difícil lutar contra algo que ninguém vê”, contou a estudante Vitória Beatriz, de 17 anos.

No meio desse caos, ela aprendeu que não está sozinha. “Ter o apoio da família faz uma diferença que não dá nem pra explicar. Às vezes, só um olhar, um ‘vai dar certo’, já acalma o coração. Porque quando a gente tem quem acredita na gente mesmo quando a gente duvida, tudo muda. Não vou mentir: ainda têm dias difíceis. Ainda têm noites em que eu deito e fico imaginando como seria a vida se tudo estivesse nos trilhos. Mas aprendi a viver um dia de cada vez. A respeitar meu tempo. A entender que tudo que é construído com esforço e verdade leva tempo mesmo. E que, enquanto isso, eu posso continuar com fé, com paciência, e com a certeza de que o meu momento vai chegar”, finalizou a jovem, sem passar mais detalhes sobre suas crises.

'Não há um único fator causal, é uma soma de situações que podem levar a alterações e maior vulnerabilidade para quadros de transtorno mental', afirmou o psiquiatra Gabriel Okuda, do Hospital Israelita Albert Einstein.

(Foto: Freepik)


“No começo eu sentia um vazio e tinha choro repetitivo antes de dormir”

Sem saber ainda do que se tratava direito, a universitária Ana Lúcia, 24 anos, relata que começou a perceber as crises por volta dos 14, 15 anos, mas até então não sabia do que se tratava.

“Comecei a perceber as crises dos 14 aos 15 anos, no começo eu sentia um vazio, mas achava que era nada, que seria apenas choro repetitivo até dormir. Mas veio seguido de insônia, falta de apetite e outras coisas. Depois de um tempo, as crises viraram uma dor imensa, mais vazio, mais vontade de sumir, quando eu dizia algumas vezes à minha mãe que não aguentava mais”, explicou Ana Lúcia.

Segundo a universitária de Administração, isso foi só o início. “Já passei muita coisa, desde a aliciação familiar até agressão em relacionamento, guardei por um tempo tudo que sentia. Mas busquei ajuda. Já fui à psicóloga, neuropsicóloga, psiquiatra. Iniciei o tratamento com medicamentos e atualmente consigo dizer que melhorei, mas não 100%, pois as crises vez ou outra ainda me acompanham. A diferença é que hoje eu parei de sentir vazio, parei de chorar toda hora. No entanto a dor emocional se transformou em problemas físicos, gastrite, enxaqueca, tontura, visão, tremedeira. Mas estou fazendo o possível para sair dessa. Com a nova terapeuta, quero vencer e vou sair dessa”.

(Foto: Ilustração)

Ana Lúcia relatou ainda que não tem muitos amigos, mas o único que tem é um porto seguro. “Só tenho um amigo mesmo que me ajuda em tudo, uma outra pessoa que é um ex. Neste caso, terminamos bem, sem turbulência e ele faz o possível também para me ajudar. Me ajudou bastante em algumas crises. Fora eles, não tenho mais ninguém. Aliás, tenho Deus que me conforta, mas confesso que seria importante uma ajuda a mais. Porém, não gosto de ‘encher o saco de ninguém’ sobre o meu futuro”, contou a jovem, que pensa em fazer cursos, finalizar a faculdade, tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e morar sozinha. “Mas para isso preciso ter mais estabilidade emocional e financeira e, acima de tudo, confiar mais em mim”.

Segundo a OMS, um em cada sete adolescentes tem problemas de saúde mental

Um estudo publicado em outubro do ano passado no Journal of Adolescent Health (https://www.jahonline.org/arti...), conduzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, aponta que um em cada sete adolescentes sofre de alguma doença mental, principalmente ansiedade e depressão.

O estudo aponta ainda altas taxas de abuso de álcool e drogas, distúrbios alimentares, problemas de comportamento e ideação suicida. Segundo o artigo, cerca de um terço dos jovens apresenta essas doenças antes dos 14 anos e metade as manifesta por volta dos 18 anos. Além disso, muitos apresentam estresse psicossocial que não chega a ser diagnosticado.

Os dados foram obtidos após uma revisão que contemplou estudos desde 2010, buscando identificar os motivos que mais impactam a saúde e o desenvolvimento dos adolescentes na faixa etária dos 10 aos 19 anos no mundo todo.

De acordo com os especialistas, vários aspectos explicam o aumento dos problemas de saúde mental na Geração Z, entre eles o maior número de pesquisas feitas nessa faixa etária e o maior acesso à informação e melhor entendimento das questões de saúde mental, o que vem melhorando os diagnósticos.

O desenvolvimento dos transtornos mentais envolve a interação de vários fatores, como condições sociais, econômicas, psicológicas, culturais, genéticas, histórico familiar, além de outros como maus-tratos físicos, psicológicos e eventos estressores recorrentes. “Não há um único fator causal, é uma soma de situações que podem levar a alterações e maior vulnerabilidade para quadros de transtorno mental”, afirmou o psiquiatra Gabriel Okuda, do Hospital Israelita Albert Einstein.

O estudo também aponta o aumento do sentimento de solidão, em especial entre as jovens do sexo feminino, fenômeno que dobrou de 2012 a 2018. Conforme os autores do artigo, há uma associação com o aumento do uso de tecnologia e redes sociais, que podem provocar exclusão escolar e bullying.

Para Okuda, o contato de redes sociais é mais distante, gera relações superficiais. “A pandemia da covid-19 acelerou o isolamento social, já que crianças e adolescentes perderam o convívio escolar e isso impactou a formação de amizades e o funcionamento social, tudo foi trocado pela vivência online”.

Segundo Okuda, é preciso observar a forma do filho se vestir, o jeito de falar, as mudanças de comportamento, atitudes, se fuma, se bebe. “É importante conversar com os professores, colegas, parentes, se notam alteração no comportamento do jovem, como agressividade, irritabilidade, tristeza, nervosismo, agressividade, agitação, ansiedade, isolamento, se houve diminuição em suas relações sociais e amizades, perda de apetite, alteração do sono, se passa mais tempo nas redes sociais, tudo isso são sinais relacionados aos quadros de transtornos mentais”, afirma o especialista.

Jovem envia mensagens de despedida antes de tirar a própria vida

Após dias de buscas intensas realizadas pelo Corpo de Bombeiros e voluntários da região, o corpo da jovem Paula Beatriz, de 18 anos, foi encontrado nas águas do Rio São Francisco, na divisa entre Sergipe e Alagoas, próximo aos municípios de Piranhas e Canindé do São Francisco. Residente de Poço Redondo, em Sergipe, a vítima estava passando por depressão.

(Imagens: Reprodução)

Amigos e familiares relataram que Paula enfrentava uma depressão profunda e havia enviado mensagens de despedida a uma amiga antes de seguir em direção à ponte que liga os dois estados. O desaparecimento mobilizou equipes de resgate e a comunidade local, que uniu esforços para tentar encontrá-la.

A tragédia ocorreu em fevereiro de 2025 e reacendeu um alerta sobre os impactos da depressão, uma doença silenciosa que afeta milhões de pessoas no Brasil e no mundo. Especialistas reforçam a importância do apoio emocional e do acesso a tratamento adequado para evitar desfechos como esse.

“Ela era uma menina querida, cheia de sonhos, mas estava sofrendo muito por dentro”, relatou um amigo próximo.

Se você conhece alguém que estejam enfrentando dificuldades emocionais, é fundamental buscar ajuda. No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento gratuito e sigiloso pelo telefone 188 e pelo site www.cvv.org.br.

Órgãos de proteção viabilizam agendamento e acompanhamento psicossocial

  • Após intervenção da Defensoria Pública do Estado (DP/AL), o HGE, a Sesau e a SMS trocarão informações diárias para viabilizar de imediato o atendimento e acompanhamentos de pessoas que tentaram tirar a própria vida. Além disso, representantes da Gerência de Atenção Psicossocial do Município de Maceió visitarão o paciente, in loco, em até 24h após sua entrada na unidade de saúde, realizando os devidos encaminhamentos para o seu acompanhamento. O acordo foi pactuado durante reunião promovida pelo defensor público e coordenador do Núcleo de Direitos Coletivos e Humanos da Defensoria Pública, Fabrício Leão Souto, na sede do órgão, em Maceió.
  • “Dentre os compromissos firmados, destacam-se a comunicação imediata entre HGE, RAPS de Maceió e Sesau, bem como a visita in loco ao paciente em até 24 horas ainda no hospital. A necessidade de criação de um fluxo de informações sobre o atendimento psicossocial prestado aos pacientes que tentaram suicídio foi constatada, em abril deste ano, durante vistoria realizada no HGE. Conforme o hospital, esse intercâmbio é necessário para garantir que o paciente continue sendo assistido por profissionais da área de Psicologia e Psiquiatria depois da alta hospitalar, sem interrupção”, ressalta Leão.

Alagoas teve salto de 89% no número de internações por tentativa de suicídio de 2022 a 2023

As internações relacionadas a lesões em que houve intenção deliberada de infligir contra si mesmo cresceu em 2023, segundo a Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede). Em Alagoas, foi registrado um crescimento “alarmante” com o maior aumento percentual do país de 2022 para 2023 – um salto de 89% nas internações. Em números absolutos, os casos passaram de 18 para 34 no período.

Em 2023, em todo o país foram 11.502 internações. Ou seja, o número dá uma média diária de 31 casos. As internações correspondem apenas ao Sistema Único de Saúde (SUS). O total representa um aumento de mais de 25% em relação aos 9.173 casos registrados quase 10 anos antes, em 2014. O levantamento da Abramede foi divulgado no dia 11 de setembro de 2024.

Segundo a Abramede, nesse tipo de circunstância, médicos de emergência são, geralmente, os primeiros a prestar atendimento ao paciente. Para a associação, o aumento de internações por tentativas de suicídio e autolesões reforça a importância de capacitar esses profissionais para atender aos casos com rapidez e eficiência, além de promover acolhimento adequado em situações de grande fragilidade emocional.

Ainda segundo a associação, estes números, que já são altos, podem ser maiores, já que pode haver casos subnotificados, registros inconsistentes e limitação de acesso ao atendimento em algumas regiões do Brasil.

A entidade lembra que o levantamento mostra que em 2016 houve uma oscilação nas notificações de internações por tentativa de suicídio. Ou seja, com leve queda em relação aos dois anos anteriores. O índice voltou a subir em 2018, com um total de 9.438 casos, e alcançou o pico em 2023.

POR REGIÕES

A Paraíba e o Rio de Janeiro, de acordo com a entidade, também chamam a atenção, com aumentos de 71% e 43%, respectivamente. Por outro lado, estados como São Paulo e Minas Gerais, apesar de registrarem números absolutos elevados – 3.872 e 1.702 internações, respectivamente, em 2023 registraram aumentos percentuais menores, de 5% e 2%, respectivamente.

(Foto: Reprodução / Hospital de Clínicas de Carazinho)

Em um movimento contrário, alguns estados apresentaram reduções expressivas no número de internações por tentativas de suicídio e autolesões no ano passado. O Amapá lidera a lista, com uma queda de 48%, seguido pelo Tocantins (27%) e Acre (26%).

A associação destaca que a Região Sul como um todo enfrenta “tendência preocupante” de aumento desse tipo de internação. Santa Catarina apresentou crescimento de 22% de 2022 para 2023, enquanto o Paraná identificou aumento de 16%. O Rio Grande do Sul ficou no topo da lista na região, com aumento de 33%.

PERFIL DOS PACIENTES

A Abramede destaca os dados sobre pacientes internados por lesões autoprovocadas mostram uma diferença significativa entre os sexos. Entre 2014 e 2023, o número de internações de mulheres aumentou de 3.390 para 5.854. Já entre os homens, o total de internações caiu, ao passar de 5.783 em 2014 para 5.648 em 2023.

FAIXA ETÁRIA

Em relação à faixa etária, o grupo de 20 a 29 anos foi o mais afetado em 2023, com 2.954 internações, seguido pelo grupo de 15 a 19 anos, que registrou 1.310 casos. “Os números ressaltam a vulnerabilidade dos jovens adultos e adolescentes, que, juntos, representam uma parcela significativa das tentativas de suicídio”, avaliou a associação.

O número de internações entre indivíduos com 60 anos ou mais somou 963 casos em 2023. Já em adolescentes entre 10 e 14 anos, em 2023 houve aumento, com 601 ocorrências, quase o dobro de 2011, quando foram registradas 315 internações.

Apesar de, nessas circunstâncias, os médicos de emergência serem geralmente os primeiros a prestar atendimento ao paciente, é necessário realizar uma triagem que também inclua a identificação de sinais de vulnerabilidade emocional, com o objetivo de oferecer suporte integrado. Isso pode fazer a diferença nos casos.

PSIQUIATRA

A médica psiquiatra Jordana Farias ressaltou que existe uma combinação de diversos fatores que podem levar os menores a cometerem o suicídio.

“É uma combinação de diversos fatores. Social, ambiental, genético, psicológico. Esses são fatores que vão influenciar e alguns dos gatilhos principais que o médico psiquiatra tem que fazer a investigação e avaliar. Se a criança ou o adolescente passou por trauma ou algum outro tipo de abuso; se aquela criança vem com algum transtorno psiquiátrico primário, tipo uma depressão; se vem acontecendo algum quesito familiar, por exemplo, divórcio dos pais ou então alguma pressão acadêmica importante. Tudo isso pode influenciar”, pontuou Jordana.

Ainda segundo Jordana, por mais que a criança ou o adolescente não diga o que está acontecendo, os responsáveis vão ver nas atitudes se pararem e observarem.

Psiquiatra Jordana Farias (Foto: Edilson Omena)

Maceió oferece suporte para pacientes em unidades de saúde

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Maceió, oferece serviços de saúde mental nas Unidades Básicas de Saúde, que são porta de entrada para os usuários, tanto adultos quanto crianças, que apresentam transtornos mais leves.

Já os casos mais graves e persistentes são atendidos nos cinco Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que são: Sadi Carvalho (Bebedouro); Noraci Pedrosa (Jacintinho); Rostan Silvestre (Jatiúca); Álcool e Outras Drogas (AD) Everaldo Moreira, voltado para o público adulto; e o Infantojuvenil Luiz da Rocha Cerqueira (Serraria), voltado para crianças e adolescentes com transtornos mais persistentes, tais como Transtorno do Espectro Autista (TEA), depressão, esquizofrenia, transtornos de conduta, transtorno de personalidade e sofrimento psíquico grave.

Esses locais contam com uma equipe multiprofissional voltada para atender as necessidades desse público.

CAMPANHAS

Maceió desenvolve anualmente as campanhas do Janeiro Branco, voltadas à importância da saúde emocional, e o Setembro Amarelo, que realiza ações de prevenção ao suicídio. Essas campanhas buscam abranger e acolher a todo público, tanto adultos, crianças e adolescentes que fazem parte dos serviços quanto a comunidade em geral.

A SMS oferece atendimentos psicológicos na maioria de suas Unidades Básicas, de Referência, nos CAPS e pelo programa Saúde da Gente.

Já os atendimentos em psiquiatria são disponibilizados em Unidades de Referência em diversos bairros de Maceió, como a URS Maria da Conceição Paranhos (Jacarecica), II Centro de Saúde (Poço), Ib Gatto Falcão (Tabuleiro do Martins), URS João Paulo II (Jacintinho), entre outras.

Sesau tem sistema otimizado para levantamento de informações de saúde mental no estado

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), por meio da Supervisão de Atenção Psicossocial, apresentou ao Ministério da Saúde (MS) o Sistema Unificado de Acompanhamento da Rede de Atenção Psicossocial (Sistema SUAPS) em setembro de 2024.

A iniciativa é uma parceria da Sesau com o Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e visa automatizar a coleta de dados dos pacientes com problemas de saúde mental e relacioná-los às informações dispostas nos sistemas usuais do Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo é aprimorar o monitoramento e avaliação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e produzir dados que possam subsidiar estudos e aprimorar a capacidade de intervenção.

Para a supervisora de Atenção Psicossocial da Sesau, Tereza Cristina Tenório, o programa proporciona um sistema otimizado e ágil no levantamento de informações de saúde mental do estado. “O programa visa incorporar o sistema para todo o Brasil. Garantindo assim um sistema otimizado, ágil, com todas as informações sobre os serviços da rede, desde a Atenção Primária até as internações, passando pela questão do suicídio”.

Supervisora de Atenção Psicossocial da Sesau, Tereza Cristina Tenório (Foto: Carla Cleto /Ascom Sesau)

Tereza Cristina salientou que o Sistema SUAPS permitirá o avanço de casos direcionados à saúde mental a um patamar acima quanto à produção de conhecimento, seja técnico ou acadêmico, e ao aprimoramento da Atenção Psicossocial. “Nele, são colhidas informações sobre a produção ambulatorial dos CAPS, Residências Terapêuticas e Unidades de Acolhimento. Também são colhidos dados sobre internamentos em hospitais psiquiátricos e em Leitos de Saúde Mental referentes à violência autoprovocada e suicídio, por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação [Sinan]”, explanou.

O programa também levantará os dados sobre município de residência do usuário, município de atendimento e valores gastos com internação, além de detalhar os números de usuários que produziram violência contra si, bem como os municípios com maiores taxas de violência e tentativas de suicídio.

Em relação aos números de atendimentos relacionados aos serviços de psicologia e psiquiatria voltados para crianças e adolescentes, eles foram solicitados pela reportagem, mas até o fechamento do material não houve retorno.

ATENDIMENTOS DA SESAU

O Núcleo de Atenção à Saúde do Servidor, por exemplo, inclui psiquiatria, além de psicologia, entre outras especialidades. Além disso, a Sesau tem o “Alô Saúde Mental”, que oferece atendimento psicológico online, inclusive para os servidores da saúde.

Alô Saúde Mental

Este serviço online oferece atendimento psicológico a pessoas que estão passando por dificuldades de saúde mental, funcionando de domingo a domingo, das 7h às 19h.

Clínicas da Família

As clínicas da família oferecem atendimento psicológico para os usuários do SUS de Maceió e da região metropolitana.

HGE

O Hospital Geral do Estado (HGE) também oferece atendimento psicológico e psiquiátrico gratuito para os servidores.

Como acessar os serviços

Alô Saúde Mental: o serviço pode ser acessado por WhatsApp ou pelo site da Sesau.

Clínicas da Família: é necessário ter um encaminhamento médico para o acompanhamento psicológico ou solicitar uma consulta com um clínico geral para avaliação e encaminhamento.

HGE: os servidores da Saúde podem solicitar atendimento gratuito no HGE. Além desses, há outros serviços voltados ao cuidado e prevenção com a saúde mental.

SETEMBRO AMARELO

O Setembro Amarelo é uma iniciativa internacional que foi trazida para o Brasil em 2014, em uma parceria entre a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), com o propósito de conscientizar a sociedade sobre a prevenção do suicídio. A campanha, que se intensifica no referido mês devido ao Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio em 10 de setembro, é um lembrete da importância do cuidado com a saúde mental.

Porém, é fundamental difundir que essa é uma temática que deve ser explorada o ano inteiro, para que a mensagem de prevenção seja verdadeiramente eficaz. Um dos caminhos mais promissores para isso é a integração da educação socioemocional nas escolas e na sociedade.

Para a psicóloga e coordenadora de Metodologia da HUG Education, Daniela Sales, a campanha Setembro Amarelo é uma importante ferramenta para difundir a empatia e um olhar mais atento para as relações humanas. “A gente vai entendendo que a educação socioemocional e a campanha, através das propostas socioemocionais que já são previstas pela BNCC, atuam como uma medida preventiva para que a gente não chegue nesses índices tão alarmantes de adoecimento mental. Por isso a gente busca trazer uma promoção de vida e bem-estar para essas pessoas”.

Psicóloga Daniela Sales (Foto: Reprodução / Instagram)

Segundo Sales, a proposta de educação emocional é conseguir dentro das escolas promover e desenvolver ferramentas pedagógicas para crianças e adolescentes. “Nossa missão é que eles consigam se autogerir e se autorregular, considerando que o Brasil é o segundo país mais ansioso do mundo e o quinto com o maior índice de depressão”.

Frustração e apatia são as principais queixas da Geração Z

Lidar com as questões ligadas à saúde emocional sem tabus já é uma característica da Geração Z, mas uma boa notícia é que, ao contrário dos millennials e gerações anteriores, que têm barreiras ao vivenciar problemas emocionais, essa geração costuma buscar ajuda.

A psicóloga e neuropsicóloga Fernanda Barreto, dona do perfil @psicologiaaporamor, enfatiza que os pais precisam conversar e buscar entender os filhos e observar os sinais. No vídeo abaixo, a especialista fala sobre o que leva os jovens a terem crises de ansiedade e como a ajuda especializada é importante.

OBSERVAR OS FILHOS

Nessa fase da adolescência – que é de transição, quando o jovem está desenvolvendo sua identidade e tem que lidar com novas responsabilidades – pode ocorrer ansiedade, frustração de não errar e isso pode ser um desafio para a saúde mental. É nessa faixa etária também que há influências externas, amizades, redes sociais etc. Por isso, os pais devem ficar mais atentos às mudanças de atitude dos filhos.

AJUDA

O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional e prevenção do suicídio gratuitamente. Ele é formado exclusivamente por voluntários. A pessoa que procura o CVV porque está se sentindo solitária pode conversar de forma sigilosa, sem julgamentos, críticas ou comparações com os voluntários da instituição, que atuam em todo o Brasil. O atendimento é realizado pelo telefone 188 (24 horas por dia e sem custo de ligação) e pelo chat nos seguintes dias e horários: domingos, de 17h até 1h; de segunda a quinta-feira, de 9h até 1h; na sexta-feira, das 15h às 23h; e nos sábados, de 16h até 1h.

Outros canais que podem fornecer atenção e auxílio são o Mapa da Saúde Mental, que traz uma lista de locais de atendimento voluntário online e presencial em todo país, e o Pode Falar, canal de ajuda em saúde mental para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos lançado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Funciona de forma anônima e gratuita, indicando materiais de apoio e serviço.

Universidade Federal de Alagoas oferece serviços de psicologia para comunidade

A Ufal, através do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) do Instituto de Psicologia (IP/Ufal), constitui-se como um espaço integrativo do curso de Psicologia voltado para a formação teórico e prática do estudante de Psicologia e para a prestação de serviços psicológicos para a comunidade interna e externa à universidade.

A psicóloga e professora Telma Low Silva Junqueira explica que no campus A.C. Simões, em Maceió, há vários docentes que trabalham na clínica psicanalítica e supervisionam estágio no SPA. “Lá são atendidos crianças, adolescentes e pessoas jovens e adultas. É uma clínica-escola e tem atendimento clínico, pronto-acolhimento, avaliação psicológica e educacional”, contou.

No SPA, como Low antecipou, são desenvolvidas atividades de ensino, pesquisa e extensão referentes à Clínica Psicológica, ao Laboratório Alagoano de Psicometria e Avaliação Psicológica (Lapap) e Intervenções em Psicologia Escolar e Educacional, buscando responder às exigências para o desenvolvimento teórico, técnico, ético e político do psicólogo, congruente com as competências que o curso objetiva formar no aluno e alinhado ao compromisso social da Psicologia no Brasil.

Psicóloga e professora da Ufal Telma Low Silva Junqueira (Foto: Reprodução)

A pesquisadora, que integra o Comitê de Equidade da Sesau, representando a Ufal, ressaltou que trabalhou com crianças e adolescentes durante a sua graduação na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Trabalhei com crianças e adolescentes durante minha graduação e nos meus primeiros 10 anos de formada, inclusive minha dissertação e tese foram com adolescentes, mas com o debate sobre gênero, violência de gênero e mito do amor romântico. Atualmente, tenho trabalhado com a formação em saúde a partir dos estudos feministas de gênero e desde a perspectiva da interseccionalidade entre gênero, cor e raça, sexualidade, deficiência etc. Mas, muito voltada para o SUS, a rede e nos espaços de discussão de equidade. Atualmente, minhas pesquisas estão voltadas para o debate sobre saúde reprodutiva, em especial violência obstétrica e racismo obstétrico a partir da perspectiva feminista”.

SERVIÇOS OFERECIDOS NO SPA

Pronto-acolhimento psicológico: trata-se de uma escuta psicológica pontual, visando o acolhimento, a avaliação da queixa e a orientação. As demandas serão analisadas e, dependendo da disponibilidade do serviço, o usuário poderá ser encaminhado para os serviços oferecidos pelo SPA (acompanhamento psicológico, avaliação psicológica e/ou atividades em grupo) ou para a RAPS. Portanto, esse atendimento não garante o início do acompanhamento psicológico no SPA. A atividade ocorre por ordem de chegada, às terças e quartas-feiras, das 8h às 11h, e às quintas-feiras, das 13h às 15h.

Psicoterapia: acompanhamento psicológico a crianças, adolescentes e adultos.

Avaliação psicológica: é um procedimento científico de investigação e intervenção clínica, limitado no tempo, que emprega técnicas e/ou testes com o propósito de avaliar uma ou mais características psicológicas, visando um diagnóstico psicológico. É realizada pelo Lapap/Ufal e se destina ao público infantil (a partir de seis anos de idade), adolescente e adulto. Dentre os construtos psicológicos avaliados, são realizadas avaliações no seguinte escopo: atenção; personalidade; processos afetivos e emocionais; inteligência; e técnicas projetivas.

Grupo de Partilha Horizontes da Psicologia: grupo de discussões e reflexões coletivas voltado a estudantes de Psicologia da Ufal ou de qualquer outro curso do estado, com foco na relação entre formação e empregabilidade. Trata-se de um espaço para partilhar dúvidas, angústias, planos e expectativas para os futuros psicólogos.

Oficinas de Integração Acadêmica – Profic: visa auxiliar no processo de inserção e adaptação ao ensino superior. Por meio de oficinas temáticas, o projeto busca ampliar a compreensão do ser graduando e seus desafios, bem como facilitar o desenvolvimento de habilidades que auxiliem os estudantes na trajetória acadêmica. Gestão do tempo e do aprendizado, hábitos de estudos, dificuldades e desafios durante o período universitário podem ser temáticas abordadas. As oficinas são voltadas para os estudantes de graduação.

Grupo de Escuta e Acolhimento – PAREs: o projeto tem como objetivo proporcionar a troca de experiências, desafios e estratégias relacionadas à vivência acadêmica e estudantil, e a partir dela refletir as afetações que se apresentam para a formação pessoal e profissional. Não se trata de psicoterapia grupal, mas de espaço de troca entre os pares, mediado por profissional de Psicologia, que propicie a reflexão dos aspectos que afetam o percurso formativo e auxilie na compreensão dos elementos possíveis e necessários para o cuidado em saúde mental. A atividade é quinzenal e volta-se para alunos de graduação e pós-graduação da Ufal.

Grupo Partilhas: atividade voltada para profissionais de Psicologia atuantes e/ou interessados na interface Psicologia e Educação. Objetiva contribuir para a atuação do psicólogo a partir da escuta e partilha de concepções, estratégias e recursos para a prática em Psicologia Escolar e Educacional.

IMPORTANTE:

O SPA não realiza atendimento em situações de urgência e emergência em saúde mental. Para mais informações sobre situações de urgência e emergência em saúde mental, contate os serviços abaixo: 

(Imagem: Divulgação)

Para conhecer outros serviços da Rede de Saúde Mental acesse o link https://ip.ufal.br/pt-br/insti....

Ministério Público de Alagoas atua com ações voltadas no combate ao suicídio

Micheline Tenório, coordenadora do Núcleo de Saúde Pública do Ministério Público de Alagoas (MP/AL), expôs à reportagem do Tribuna Hoje que o Setembro Amarelo – mês de prevenção ao suicídio - já era uma preocupação antiga do Ministério Público e que o trabalho acontece durante o ano inteiro e não apenas no mês dedicado à prevenção.

“A gente percebe que o número de jovens e crianças que cometem suicídio ou a tentativa dele vem crescendo ano a ano. É algo muito sério e mais visível. Acredito que fatores como a desigualdade social e a falta de perspectivas de futuro contribuem significativamente para o agravamento da situação. As redes sociais também têm um papel nisso, oferecendo uma visão irreal de felicidade e sucesso, o que pode intensificar a sensação de fracasso e desespero entre os mais jovens", ressalta a promotora.

De acordo com a promotora, o MP/AL vem desenvolvendo ações voltadas para a temática. “Em 2024, nosso tema para a campanha Setembro Amarelo foi: 'Você Não É o Problema', focando na valorização da vida e no apoio contínuo para aqueles que sofrem. Mas lembro que essas ações não podem ser limitadas a um mês. As ações devem ocorrer durante todo o ano”.

Promotora de Justiça Micheline Tenório (Foto: Edilson Omena)

Tenório afirma que o MP/AL também tem atuado em parceria com diversas instituições, como a Sesau, universidades locais e organizações da sociedade civil. Ela cita a parceria com o Centro de Acolhimento Integrado e Prevenção do Suicídio e Autolesão (Cais), um centro que acolhe sobreviventes de tentativas de suicídio e familiares de vítimas. “Estamos fortalecendo a Rede de Atenção Psicossocial e promovendo a capacitação contínua de profissionais que lidam diretamente com essas situações", esclareceu.

Para finalizar, a promotora disse que há outras iniciativas que incluem programas que promovem uma cultura de paz e a proteção de crianças e adolescentes contra diversos tipos de violência, como o abuso sexual. "A prevenção vai além do suicídio em si, envolve proteger nossas crianças de ambientes nocivos e garantir que elas tenham apoio adequado nas escolas e em casa".