
Pacientes infantojuvenis com leucemia combatem a doença com doses de amor
Inca estima que pelo menos 8 mil crianças e adolescentes serão diagnosticados com câncer no Brasil até o final deste ano; deste total, mais de 100 poderão estar concentrados em Alagoas
Por Lucas França e Valdete Calheiros - Repórteres / Bruno Martins: Revisão / Edilson Omena: Foto da capa | Redação
A pequena Maria Jainara tem apenas três anos de idade e há quase um ano, luta com toda a sua inocência de criança pela vida. Sem ter noção completa sobre o assunto, a menina trava uma batalha contra a leucemia, doença que a leva semanalmente de Anadia, distante praticamente uma hora e meia de Maceió, até a sede da Apala – Associação dos Pais e Amigos dos Leucêmicos de Alagoas, no bairro Gruta de Lourdes, na capital.
Acompanhada da avó Maria Madalena da Silva, a menina carrega na mochila pedidos de cura ao "papai do céu", muitas doses de peraltice e uma vontade enorme de tirar o gorro – que, no dia da entrevista, era rosa – e ver os cabelos crescerem.
Como dessas coincidências da vida, a menina estava vestindo uma roupa laranja. Mal sabe ela que laranja é a cor escolhida para vestir também este mês, o Fevereiro Laranja, em uma alusão à conscientização da população quanto aos cuidados com a leucemia.
Maria Jainara tem nome, família, endereço fixo e um futuro a escrever com as mesmas mãos que, agora, seguram os lápis de cor que contornam os desenhos que a menina adora colorir. No entanto, por ora, os planos de infância deram lugar a exames, acompanhamento médico, rotina ambulatorial, internações hospitalares e muita, muita esperança.

A história de superação é dividida com outros 270 pacientes assistidos atualmente pela Apala, instituição que, há 32 anos, ajuda a minimizar o sofrimento dos pacientes de câncer infantojuvenil.
Os números, embora pareçam solitários por carregarem cada um uma história de vida, são coletivos. O câncer pode atingir qualquer pessoa, de qualquer faixa etária e sexo. Não há renda financeira ou localização geográfica que possa, por si só, afastar um diagnóstico tão assombroso. Assustador, sim! Mas possível de ser derrotado. Informação e diagnóstico precoce são marcadores tão importantes quanto o amor na busca pela cura do câncer.
Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indicam que, até o final deste ano, pelo menos 130 novos casos da doença serão diagnosticados em crianças menores de um ano de vida até adolescentes de 19 anos, somente em Alagoas.
O apontamento é feito a cada triênio. Essa perspectiva é a mesma desde 2023. Em todo o Brasil, o Inca prevê oito mil novos casos de câncer até o dia 31 de dezembro deste ano.
Associação atende crianças e adolescentes com qualquer tipo de câncer e adultos com leucemia
A Apala está de portas abertas para o atendimento de exatos 271 pacientes que estão em tratamento quimioterápico, radioterápico, em remissão e estadiamento. Estadiar um caso de câncer significa avaliar seu grau de disseminação. Para tal, há regras internacionalmente estabelecidas, as quais estão em constante aperfeiçoamento. O estádio de um tumor reflete não apenas a taxa de crescimento e a extensão da doença, mas também o tipo de tumor e sua relação com o organismo.
A instituição atende crianças e adolescentes com qualquer tipo de câncer e adultos com leucemia. Os casos de leucemia representam 55,57% de todos os tipos de câncer tratados pela Associação.
Do total de pacientes, 116 são meninas, o que representa um percentual de 42,81%, e 155 são meninos, ou seja, 57,19%. A diferença entre meninos e meninas confirma a explicação da médica oncopediatra Suzana Marinho, presidente da Apala, que reforçou que o câncer acomete preferencialmente meninos, mesmo que em uma diferença discreta.

Sessenta e quatro por cento dos pacientes da Apala são do interior de Alagoas. São 175 pessoas que deixam suas residências com a esperança da cura e vão em busca dela nos corredores da instituição. São de Maceió 96 pessoas, ou seja, 35,42%.
“Só o poder da fé nos segura”, diz avó de paciente oncológica
A dona de casa Maria das Neves é de São José da Laje. Avó de Ana Júlia, de seis anos, ela deixa no município a filha, mãe da menina, cuidando do seu filho mais novo de apenas dois meses e assume o papel de guardiã da saúde da neta. A foto delas é a que abre a matéria. O Tribuna Hoje esclarece que todas as imagens utilizadas nesta matéria foram autorizadas pela instituição e pelos familiares.
A leucemia de Ana Júlia foi diagnosticada em outubro do ano passado. “Praticamente às vésperas da chegada do seu irmãozinho. Foi um baque. Só o poder da fé nos segura. E eu sei que minha neta já está curada. Ela mesmo me alivia o coração quando me consola dizendo que o papai do céu não dorme e está cuidando dela”, contou a avó, sem segurar as lágrimas.
Do alto da sua inocência e ao mesmo tempo com o olhar atento de quem sabe que estão falando sobre sua saúde, sua vida, Ana Júlia interrompe a conversa – que não falava de dor, e sim de esperança e cura – para dizer que seu cantinho preferido na Apala é a casa da Barbie.
Entre os sonhos, estão a volta do cabelo, que será cuidado até ficar grande e liso, e a vontade de ir à escola. Muito apegada à avó, a pequena, de um tímido e encantador sorriso, queria a companhia de Maria das Neves a cada brincadeira que iniciava.
Instituição é referência na assistência ao tratamento oncológico em Alagoas
A Apala é a principal referência de assistência ao tratamento oncológico no estado de Alagoas. Os serviços vão desde disponibilização de hospedagem para os pacientes que precisam ficar em Maceió, fornecimento de cesta básica mensal, fornecimento de medicação diária, fraldas descartáveis para os assistidos internos, entrega de suplementos alimentares, atendimentos com o serviço social, psicologia, nutrição e pedagogia.
Inicialmente, em 1993, um grupo de voluntários-fundadores abraçou a luta contra o câncer infantojuvenil com o objetivo de prestar assistência a crianças e adolescentes com câncer, oferecendo acesso ao tratamento e qualidade de vida a todos os pacientes. Três anos depois, em 1996, passou a ajudar crianças e adolescentes com todos os tipos de câncer e adultos com leucemia que necessitam de apoio. Até hoje, os dirigentes da Apala são todos voluntários.
Ao longo dos anos de atuação da casa, muitas pessoas aderiram à instituição como voluntários, sejam presenciais ou eventuais. Atuando em diversos setores e funções, trazendo seus conhecimentos e competências, unindo-se à família Apala e, assim, um corpo de voluntários, parceiros e colaboradores transformam a causa em um ato de compartilhar alegria, amor e solidariedade.
Instituição sem fins lucrativos, a Apala é de utilidade pública Municipal, Estadual e Federal, mantida exclusivamente por doações de pessoas e empresas sensíveis à causa, eventuais promoções que a entidade realiza e pela ajuda de voluntários.

A casa atende pacientes vindos de todos os municípios do estado, uma vez que apenas em Maceió é realizado o tratamento em crianças. A Instituição funciona como “Casa de Apoio”, onde os pacientes e seus acompanhantes recebem todas as refeições diárias, acompanhamento social e psicológico, assistência odontológica, cestas básicas, auxílio na compra de medicamentos, transporte para a realização do tratamento e exames, dentre outros serviços.
Além disso, a instituição promove a realização de projetos que levam ao bem-estar do paciente e acompanhante. São trabalhos multidisciplinares onde um corpo de voluntários, parceiros e colaboradores transformam a causa em um ato de compartilhar alegria, amor e solidariedade.
A Apala tem como missão promover a defesa dos direitos das crianças e adolescentes com câncer e adultos com leucemia, contribuindo para melhorar a qualidade de vida, reafirmando a esperança da cura através do acesso ao tratamento. E visa ser referência na prestação de serviços de assistência e apoio a este público.
Seja um voluntário! O voluntariado é primordial para a continuidade das ações da instituição. Canais de contribuição da Apala: Doação on-line - apala.colabore.org; doação por telemarketing - (82) 2122-9400; e doação por Pix - [email protected] .
O câncer infantojuvenil, felizmente, é raro, atingindo apenas de 2% a 3% da população, e mais de 80% das crianças são curadas.

Alessandra Lamenha, oncologista pediátrica (Foto: Acervo pessoal)
INCA
O Inca explicou que, como o câncer é uma doença que não possui notificação obrigatória, o Instituto não trabalha com dados de incidência, mas sim com dados de estimativas de câncer, que são divulgados a cada três anos. As estimativas mais recentes correspondem ao triênio de 2023 a 2025, com números que se repetem em cada um desses anos.
De acordo com as estimativas do Inca, são esperados exatamente 7.930 novos casos de câncer para cada ano do triênio 2023-2025 em crianças e adolescentes de até 19 anos de idade, dos quais 4.230 em meninos e 3.700 em meninas.
Dos 130 casos estimados para Alagoas, 70 são em meninos e 60 em meninas.
O câncer pediátrico representa cerca de 3% do total de casos de câncer, considerando adultos e crianças. O Inca não tem estimativas de câncer infantil divididas por tipo de câncer, mas observa que os tumores mais frequentes em crianças são as leucemias, tumores do sistema nervoso central e linfomas.
Outros tumores que ocorrem em crianças, conforme o Inca, são sarcomas (tumores de partes moles), nefroblastoma (tumores renais), neuroblastoma (tumores de gânglios simpáticos), retinoblastoma (tumor da retina do olho), entre outros.
Ainda conforme o Inca, o câncer pediátrico representa a primeira causa de morte por doença em crianças e adolescentes entre um e 19 anos.

Porém, nas últimas décadas houve muito progresso no tratamento do câncer pediátrico, sendo que hoje em dia é considerado uma doença potencialmente curável. Nos países desenvolvidos, a chance de cura está em torno de 85%. No Brasil, esse percentual é um pouco menor e ainda há necessidade de melhorar os resultados. Um fator importante é que muitas crianças ainda chegam ao centro de tratamento com a doença em estágio muito avançado.
O Inca também disponibiliza dados de mortalidade por câncer, através do Atlas de Mortalidade por Câncer. Os números são do Datasus e a atualização mais recente é de 2022. De acordo com o Atlas, em 2022, foram registrados 765 óbitos por leucemia no Brasil em pacientes com até 19 anos, sendo 438 do sexo masculino e 327 do sexo feminino. Em Alagoas, foram 17 mortes de pacientes até 19 anos em 2022, sendo oito meninos e nove meninas.
CÂNCER
Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores malignos, que podem espalhar-se para outras regiões do corpo.
As causas do câncer são variadas, podendo ser externas ou internas ao organismo, estando inter-relacionadas. As causas externas referem-se ao meio ambiente e aos hábitos ou costumes próprios de uma sociedade. As causas internas são, na maioria das vezes, geneticamente pré-determinadas, e estão ligadas à capacidade do organismo de se defender das agressões externas.
Os tumores podem ter início em diferentes tipos de células. Quando começam em tecidos epiteliais, como pele ou mucosas, são denominados carcinomas. Se o ponto de partida são os tecidos conjuntivos, como osso, músculo ou cartilagem, são chamados sarcomas.
A prevenção do câncer nem sempre é possível, mas há fatores de risco que estão na origem de diferentes tipos de tumor. O principal é o tabagismo. O consumo de bebidas alcoólicas e de gorduras de origem animal, dieta pobre em fibras, vida sedentária e obesidade também devem ser evitados para prevenir os tumores malignos. São raros os casos de câncer que se devem apenas a fatores hereditários.

O câncer pode surgir em qualquer parte do corpo, mas alguns órgãos são mais afetados do que outros. Entre os mais afetados estão pulmão, mama, colo do útero, próstata, cólon e reto (intestino grosso), pele, estômago, esôfago, medula óssea (leucemias) e cavidade oral (boca). Cada órgão, por sua vez, pode ser afetado por tipos diferenciados de tumor, menos ou mais agressivos.
O tratamento do câncer é feito por meio de uma ou várias modalidades combinadas. A principal é a cirurgia, que pode ser empregada em conjunto com radioterapia, quimioterapia ou transplante de medula óssea. O médico vai escolher o tratamento mais adequado de acordo com a localização, o tipo do câncer e a extensão da doença. Todas as modalidades de tratamento são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Opção de tratamento para algumas doenças do sangue, como leucemia e linfoma, o transplante substitui a medula doente por células normais de medula óssea – líquido que ocupa a cavidade dos ossos e que produz os componentes do sangue. Como a chance de encontrar um doador compatível na família é de 25%, é preciso formar bancos de doadores voluntários para aumentar essa possibilidade.
Entre os principais tipos de câncer que afetam as crianças, segundo o Inca, estão leucemia, linfoma, câncer no sistema nervoso, tumores no cérebro, câncer nos rins, nos músculos, nos olhos e nos ossos.
Ainda conforme o Inca, são sintomas de câncer infantojuvenil a palidez acentuada; dor óssea; dor de dente com tumefação e sangramento; hemorragia nos olhos/conjuntivite crônica; feridas que não cicatrizam e que aparecem sem causa explicável; sangramentos inexplicáveis (boca, nariz, ouvido e ânus); anemia inexplicável com ou sem dores nos ossos; caroços (ínguas) que continuam crescendo após a melhora do quadro inflamatório; dificuldade de engolir alimentos; aumento do volume abdominal; perda significativa de peso; aumento dos olhos; mudança de cor, número e tamanhos de pintas, verrugas e sinais de pele; otite crônica (inflamação no ouvido) acompanhada de dermatite seborreica; febre prolongada mesmo com o uso de medicações contra a febre; reflexo branco nas pupilas (olho de gato); mudanças rápidas ou demoradas no funcionamento intestinal; manchas roxas pelo corpo com sangramentos em locais que não sejam de traumas; dor de cabeça que não melhora após o uso de analgésicos, acompanhada de vômito; e pneumonia sem cura, mesmo com uso de medicamentos.

Fevereiro Laranja: Mês de Conscientização sobre a Leucemia
- Fevereiro Laranja é o mês dedicado à conscientização sobre a prevenção, diagnóstico e combate à leucemia, um tipo de câncer que afeta o sangue e a medula óssea. A leucemia é uma doença grave que interfere no sistema hematológico, comprometendo a produção de células sanguíneas saudáveis.
- Ela tem origem nas células-tronco da medula óssea que, ao se multiplicarem de forma anormal e excessiva, geram leucócitos (células brancas do sangue) de maneira descontrolada. Esse processo prejudica a produção de outras células essenciais, como os glóbulos vermelhos e as plaquetas. O diagnóstico precoce é essencial para um tratamento eficaz.
“Perdi meu grande amor para a leucemia”
Enquanto a reportagem estava na Apala, a equipe lamentava o falecimento de um menino. Estarrecidos, os profissionais da Associação tentavam consolar uns aos outros, na certeza de que aquela despedida daria ainda mais força a todos para lutar em defesa dos pacientes que estão sendo atendidos no local.
Em janeiro deste ano, a pequena Marina Cecília Araújo da Silva, de seis anos, virou mais uma estrelinha no céu. Cansada da luta, a menina perdeu a batalha para a leucemia. Não antes de ouvir de todos que a conheceram o quanto ela era amada e especial.
Natural de Paulo Jacinto, Marina era a filha mais velha da agricultora Remiriane Araújo da Silva Santos, de 19 anos. Ainda muito abalada, a avó materna da menina, Eluana Araújo da Silva, de 42 anos, aceitou falar com a equipe do portal Tribuna Hoje como forma de alertar outras famílias sobre os sintomas da doença.
“Começou com uma tosse repentina, manchas roxas na pele, náusea, vômito, dor abdominal, febre, torcicolo no pescoço. Ela ficou bem, mas aí a doença voltou mais uma vez. Marina sempre tinha intercorrências e ficava internada no hospital”, recordou.

Marina Cecília Araújo da Silva parou de estudar no primeiro ano da educação infantil para poder realizar o tratamento. A avó contou que foi um dia de muita tristeza para a neta e para toda a escola. A menina não chegou a receber transplante de medula por ter tido complicações no pulmão.
Em determinado momento e dizendo que era mais uma homenagem à filha, Remiriane Araújo da Silva Santos resolveu falar e contou que teve muito tempo – apesar da pouca idade da filha – de dizer o quanto a amava.
“A gente sempre brincava muito. E nesses nossos momentos, o amor estava sempre presente. Eu falava que amava muito ela, e ela dizia que me amava muito. E é assim, com todo esse amor, que quero lembrar para sempre da minha filha. Está sendo muito difícil ainda”, contou a jovem mãe que teve Marina, agora uma estrelinha, aos 12 anos de idade.
Nesta quarta-feira (19) de fevereiro, Marina completaria 7 aninhos. "Sei que ela está ao lado de Deus comemorando. Papai do céu festeja com meu anjinho'', fala emocionada, a mãe.
Os autores do texto se solidarizam com todos os pacientes de câncer, em especial de leucemia, ao mesmo tempo em que desejam força aos familiares que embarcam juntos nessa jornada de luta, fé e esperança em busca da cura!
SMS realiza campanhas e ações para incentivar o diagnóstico precoce em Maceió
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Maceió realiza campanhas e ações voltadas para o incentivo ao diagnóstico precoce, especialmente no que se refere ao câncer infantojuvenil. Como parte desse compromisso, no ano de 2024, a pasta, em parceria com a Apala e o Instituto Ronald McDonald, promoveu uma capacitação fundamental para os profissionais da Atenção Básica, com o objetivo de aprimorar seus conhecimentos na identificação precoce dos sinais e sintomas da doença.
“Essa iniciativa reforça a preocupação do município em garantir um cuidado qualificado às crianças e adolescentes, promovendo diagnósticos rápidos e aumentando as chances de cura em até 80%. A melhoria contínua dos serviços de saúde e o aperfeiçoamento dos profissionais são prioridades, e eventos como esse desempenham um papel crucial na ampliação do acesso a um atendimento eficaz e humanizado”, ressalta a SMS.
DADOS
De acordo com dados do Painel de Oncologia do Datasus e da Plataforma Integrada de Vigilância em Saúde, em 2023, o município de Maceió registrou 41 casos da doença, com um óbito. Já em 2024, até o momento, foram contabilizados 20 novos casos (dados parciais), sem registros de óbitos. O balanço total destes dados ainda não foi fechado, conforme a SMS.
Para garantir um atendimento especializado e de qualidade, o Cacon (Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia) de referência para o público infantojuvenil em Maceió é a Santa Casa de Misericórdia, responsável pelo tratamento dos pacientes diagnosticados com câncer.
“A ciência acompanhada do amor e do diagnóstico precoce podem curar”
A experiência do paciente de câncer, dele e de sua família, é bem difícil, não há como negar. Quem vive, sabe como a doença convulsiona as emoções, transtorna o cotidiano e impacta a vida. Se na fase adulta ela já deixa inúmeras marcas, imagine para uma criança ou adolescente na fase de formação e descobertas. Não é nada fácil.
A oncologista pediátrica Alessandra Lamenha, que atua na Santa Casa de Maceió, Hospital Unimed, Hospital Universitário Professor Alberto Ramos (HUPAA) e Hospital da Criança, convive diariamente com essas situações e diagnósticos. Para ela, o diagnóstico precoce é fundamental para um tratamento mais eficaz e menos invasivo.
No vídeo abaixo, a especialista fala sobre o diagnóstico, tratamento, chances de cura e como o apoio da família é fundamental durante essa fase. Assista:
O câncer infantil, felizmente, é raro, atingindo apenas de 2% a 3% da população, e 80% das crianças são curadas.
PSICÓLOGA
“Crianças devem receber diagnóstico através de recursos lúdicos para compreenderem melhor seu estado de saúde”
Receber o diagnóstico de câncer de um filho é um dos momentos mais difíceis e dolorosos que um pai ou mãe pode enfrentar. Nesse momento, os responsáveis devem tirar forças de onde às vezes nem têm para apoiar os pequenos.
A psicóloga e neuropsicóloga Fernanda Barreto, dona do perfil @psicologiaaporamor, enfatiza que os pais precisam conversar com o médico especialista para entender a situação clínica atual do filho. “É um momento de apoio mútuo dos pais. Entender o tipo de câncer, qual o melhor tratamento e as perspectivas de recuperação, bem como obter informações precisas, podem ajudar a reduzir a ansiedade e o medo. Também é importante permitir sentir e compreender as próprias emoções diante desse diagnóstico e buscar acompanhamento psicológico. Cuidar da saúde mental durante todo este processo é essencial.”
A especialista, que também atende crianças e adolescentes, destaca que, antes de falar com os menores sobre a doença, é preciso compreender que eles precisam receber o diagnóstico de forma simples e acessível, para que possam entender o que está acontecendo.

“Os pais devem tentar não chorar ou demonstrar medo no momento em que estiverem conversando com os filhos sobre o diagnóstico. É importante acolher essa criança ou adolescente e encorajá-los a expressar como estão se sentindo. O acolhimento e o apoio são fundamentais. É importante ressaltar que crianças que estão na primeira infância devem receber o diagnóstico através de recursos lúdicos; dessa forma, irão compreender melhor”, ressalta a psicóloga.
Além disso, Fernanda Barreto expõe que os pais precisam estar cientes dos conteúdos que os filhos acessam na internet para que eles não se assustem com o diagnóstico.
“Eles (pais) precisam ter ciência do conteúdo acessado pelos filhos na internet. Em alguns casos, não só os adolescentes, mas também as crianças têm acesso ao celular, e, através da internet, encontram várias informações e imagens sobre o assunto. Nesse momento, apenas informações precisas e coerentes com o quadro clínico desse paciente são importantes”, pontua Barreto.
Conforme a especialista, o acompanhamento psicológico é primordial, já que a doença não só mexe com o emocional do paciente, mas de toda a família. “É importante que o paciente e os pais realizem acompanhamento psicológico. O acompanhamento multiprofissional é fundamental; além do tratamento do câncer, também é trabalhada a qualidade de vida do paciente, oferecendo uma abordagem integral e personalizada”, esclarece.
Fernanda Barreto afirma que carinho, respeito, acolhimento, calma e uma boa comunicação irão proporcionar que crianças e adolescentes consigam lidar e enfrentar os vários desafios diante desse diagnóstico.
“Encorajar a criança ou o adolescente a falar como estão se sentindo, criar um ambiente acolhedor, oferecer conforto e apoio, encorajá-los a realizar atividades que eles gostam e que os deixam felizes é primordial durante este processo. Sempre ajudar esse paciente a desenvolver habilidades para lidar com os desafios e as adversidades não é um processo fácil, mas através de algumas estratégias é possível lidar com esse diagnóstico de forma saudável”, comenta Barreto.
Quem quiser acompanhar o trabalho da psicóloga, tirar dúvidas e marcar consultas, além do seu perfil, pode usar o site: https://fernandabarretoneurops... .
Para além dos muros da universidade: projeto de extensão conscientiza população para o diagnóstico do câncer infantojuvenil
A universidade tem um papel fundamental na sociedade, pois produz conhecimento, pesquisa e forma profissionais capacitados em determinadas áreas. Mas, além disso, a instituição leva conhecimento à sociedade através de programas, projetos e ações que melhoram a vida das pessoas. E é este o objetivo do “Projeto do Diagnóstico Precoce do Câncer Infantojuvenil”, da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal).
Criado em 2008, o projeto de extensão tem como objetivo promover ações para alertar a comunidade em geral e profissionais da saúde sobre o câncer infantojuvenil.
Coordenado pela professora e psicóloga Roberta Fernandes, o Projeto do Diagnóstico Precoce do Câncer Infantojuvenil saiu dos muros da universidade e ganhou novos rumos.
“Esse tipo de câncer não tem prevenção, mas o diagnóstico precoce contribui para que a criança e/ou adolescente possam iniciar o tratamento o mais breve possível”, ressalta Roberta Fernandes, acrescentando que “é o tempo a favor da cura”.
Segundo a especialista, desde sua criação, o projeto de extensão conseguiu novos públicos engajados na luta pela vida.
“Percebemos ao longo dessa trajetória e dessa linha do tempo do projeto a importância de expandir as informações também para profissionais da área de educação. Então, incluímos no nosso público os professores que passam boa parte do dia com seus alunos e também podem estar atentos aos sinais e sintomas no ambiente escolar”, comenta Roberta.
A coordenadora do projeto conta que, em 2024, 30 alunos participaram de ações do Projeto do Diagnóstico Precoce do Câncer Infantojuvenil. “Eles realizaram ações descentralizadas para ampliar o público impactado com a temática.”
ENGAJAMENTO E NOVA CAMPANHA
Ciente da importância do projeto e de conscientizar cada vez mais a população sobre os perigos do câncer infantojuvenil, em 2023, Fernandes incluiu no projeto a Campanha "De Olho nos Olhinhos".
“Nos engajamos na Campanha "De Olho nos Olhinhos". Essa campanha foi criada pelo jornalista Tiago Leifert e sua esposa Daiana Garbin, que tiveram sua filha com diagnóstico de retinoblastoma, conhecido como o câncer do olhinho. Já participamos nos últimos dois anos e tem sido um sucesso de engajamento dos estudantes”, pontua a coordenadora.
Para ela, ações como essa fazem a sociedade refletir sobre determinados temas. “São ações como essa que provocam na sociedade uma reflexão sobre os sinais e sintomas do câncer.”
Roberta Fernandes deixa um recado para a população: “manchas roxas pelo corpo sem história de trauma, febre sem causa aparente, perda de apetite, perda de peso, estrabismo, reflexo de 'olho de gato', dores de cabeça, tonturas, são sinais de alerta. Procurem a unidade de saúde mais próxima para avaliação e orientação. Não são esses sintomas isolados, mas a presença de vários desses por mais de oito dias que ligam o alerta.”
Roberta Fernandes deixa um recado para a população: “Manchas roxas pelo corpo sem história de trauma, febre sem causa aparente, perda de apetite, perda de peso, estrabismo, reflexo de "olho de gato", dores de cabeça, tonturas, são sinais de alerta. Procurem a unidade de saúde mais próxima para avaliação e orientação. Não são esses sintomas isolados, mas a presença de vários desses por mais de oito dias que ligam o alerta”.
Quem quiser conhecer mais sobre o projeto e acompanhar as ações basta seguir o perfil no Instagram @oncopeduncisal.
Estudo com minitumores é uma nova esperança na pesquisa do câncer infantil
A Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) informa que o câncer infantil é raro e costuma ser mortal, pois, a falta de medicamentos para a faixa etária dificulta o tratamento. No entanto, os especialistas estão otimistas. Um grupo de pesquisadores alemães está experimentando um novo método de testes: minitumores cultivados em laboratório.
Desde 2019, pesquisadores do Centro de Oncologia Infantil Hopp (Kitz) de Heidelberg passaram a receber amostras de tecido de crianças com câncer consideradas pacientes de alto risco ou que tiveram recaída. A partir desses tecidos, os pesquisadores cultivam centenas de minitumores, como explica a diretora da seção de testagem de medicamentos do Kitz, Ina Oehme.

Os pequenos tumores, também conhecidos como organoides, são então usados para testar, em diferentes dosagens e combinações, 80 medicamentos aprovados ou em fase de ensaios clínicos que foram inicialmente criados para o tratamento de adultos.
Segundo Oehme, até agora foram enviadas mais de 500 amostras de tecido a Heidelberg por 100 centros de 12 países europeus e de Israel. Cerca de dois terços puderam ser usadas para testes e, em 80% dos casos, os medicamentos fizeram os minitumores regredirem em laboratório.
SEQUENCIAMENTO DE GENOMA
De acordo com reportagem publicada na Folha de S. Paulo e republicada pela Abrale, no dia 5 de fevereiro de 2025, os pesquisadores do Kitz também estão sequenciando o material genético dos tumores, com o objetivo de “investigar cientificamente a biologia do câncer infantil e de doenças sanguíneas graves.”
O instituto afirma que seu programa transnacional de sequenciamento de genoma de crianças com câncer é o primeiro da Europa. Mais de 1.700 pacientes já foram documentados.
O cultivo de minitumores para testar medicamentos também é praticado em outros centros de pesquisa, esclarece a oncologista pediátrica Uta Dirksen, do Hospital Universitário de Essen. No entanto, o centro alemão se diferencia pela coleta sistemática de tumores, o que permite gerar um extenso banco de dados.
DEFENSORIAS PÚBLICAS
A reportagem entrou em contato com a Defensoria Pública do Estado de Alagoas (DP/AL) para saber se a entidade realizou em 2023 e 2024 alguma Ação Civil Pública (ACP) para garantir o tratamento ou a medicação de alguma criança ou adolescente com diagnóstico de câncer. No entanto, a assessoria de comunicação informou que nestes anos, os processos envolvendo oncologia eram acompanhados pela Defensoria Pública da União (DPU).
Por sua vez, a DPU se limitou a responder que: “a saúde é algo comum entre as duas defensorias, porque, pela Constituição Federal (CF), é um dever solidário da União, estados e municípios. Mas, geralmente, as defensorias fazem essa divisão – a DPU fica responsável por medicamentos de alto custo e que não estão na lista do SUS, e a DP/AL com demandas como regulação para hospitais, medicamentos mais básicos, remédios que estão na lista do SUS etc.”