
A tragédia dos corais na era do aquecimento global
Estudo da Ufal monitora e avalia que as altas temperaturas nos oceanos ameaçam ecossistemas; parcerias entre órgãos, instituições e startup lutam para minimizar os efeitos para economia, meio ambiente e turismo na Costa dos Corais
Por Lucas França e Thayanne Magalhães / Revisão: Bruno Martins / Foto da capa: Edilson Omena | Redação
Podem parecer pedra ou planta, mas são animais. Eles formam o ambiente necessário para que outras espécies possam nascer, crescer e se reproduzir. Os recifes de corais representam menos de 1% da área dos oceanos e abrigam mais de 30% das espécies marinhas. Porém, esse ecossistema está sendo ameaçado pelo aquecimento global.
Os recifes de corais da região da Costa dos Corais, que se estende entre Alagoas e Pernambuco, estão desaparecendo em ritmo alarmante. O aquecimento global não apenas eleva a temperatura dos oceanos, mas também transforma esses ecossistemas vitais em cemitérios submersos, colocando em risco a biodiversidade marinha e a economia local. A degradação já compromete a pesca e o turismo, tornando urgente o desafio de recuperar os corais.
O portal Tribuna Hoje entrevistou Ricardo César, coordenador de Gerenciamento Costeiro do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), que alertou sobre a gravidade do problema. Segundo ele, a mortalidade dos recifes rasos já atinge até 80% em algumas áreas, consequência direta da elevação da temperatura da água, da poluição e do turismo desordenado. “Temos observado um aumento considerável da mortalidade dos corais, especialmente em áreas de recifes rasos, onde a temperatura elevada das águas é mais intensa”, afirmou.
O fenômeno de branqueamento dos corais, causado pelo superaquecimento dos oceanos, os torna mais vulneráveis a doenças, ameaçando a sobrevivência de inúmeras espécies que dependem desse habitat. Apesar de ocuparem menos de 1% da área oceânica, os recifes abrigam mais de 30% das espécies marinhas, funcionando como berçários naturais para a vida marinha. Seu desaparecimento pode desencadear um efeito dominó na cadeia alimentar e comprometer o equilíbrio ecológico.

A região da Costa dos Corais, considerada um dos maiores santuários marinhos do Brasil, enfrenta desafios cada vez maiores. A ação humana tem acelerado o processo de degradação dos recifes, seja pelo descarte inadequado de resíduos, pelo tráfego intenso de embarcações ou pelo contato direto de turistas com os corais, que são organismos extremamente sensíveis. A ausência de fiscalização rigorosa e o crescimento desordenado das atividades turísticas na região agravam ainda mais a situação.
Diante desse cenário, o IMA tem intensificado ações para conter a destruição e promover a regeneração dos corais. Entre as iniciativas está a Biofábrica de Corais, um projeto inovador que busca restaurar a biodiversidade perdida e minimizar os impactos do aquecimento global sobre os recifes. Além disso, o IMA implementou medidas de proteção, como a criação de zonas de exclusão para limitar a atividade humana em áreas críticas, permitindo que os corais tenham um ambiente propício para se regenerar naturalmente.
Outro ponto fundamental nas estratégias de conservação são os projetos de educação ambiental, como o programa “Conduta Consciente em Ambientes Recifais”, que incentiva práticas sustentáveis entre turistas e comunidades locais. A conscientização da população e dos visitantes é um fator essencial para reduzir os impactos negativos e garantir que as futuras gerações possam desfrutar das riquezas naturais da Costa dos Corais.

Ricardo César destacou que a colaboração de diferentes setores da sociedade é fundamental para a preservação desse ecossistema: “o IMA tem trabalhado em diversas frentes para proteger a Costa dos Corais, mas a colaboração de turistas, pescadores e moradores é essencial para a conservação de nossa biodiversidade marinha.”
Especialistas alertam que, sem medidas concretas, o colapso desse ecossistema será irreversível, comprometendo não apenas a vida marinha, mas também milhares de pessoas que dependem dos recifes para sua subsistência. A pesca artesanal, uma das principais fontes de renda para muitas famílias na região, está sendo diretamente afetada pela redução da biodiversidade marinha. Já o turismo, que atrai visitantes do Brasil e do mundo para explorar as belezas dos recifes, corre o risco de declínio caso o ecossistema não seja preservado.
A recuperação dos recifes de corais é um processo lento e complexo, mas a adoção de políticas públicas eficazes e o engajamento da sociedade podem fazer a diferença. “Não podemos esperar que os corais se regenerem sozinhos. Precisamos de uma atuação conjunta, envolvendo o poder público, as comunidades e os turistas, para reverter o cenário de destruição e garantir que as futuras gerações possam desfrutar da biodiversidade marinha de nossa região”, concluiu Ricardo César.
CENÁRIO DEVASTADOR
O estudo “O papel de áreas marinhas protegidas para recifes de corais sujeitos a multimpactos: uma abordagem empírica”, realizado pela equipe do Laboratório de Ecologia e Conservação no Antropoceno (ECOA LAB) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), revelou um cenário devastador para os recifes de coral de Alagoas. O evento de branqueamento, causado pelo aumento extremo da temperatura da água do mar, resultou em uma mortalidade superior a 90% das colônias de corais, afetando espécies como o coral-de-fogo e o endêmico coral-couve-flor.
Os recifes de corais vêm sendo monitorados por pesquisadores de universidades de Alagoas e Pernambuco desde 2022. No entanto, em setembro de 2023, os estudiosos iniciaram o acompanhamento detalhado da saúde dos recifes em Maragogi, Paripueira e Maceió. Eles atribuem o desastre à combinação do fenômeno El Niño com os efeitos das mudanças climáticas. A temperatura da água atingiu níveis recordes, cerca de 3° C acima da média, levando ao branqueamento em massa dos corais em abril de 2024.
"Os resultados preliminares são devastadores. O que encontramos embaixo d'água foi um grande cemitério de corais", afirmou Robson Santos. "Todas as espécies foram afetadas, e a recuperação natural será lenta e desafiadora''.

De acordo com os estudiosos, a perda dos recifes representa uma grave ameaça à biodiversidade marinha e à economia local. Os corais são essenciais para a proteção da costa, além de sustentarem atividades como a pesca e o turismo. Estima-se que a perda dos recifes de coral cause um prejuízo de mais de 180 bilhões de dólares por ano em todo o mundo.
Para reverter esse quadro, os pesquisadores defendem a necessidade de ações em diferentes níveis. Em escala local, destacam a criação de uma rede interconectada de áreas marinhas protegidas, como a expansão da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, como sendo fundamental. Além disso, apontam que investimentos em tratamento de esgoto e gestão de resíduos são cruciais para reduzir a poluição e melhorar a qualidade da água.
Conforme os pesquisadores Ricardo Miranda e Robson Santos, responsáveis pelo estudo: "precisamos agir global e localmente. As mudanças climáticas são um problema global, mas podemos fazer muito em escala local para reduzir o impacto sobre os recifes de coral".
Branqueamento já era percebido
O aquecimento da água do mar já era uma preocupação para os pesquisadores que estudavam o branqueamento das espécies. Embora esse fenômeno também possa levar à mortalidade, trata-se de um estágio em que o coral ainda tem chances de se recuperar.
Segundo o pesquisador Cláudio Sampaio, do Laboratório de Ictiologia e Conservação da Ufal, o branqueamento ocorrido no litoral alagoano entre 2019 e 2020 resultou na morte de cerca de 20% dos corais.
PARCERIAS
O projeto da Ufal para monitorar a saúde dessas colônias conta com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e bolsas de estudo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além de integrar uma rede nacional de monitoramento.
Os estudiosos empregam diversas metodologias, incluindo a instalação de sensores para avaliar a temperatura nos recifes; sondas para o mapeamento digital detalhado da estrutura; além de mergulhos para registrar com imagens a cobertura de corais e os peixes recifais. As avaliações são realizadas em três momentos: antes, durante e após o aquecimento das águas, para obter uma ideia mais clara do estado real das perdas após esse evento extremo.
Segundo os professores responsáveis pelo estudo, Ricardo Miranda e Robson Santos, a recuperação é lenta e as ações de enfrentamento devem ser tanto globais quanto locais. A universidade está articulando parcerias com diversos setores, incluindo academia, Estado e Organizações Não Governamentais (ONGs), para pensar em alternativas que reestruturem os corais e gerem renda com o turismo sustentável.
“Os recifes não estão completamente mortos. Ainda existem corais e recifes vivos. Por isso, devemos realizar este trabalho de monitoramento para obter uma avaliação mais detalhada e definir como agir”, destacaram os pesquisadores.

PERDAS PARA O TURISMO
Em Maragogi, também no Litoral Norte do estado, um dos principais destinos turísticos do Brasil, o impacto foi evidente. Apenas em 2024, mais de 2 milhões de turistas visitaram as piscinas naturais formadas pelos recifes. Recife após recife, o cenário era de devastação. A onda de calor matou 95% dos corais-de-fogo e 92% dos corais-vela. Esses organismos crescem apenas alguns milímetros por ano e colônias centenárias entraram em colapso, com esqueletos espalhados pelo chão de areia.
O pesquisador da Ufal, Cláudio Sampaio, disse em entrevista para o Fantástico, da Rede Globo de Televisão, que outras espécies parecem resistir melhor ao calor, como o rabo-de-macaco ou o casca-de-jaca, que se assemelha a uma cortina. "A gente trabalha aqui há alguns anos, mas retornar a um ambiente morto, silencioso, acompanhar isso é muito triste", destaca o professor da Ufal e membro do Coral Vivo.
"Eles vão mudar. Vai ser outro recife. Não vai ser mais aquele recife que a gente via nos filmes, que encantava. Vai ser algo muito mais simples, muito mais monocromático. Mais pobre", lembrou.
Vídeo mostra os recifes de corais em Maragogi, confira abaixo:
''A gente trabalha aqui há alguns anos, mas retornar a um ambiente morto, silencioso, acompanhar isso é muito triste'', destaca Cláudio Sampaio, professor da Ufal e membro do Coral Vivo

(Foto: Thaila Myrella / ECOA LAB - Ufal)
Mortandade dos corais impacta turismo e pesca, mas recuperação pode fortalecer economia, avalia economista
O economista Renan Laurentino confirmou, em entrevista ao portal Tribuna Hoje, que a mortalidade dos corais na costa de Alagoas e Pernambuco tem causado impactos significativos na economia local, especialmente nos setores de turismo e pesca. A restrição de embarcações e visitas a áreas como Maragogi e São José da Coroa Grande afeta diretamente barqueiros, comerciantes e trabalhadores que dependem das atividades turísticas.
Segundo Laurentino, os corais são fundamentais para a biodiversidade marinha, funcionando como berçários para espécies como lagostas e peixes, além de serem um grande atrativo turístico. O branqueamento dos recifes pode desestimular a visitação, reduzindo a demanda por passeios e a movimentação no comércio local.
Apesar das perdas econômicas no curto prazo, o economista acredita que a recuperação dos corais pode trazer benefícios futuros. Ele destaca a importância de buscar alternativas sustentáveis para minimizar os danos econômicos e ambientais, permitindo que a economia local se adapte e se fortaleça a longo prazo.
A análise completa pode ser ouvida no áudio abaixo.
Fapeal impulsiona pesquisa sobre recifes de corais
Os recifes de corais são ecossistemas vitais para a biodiversidade marinha e desempenham um papel crucial na economia e na cultura alagoana. No entanto, os impactos causados pelas mudanças climáticas, pela poluição e pela exploração desordenada têm ameaçado sua existência. Analisando esses desafios, a Fapeal tem investido em pesquisas voltadas para o tema.
O estudo “O papel de áreas marinhas protegidas para recifes de corais sujeitos a multimpactos: uma abordagem empírica” foi conduzido por Ricardo Miranda e coordenado por Robson Santos. A pesquisa analisou os efeitos biológicos e ambientais em recifes de corais de Alagoas e como as áreas de proteção podem mitigar esses impactos.
De acordo com o bolsista, a abordagem financiada foi essencial para obter respostas concretas sobre a saúde dos corais e os impactos que eles sofrem. “A pesquisa empírica nos permite estar no local, observando os organismos em suas condições naturais e avaliando como eles reagem ao ambiente. Dessa forma, conseguimos propor ações práticas para a gestão, o manejo e a conservação desses ecossistemas”, explicou Ricardo.
O pesquisador enfatiza que os corais são organismos vivos essenciais para a biodiversidade marinha e a vida humana. “Os corais são animais que formam recifes ao longo de centenas de anos. Eles fornecem abrigo e alimento para diversas espécies marinhas, sustentando ecossistemas inteiros. Além disso, desempenham um papel importante na economia, principalmente por meio do turismo e da pesca”, destacou Ricardo Miranda.

A investigação, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos (PPG-DIBICT) da Ufal, identificou que os principais fatores que afetam os recifes são as ondas de calor, o branqueamento dos corais, a poluição marinha e a sobrepesca. Segundo Ricardo Miranda, as áreas marinhas protegidas não impedem os impactos globais das mudanças climáticas, mas são essenciais para fortalecer a resistência dos recifes, tornando-os mais aptos a se recuperarem desses eventos extremos.
CONTRIBUIÇÃO DA FAPEAL
Conduzir uma pesquisa em ambiente marinho apresenta diversos desafios próprios do local. Com base nisso, o pesquisador e seu coordenador destacaram a complexidade do trabalho de campo, que envolve equipamentos especializados, mergulho autônomo e análises laboratoriais complexas. “A bolsa da Fapeal foi indispensável para viabilizar a pesquisa, porque o apoio financeiro possibilitou desde o pagamento de equipamentos e softwares específicos até a manutenção do laboratório e a realização de análises de amostras”, ressaltou Ricardo Miranda.
O recurso é proveniente do Programa de Apoio à Fixação de Jovens Doutores, uma parceria entre a Fapeal e o CNPq. “Programas como esse são fundamentais para atrair pesquisadores qualificados e permitir que eles desenvolvam estudos com impacto socioambiental significativo. No caso do Ricardo, seu trabalho traz dados que podem ser utilizados para traçar estratégias mais eficazes na gestão das áreas marinhas protegidas”, afirmou Robson Santos.

Uma das frentes futuras do estudo é o projeto “Corais de Alagoas”, dedicado à criação de berçários para corais resistentes ao calor, com o objetivo de repovoar áreas degradadas. Essa iniciativa também conta com o apoio do Governo de Alagoas, em parceria com a Fapeal e a Secretaria de Estado do Turismo (Setur).
Outro ponto abordado pelos pesquisadores é a necessidade de um turismo mais consciente. “Não se trata de excluir as pessoas desses ambientes, mas sim de regular as atividades para minimizar os impactos. A educação ambiental e a fiscalização são fundamentais para garantir a sustentabilidade das atividades turísticas”, destacou Ricardo Miranda. A interação entre academia, setor público e comunidades locais fortalece a proteção dos recursos naturais. O objetivo é garantir que a ciência esteja a serviço da sociedade e do meio ambiente, promovendo um futuro mais sustentável para Alagoas.
A Fapeal é um órgão vinculado à Secretaria de Estado da Ciência, da Tecnologia e da Inovação (Secti).
ICMBio adota medidas para combater a mortandade na Costa dos Corais
O aquecimento das águas acima da faixa de tolerância dos corais, por um longo período, é apontado como a principal causa do recente branqueamento e morte severa dos recifes na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais. Segundo Eduardo Almeida, analista ambiental do núcleo de gestão integrada Costa dos Corais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), esse fenômeno já ocorreu outras vezes na região, mas o evento atual foi mais intenso devido à elevação extrema da temperatura e à sua longa duração. "Aparentemente, os eventos de aquecimento estão ocorrendo com maior frequência", alerta.
As atividades humanas, como pesca e turismo, também contribuem para o declínio dos corais e da biodiversidade associada. "Essas atividades podem causar danos e mortandade, tornando essencial buscar um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e conservação ambiental", explica Almeida. Ele destaca algumas medidas fundamentais, como a criação de zonas de preservação, onde não são permitidas atividades pesqueiras ou turísticas, além da implementação de áreas de recuperação recifal – atualmente, há nove delas na APA Costa dos Corais.
"A pesca deve ser responsável, legal e reportada, enquanto o turismo precisa ser regulamentado e praticado de forma consciente", acrescenta. O controle da poluição, incluindo resíduos sólidos, esgoto doméstico e industrial, microplásticos e poluição sonora, também é uma ação prioritária.

O impacto das mudanças climáticas foi particularmente severo na Costa dos Corais em 2024. "Jamais vimos algo dessa magnitude", afirma Almeida. Para minimizar os danos e promover a recuperação dos recifes, ele reforça a necessidade de políticas públicas eficazes e bem coordenadas entre as três esferas de governo, aliadas à fiscalização e sensibilização da sociedade. "A população precisa estar devidamente informada para ajudar a controlar práticas inadequadas e valorizar atividades sustentáveis", conclui.
Turismo desregulado e festas noturnas em recifes agravam crise dos corais
Além dos impactos das mudanças climáticas, a degradação local, impulsionada pelo turismo desordenado e pela realização de festas em áreas recifais, tem intensificado a crise dos corais em Alagoas. Especialistas apontam que a falta de controle sobre essas atividades compromete não apenas a biodiversidade marinha, mas também a sustentabilidade econômica do setor turístico. As informações são provenientes de uma nota técnica da Ufal, divulgada em fevereiro deste ano.
Entre os principais danos provocados estão a destruição de recifes devido à navegação e ancoragem desordenadas, o pisoteio de corais por turistas e a superlotação das piscinas naturais. Essas práticas não apenas afetam fisicamente os corais, mas também reduzem seu apelo estético, um elemento essencial para atrair visitantes. Eventos noturnos intensificam esses impactos, pois a menor visibilidade aumenta os riscos de danos.
Outro problema crítico é o acúmulo de lixo, especialmente de materiais plásticos descartáveis, decorrente do consumo de alimentos e bebidas em embarcações e praias. Esse resíduo pode ser ingerido pela fauna marinha, além de contribuir para o branqueamento e disseminação de doenças nos corais.

A poluição gerada pelas atividades turísticas também ocorre por meio de combustíveis fósseis despejados por embarcações, da iluminação excessiva e do uso de som alto em festas próximas aos recifes. Estudos indicam que luzes artificiais podem alterar o comportamento dos peixes, impactar sua reprodução e aumentar o nível de estresse. Os corais também sofrem com a poluição luminosa, que afeta sua reprodução e fisiologia. Já a poluição sonora interfere no comportamento dos peixes e no recrutamento de larvas de corais, prejudicando a formação de novas colônias.
Diante do maior evento de branqueamento e mortalidade já registrado em Alagoas, com áreas monitoradas apresentando uma taxa de 80% de mortalidade em 2024, especialistas defendem medidas urgentes para mitigar os impactos locais. Entre as soluções propostas estão a regulamentação do turismo em áreas recifais, com a definição de pontos fixos para ancoragem e limitação do número de embarcações e visitantes, além da proibição de festas nesses ambientes sensíveis.
Outras ações sugeridas incluem o fortalecimento da fiscalização ambiental, investimentos em saneamento básico, redução da poluição luminosa das cidades costeiras, restrição ao uso de plásticos descartáveis e a implementação de uma rede de unidades de conservação. De acordo com especialistas, o turismo pode contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades locais, desde que esteja aliado à preservação dos recifes de corais.

CORAIS PELO MUNDO
- Os cientistas acreditam que o aumento da temperatura dos oceanos, impulsionado em parte pelas mudanças climáticas, é responsável pelo último evento de branqueamento, que se estendeu do Panamá à Austrália – e está piorando. Especialistas afirmam que os corais estão entre os ecossistemas mais vulneráveis do planeta às mudanças climáticas. Essas cidades submarinas, que sustentam 25% da vida marinha, podem praticamente desaparecer até o final deste século. "A perda de corais seria uma verdadeira tragédia do ponto de vista da biodiversidade e da economia", diz Letícia Carvalho, chefe do Ramo Marinho e de Água Doce do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
- Os corais podem ser encontrados em todos os oceanos, desde as águas calmas do Mar Vermelho até as profundezas geladas do Atlântico Norte. Mas talvez os mais conhecidos vivam nas águas quentes e rasas dos trópicos, onde formam recifes deslumbrantes e multicoloridos. No coração de cada coral individual está um pólipo, um animal translúcido, em forma de tubo, com um anel de tentáculos que usa para capturar presas. Alguns corais cercam-se de um esqueleto calcário, formado a partir do cálcio absorvido da água do mar.
Em 2020, fenômeno já era observado e, para pesquisadores, derramamento de óleo pode ter agravado
Um estudo realizado por pesquisadores do Programa Ecológico de Longa Duração da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais Alagoas (PELD APACC/AL) e do Projeto Conservação Recifal (PCR) analisou o impacto de um dos maiores eventos de aquecimento oceânico já registrados na região da APA Costa dos Corais – a maior unidade de conservação federal marinha costeira do Brasil. O levantamento, publicado na Frontiers in Marine Science, apresenta dados alarmantes sobre os impactos da catástrofe climática em Alagoas, que naquele momento já alcançava taxas de mortalidade de até 50% em algumas espécies.
No ano de 2020, um conjunto de recifes da APA Costa dos Corais, próximo ao município de Maragogi, registrou o maior acúmulo de estresse por calor da série histórica, que remonta a 1985, quando a metodologia de medição foi criada e os monitoramentos tiveram início. O DHW (degree heating week), unidade que mede esse estresse, alcançou 12 em maio de 2020 – um número alarmante, considerando que valores acima de 4 geralmente causam branqueamento de 30% a 40% dos corais afetados.
Embora não seja uma sentença definitiva de morte, já que em alguns casos os corais podem se recuperar, o branqueamento é um indicador de mudanças extremas na temperatura das águas. Essas mudanças fazem com que as algas que vivem em simbiose com os corais – essenciais para sua sobrevivência – abandonem seus tecidos, conferindo aos corais um aspecto esbranquiçado.

“As maiores anomalias no DHW aconteceram nos últimos dez anos, o que representa menos da metade do período analisado”, destacaram os pesquisadores no artigo, publicado no final de maio daquele ano. O estudo foi conduzido por Pedro Pereira, coordenador do Projeto Conservação Recifal e membro do PELD APACC/AL, juntamente com outros pesquisadores de universidades federais como Alagoas (Ufal), Pernambuco (UFPE) e Rio de Janeiro (UFRJ), além de integrantes do ICMBio.
O aquecimento extremo, monitorado de perto pelos cientistas, trouxe consequências drásticas para a biodiversidade local, agravadas pelo contexto desafiador da pandemia de Covid-19. Utilizando imagens de satélite e metodologias de monitoramento remoto, os pesquisadores identificaram grandes bancos de corais que sofreram branqueamento e, em muitos casos, não sobreviveram.
“O fenômeno resultou em uma redução média de 18,1% na cobertura de corais vivos em comparação com os registros pré-branqueamento”, revela o texto do artigo. E continua: “a mortalidade na pesquisa pós-branqueamento foi significativamente maior para três espécies: Millepora alcicornis (coral-de-fogo), Millepora braziliensis e Mussismilia harttii (coral-cérebro), sendo as duas últimas espécies endêmicas.”
Em algumas áreas analisadas, a mortalidade chegou a 100% para os Millepora braziliensis, seguida do coral-cérebro, com mortalidades de até 55%, e do coral-de-fogo, com 27%. “Esses dados indicam que as populações de duas espécies de corais endêmicos do Brasil estão sob ameaça severa”, alertam os pesquisadores. E acrescentam: “essas espécies são ecologicamente relevantes, servindo como construtores de recifes e habitats para peixes.”
O estudo também desafiou a ideia de que o sudoeste do Atlântico poderia funcionar como um refúgio para espécies de corais afetadas pelas mudanças climáticas. Registros recentes de mortalidade devido ao estresse térmico já foram documentados em outras áreas importantes do mundo, como a Grande Barreira de Corais e os recifes do Caribe. “O significado, a longo prazo, da mortalidade documentada aqui e seu impacto na comunidade, estrutura e funcionalidade da Costa dos Corais e suas implicações para o futuro do ecossistema recifal brasileiro permanecem incertos”, concluíram os pesquisadores.
Derramamento de óleo pode ter contribuído
O derramamento de mais de cinco mil toneladas de óleo no litoral do Nordeste brasileiro, ocorrido em 2019, pode ter contribuído para o registro de anomalias na temperatura da água na região. De acordo com os pesquisadores, uma das áreas mais gravemente afetadas pelo crime ambiental foi a APA Costa dos Corais, causando impactos severos na área estudada, localizada próxima a Maragogi.

“Análises metagenômicas estão em andamento para compreender melhor o papel do microbioma nessas circunstâncias, e se esse impacto adicional pode ter um efeito sinérgico”, destaca o artigo.
CONFERÊNCIA ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE
“Apesar da mudança climática ser central na crise dos corais, ações locais podem ajudar na recuperação do ecossistema”
Para Robson, o que temos em Alagoas é um cenário compartilhado com o mundo: os efeitos das mudanças climáticas, associados à degradação costeira, estão causando um aumento na mortalidade dos corais em toda a costa.
“Temos as questões relacionadas às mudanças climáticas, especialmente as ligadas à mitigação, que envolvem a redução da emissão dos gases de efeito estufa”, comentou, acrescentando: “apesar de a mudança climática ser central na crise dos corais, diversas ações em escala local e regional podem ser tomadas para ajudar os recifes de coral a se recuperarem após esses eventos extremos de aumento da temperatura do mar. Inclusive, nos dias 14 e 15 de março deste ano, várias propostas e ideias foram anunciadas durante a 5ª Conferência Estadual do Meio Ambiente, realizada no Instituto Federal de Alagoas (Ifal), campus Maceió”.
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
De acordo com o professor, uma das propostas, e inclusive a mais votada como essencial, foi a criação de uma rede de unidades de conservação na região, com o objetivo de estabelecer áreas que auxiliem na recuperação dos corais.

O objetivo é desenvolver planos de conservação e restauração, em âmbito municipal, estadual e federal, visando a criação e implementação de uma rede de Unidades de Conservação (UC) que cubra pelo menos 30% das áreas terrestres e 30% das áreas marinhas ecologicamente relevantes, sempre considerando os princípios da justiça socioambiental. Além disso, pretende-se restaurar pelo menos 30% das áreas degradadas (terrestres e marinhas) em ecossistemas-chave, bem como valorizar os serviços ecossistêmicos.
Outro ponto debatido no encontro foi a gestão de resíduos, especialmente plásticos. Entre as medidas discutidas, destacou-se a redução do uso de plásticos descartáveis, como parte de um esforço maior para minimizar os impactos ambientais.
Maragogi firma parceria para regeneração dos corais e fortalecimento do turismo
Maragogi contará com um projeto de regeneração dos corais, fruto de uma parceria firmada entre a prefeitura e o Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). A iniciativa será conduzida pela startup Biofábrica de Corais e tem como objetivo restaurar a fauna marinha do destino turístico.
Com um investimento de R$ 150 mil, a ação prevê o plantio de corais, a criação de novos roteiros turísticos e a capacitação de guias locais, além do desenvolvimento de uma ferramenta que permitirá a adoção de corais. Um projeto semelhante já está em andamento em Porto de Galinhas, Pernambuco.
“O objetivo é aliar turismo regenerativo e preservação ambiental como estratégia para promover o Brasil no cenário internacional”, afirmou Roberto Gevaerd, representante da Embratur.
A formalização do acordo ocorreu durante um encontro que reuniu o prefeito Fernando Sérgio Lira, o secretário de Turismo, Diego Vasconcelos, e Gevaerd.
Segundo Vasconcelos, a parceria representa um avanço na conservação do ecossistema marinho, essencial para a economia local. “Esse termo de cooperação ajudará na recuperação dos corais, fortalecendo o meio ambiente e o turismo da região”, ressaltou.
Biofábrica de Corais: uma solução inovadora
Em paralelo aos esforços realizados para a preservação e recuperação dos corais, destaca-se a Biofábrica de Corais, que iniciou suas atividades em 2016 como parte da tese de doutorado de Rudã Fernandes na UFPE. Em 2021, a iniciativa deu um grande salto ao se transformar em uma startup incubada no Polo Tecnológico e Criativo da UFPE, na área de Biotecnologia, unindo ciência e empreendedorismo em prol da regeneração de recifes de corais.
A startup, pioneira em biotecnologia marinha, tem trabalhado ativamente para restaurar os recifes da região. A Biofábrica realiza a coleta de corais adoecidos e seu cultivo em berçários submersos, antes de replantá-los em áreas de recifes degradados. Com o uso de tecnologia de ponta, a iniciativa promete avanços significativos na restauração da biodiversidade marinha.

“Estamos combinando ciência e inovação para promover a regeneração dos recifes. Nosso trabalho na Biofábrica de Corais tem o potencial de recuperar áreas importantes da Costa dos Corais e devolver vida ao nosso ecossistema marinho”, afirmou Rudã Fernandes, CEO da startup.
Além disso, a Biofábrica de Corais tem incentivado o turismo regenerativo, permitindo que os visitantes participem do processo de restauração dos recifes. A empresa também oferece o programa “Adote um Coral”, no qual as pessoas podem apoiar diretamente a regeneração dos recifes e acompanhar o crescimento dos corais transplantados.
Colaboração e sustentabilidade: o caminho para o futuro
As ações de preservação e regeneração da Costa dos Corais dependem de uma abordagem colaborativa. O IMA, a Biofábrica de Corais e outros parceiros têm se unido para formar uma rede que envolve pescadores, empresários e a comunidade local, todos com o mesmo objetivo: preservar os recifes e restaurar o equilíbrio ambiental da região.
Ricardo César destacou que, sem a participação ativa da sociedade, as ações de preservação não terão o impacto desejado. “É preciso que todos entendam que a preservação da Costa dos Corais é uma responsabilidade de todos. Só com a colaboração de todos os envolvidos poderemos reverter a situação atual”, reforçou.
O futuro dos recifes da Costa dos Corais, um dos ecossistemas mais ricos e importantes do mundo, está em jogo. No entanto, iniciativas como as do IMA e da Biofábrica de Corais oferecem esperança para a recuperação dessa biodiversidade vital. Com inovação, educação e a colaboração de todos, é possível reverter o processo de degradação e garantir que as futuras gerações continuem a desfrutar das riquezas naturais dessa região.
IMA e Setur monitoram branqueamento de corais na costa de Alagoas
O IMA, por meio do Gerenciamento Costeiro (Gerco), realizou uma expedição na Piscina do Amor, na enseada de Pajuçara, em abril de 2024, para monitorar os impactos do branqueamento dos corais.
A situação é acompanhada pelo IMA e pela Setur, em parceria com a Biofábrica de Corais. O objetivo é desenvolver um planejamento para mitigar o processo de branqueamento dos recifes de corais na costa alagoana.
Durante o monitoramento, que buscou avaliar a extensão e o grau do fenômeno na região da enseada da Pajuçara, foi constatado que todas as espécies de corais estão sendo afetadas.
“Foi observado que as espécies mais próximas à superfície foram as mais afetadas, mas é preocupante que as espécies que se encontram em maior profundidade também tenham apresentado branqueamento”, afirmou Juliano Fritscher, consultor ambiental do IMA e responsável pelo monitoramento.

Selefe Gomes, Superintendente de Prospecção de Negócios Turísticos da Setur, ressaltou a importância de manter o turismo sustentável. “Nos preocupamos tanto com os produtos turísticos de infraestrutura quanto com os naturais, que são nosso carro-chefe no estado. É importante manter a associação entre o turismo sustentável e o turismo regenerativo. Queremos tornar nossos produtos mais preservados para que os turistas tenham uma experiência magnífica, como sabemos que podem ter.
De acordo com Rudã Fernandes, CEO da Biofábrica de Corais, esse evento está ocorrendo no Hemisfério Sul e já chegou ao Brasil, atingindo a Costa dos Corais. Fernandes explicou também que, entre 2019 e 2020, muitas localidades registraram 90% de mortalidade de corais. “Se considerarmos uma mortalidade média de 50% no evento de 2020, caso essa taxa seja mantida, uma população inicial de 100 colônias seria reduzida a 25% neste período”, explicou Fernandes.
PARCERIA COM A UFAL
Os professores da Ufal se reuniram com a diretoria do IMA para firmar um acordo de parceria que visa estudar o branqueamento dos corais na costa alagoana. A colaboração promoverá pesquisas com tecnologias avançadas para o estudo molecular das espécies.
Na prática, o Laboratório de Diversidade Molecular da Ufal, com o auxílio de técnicos e do laboratório do IMA, utilizará técnicas que permitirão uma análise aprofundada sobre o problema. “A utilização dessas técnicas inovadoras será importante, pois permite verificar o DNA dos organismos e trará resultados mais contundentes”, afirmou Gustavo Lopes, diretor-presidente do IMA.
PROJETO CORAL VIVO
A reportagem foi até a cidade de Paripueira, no Litoral Norte de Alagoas, onde a mortalidade dos corais está sendo monitorada.
De acordo com Norah Gamarra, assessora ambiental do Projeto Coral Vivo – iniciativa inserida em uma rede de pesquisa que reúne 17 universidades e acompanha o branqueamento na costa brasileira –, a situação é preocupante.
Ainda segundo Norah, o Projeto Coral Vivo trabalha em parceria com outras instituições. "O objetivo é levar conscientização ambiental para as comunidades, turistas e também para os mais jovens nas instituições de ensino. É um trabalho feito em toda costa brasileira''.

Veja no vídeo abaixo a reportagem completa com a pesquisadora.
A VOZ DO PESCADOR
Rodrigo Santos da Cunha, de 30 anos, trabalha como pescador há 16 anos e afirma que nunca viu nada parecido. “A situação não é nada boa. Antes, tínhamos peixes e outras espécies em abundância, mas agora, com o branqueamento dos corais, essas espécies estão indo procurar refúgio em outras localidades. E isso vem prejudicando quem trabalha com a pesca, tanto para o consumo quanto para a venda”, relata.
“Este desastre vem impactando negativamente a pesca artesanal e o comércio, pois espécies que costumavam aparecer ou ser encontradas estão desaparecendo, gerando prejuízos para os profissionais da região”, comentou Rodrigo.

Além de conhecer toda a área afetada por estar em contato com o mar praticamente todos os dias, Rodrigo também é pesquisador e entende a situação como ninguém. Em um vídeo, ele pede a conscientização de todos para a preservação do ambiente marinho e solicita o apoio dos órgãos e poderes públicos aos pescadores. Assista abaixo.
Em 2024, a costa brasileira registrou temperaturas até 5° C acima do que seria considerado normal durante um período de cinco meses. O Projeto Coral Vivo – que monitora milhares de quilômetros da costa do Brasil, desde o Ceará até Santa Catarina – revelou que, da Bahia para o Norte, a taxa de mortalidade de algumas espécies de coral não tem precedentes.
De acordo com o oceanógrafo da Universidade de São Paulo (USP) e integrante do Projeto Coral Vivo, Miguel Mies, o calor pode ser fatal para os corais. “As ondas de calor no mundo inteiro, inclusive nos recifes brasileiros, estão ficando mais intensas. Ou seja, as temperaturas estão chegando a valores mais altos, de forma mais duradora e mais frequente”, explica Mies.
Governador lança projeto para salvar corais alagoanos em parceria com instituições
O governador Paulo Dantas anunciou, em 11 de novembro de 2024, o lançamento do projeto Corais de Alagoas, uma iniciativa inédita que visa combater o grave problema do branqueamento dos corais no litoral do estado. A ação, que contará com o apoio do CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina) e da Ufal, promete revolucionar os esforços de conservação marinha em Alagoas.
O projeto Corais de Alagoas recebeu o incentivo da Fapeal e contou com a articulação de diversos órgãos do estado, como a Secti e o IMA. Para o governador, essa união de esforços demonstra o compromisso do governo em proteger o patrimônio natural de Alagoas e garantir um futuro mais sustentável para as próximas gerações.
“Nós estamos fazendo esse esforço conjunto para mantermos um grande potencial natural que nós temos, que é o nosso litoral, sobretudo iniciando aqui no Marco dos Corais, preservando essa costa que tem um potencial gigantesco para o desenvolvimento social e econômico do nosso estado. É um investimento na ordem de R$ 2,4 milhões, o CAF vai entrar com R$ 1,7 milhão, o Governo do Estado com R$ 700 mil, com os quais nós vamos poder sanar e melhorar os quatro pontos mais críticos do nosso litoral na Costa dos Corais”, disse o governador, na ocasião.
“Vamos alcançar esses pontos aqui em Maceió e na região metropolitana. Inclusive, quero agradecer todo o empenho e toda a dedicação dos prefeitos que aqui estão e que também têm toda a responsabilidade e todo o sentimento de entender que nós temos que buscar o desenvolvimento econômico de maneira sustentável”, acrescentou o governador.

A secretária de Estado do Turismo (Setur), Bárbara Braga, lembrou que o projeto começa com o diagnóstico e o monitoramento de todos os recifes de corais, que de fato precisam desse auxílio para que seja dada continuidade com a sustentabilidade como base e impeça a mortalidade dos corais, que são um dos maiores patrimônios de Alagoas.
“Em segundo passo já vem o período da restauração dos recifes de coral. É muito importante lembrar que serão 500 colônias, nesse período de dois anos, que serão restauradas e inseridas nos nossos mares. E, em terceiro, a qualificação do turismo. Não tem como falar em turismo sem falar em sustentabilidade e vice-versa. Então nosso objetivo é integrar todo esse projeto de recuperação, de revitalização do branqueamento dos corais, para que a gente impeça novos branqueamentos que ocorrem devido à alta temperatura das águas”, explanou a secretária.
De acordo com a representante do CAF no Brasil, Estefania Laterza, esse trabalho que está sendo feito pelo banco precisa sempre ter o componente da sustentabilidade. "Além de trabalhar com muitos estados aqui no Brasil e trabalhar com municípios, nós focamos muito em projetos e programas como esse, justamente, que está trabalhando para parar esse branqueamento dos corais. Não é apenas porque o Brasil, nesse momento, está dando o exemplo de um país proativo na defesa do meio ambiente e na sustentabilidade. É também porque é conveniente, como indicaram aqui, a secretária e o governador, para o desenvolvimento econômico do Estado”.
“Um estado que quer ter turismo, que quer ter crescimento, ele não pode apenas usar os recursos de uma maneira sem pensar neles, na sustentabilidade deles. É muito importante pensar como eles vão se renovar para que as próximas gerações continuem usando esses recursos. Então esse branqueamento precisa de uma ação firme, feita nesse momento, porque se a gente não atuar agora, vamos acabar perdendo. Se a gente perder esse patrimônio biodiverso tão importante do Brasil, então vamos acabar também perdendo outras atividades econômicas”, acrescentou.
“É preciso entender esse fenômeno”, diz diretor-presidente da Fapeal
O diretor-presidente da Fapeal, Fábio Guedes, pontuou que é importante compreender o fenômeno da natureza que atinge um ativo fundamental do estado de Alagoas: os corais.
“Se nós não nos prepararmos para enfrentar esse problema, certamente seremos prejudicados na área de turismo e na área de desenvolvimento econômico e social. Então essa é uma iniciativa fantástica do governo e também para a nossa comunidade científica acadêmica porque esse grupo vai produzir relatórios, vai formar pessoas e aqui nós estamos num estado que se preocupa com gente e em formar jovens, profissionais para o futuro. Esse investimento de R$ 2,3 milhões já promete a atração de mais R$ 5 milhões pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] porque ele está inscrito dentro do projeto submetido ao banco. E assim, cada real que o governo do estado coloca em ciência e tecnologia de inovação está trazendo mais recursos”, ressaltou o gestor da Fapeal.

Para o coordenador do ECOA LAB da Ufal, professor Robson Santos, foi realizado um trabalho conjunto para chegar a esse momento. Segundo ele, o lançamento desse projeto é muito especial, porque marca não só um enfrentamento a esse problema global, como também a união entre o Estado de Alagoas e a Ufal.
“Um problema que não é um problema do nosso estado só, não é um problema só do Brasil, é um problema global e de escalas imensas, então é um desafio imenso para a gente tentar lidar. E esse projeto vem nesse âmbito, de tentar fazer com que todo esse patrimônio que a gente tem aqui continue para a gente. O turismo aqui está extremamente ligado com os recifes de coral e a nossa proteção de costa. Então esses recifes ajudam na proteção da nossa linha de costa. Tem muita coisa por trás, muito mais que a biodiversidade. A biodiversidade por si só já bastaria, mas tem muita coisa relacionada com esse projeto”, pontuou.
“Esse é um momento importante para a gente da academia, que é onde a gente para de apenas escrever o obituário dos nossos ecossistemas e passa a tentar dar um passo a mais nessa união com o estado para conseguir ter políticas públicas que ajudem a gente nesse enfrentamento”, acrescentou.
MPF acompanha fenômeno em Alagoas
O Ministério Público Federal (MPF) em Alagoas vem acompanhando o caso junto aos pesquisadores Ricardo Miranda e Robson Santos para discutir o fenômeno do branqueamento dos corais no estado. Em novembro de 2024, o órgão realizou uma reunião convocada pelo Procurador da República Lucas Horta de Almeida, que, em outubro, instaurou um Inquérito Civil Público para investigar as causas do branqueamento de corais no litoral de Maceió e buscar soluções para reverter ou reduzir o fenômeno.
Na ocasião, o MPF solicitou uma cópia do projeto "Corais de Alagoas", lançado pelo governador Paulo Dantas no dia 11 de novembro de 2024. O projeto, que conta com o apoio do CAF e da Ufal, visa combater o branqueamento dos corais e promete revolucionar os esforços de conservação marinha no estado.
“Banho de Lua”: órgão solicita suspensão dos passeios
Na quinta-feira, 20 de março de 2025, o MPF promoveu uma reunião para apurar a situação dos eventos chamados "Banho de Lua", que consistem em passeios às piscinas naturais da Pajuçara e Ponta Verde, em Maceió, realizados com embarcações, iluminação artificial e som alto.
A reunião foi coordenada pelo procurador da República Érico Gomes e contou com a participação da Superintendência do Patrimônio da União (SPU), da Marinha do Brasil, da Ufal, do IMA, do Município de Maceió – por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb), da Secretaria Municipal de Turismo (Semtur) e do Departamento Municipal de Transportes e Trânsito (DMTT) – e de representantes do Conselho Gestor dos Passeios Turísticos nas Orlas Marítima e Lagunar de Maceió.
No encontro, foram debatidos os impactos ambientais e os riscos à segurança dos passeios noturnos. Órgãos ambientais alertaram para os riscos à fauna marinha, especialmente aos corais e tartarugas, que enfrentam dificuldades para desova devido à poluição luminosa e sonora. Em relação aos corais, a situação é ainda mais alarmante: estudos acadêmicos apontam que entre 80% e 90% dos corais monitorados em Alagoas já foram comprometidos pelo aquecimento das águas do mar.

Além das questões ambientais, também foram relatados problemas de segurança. O Corpo de Bombeiros destacou que o resgate de vítimas no mar à noite é muito mais difícil do que durante o dia. Houve registros de acidentes e afogamentos, e muitas embarcações não possuem coletes salva-vidas suficientes ou tripulação treinada para situações de emergência.
A regulamentação e fiscalização desses passeios foram apontadas como essenciais. O procurador da República pontuou detalhes da legislação municipal que regula os passeios turísticos e que não está sendo observada. Atualmente, muitas embarcações operam sem credenciamento atualizado junto ao DMTT, por diversos motivos, principalmente porque os responsáveis não realizaram os cursos obrigatórios. Além disso, a falta de um controle efetivo sobre a quantidade de embarcações, horários de funcionamento e condições de segurança foi uma preocupação central na reunião.
"O que está em jogo aqui é especialmente a proteção ambiental, mas também a segurança dos turistas e trabalhadores dessas embarcações. O MPF está atento a essa situação e cobrará medidas efetivas para garantir que os passeios sejam realizados de forma ordenada e em horários adequados, sem comprometer a vida marinha e a integridade dos envolvidos", afirmou o procurador da República Érico Gomes.
Será instaurado um procedimento preparatório pelo MPF, que também solicitou providências aos órgãos competentes. Entre as medidas em análise estão a suspensão total dos passeios noturnos, a criação de normas emergenciais para regulamentação das atividades e uma fiscalização mais rigorosa sobre o credenciamento das embarcações. Também foi destacada a necessidade de campanhas educativas para conscientizar turistas e operadores sobre os impactos ambientais dos passeios desordenados.