Envelhecimento populacional impulsiona economia prateada em Alagoas

Número de idosos deve ultrapassar o de jovens até 2031, segundo o IBGE

Por Lucas França e Luciana Beder - Repórteres / Revisão Bruno Martins | Redação

A chamada “economia prateada” engloba uma variedade de produtos, serviços e oportunidades de negócios voltados para atender às necessidades e desejos das pessoas mais velhas. Isso pode incluir áreas como cuidados de saúde, moradia, lazer, tecnologia adaptada, viagens, educação contínua, entretenimento e outras.

Com o aumento da expectativa de vida e o envelhecimento das gerações, a economia prateada tem o potencial de se tornar uma parte cada vez mais significativa da economia global. Empresas e empreendedores estão cada vez mais atentos a esse mercado em crescimento e procuram desenvolver produtos e serviços que atendam às demandas e preferências dos idosos.

(Imagem: Divulgação / IBGE)

Porém, apesar dessa atenção, ainda assim, o setor financeiro não atende totalmente às demandas deste público, segundo Gustavo Araújo, CEO do Banco Mercantil. “Somos o primeiro banco posicionado para os clientes 50+, um público que não costuma ganhar a devida atenção”, afirma Araújo. “É a parcela da população que mais cresce, em quantidade e relevância, e pode contar com o Banco Mercantil para oferecer o melhor ecossistema financeiro”.

Com sede em Belo Horizonte e mais de 250 pontos de atendimento em 8 estados brasileiros, o Banco Mercantil tem mais de 6 milhões de clientes, é o quinto maior pagador do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no Brasil. A instituição atua com operações focadas na comercialização de empréstimos, seguros e cartões.

No ano passado, o banco lançou uma nova campanha voltada para o público com mais de 50 anos, a chamada economia prateada: crescente no mundo todo, é um público que tem mais tempo, mais dinheiro para consumir e muita energia para se recriar e conquistar seus objetivos. A campanha, criada pela agência Lápis Raro, conta com o cantor Fábio Jr, que atualizou a sua música “20 e poucos anos”, sucesso desde a década de 1970, acompanhada por todas as gerações, para “50 e tantos anos”, com um clipe especial.

CRESCIMENTO 

Para se ter uma ideia, em Alagoas foi registrada a abertura de 1.277 empresas por pessoas com mais de 60 anos, somente entre os meses de janeiro e outubro deste ano, segundo dados da Junta Comercial do Estado de Alagoas (Juceal). Quando observadas as seções de atividades, as aberturas empresariais pela faixa etária em Alagoas apresentam maiores números para comércio (381); alojamento e alimentação (164); transporte, armazenagem e correio (124); indústrias de transformação (113); atividades administrativas e serviços complementares (88); construção (64); atividades profissionais, científicas e técnicas (56); educação (44); e saúde humana e serviços sociais (44).

Durante todo o ano passado, foram abertas 1.559 empresas por pessoas com mais de 60 anos no estado. Quando observadas as seções de atividades, as aberturas empresariais pela faixa etária em Alagoas apresentam maiores números para comércio (499); alojamento e alimentação (208); transporte, armazenagem e correio (166); indústrias de transformação (130); construção (114); atividades administrativas e serviços complementares (89); atividades profissionais, científicas e técnicas (65); educação (57); e atividades imobiliárias (41).

João Victor Galvão, do Sebrae: 'Em 2024 o público 50+ ganhará uma atenção maior e direcionada através do projeto Sebrae Plural, que visa incentivar e desenvolver de forma estratégica empreendedores PCDs, LGBTQIA+ e 50+'

Empreender é uma alternativa concreta de trabalho e de renda

O economista Cícero Péricles afirma que, neste cenário, para a maioria pesa muito a situação no mercado de trabalho, que é duro no tocante à questão etária. Portanto, criar uma empresa individual ou uma microempresa é uma alternativa concreta de trabalho e de renda. “Temos, em Alagoas, 130 mil pessoas desempregadas, 200 mil desalentadas, pessoas que desistiram de procurar emprego; 100 mil trabalhando em tempo parcial e 300 mil trabalhando por conta própria. Neste universo de informais, de autônomos, desempregados e trabalhadores em tempo parcial, temos uma parcela de pessoas com mais de 50 anos que, dificilmente, conseguem espaço no mercado de trabalho formal”, explica.

Péricles destaca ainda que a idade influencia na definição do tipo de negócio. “As opções de criação de empresas levam em conta vários fatores importantes, como volume de capital disponível, identificação com um ramo da economia, área do negócio, gênero e idade do empreendedor, que terminam por definir tipos de negócios que exigem menor esforço físico, mais experiência no trato com os clientes ou que demandem certos conhecimentos profissionais, principalmente na área da gestão do empreendimento. Na informação do Ministério da Fazenda, é clara a divisão de negócios por gênero, são 154 mil empreendimentos individuais em Alagoas, sendo 84 mil liderados por homens e 70 mil por mulheres. Os homens dominam as empresas das áreas mais pesadas como construção, transporte, movelaria, serralharia e atividades como serviços de mecânica, eletricidade, hidráulica, pintura, alvenaria; por sua vez as mulheres estão mais presentes na produção de alimentos, confecção de vestuário, comércio de perfumaria, bijuteria, cabeleireiras e tratamento de beleza. Evidentemente que tanto gênero como a idade pesam na definição do tipo de negócio”, diz.

Economista Cícero Péricles (Foto: Sandro Lima / Arquivo)

Segundo o economista, os empreendedores da geração ‘prateada’ têm quase as mesmas razões da maioria que busca uma fonte de renda complementar ou a de uma minoria, de realizar o sonho de investir em um negócio. “Tal como no movimento geral empreendedor, existem os que realizam o ‘empreendedorismo por necessidade’ e os que fazem por vocação empresarial. A diferença em relação aos mais jovens está em que as pessoas dessa geração, no geral, estão com família constituída, pararam de estudar por mais de uma década, passaram por um algum tipo de trabalho ou mesmo empreendimento e têm experiência profissional. Muitos deles estão aposentados”, avalia.

Péricles afirma ainda que, com o envelhecimento da população, há uma tendência de crescimento de negócios relacionados aos maduros e idosos. “O Censo de 2022 deixa claro que a população alagoana está envelhecendo – como a brasileira, e isso se reflete em todas as áreas, seja na possibilidade de emprego, no consumo, saúde, transporte etc. Temos, em Alagoas, 750 mil pessoas com mais de 50 anos. É um número expressivo, um em cada quatro alagoanos. Esse conjunto é diverso em termos educacionais, de saúde e de renda e, claro, muitos deles buscam uma alternativa de renda, ou mesmo uma atividade ocupacional, na criação de um empreendimento. Como resultado, temos em Alagoas 30 mil microempreendedores individuais com mais de 50 anos, 20% do total. Nas pesquisas recentes do Sebrae, 22% dos donos dos empreendimentos considerados micro e pequenas empresas [MPEs] têm acima de 55 anos, o que significa, em Alagoas, 12 mil donos de MPEs”, destaca.

(Imagem: Divulgação / IBGE)

Levantamento

Até 2031, o número de idosos deve ultrapassar o de jovens no Brasil, de acordo com uma estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse é só um dos motivos para que as empresas invistam em economia prateada. Ainda segundo os dados, haverá 42,3 milhões de jovens (0-14 anos) e 43,3 milhões de idosos (60 anos e mais). Pela primeira vez, o Índice de Envelhecimento (IE) será maior do que 100, ou seja, haverá 102,3 idosos para cada 100 jovens. Em 2018, o número de idosos no país chegou a 28 milhões – 13,4% da população; o número de pessoas com mais de 60 anos é superior ao de crianças com até nove anos. As projeções do IBGE também mostram que em 2055 o país terá o total de 70,3 milhões de idosos e 34,8 milhões de jovens, com o IE de 202 idosos para cada 100 jovens. Ou seja, haverá mais que o dobro de idosos em relação aos jovens.

Aposentada vira administradora de um dos negócios da família

A professora aposentada Quitéria da Silva Lima, de 62 anos, faz parte da estatística do grupo de pessoas que iniciaram um empreendimento após os 50 anos. Ela está à frente de um dos negócios da família desde 2015, um restaurante localizado no município de Paulo Jacinto, na Zona da Mata de Alagoas.

Quitéria disse que a ideia surgiu com o objetivo de empregar um sobrinho que veio de São Paulo para Alagoas, já que ele havia trabalhado no ramo alimentício na capital paulista. “Seria uma boa ideia para ele. Mas depois de dois anos atuando aqui, ele resolveu voltar para lá. E como eu estava empolgada iniciando um empreendimento, não quis fechar. Por isso assumi e não me arrependo. Atualmente temos três colaboradores – que nos ajudam em todas as funções que a gente precisa. Eles são esforçados e cada dia um aprende com o outro para levar o melhor aos nossos clientes”, conta.

Quitéria Lima e as funcionárias do restaurante (Foto: Cortesia)

Segundo a empreendedora 50+, atualmente, ela tem uma clientela bastante significativa. “Hoje, temos um grande público, sendo a maioria de outras cidades e estamos trabalhando para expandir os serviços. Muitos clientes, geralmente, são representantes de lojas e pessoas que estão passando na entrada da cidade. Então, acaba ajudando na divulgação do restaurante”, afirma.

A aposentada enfatiza ainda a geração de empregos para a população. “É muito satisfatório saber que estamos conseguindo aumentar nosso patrimônio empregando pessoas da nossa cidade que precisam sustentar suas famílias também”, ressalta Quitéria.

Assim como todos os negócios, o restaurante de Quitéria também passou por algumas dificuldades, mas se manteve em pé. “Como todo negócio de alimentação, também passamos por muitos obstáculos, principalmente na pandemia do coronavírus quando a gente não podia abrir, mas tinha que funcionar. Então, também nos adaptamos a isso”, conta.

“População mais madura representa um poderoso motor econômico”

De acordo com João Victor Galvão, gestor de Diversidade e Inclusão do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Alagoas (Sebrae/AL), a economia prateada é muito importante para o desenvolvimento do Brasil.

“O envelhecimento da população é uma tendência demográfica que afeta muitos países, incluindo o Brasil, e essa população mais madura representa um poderoso motor econômico. À medida que as pessoas envelhecem, elas continuam a desempenhar um papel vital na economia, seja como consumidores ativos, empreendedores ou profissionais experientes. A economia prateada cria oportunidades de emprego e empreendedorismo, contribuindo para o crescimento econômico e a geração de renda em nível estadual, regional e nacional. Empresas que atendem às necessidades e preferências das pessoas mais velhas, como serviços de saúde, tecnologia assistiva, moradia adequada e entretenimento prosperam, criando empregos e estimulando o desenvolvimento de setores inteiros da economia”, afirma o gestor.

Além disso, segundo Galvão, investir na economia prateada promove a inclusão social e a igualdade de oportunidades. “Isso é fundamental para o desenvolvimento sustentável, pois permite que as pessoas idosas desfrutem de uma melhor qualidade de vida, permaneçam ativas e contribuam para a sociedade de maneira significativa. No Sebrae Alagoas, reconhecemos a importância de apoiar empreendedores maduros e promover a diversidade e a inclusão em todas as faixas etárias. Estamos comprometidos em fornecer treinamento, orientação e recursos para ajudar esses empreendedores a aproveitarem as oportunidades da economia prateada, fortalecendo assim o desenvolvimento de Alagoas e do Brasil como um todo. Estamos convencidos de que a diversidade de idade é uma vantagem para a economia e uma força motriz para o crescimento sustentável e inclusivo”, destaca.

João Victor Galvão, gestor de Diversidade e Inclusão do Sebrae Alagoas (Foto: Arquivo pessoal)

O gestor de Diversidade e Inclusão do Sebrae Alagoas ressalta que não há um segmento específico para quem deseja começar a empreender após os 50 anos. “Estima-se que a grande maioria dos empreendedores 50+ recorrem ao empreendedorismo após sua aposentadoria como forma de complementar sua renda. A ideia é que esses empresários invistam de forma estratégica em produtos e serviços que solucionem problemas desta comunidade. Alguns segmentos que se destacam nesse cenário são: saúde e bem-estar, turismo e lazer, artes e artesanato, serviços de cuidados e empreendedorismo social”, pontua.

Segundo Galvão, a premissa básica do conceito de economia prateada é reconhecer a importância de atender às necessidades e preferências desse grupo demográfico em constante crescimento. “A economia prateada se baseia no conceito de que as pessoas mais velhas podem continuar a desempenhar um papel ativo na sociedade e na economia, aproveitando suas experiências e habilidades”, afirma.

APOIO

De acordo com o gestor, a entidade está de portas abertas para todos os empreendedores, independente da faixa etária. “Mas em 2024 o público 50+ ganhará uma atenção maior e direcionada através do projeto Sebrae Plural, que visa incentivar e desenvolver de forma estratégica empreendedores PCDs, LGBTQIA+ e 50+. Quem desejar aderir a esse projeto deverá aguardar seu lançamento no primeiro semestre do ano”, antecipa.

Para aqueles empreendedores ou potenciais empresários da economia prateada que desejarem participar das futuras iniciativas do Sebrae voltadas a esse público, podem entrar em contato com João Victor Galvão, gestor de Diversidade e Inclusão do Sebrae Alagoas, através do email: [email protected] ou pelo telefone (82) 99131-7669 e tirar todas as dúvidas.