Maternidade atípica e o empreendedorismo caminham lado a lado

Projeto Famílias Atípicas Empreendedoras de Alagoas encontra possibilidade de aliar assistência aos filhos e garantir meios de subsistência

Por Ana Paula Omena e Lucas França: Repórteres / Bruno Martins: Revisão | Redação

"Mães atípicas" são aquelas que têm filhos com necessidades especiais ou que enfrentam desafios únicos na criação deles. Em Alagoas, o projeto pioneiro Famílias Atípicas Empreendedoras de Alagoas vem ganhando força após sua criação e a partir da iniciativa de transformar os desafios em oportunidades de sucesso. São centenas de mães atípicas que enxergam no empreendedorismo a saída para a criação dos filhos. Elas se reúnem e vendem variados produtos, desde comidas artesanais, acessórios de inclusão, roupas, cosméticos, entre outros itens.

Juntas essas mulheres estão transformando desafios em oportunidades de sucesso, mostrando que maternidade atípica e empreendedorismo podem caminhar lado a lado. Luana Rodrigues, idealizadora do projeto, destaca que muitas portas já se abriram com a criação da iniciativa em maio do ano passado, e que o grupo tem bastante mães atípicas atualmente, que viram no empreendedorismo uma saída para sobreviver como única fonte de renda ou aumento dela, após receberem o diagnóstico e precisarem abrir mão de um emprego formal para se dedicar ao tratamento do filho ou da filha.

“Foi em um momento difícil de minha vida, maio de 2023, e ouvindo relatos de outras mães atípicas, que veio a inspiração de Deus para começar a tirar do papel o projeto das Famílias Atípicas Empreendedoras de Alagoas, mas foi somente em agosto do ano passado que a ideia foi colocada em prática e assim surgiu a abertura de um grupo de negócios do WhatsApp para expor produtos nas redes sociais, ir divulgando e ao mesmo tempo estimulando umas às outras e se ajudando”, contou. Confira a entrevista completa no vídeo abaixo:

A nutricionista Shirlene da Silva Fragoso é mãe atípica e tem dois filhos, de 17 e 4 anos, ambos têm Transtorno do Espectro Autista (TEA) e ela também foi diagnosticada com autismo já na fase adulta. Ela contou que, como já conhecia o autismo, conseguiu identificar logo e começou o tratamento precoce deles. Mas foi em 2017 com o falecimento de seu pai e o fechamento do hospital em que trabalhava que o orçamento apertou e ela teve que se dedicar sozinha aos filhos e dar conta das despesas.

Shirlene com os dois filhos autistas (Foto: Arquivo pessoal)

“Tive que me dedicar a eles, se eu fosse trabalhar tinha que pagar alguém para ficar com eles, então não valia a pena. Até que tive a ideia de comprar sombrinhas para mim e umas amigas e consegui me cadastrar em algumas lojas e fornecedores para revender. Então, comecei a divulgar no Instagram, nas lojas de terapia que meus filhos vão e fui caminhando. Não tenho loja física, passo o dia na rua com eles e trabalho muito com encomendas. Não sou MEI porque meus filhos têm o BPC-LOAS [Benefício de Prestação Continuada da Lei Orgânica da Assistência Social] que pago o plano de saúde dos dois, restando apenas 300 reais”, destacou.

Aline Gilvany, que tem dois filhos autistas, um de 7 anos e outro de 3 anos de idade, também comercializa acessórios de inclusão, como cordões, pulseiras, abafador de ruído, adaptador de escrita, toalha de mão, chaveiros, guias de segurança, copos e garrafas.

Ela ressaltou a importância de empreender e mostrar para várias mães que tem como, sim, conseguir algo para cada uma delas e seus filhos. “O pouco vira muito e juntas somos mais fortes”, frisou Aline.

Na feira são vendidos também produtos voltados para PcD (Pessoa com Deficiência) (Foto: Secom Maceió)

BANCO DA MULHER EMPREENDEDORA TRANSFORMA VIDA DE MÃE ATÍPICA: “INVESTI O LUCRO NO TRATAMENTO DO MEU FILHO”

Mércia Silva, é mãe de Thiago, de 10 anos, diagnosticado com autismo grau dois, ela começou a empreender em 2019 para custear o tratamento do filho e contou que o empreendedorismo em sua vida foi um recomeço. “Eu estava desanimada e o auxílio financeiro do Banco da Mulher Empreendedora devolveu a minha perseverança para não desistir dos sonhos”, declarou.

Ela, que é natural de São Paulo e mora há 10 anos em Maceió, disse que antes de vir para a capital alagoana trabalhava como vendedora em uma loja de roupas femininas e nunca pensou em empreender. Sua vida mudou quando precisou sair do emprego para cuidar do filho, diagnosticado com autismo.

“É difícil, você precisa abrir mão da sua vida pessoal sem data para retorno, porque a dedicação é 100% aos nossos filhos. São terapias em cima de terapias e o TEA se manifesta de várias formas e nunca vem sozinho. Quando o plano não cobriu mais o tratamento, eu tive que ser a fisioterapeuta do meu filho, psicóloga, aprender a lidar com ele na prática e ajudar a minha família a tirar o peso do autismo das costas, levar esperança, insistir”, pontuou.

Mércia Silva e seu filho Thiago (Foto: Arquivo pessoal)


“Foi muito complicado para deixar o trabalho. Sempre fui ativa, trabalhava muito, mas deixei todos os projetos para cuidar do Tiago, porque não deu mais para o meu marido segurar, estávamos endividados e parcelando tudo. Não tenho uma profissão que sempre quis, mas o empreendedorismo me foi apresentado por causa do Thiago e hoje o Thiago me ajuda a vender também, faz até postagens nas redes sociais, foi uma evolução grande, quem vê não acha que ele é autista”, revelou Mércia Silva.

A esperança e o sonho de ajudar na desenvoltura do filho a motivou para voltar ao mercado de trabalho. Foi na clínica na qual Thiago realiza o tratamento onde tudo começou, as 40 horas semanais fizeram Mércia observar que outras mães atípicas também não tinham oportunidade de passear no shopping ou ir até o Centro da cidade, devido às dedicações diárias.

“Então eu pensei: se eu vender roupa infantil eu posso trazer pra clínica, enquanto o filho está na terapia eu vendo pra essa mãe. Conversei com todas para entender a dificuldade de cada criança, quais eram as melhores texturas para o tecido, cores e personagens”. Dessa forma, surgiu ‘Meu sonho azul’, registro de marca patenteada que, para ela, a palavra ‘sonho’ significa "trabalhar para cuidar do filho”.

MENTORIA

“Foi muito bom participar do Banco da Mulher, naquele momento tivemos mentoria especializada dos consultores do Sebrae voltada para o negócio, os conselhos e orientações nas decisões foram importantes referentes ao futuro do meu empreendimento. O valor que recebi foi para comprar embalagens, sacolas personalizadas e deixar o meu produto mais atraente. Ter participado foi além do valor porque o dinheiro acaba, mas o conhecimento não, os cursos que fizemos vamos aplicar em nosso negócio sempre”, destacou Mércia Silva, que é Microempreendedora Individual (MEI).

Mais de 800 mulheres já tiveram acesso ao crédito social do Banco da Mulher. A iniciativa transformadora da Prefeitura de Maceió visa incentivar o empreendedorismo feminino e a economia local, bem como ser mais uma ferramenta de combate à desigualdade de gênero.

Ana Paula Mendes, secretária da Mulher, Pessoa com Deficiência, Pessoa Idosa e Cidadania (Semuc) salientou que o apoio do poder público às famílias atípicas empreendedoras é de grande importância por várias razões sociais, econômicas e comunitárias, pois além de apoiar o empreendedorismo ainda proporciona uma alternativa viável para gerar renda e alcançar independência financeira, reduzindo as desigualdades sociais e econômicas promovendo uma sociedade mais justa e equitativa, gerando empregos e aumentando a resiliência econômica da comunidade, além de movimentar o comércio local.

A gestora da pasta reforça que há várias formas de apoiar esses empreendedores, entre elas, fornecer programas de capacitação e educação para empreendedores atípicos, facilitar acesso a microcréditos, incentivos fiscais e outros tipos de apoios financeiro e logístico. Essas questões são cruciais para que esses empreendimentos possam se desenvolver e prosperar.

Economista Fábio Leão: 'os negócios realizados pelas famílias atípicas – que estão inseridos neste conjunto de pequenos negócios – precisam ainda mais de ajuda dos governos e dos organismos de apoio. São famílias que precisam empreender'

(Foto: Victor Vercant / Ascom Semdes)



Sebrae Delas

"EMPREENDEDORISMO INCLUSIVO" OFERECE OPORTUNIDADE EMPOLGANTE PARA CAPACITAR MÃES ATÍPICAS

O "empreendedorismo inclusivo" oferece uma oportunidade empolgante para capacitar mães atípicas, permitindo-lhes não apenas garantir meios de subsistência para suas famílias, mas também contribuir de forma significativa para a economia e a sociedade em geral.

O tema famílias atípicas sugere um foco no apoio e na capacitação de mães que cuidam de crianças com necessidades especiais para que possam iniciar e administrar seus próprios negócios de maneira inclusiva e sustentável. Isso pode envolver a criação de programas de mentoria, acesso a recursos financeiros, treinamento em habilidades empreendedoras e o desenvolvimento de redes de apoio com outras mães em situações semelhantes.

Além disso, promover uma cultura empresarial mais inclusiva, que valorize as contribuições e habilidades únicas das mães atípicas, também pode ser uma parte importante desse movimento. Isso pode incluir sensibilização e educação sobre as necessidades e desafios específicos enfrentados por essas mães, bem como a promoção de políticas e práticas empresariais que as apoiem.

Érica Pereira, analista e gestora do programa Sebrae Delas em Alagoas, enfatizou a importância das mães atípicas alagoanas se capacitarem e salientou que algumas já são clientes do projeto de empreendedorismo feminino.

Érica Pereira é analista e gestora do Sebrae Delas (Foto: Ascom Sebrae)

“Nós apoiamos mulheres que já empreendem ou querem tirar uma ideia do papel com capacitações (cursos, palestras, oficinas, workshops, consultorias por hora marcada, mentorias) de forma gratuita. Nas nossas capacitações sempre falamos das vantagens de se formalizarem, porém algumas mães atípicas ainda pensam muito em perder o benefício que os filhos recebem”, enfatizou.

O programa Sebrae Delas é uma parceria com a aceleradora Be.Labs que oferece aulas e mentorias com a pré-aceleração de negócios femininos no método Efeito Furacão.

NEGÓCIOS REALIZADOS POR FAMÍLIAS ATÍPICAS PRECISAM DE APOIO E ATENÇÃO POR PARTE DOS GOVERNOS E ENTIDADES

O economista Fábio Leão diz que a família de baixa renda e aquelas que têm filhos com alguma doença mental ou algum transtorno, acaba sentindo o peso da exclusão de maneira ainda mais dura no que se trata de recursos financeiros.

Para ele, apesar de não se ter um recorte específico no setor econômico de quantas famílias atípicas empreendem em Alagoas, os pequenos negócios são muito importantes para a economia local. “Uma vez que estamos em um estado que trabalha com exagerada parcimônia no quesito geração de oportunidades e quando as oportunidades surgem, são empregos de baixa renda e de relações informais”.

Segundo ele, os negócios de pequeno porte dominam a cena da economia local. “De acordo com o portal www.gov.br, o estado de Alagoas conta com 188.570 empresas, das quais 168.203 são microempresas e 142.478 são empresas individuais. Os pequenos negócios tomados em conjunto representam aproximadamente 95% do total de empresas do Estado. Diante de números como esses podemos afirmar que todo o esforço dos governos em termos de elaboração de políticas públicas para este tipo de negócio é vital para a economia local. São empresas que ainda carecem, por exemplo, de crédito sob medida, informações gerenciais, treinamento e todo o tipo de apoio necessário para a manutenção dos seus negócios”.

Leão ressalta que os negócios realizados por famílias atípicas precisam de ações mais pontuais.

Economista Fábio Leão (Foto: Arquivo pessoal)

“Os negócios realizados pelas famílias atípicas – que estão inseridos neste conjunto de pequenos negócios – precisam ainda mais de ajuda dos governos e dos organismos de apoio. São famílias que precisam empreender e ainda precisam de muito mais apoio em termos de saúde e atenção para cuidarem de seus filhos com problemas de saúde mental e transtornos como o TEA. As famílias precisam de políticas que formem professores gabaritados a lidar com as crianças especiais, precisam de mais creches especializadas, transporte digno e algum auxílio pecuniário para gastos exclusivos para a saúde de suas famílias”, afirma o economista.

PESQUISA

O economista diz que ainda é necessário se pensar em políticas públicas e de inclusão para as pessoas que necessitam de apoio.

“Uma pesquisa realizada por Nayara Cavalcante em 2020 para o curso de enfermagem da Ufal, apresenta, por exemplo, números sobre o TEA nos Centros de Atenção Psicossocial de Maceió. Foram coletados 155 prontuários de pessoas diagnosticadas com TEA, entre maio e dezembro de 2019, na cidade de Maceió, distribuídos entre os Caps [Centros de Atenção Psicossocial] Dr. Rostan Silvestre, Dr Luiz da Rocha Cerqueira, Enfermeira Noraci Pedrosa e Dr Sadi Feitosa de Carvalho. A pesquisa traçou um perfil dessas pessoas para Maceió. Aproximadamente 14,5% dos pacientes eram do sexo feminino e 85,5%, masculino. Segundo a faixa etária: 20% eram de 5 a 9 anos; 45%, de 10 a 14 anos; e 35%, de 15 a 18 anos. Quanto à escolaridade, a pesquisadora descobriu que no Caps II Dr. Rostan Silvestre, 78% não apresentavam nenhuma informação acerca do nível de escolarização, ou seja, a maior parte das pessoas cadastradas nessa instituição, não possuía qualquer dado registrado que informasse que esses indivíduos estavam em processo de escolarização continuado ou interrompido, sendo necessário intervenção para que se possa garantir os direitos de inclusão escolar desta população. 11% desses indivíduos não tinham instrução ou apresentavam menos de um ano de frequência à escola, sendo caracterizados em processo de escolarização interrompido. Destes, apenas 7% encontravam-se no ensino fundamental incompleto e 4% tinham ensino médio completo”, expõe o economista.

Segundo Leão, a pesquisadora observou ainda que 89% das pessoas cadastradas não estavam recebendo nenhum tipo de ensino, caracterizando uma população negligenciada, com necessidade de assistência para a garantia dos seus direitos, como é previsto em lei.

APOIO

  • A Secretaria de Estado da Cidadania e da Pessoa com Deficiência (Secdef), órgão da administração direta, foi criado pela Lei Delegada Nº 48, de 30 de dezembro de 2022, cujo teor disciplina a estruturação dos órgãos do Poder Executivo, responde pela formulação e implementação de diretrizes e políticas públicas que garantam os direitos fundamentais, a cidadania, a dignidade da pessoa humana nas áreas da criança, adolescente, pessoa idosa, pessoa com deficiência e bem-estar animal.
  • Nesse sentido, a secretária da Secdef, Arabella Mendonça, afirma que a pasta vem se aproximando das famílias atípicas nos últimos meses para pensar e colocar em prática políticas públicas assertivas e de incentivo. "Uma das nossas ações que posso citar é a Feira das Famílias Atípicas Empreendedoras, que conta com o apoio da Secdef. Nosso objetivo é garantir que todas as pessoas com deficiência tenham oportunidades iguais de participar da sociedade e contribuir para o desenvolvimento do estado", destacou a gestora.

“SOCIEDADE PRECISA SER MAIS INCLUSIVA”, DIZ COORDENADORA PEDAGÓGICA

Para Danúbia Silvestre de Lima, coordenadora pedagógica de uma escola particular no bairro da Gruta de Lourdes, em Maceió, a sociedade precisa ser mais inclusiva, no entanto a teoria funciona mais que a prática, já que a educação não consegue ainda atender todas as necessidades das famílias atípicas.

“Em primeira análise, devemos reafirmar que a inclusão é um direito dentro e fora das escolas. E isso é uma luta e construção diária para que a sociedade seja inclusiva nesse movimento para que juntos possamos estar na vida desses que precisam. Hoje, a teoria funciona mais que a prática. Infelizmente, a educação não consegue atender todas as demandas e necessidades dentro desse contexto, pois não envolve apenas o ensino. No processo do TEA, a inclusão escolar também envolve o estabelecimento de políticas e práticas inclusivas dentro da escola. Isso inclui a implementação de estratégias pedagógicas adaptadas, o fornecimento de recursos adequados, o treinamento de professores e funcionários, bem como a criação de um ambiente físico e emocionalmente seguro para todos. Logo, a escola se torna fundamental para atender as famílias e construir um laço de respeito e acolhimento nos ambientes escolares”, Silvestre.

A profissional afirma que se a escola estiver alinhada junto com as famílias dos alunos é possível diminuir a carga que as mães carregam.

Coordenadora pedagógica Danúbia Silvestre destaca que sociedade precisa ser mais inclusiva (Foto: Edilson Omena)

“Compreende-se que as escolas estando alinhadas e adaptadas junto com as famílias, poderão diminuir os desafios relacionados às mães para que elas possam exercer suas funções profissionais tendo uma maior rede de apoio com cuidado para as crianças e adolescentes”, finaliza a pedagoga.

ESCOLAS DAS REDES PÚBLICAS MUNICIPAL E ESTADUAL DIZEM TRABALHAR COM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

A Secretaria de Educação de Maceió (Semed) disse que trabalha na perspectiva de uma educação inclusiva e igualitária para todos. Com isso, não há reserva em números de vagas para estudantes com deficiência, mas a criança deve estudar na escola mais próxima de casa para facilitar a vida dos pais e eles terem mais comodidade.

Segundo a Semed, as mais de 145 escolas da rede municipal estão aptas, bem como no sistema de matrículas, a atender a demanda das famílias atípicas no que tange às vagas de ensino. Conforme a secretaria, é pré-requisito do sistema priorizar a matrícula para o estudante com deficiência.

A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) também afirmou que todas as escolas da rede estadual de ensino de Alagoas são de inclusão e podem receber os estudantes que compõem o público-alvo da educação especial.

“A Seduc tem desenvolvido um planejamento com o objetivo de incluir cada vez mais os estudantes público-alvo da educação especial. Assim, conta com profissionais de apoio pedagógico, chamado de Auxiliar de Sala/Profissional de apoio escolar (LBI 13.146/2015), podendo ser solicitado por todas as escolas da Rede Estadual de Ensino. Em outra frente, o Governo de Alagoas, em julho de 2022, realizou concurso público para professores efetivos para educação especial, o que trouxe 367 profissionais professores da educação especial para atuarem nas mais de 300 escolas estaduais, ampliando as possibilidades de trabalho nesta modalidade de educação, bem como o desenvolvimento do Atendimento Educacional Especializado - AEE. A pasta também desenvolve projeto de expansão das Salas de Recursos Multifuncionais - SRM, com o intuito de realizar o AEE e descentralizar este atendimento em todo Estado pelas unidades de ensino da rede estadual”.

Além disso, a Seduc afirmou que são disponibilizados materiais que orientam os profissionais no tratamento dessas crianças e adolescentes. “Temos materiais orientadores que subsidiam o estudo e formação de professores na escola e nas gerências regionais de educação. Realizamos formação da equipe de gestores das unidades de ensino, bem como formação, mapeamento e apoio ao plano de ação estratégico da educação especial de cada escola, por meio dos profissionais Professores de Educação Especial em cada uma das Unidades de Ensino, bem como acompanhamento da Supervisão de Educação Especial da Seduc/AL”.

A reportagem tentou contato com o Sindicato das Escolas Particulares de Alagoas, mas até o fechamento do material não obteve retorno.

ALUNOS ESPECIAIS

São classificados como educação especial os alunos com Transtorno do Espectro Autista, Deficiências, Síndromes e Altas habilidades/superdotação, Dislexia e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96 e a Lei Brasileira de Inclusão 13.146/2015.

FAMÍLIAS ATÍPICAS X REDE DE APOIO MULTIDISCIPLINAR

De acordo com o psicólogo Carlos Gonçalves, as famílias atípicas de um modo geral costumam passar por um processo repleto de desafios e também de aprendizados. Estes pais enfrentam responsabilidades intensas e em muitas famílias, infelizmente, é bastante comum que as mães sejam colocadas em uma posição de responsabilidade extrema em relação a essas crianças.

“É importante a gente destacar que o cuidado e suporte não devem recair apenas sobre elas, ou seja, as mães. Na verdade, é um trabalho que exige a cooperação ou deveria existir a cooperação da família, que a gente colocaria também nesse lugar de rede de apoio, ou seja, necessita de uma rede de suporte forte e a família, quando ela é estruturada - é uma verdadeira rede, um auxílio para essa mãe, para esse pai, mas na maioria dos casos, recai sobre as mães”, comenta o especialista.

Ainda conforme o psicólogo é extremamente importante para essa mãe encontrar o seu espaço dentro de um contexto de mercado de trabalho.

“É preciso se sentir valorizada, ela se sentir reconhecida, se sentir inserida dentro desse processo de mecanismo econômico, financeiro, onde ela vai ter independência de não mais estar dependendo de um marido ou de um ex-marido ou de um pai ou de um avô, então essa independência financeira faz com que ela tenha essa autonomia e isso ajuda muito nesse processo de autoestima, o que vai respingar no processo de relacionamento dela com esses filhos atípicos”, explica Gonçalves.

Carlos Gonçalves afirma que os governos municipal, estadual e federal entram nesse aspecto de apoio com políticas públicas eficazes.

“Este apoio é realizado através da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), hospitais, assim como a estrutura de Organização Não Governamental (ONGs) que às vezes trabalha em determinados contextos, como o autismo e outros tipos. Ou seja, ir para esses lugares onde tem uma estrutura de terapeuta ocupacional, psicólogo, nutricionista, fonoaudiólogo, psiquiatra e outras especificações da área de saúde, toda essa equipe multidisciplinar nesses locais é o local onde essas famílias podem encontrar o amparo no sentido de ajudar, porque quem crianças atípicas têm a necessidade específica de inclusão delas”, expõe o psicólogo.

O especialista finaliza dizendo que já existe um preconceito da sociedade como um todo em relação a uma criança ou adolescente com necessidades diferentes dos demais alunos. “Inserir essas crianças numa atividade em que ela possa se desenvolver também profissionalmente seria importante, mas infelizmente ainda existe toda essa desestrutura, quanto antes ela é oferecida para esses pais ou essas mães de crianças atípicas, mais suporte ela vai ter emocional para oferecer também a essas crianças, porque o que acontece é a desestrutura. É preciso ter inclusão, pois a mãe é cobrada não só pela sociedade, mas por ela mesma e muitas vezes pela família que não apoia, mas que sabe apontar os erros. Então, para essas mulheres é muito importante também ter um apoio psicológico para ela encontrar força. Forças e mecanismos de poder oferecer melhor educação e melhor afeto e amor para essas crianças”, concluiu.