Do cofrinho na infância à mesada supervisionada na adolescência

Educação financeira faz da arte de economizar uma lição para uma vida financeiramente tranquila e ajuda a formar pessoas empreendedoras a cada moeda ou cédula economizada

Por Lucas França e Valdete Calheiros - Repórteres / Bruno Martins: Revisão / Allan Rodrigues: Foto | Redação

Economizar, guardar, juntar, poupar são verbos facilmente conjugados nos lares de muitas famílias brasileiras. Em Alagoas, a vontade que as pessoas têm de conseguir uma graninha extra para investir em alguns pequenos desejos também é muito comum.

Na casa da empresária Andrea Coutinho, essa lição é ensinada desde a primeira infância. Com o ABC da economia na ponta da língua, os três filhos somam uma lista enorme de conquistas financeiras alcançadas com o hábito do cofrinho e até mais recentemente com a poupança virtual. Entre as aquisições, bonecas para a caçula, brinquedos para o menino e parte do pagamento da festa de 15 anos da mais velha.

Os especialistas no assunto defendem os ensinamentos familiares praticados na casa da família Coutinho. Mãe da Liz, 16 anos, do Luca, 12, e da Luma, 5, Andrea recordou que os ensinamentos começaram por acaso.

Sim! O tão conhecido cofrinho faz sucesso no estímulo à educação financeira para crianças e adolescentes. O hábito de juntar moedas ou cédulas resiste, com sucesso, em meio às transações feitas com o indicativo no aparelho celular. Não há Pix que derrube a “carinha de porco”, na estante dos que aprendem, desde cedo, a economizar.

Educação financeira é o processo de aprender a lidar com o dinheiro, entendendo como ele funciona, como ganhar, gastar, gerenciar e investir. O objetivo é fazer com que as pessoas consigam tomar decisões estratégicas que respeitem o orçamento e os desejos a longo prazo. A educação financeira é importante em todas as fases da vida e quando mais cedo a pessoa tiver contato com o assunto, melhor vai saber lidar com o dinheiro.

Liz, atualmente com 16 anos, bancou parte da sua festa de 15 anos com suas economias (Foto: Arquivo pessoal)

Mas como trabalhar a educação financeira entre as crianças e adolescentes? Há alguma estratégia a ser usada? A educação financeira deve começar quando as crianças começam a compreender o valor do dinheiro e a ideia de troca? Em que idade já pode começar este trabalho? Estas são algumas perguntas que podem deixar um saldo negativo na cabeça de muitos pais, mães e responsáveis.

A regra é clara. Existe uma “conta” a ser seguida. E essa não abre espaço para exceções. É preciso ensinar que o dinheiro é finito e precisa ser usado com responsabilidade.

Incentivar o uso de um cofrinho pode ser uma estratégia para as crianças. Pré-adolescentes e adolescentes podem, atualmente, se dar ao luxo de terem uma conta poupança com cartão de crédito e/ou débito. Andar por esse caminho com expertise pode abrir as portas para a formação de um empreendedor/empreendedora de sucesso.

Cofrinhos já podem ser utilizados com os pequenos a partir dos três anos (Foto: Bárbara Oliveira / Cortesia)

Na avaliação do economista e professor de Economia de Indústria e Inovação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade – FEAC, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Francisco Rosário, o primeiro passo para ensinar crianças e adolescentes sobre educação financeira é conscientizar sobre as escolhas que o mundo impõe.

“Educação financeira nada mais é do que você fazer escolha sobre o seu consumo. Então, essa é a primeira questão. Antes de falar sobre dinheiro, tem que mostrar que a pessoa não pode comprar tudo. A pessoa tem que realizar escolhas no que fazer, no que consumir, até durante o dia, no que se divertir. Então esse trabalho tem que ser um passo antes do dinheiro, baseado na atitude de fazer escolhas”, ensinou.

Francisco Rosário lembrou que ensinar educação financeira não é um papel só da família. Ou exclusivo da escola. Existem os shoppings centers que estão se redesenhando e, segundo ele, deixando de serem apenas locais de compra, de um modo geral, para serem também locais de lazer.

“Desta forma, a pessoa associa gasto, compra, a lazer. O que confunde a cabeça dos adultos, imagine das crianças. É uma questão da própria sociedade de entender, de fazer essas separações. Comprar é gasto! Temos a praia que é de graça. Um show público que é de graça. Existe uma série de outros momentos de diversão, a exemplo das praças. A sociedade pode exigir mais praças. Mais do que um assunto exclusivo da família, é uma questão de consciência pública, social. Quem disse que a pessoa só se diverte em espaços de consumo? Não adianta a família tentar ensinar que a criança, o adolescente, tem que ter prioridades, valores, aprender a gastar menos se só sabe se divertir em um shopping. Assim, nenhum ensinamento foi passado”, alertou o pesquisador em Inovação, Indústria e Estratégia Empresarial.

De acordo com o economista, outra questão importante em relação à educação financeira é que o tema alcança mais eficácia em famílias de maior renda.

Economista Francisco Rosário (Foto: Arquivo pessoal)

“Como 80% das famílias recebem até dois salários mínimos e têm de duas a três crianças, fica até difícil a criança ter algum acesso a dinheiro. Ainda assim, é possível ensinar escolha, valores. Então, essa é uma questão importante a ser considerada. Falta dinheiro nas famílias para ensinar educação financeira. Você só faz educação financeira se você tiver um suporte financeiro. Sem salário um pouco mais folgado, como é o caso da maioria, não tem educação financeira”, ponderou Francisco Rosário, que é também consultor de empresas.

Francisco Rosário explicou que o cofrinho é uma ideia que dá certo. Muitas crianças da classe média ganham dinheiro no dia do aniversário. Diante da digitalização, o cofrinho pode ser uma conta bancária. Esses instrumentos são importantes. É um caminho aberto.

“Assim como o cofrinho, a mesada também é um instrumento de controle de organização financeira. No entanto, os pais precisam resistir à tentação e não dar mais dinheiro. Deu a mesada. O filho ou filha gastou, acabou? Parou aí. Desta forma, o pai, a mãe ou o responsável começa a ensinar que existe limite entre o que se tem e o que pode ser gasto. A mesada é sim um instrumento forte, importante. Mas volto a tocar no ponto. Quantas famílias têm renda suficiente para dar mesada? Ficar apenas na teoria é muito difícil”, ponderou.

Em relação às escolas. Qual o papel das escolas nesses ensinamentos? Conforme ensinou o economista, as escolas entram mais para uma formação, a educação financeira pode estar nas aulas de matemática, nas aulas de português, nas aulas de geografia, mostrando a geografia humana das cidades, onde é que moram as pessoas que ganham mais? Como vivem as pessoas que ganham menos? Por que isso acontece?

“Assim, as escolas ensinam sobre dinheiro, e as consequências de ter ou não e como conseguir, como economizar, tem que estar nas disciplinas. Eu não acredito que uma disciplina particular sobre educação financeira vá fazer diferença. Ela tem que estar dentro dos conteúdos de todas as disciplinas”, avaliou o especialista.

'Responsabilidade e consequências de uma má gestão financeira, devem ser sempre frisadas nesse processo de aprendizado. Por isso, o uso de um cofrinho deve ser uma das primeiras estratégias - introduzindo o básico da poupança' - Ricardo Coimbra, do Sebrae

(Foto: Allan Rodrigues)


Família Coutinho, do cofrinho ao banco, lições de economia que deram certo

A influencer Liz Coutinho tem 16 anos e lembra, com clareza, que desde pequena aprendeu a guardar seu dinheiro. “Dei meus primeiros passos como influencer desde cedo. E todo dinheiro que recebia, seja do fruto do meu trabalho ou dos meus pais, eu guardava no meu cofre. No final do ano, quebrava o cofrinho e, com meu próprio dinheiro, comprava o que eu queria em uma loja de brinquedo no shopping. Atualmente, não é diferente. Guardo meu dinheiro e uso quando preciso comprar algo para mim”.

Do antigo cofrinho ao Pix, Liz Coutinho percorreu o trajeto com muita calma, paciência e estratégias dignas de uma boa e experiente investidora, apesar da pouca idade.

Atualmente, lança mão do artifício com mais frequência, sem perder a consciência do momento certo para gastar. A jovem se orgulha muito de ter ajudado a bancar parte da sua festa de 15 anos.

“Sou muito grata aos meus pais por me ensinarem a ser responsável com meu próprio dinheiro e usar somente quando necessário. Tanto é que às vezes fico até triste quando gasto demais o meu dinheiro”, considerou Liz Coutinho.

Luma Coutinho tem 5 anos e uma sabedoria de gente grande quando o assunto é poupar. Luca, o irmão do meio, tem 12 anos. O boneco Thor foi uma grande conquista lembrada até hoje, com orgulho, quando era mais novo. Agora, com cartão do banco em mãos, os próximos planos do Luca estão na viagem de imersão que fará aos 15 anos. “Além do dinheiro que minha família vai me presentear, tenho minha própria reserva para comprar algo ainda mais especial”, ensinou o adolescente com maturidade de quem sabe poupar.

Luca Coutinho tem 12 anos e já economiza e planeja para viagem aos 15 anos (Foto: Allan Rodrigues)

Os três irmãos passaram pelos ensinamentos ofertados pelo cofrinho e aprenderam bem a arte de economizar. Final de ano sempre foi sinônimo de festa na casa da família. Afinal, chegara o momento de os cofrinhos serem quebrados. Era a realização do sonho infantil de comprar o que “mais desejavam”.

O que começou de forma despretensiosa, passou a ser uma aula de educação financeira. Até que os três passaram a entender que, quanto mais guardavam, mais legal seria o presente escolhido.

Procura por cofrinhos ainda é grande no comércio de Maceió

A reportagem do portal Tribuna Hoje foi até o Centro de Maceió em busca de ouvir os comerciantes sobre a venda de cofrinhos e a surpresa foi boa. De acordo com os comerciantes ainda há procura pelo produto.

Segundo a comerciante e artesã Aline Barros, que tem seu estande no Mercado do Artesanato no bairro da Levada, muita gente busca o cofrinho como item escolar e para lembrancinhas de festa de aniversário, casamentos e até festejos empresariais.

‘’Teve uma época que a procura era bem menor, quase não saía nenhum, mas agora com essa onda da educação financeira nas escolas, o cofrinho ou porquinho, como muita gente chama, vem tendo saída. Por aqui, a gente sempre recebe encomendas deste tipo de produto para lembrancinhas de festas de aniversário e casamento, por exemplo. As pessoas geralmente chegam e perguntam se temos como fazer os modelos temáticos da festa. Também tem os que buscam de última hora e aí acabam indo de estande em estande e comprando para formar o montante desejado”, contou Aline.

Artesã Aline Barros (Foto: Allan Rodrigues)

Ainda segundo a comerciante, no local podem ser encontrados cofrinhos de vários modelos e tamanhos e com preços variados. “Temos cofrinhos a partir de cinco reais. Mas o preço vai variando, a depender do tamanho, modelo e matéria-prima usada na confecção. No geral, não passa dos 20 reais”.

Outra comerciante falou que os preços são variáveis. “Varia, porém a depender da quantidade que for solicitada a gente sempre faz aquele desconto. O importante é vender e deixar o cliente satisfeito”, ressaltou.

No Mercado do Artesanato podem ser encontrados cofrinhos tanto de barro quanto de gesso – dos mais pequenos até os maiores. Para quem gosta do material mais bruto, tem também, assim como os mais lapidados com pinturas e detalhes.

“Muita gente também compra para presentear e os que mais saem são os tradicionais porquinhos. Mas, estes temáticos de vaquinha, ursinhos e até personagens de desenhos infantis são os que as crianças mais gostam”.

Além do Mercado da Produção, no Centro de Maceió, os cofrinhos também são encontrados seja nos camelôs ou nas lojas de variedades, em especial as de brinquedos. Neste caso, o mais comum é encontrar o objeto em plástico.

Educação financeira nas escolas públicas municipais e estaduais

  • Em Maceió, a Secretaria Municipal de Educação (Semed) explicou que a temática referente à educação financeira está prevista nos Temas Contemporâneos Transversais. O assunto é trabalhado de forma interdisciplinar nas salas de aula e faz parte do Referencial Curricular de Maceió, sendo desenvolvido por meio de materiais didáticos ao longo da escolarização.
  • As aulas abrangem todos os alunos do ensino fundamental. Entre anos iniciais e finais, a Semed possui cerca de 38 mil estudantes. Na rede estadual de ensino, 884 turmas possuem a disciplina eletiva de educação financeira nas escolas de ensino médio integral. Os ensinamentos são repassados a cerca de 35 mil alunos.

Especialista do Sebrae/AL mostra razões para pais introduzirem filhos na educação financeira

Certamente, manter os filhos a par das decisões financeiras da família é importante, porém, para que esse entendimento seja efetivo e dê certo, é necessário que os menores tenham inicialmente noções básicas ligadas ao dinheiro e ao consumo. Mais que isso, é obrigatório que os responsáveis deem exemplos positivos no dia a dia, pois, como esperar que as crianças e adolescentes aprendam sobre gastos, se em casa há desperdício e descontrole?

Por isso, é necessária uma educação financeira infantil. Ela ensina aos adultos também e todos saem ganhando. Para os pais que ainda têm dúvidas sobre a relevância do assunto, o gerente adjunto da Agência Agreste do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Alagoas (Sebrae/AL), Ricardo Alexandre Coimbra de Almeida, apresenta algumas razões para aderir de vez à educação financeira com os menores.

Conforme o especialista, de início não é preciso se preocupar com a introdução de termos complexos. Eles devem ser incorporados naturalmente, à medida em que o repertório financeiro é ampliado. O mais importante é privilegiar os comportamentos sustentáveis e a disciplina.

“Para ensinar educação financeira a crianças e adolescentes, é importante adaptar o conteúdo à faixa etária. Com crianças pequenas, explique o valor do dinheiro usando brincadeiras e cofrinhos para introduzir o conceito de poupança. A partir dos oito anos, mesadas e tarefas remuneradas ajudam a praticar o planejamento financeiro básico. Para adolescentes, introduza noções de investimentos e ajude-os a criar metas financeiras, simulando contas bancárias e discutindo finanças familiares. Exemplos práticos, como jogos e aplicativos, também facilitam o aprendizado. Além disso, ser um exemplo de comportamento financeiro responsável e incentivar a discussão aberta sobre dinheiro são estratégias eficazes”, pontua Coimbra.

Ainda segundo o especialista, é importante introduzir a temática de forma lúdica e ir avançando à medida que a criança cresce. “Família e escola são fundamentais nesse processo”.

ANOS INICIAIS

O gerente adjunto da Agência Agreste do Sebrae/AL, diz que a educação financeira deve começar já nos primeiros anos, quando a criança compreende o valor do dinheiro e a ideia de troca/compra.

“Isso geralmente ocorre por volta de três a cinco anos, quando elas já conseguem entender que o dinheiro é usado para comprar coisas e que ele tem um valor. Nessa fase, é possível introduzir conceitos simples como economia, poupança e o ato de trocar dinheiro por produtos. Esse aprendizado inicial, por meio de atividades lúdicas e práticas, ajuda a construir uma base sólida para habilidades financeiras mais avançadas no futuro. Geralmente, a partir dos três anos, já dá para iniciar a introdução da temática, nesse primeiro momento, de forma lúdica”, comenta Alexandre.

Ricardo Coimbra, gerente adjunto do Sebrae Alagoas no Agreste (Foto: Arquivo pessoal)

O especialista afirma que é necessário ensinar que o dinheiro é finito e que precisa ser usado com responsabilidade. “Responsabilidade e consequências de uma má gestão financeira, devem ser sempre frisadas nesse processo de aprendizado. Por isso, o uso de um cofrinho deve ser uma das primeiras estratégias - introduzindo o básico da poupança. À medida que a criança cresce, é importante mostrar que esse dinheiro parado no cofre, perde valor dia após dia, introduzindo aí o conceito de investimento. Para pré-adolescentes e adolescentes, uma conta poupança ou investimentos básicos podem ajudar a dar o próximo passo na educação financeira. Esse passo é fundamental para a alavancagem financeira baseada em boas escolhas em aplicações financeiras. A poupança pode ser o passo inicial, porém é importante que o adolescente enxergue outras possibilidades mais rentáveis e tão seguras quanto”.

ESTIMULANDO O EMPREENDEDORISMO

Para estimular o empreendedorismo em adolescentes, Alexandre Coimbra pontua que é preciso incentivar a curiosidade para identificar oportunidades. “Promova participação em feiras e competições, ofereça cursos práticos, apresente exemplos de jovens empreendedores e encoraje pequenos negócios. Além disso, o apoio de mentores pode orientar e inspirar o desenvolvimento de projetos próprios”.

De acordo com Alexandre, o Sebrae/AL já atua com projetos voltados a educação financeira. “No Sebrae temos o projeto de Educação Empreendedora que aborda o empreendedorismo e a temática Educação Financeira é inserida dentro de gestão financeira de uma empresa. Com o Banco Central, somos parceiros nas edições anuais da Semana Nacional de Educação Financeira”, explicou.

SEMANA ENEF

A Semana Nacional de Educação Financeira (Semana ENEF) é uma iniciativa do Fórum Brasileiro de Educação Financeira (FBEF) que acontece anualmente desde 2014 e tem a finalidade de promover ações de educação financeira no país.

A Semana ENEF conta com a participação de diversas instituições do país e até mesmo de pessoas físicas que promovem ações e iniciativas de educação financeira, previdenciária, securitária ou fiscal. São palestras, cursos, oficinas, campanhas de divulgação, entre outras ações gratuitas de formatos diversos.

A EDUCAÇÃO FINANCEIRA

A educação financeira tem como objetivo conscientizar o indivíduo sobre a importância do planejamento financeiro, para que desenvolva uma relação equilibrada com o dinheiro e decisões sobre finanças e consumo que promovam o seu bem-estar.

Quando o cidadão entende os fatores que influenciam suas escolhas financeiras, consegue equilibrar seus desejos imediatos com suas necessidades de longo prazo. Um dos efeitos disso é o aumento do hábito de poupar, um importante pilar da educação financeira. Assim todos saem ganhando, já que um cidadão financeiramente educado também contribui para o bem-estar coletivo, seja porque essa qualificação resulta em um sistema financeiro mais sólido e eficiente, seja porque cada pessoa tem melhores condições para lidar com emergências e momentos difíceis da vida.

Gerente do BNB em Alagoas explica como investir e ensinar aos menores o valor do dinheiro

Para Victor Vitoretti, gerente de relacionamento do Banco do Nordeste em Alagoas (BNB/AL), atualmente existem vários meios de investimentos e poupanças para a garotada, como as contas do tipo Kids, abertas nos nomes das crianças, mas monitoradas e acompanhadas pelos responsáveis.

“Digamos assim, nada mais é do que uma conta digital, onde os pais logicamente são os responsáveis por essa abertura de conta do seu filho, fazendo o devido acompanhamento e aí toda a movimentação, toda a transação, os pais recebem algum tipo de notificação e sempre participam. Geralmente esses bancos oferecem dentro das plataformas a questão da educação financeira e também passa a ser um momento importante para que pais e filhos, manuseando os aplicativos, acabem aplicando juntos, fazendo a mesada render em busca do sonho da criança. É um momento importante de interação. E acaba sendo bem algo de instrução mesmo que vai ter opções de poupança, de renda fixa, de tesouro, de fundos. Então, tem diversas aplicações dentro dessas plataformas de contas Kids, contas para menores, enfim, para que tenha bastante interação sendo importante para a educação financeira das crianças e dos jovens”, pontuou o gerente.

Vitoretti esclarece que não há uma obrigatoriedade do valor na abertura de contas. “Não tem essa obrigatoriedade de abrir com valor específico ou essa obrigatoriedade de todo mês ser colocado um valor na conta não, tá?”.

No áudio abaixo, Victor Vitoretti dá algumas dicas de como poupar e incentivar os pequenos a fazerem o mesmo. De acordo com ele, é importante ter uma poupança e não gastar mais do que ganha. “Sempre ter uma reserva de pelo menos uns 10%”. Ouça.


Victor Vitoretti finaliza afirmando que não há uma idade certa para ser introduzido à educação financeira. “Acredito que o estímulo deve ser compatível com a idade da criança, começando ali pela simples contagem do dinheiro. Eu acho que a escola também tem um papel muito forte nisso, nesse estímulo. E aí a gente passa pelo ‘porquinho’, pela mesada, que é visando juntar aquele dinheiro para que a criança consiga realizar algum sonho, comprar um presente mais na frente. Acho que isso é super importante. A gente vai ter aí livros didáticos sobre o assunto, a gente vai ter vídeos no YouTube de educação financeira, jogos educativos, quem é que não lembra aí do Banco Imobiliário? Acho que os pais devem incentivar os jovens na hora de pagar as contas para que eles participem do momento, fazendo a devida monitoração. E aí a idade vai chegando, você tem palestras para os adolescentes, você tem livros mais específicos”.

“Educação financeira busca orientar a sociedade para a construção de estratégias que possibilitem a transformação de sonhos em realidade”

A contadora, especialista em auditoria, controladoria, gestão pública e financeira e presidente do Conselho Regional de Contabilidade de Alagoas (CRC/AL), Adriana Andrade Araújo, pontua que a educação financeira busca orientar a sociedade para a construção de estratégias que levem a percorrer caminhos que possibilitem a transformação de sonhos em realidade, através de conhecimento financeiro sobre os riscos do crédito, estratégias de proteção e investimentos, consumo consciente e endividamento pessoal ou familiar.

“Quando tratamos de educação financeira para crianças e adolescentes é imprescindível que pais e familiares eduquem as crianças para formar adultos capazes de tomar decisões conscientes e responsáveis sobre suas finanças. E envolvê-los nesse processo desde cedo é o primeiro passo para prepará-los para entender o valor do dinheiro, a importância da poupança e os impactos de suas escolhas financeiras no longo prazo”, explicou a contadora.

Ainda segundo a especialista, pesquisas mostram que a instabilidade financeira do casal, por exemplo, é um dos motivos de separação, “e pensar no que passa pela sua cabeça ao tomar uma decisão que envolve o uso do dinheiro é o pontapé para evitá-la. A educação financeira permite que possamos viver com os próprios meios, atingir objetivos de vida e viver de forma mais organizada”.

Adriana Andrade, presidente do Conselho Regional de Contabilidade de Alagoas (Foto: Arquivo pessoal)

“Quando trabalhamos a educação financeira com menores precisamos adaptar a estratégia à idade e ao nível de compreensão da criança. Com os mais novos, é essencial simplificar os conceitos e usar atividades práticas que envolvam o dia a dia deles. Jogos, histórias e exemplos cotidianos ajudam a introduzir noções básicas como troca, poupança e planejamento”, elencou Adriana.

Assim como o gerente adjunto do Sebrae/AL, a contadora afirma que o ideal é que a educação financeira comece quando as crianças já compreendem o valor do dinheiro e a ideia de troca — normalmente por volta dos 5 ou 6 anos. Nessa idade, elas já podem entender que para obter algo, é necessário dar algo em troca (dinheiro), e que esse recurso é limitado.

“Ensinar as crianças que o dinheiro é finito e que precisa ser usado com responsabilidade é uma das lições mais importantes. Desde cedo, as crianças devem aprender que o dinheiro é um recurso limitado e que precisa ser usado com responsabilidade. Essa ideia se alinha ao princípio básico de planejamento financeiro: gastar com o que é necessário, poupar para o que é importante e evitar o desperdício”, esclareceu Adriana Araújo.

COFRINHO COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO

“Incentivar o uso de um cofrinho é uma estratégia muito eficiente para crianças pequenas. Ele ensina visualmente o conceito de poupar — ver o dinheiro crescendo fisicamente ajuda a criança a compreender que guardar um pouco por vez traz resultados. Isso também planta a semente do planejamento e da paciência”, ressaltou a contadora.

Já para os pré-adolescentes e adolescentes, Araújo diz que uma conta poupança ou investimentos básicos são ótimos para dar o próximo passo na educação financeira. “Com uma conta poupança, eles aprendem sobre rendimento e podem ver o impacto do tempo no crescimento do dinheiro. Já introduzir investimentos, como tesouro direto ou fundos simples, pode ensinar sobre riscos, retornos e planejamento de longo prazo”.

Adriana Andrade Araújo ressalta que não existe fórmula certa para as idades. “Mas, o importante é ensiná-los desde cedo a planejar-se para o futuro, consumir com segurança e estar preparado para os imprevistos. A educação financeira precisa ser prática, acessível e conectada à realidade de cada fase. Isso forma adultos com uma relação mais saudável e estratégica com o dinheiro”.