Radar Meteorológico: equipamento de alta tecnologia ajuda a salvar vidas

Pesando 10 toneladas e avaliado em mais de R$ 9 milhões de dólares, dispositivo é forte aliado na cobertura de desastres naturais com informações de curtíssimo prazo

Por Lucas França / Revisão: Bruno Martins | Redação

Quem passa por dentro ou pelas imediações da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) com certeza já viu e observou aquela bola gigante (radome) no topo de um prédio de sete andares logo após o Restaurante Universitário (RU). E muita gente ainda se pergunta o que é... Pois bem, no local funciona o Radar Meteorológico da instituição. Pesando 10 toneladas e avaliado em mais de 9 milhões de dólares, ele é um verdadeiro aliado para entendermos o clima da nossa região.

É um dispositivo de alta tecnologia que está entre os nove pertencentes à rede de radares do Conselho Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). O radar está localizado estrategicamente no Campus A.C. Simões e monitora as condições atmosféricas, fornecendo informações precisas sobre chuvas, tempestades e outros eventos climáticos.

A Ufal tem se destacado em diversas áreas do conhecimento e tem se consolidado a cada ano com estudos desenvolvidos dentro da instituição, mas que ultrapassam os muros e colaboram com a sociedade. E o monitoramento hidrometeorológico feito pelo Sistema de Radar Meteorológico de Alagoas (Sirmal), vinculado ao Instituto de Ciências Atmosféricas (Icat), unidade acadêmica do Campus A.C. Simões que dispõe do Laboratório Alerta Radar (LAR), com atividades de extensão e de pesquisa em andamento, que fazem parte dessa colaboração aos alagoanos.

Este sistema que obtém informações em um raio de 400 km a partir da Ufal, ponto central da cobertura, está ajudando a salvar vidas com as previsões de desastres naturais, segundo ressalta a professora e coordenadora do equipamento, Maria Luciene Dias Melo.

“As previsões detectadas pelo Radar servem para subsidiar o governo, os órgãos ambientais e a Defesa Civil na tomada de decisão quanto ao monitoramento e ao envio de alertas de desastres para áreas de risco, agronegócio, mobilidade urbana e para o monitoramento de bacias hidrográficas na região. Este equipamento fornece previsão de curtíssimo prazo, conseguindo assim tirar as pessoas que moram em áreas de risco no período da quadra chuvosa. Com o radar já conseguimos salvar muitas vidas. E isso é comprovado no último inverno quando apenas morreram quatro pessoas. Com as previsões conseguimos de forma rápida enviar as informações do nível das precipitações para que ações sejam realizadas. É um equipamento de monitoração, tecnológico, mas que acima de tudo tem como maior objetivo salvar vidas”, destaca a coordenadora do Radar, Luciene Melo.

Radar Meteorológico recebe visitação de estudantes da educação infantil ao ensino médio (Foto: Cortesia)

Melo ressalta que a universidade é a única do país que integra a Cemaden. “Esse equipamento veio substituir, em 2013, o primeiro radar da Ufal, doado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e que, à época, tinha como coordenador o professor Ricardo Tenório [In memoriam]”.

A coordenadora e pesquisadora afirma que o Radar é um importante instrumento que detecta e rastreia tempestades ligadas a vendavais, granizo, alagamentos, deslizamentos de encostas, entre outros eventos. “E como eu falei, são previsões de curto prazo gerando a cada 10 minutos, imagens que são enviadas automaticamente para o Cemaden. Ou seja, é um equipamento de fundamental importância não só para os estudos dentro da universidade, que envolvem os alunos do curso de meteorologia e pesquisadores, mas também sobre a importância do trabalho para a sociedade, para órgãos governamentais responsáveis pelos serviços de meteorologia e para avanços científicos nessa área”.

Além de Alagoas, o dispositivo capta informações nos estados de Pernambuco, Sergipe, parte da Paraíba, do Rio Grande do Norte e da Bahia, gerando a cada 10 minutos imagens que são enviadas automaticamente para o Cemaden.

O Radar Meteorológico da Ufal é um instrumento que, além de gerar informações de cunho científico e tecnológico levando conhecimento para os estudantes da área, também funciona como um espaço de conhecimento para toda a sociedade. “Por aqui recebemos alunos de todo estado, desde educação infantil até o ensino médio, que chegam aqui para aprender sobre a importância do radar, sobre como são feitas as previsões. É um espaço de conhecimento. Às escolas interessadas, basta os professores entrarem em contato com nosso perfil no Instagram @radar.ufal ou email: [email protected]”, pontua Luciene.

“As previsões detectadas pelo Radar servem para subsidiar o governo, os órgãos ambientais e a Defesa Civil na tomada de decisão quanto ao monitoramento e ao envio de alertas de desastres para áreas de risco

Coordenadora Luciene Melo destaca importância do Radar Meteorológico para detecção e rastreamento de tempestades e outros eventos (Foto: Edilson Omena)



Equipamento tem projetos de pesquisa de iniciação cientifica e extensão

Doutora na área de Mudanças Climáticas e Paleoclimatologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Luciene ingressou como docente do Icat da Ufal em 2008, onde ministra as disciplinas Meteorologia Dinâmica 1 e 2, Previsão Numérica de Tempo e Clima e Paleoclimatologia. Ela está na coordenação do Radar desde 2020 e informa que há pesquisa em andamento na área com envolvimento de um bolsista de iniciação científica.

De acordo com Melo, as pesquisas estão em desenvolvimento no Laboratório Alerta Radar (LAR). “Um projeto de extensão nessa área, que permite aos alunos do curso de Meteorologia da Ufal a vivência de uma sala de situação, na qual realiza-se a previsão de curto prazo, o monitoramento hidrometeorológico e a divulgação desses dados na página do Radar”.

Luan Araújo, do 6° período do curso de Meteorologia, é bolsista de iniciação científica do LAR. Ele afirma que o trabalho no radar é dinâmico e de muito aprendizado.

“Sou bolsista de iniciação científica em uma pesquisa que tem como objetivo comparar os dados de precipitações que a gente obtém em pluviômetros (instrumento que armazena e mede a água da chuva) e os que a gente afere no Radar. A pesquisa está em fase inicial e vai passar por várias etapas, desde o levantamento bibliográfico até a obtenção e tratamento dos dados. O trabalho no radar é dinâmico. Nós, estudantes, podemos dar ideias e sugerir novas formas de trabalhar”, comenta Luan, acrescentando que “é um aprendizado que nos prepara tanto para a produção científica quanto para o mercado de trabalho”.

O bolsista antecipou que a pesquisa abrange o município de Maceió.

Estudantes e professores do LAR em pesquisa e extensão (Foto: Cortesia)

Para a estudante Micaela Viana, do 5° período, que frequenta o radar desde o início das aulas do primeiro semestre de 2023, o equipamento é fundamental para seu aprendizado.

“É através desse equipamento que vejo na prática a teoria que estudo na sala de aula, utilizando a tecnologia. Ou seja, com o radar vejo os dados registrados de precipitação e intensidade de nuvens que estão na região ao redor. Assim, fico mais familiarizada com o equipamento”, expõe Micaela.

A estudante fala ainda que a importância do radar está diretamente ligada à sua vida acadêmica e profissional. “A funcionalidade e as atividades que os professores oferecem para a expansão do meu conhecimento sobre a meteorologia são essenciais para me tornar uma profissional capacitada”.

A coordenadora do radar lembra que, além do projeto de extensão Laboratório Alerta Radar, que leva oficinas para os estudantes do @icatufal, proporcionando vivências únicas em uma sala de alerta, há cursos de manutenção e computação.

Para ela, o espaço científico para a formação e qualificação acadêmicas é de grande importância. “É uma ferramenta importantíssima para a previsão do tempo e o monitoramento de condições meteorológicas extremas, oportunizando ao estudante aulas práticas, que permitem interpretar imagens de radar e entender diferentes características das nuvens, como a intensidade da precipitação, a altura das nuvens e a velocidade do vento. Além de ser utilizado em pesquisas sobre a física da atmosfera, o comportamento das nuvens e a dinâmica da precipitação. Sendo fundamental na academia para estudos das condições atmosféricas, previsão do tempo e desastres naturais”.

EQUIPE


Também estão na equipe de trabalho do Radar o professor Marcelo Queiroz de Assis Oliveira, responsável pela infraestrutura de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC); Kleymerson Pereira Lins, responsável pela gestão de projetos; e Luan Araújo, bolsista de iniciação científica.

ÚLTIMA GERAÇÃO


O radar que está em funcionamento é desenvolvido pela Selex ES GmbH, da Gematronik, empresa destacada na área de sistemas de radar meteorológico e sensores meteorológicos, com mais de 50 anos de experiência. O Cemaden, criado em 2011 para monitorar áreas de risco e dar alertas para evitar ou amenizar catástrofes naturais, comprou nove desses radares com recursos do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. A intenção é garantir maior precisão nos dados para identificar a velocidade e o volume da chuva e saber em quanto tempo uma tempestade chegará à determinada região e com que intensidade de risco.

Foto mostra o disdômetro, dispositivo que recebe as informações do Radar e transmite os dados em tempo real aos computadores interligados (Foto: Edilson Omena)

Em maio de 2012, o coordenador de operações do Cemaden, Carlos Frederico Angelis, veio à Ufal, onde se reuniu com o então reitor Eurico Lôbo e o coordenador do Sistema de Radar Meteorológico de Alagoas, professor Ricardo Sarmento Tenório, para estabelecer a parceria com a implantação do novo radar.


Primeiro radar da Ufal foi instalado em 2003 e funcionou durante 10 anos

Em 2003 foi instalado o primeiro radar da universidade, que funcionou por 10 anos. O dispositivo emitia imagens da atmosfera a cada hora e foi bastante utilizado em parceria com o setor agrícola e em monitoramentos para a Defesa Civil. Ele foi muito importante nas atividades de formação e pesquisa, mas foi desativado no início de 2013. "A intenção era atualizar o sistema para continuar utilizando, mas então surgiu essa parceria com o Cemaden e recebemos um radar de qualidade muito maior, que emite imagens a cada 10 minutos e meio", falou à época o diretor do Sirmal, professor Ricardo Sarmento.

Coordenador do curso de meteorologia destaca importância do radar para estudantes e sociedade

O Radar Meteorológico é uma ferramenta essencial para estudantes de meteorologia e áreas afins, de acordo com o Prof. Dr. Heliofábio Barros Gomes, diretor do Icat/Ufal.

Gomes elencou algumas razões da importância para os estudantes:

- Na compreensão da meteorologia, permitindo que os estudantes visualizem e compreendam melhor os padrões e processos meteorológicos, observando como as diferentes condições atmosféricas afetam a reflexão das ondas de radar;

- Na previsão do tempo, através dos dados coletados pelo radar, eles podem aprender como essas informações são usadas pelos meteorologistas para prever as condições meteorológicas futuras, incluindo a formação de tempestades, a intensidade das precipitações e a trajetória de sistemas climáticos;

- Na educação ambiental, ao usar dados de radar, os estudantes podem aprender sobre as interações complexas entre o clima e o meio ambiente, promovendo a conscientização e a ação em relação às mudanças climáticas e à conservação, dentre outras.

Professor Heliofábio, coordenador do curso de Meteorologia da Ufal (Foto: Acervo pessoal)

Já para a sociedade alagoana, ou seja, fora da sala de aula e além dos muros da universidade, o radar é uma ferramenta extremamente importante, pois permite prever e monitorar condições climáticas adversas, como tempestades, chuvas intensas, tornados e nevascas.

“Essas informações são essenciais para a emissão de alertas e avisos às autoridades locais e à população, ajudando a prevenir desastres naturais e a salvar vidas. Fornece informações valiosas para o gerenciamento de recursos. Ele ajuda a planejar operações de remoção de neve, drenagem de áreas alagadas e manutenção de estradas, além de otimizar o uso de recursos como sal de degelo e equipamentos de limpeza. Desempenha um papel fundamental na segurança pública, fornecendo informações antecipadas sobre condições climáticas extremas que podem afetar a circulação, como estradas escorregadias ou enchentes. Isso permite que as autoridades tomem medidas proativas para garantir a segurança da população. Em relação à economia local, tendo uma previsão precisa do tempo baseada em radar, sendo essencial para muitos setores econômicos, como agricultura, turismo e construção”, destacou Gomes.

Para a agricultura, o professor diz que o radar ajuda os agricultores a planejarem melhor o plantio e a colheita. Além de ser equipamento de alertas para demais áreas.

“As empresas de turismo podem gerenciar reservas e eventos ao ar livre e os empreiteiros podem programar obras com base nas condições climáticas. O radar meteorológico também desempenha um papel na conscientização pública sobre as condições climáticas iminentes. As informações geradas pelo radar são frequentemente transmitidas pela mídia e aplicativos de previsão do tempo, mantendo os residentes informados e permitindo que tomem decisões informadas sobre suas atividades”.

Já em relação às situações com possibilidade de desastres naturais, como inundações, deslizamentos de terra ou tornados, o radar meteorológico desempenha um papel fundamental na coordenação da resposta de emergência. Ele fornece informações em tempo real para orientar as equipes de resgate e os serviços de atendimento médico, permitindo uma resposta mais eficaz. “Podemos afirmar que o radar meteorológico desempenha um papel vital na segurança, eficiência e qualidade de vida de uma cidade. Ele ajuda a prevenir danos causados pelo clima, melhora a gestão de recursos e infraestrutura, sustenta a economia local e mantém os residentes informados e seguros. Portanto, é uma ferramenta essencial para o funcionamento e a proteção de uma cidade. Entretanto, é muito importante a parceria entre os órgãos municipais, estaduais e a universidade”, finalizou o Prof. Dr. Heliofábio Barros Gomes.

Cemaden mantém manutenção preventiva e corretiva do Radar Meteorológico

De acordo com a coordenadora do espaço, Luciene Melo, o dispositivo é mantido pela Cemaden e o papel da universidade nesse sentido é a manutenção do prédio, da energia e internet.

“Contamos com total apoio da gestão da Ufal no que se trata de infraestrutura e o Cemaden mantém a manutenção preventiva e corretiva do Radar Meteorológico, necessária para a operação do equipamento”. E, para além dessas parcerias, ela enfatiza que está havendo a prospecção de outras novas com o estado de Alagoas no âmbito da Defesa Civil.

Visão aérea do Radar Meteorológico da Ufal (Foto: Edilson Omena)


O Radar engloba equipamentos como disdrômetros, estações meteorológicas e o próprio Radar Meteorológico de dupla polarização, que é diferente dos convencionais, pois emite ondas eletromagnéticas polarizadas, horizontal e verticalmente, o que permite obter informações mais precisas sobre o tamanho, a forma e o tipo de partículas presentes na atmosfera.

Luciene Melo diz que, com essa tecnologia, torna-se possível distinguir entre chuva, granizo, neve e presença de correntes ascendentes e descendentes dentro das nuvens. Possibilitando melhor compreensão da atmosfera e consequentemente melhorias na previsão.

PARCERIAS

A professora destaca as importantes parcerias para execução do trabalho e conta que o Radar mantém um convênio de cooperação técnica com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), gerando produtos a cada 10 minutos para elaboração de alertas sobre possíveis desastres associados à chuva. Também é feita a revisão de curtíssimo tempo (nowcasting).

Para mais informações sobre o trabalho desempenhado no Radar, o contato pode ser mantido pelo e-mail: [email protected], [email protected] ou na página www.radar.ufal.br.

Precipitações foram registradas em Alagoas pelo dispositivo tecnológico

O Radar Meteorológico foi um importante equipamento nas enchentes dos últimos anos em Alagoas. Foi ele que gerou alertas para Alagoas nas bandeiras amarela, devido ao perigo potencial de chuvas intensas, e laranja e vermelha, por causa do acumulado de chuvas. O Radar funciona 24 horas por dia, o ano inteiro, gerando diversos outros produtos importantes para a ciência e para toda população.

São com as informações geradas e com funcionamento 24h por dia que Defesa Civil e a Semarh conseguiram minimizar os prejuízos das últimas enchentes e alertar a população que mora em áreas de risco a se abrigarem em locais seguros.

Para o coordenador estadual de Defesa Civil, major Moisés Melo, o dispositivo é importantíssimo para o estado. “Essa parceria da universidade com o Governo, através da Semarh, é de suma importância porque dá para os técnicos da meteorologia do estado e técnicos da Defesa Civil estadual e municipais subsídios e condições necessárias para que alertas sejam emitidos em tempo real, proporcionando uma resposta imediata à população que mora nas áreas de risco, para que sejam retiradas a tempo. E com o radar fizemos isso. Nas últimas enchentes muitas vidas foram salvas. Conseguimos falar com os gestores e salvamos vidas em tempo hábil. E esse é o objetivo, salvar pela prevenção e isso vem sendo feito com essa parceria”, destacou.

No áudio abaixo, o major Moisés Melo fala sobre a parceria.

Em caso de risco, a orientação é ligar para a Defesa Civil, pelo 199, ou para o Resgate do Corpo de Bombeiros, por meio do 193.

O secretário de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos, Gino César Meneses Paiva, reforça o que os especialistas da Ufal e coordenador da defesa civil falaram. “É fundamental para Alagoas como um todo a parceria com a Ufal, que é um grande instrumento indutor de desenvolvimento socioeconômico. O Radar Meteorológico é a principal ferramenta de previsão em Alagoas, possuindo uma função de detecção de tempestades, vendavais e outros eventos que podem causar danos à sociedade, indústria e até mesmo ao comércio. As informações do Radar são utilizadas pelo Estado para realizar ações de maneira mais rápida e qualificada em benefício do nosso povo”.

Para o superintendente de Prevenção em Desastres Naturais, Vinícius Pinho, a parceria com a Ufal através do radar é 100% positiva na prevenção de desastres naturais. Ouça na íntegra o que Pinho fala.

POPULAÇÃO

Famílias ribeirinhas afetadas com as últimas enchentes receberam os alertas do perigo e solicitação para sair de casa e se abrigarem em local seguro.

Em São José da Laje, por exemplo, após o Rio Mundaú transbordar em 2022, um rastro de destruição ficou na cidade. Os coqueiros da Praça Central foram arrastados pelas águas, bancos e monumentos destruídos. E o mesmo aconteceu em várias residências e estabelecimentos comerciais em cerca de 10 ruas. Em 2023, a situação foi em menor proporção quando comparada aos anos anteriores. Mas se não fossem as previsões da Semarh em conjunto com o Radar a situação seria muito pior.

A aposentada Maria Vieira de Amorim, 72 anos, contou que nessa enchente especificamente foi perda total e não teve como salvar nada. “Perdi completamente tudo, aqui na minha casa a água subiu cerca de três metros. Só a casa que não foi ao chão. Roupas, móveis e até a feira que tinha acabado de fazer a cheia levou. O que restou foi minha vida e agradeço a Deus por isso”, contou à reportagem a aposentada, lembrando que de fato foram informados do perigo. “Deu tempo de correr e foi Deus ter acontecido de dia, por isso não houve registro de mortes”, lembrou.

Maria Vieira fala que alerta foi importante e pontua que enchente ter acontecido de dia minimizou riscos (Foto: Edilson Omena / Arquivo)

Eliane Barbosa da Silva, também morada de São José da Laje, vítima das enchentes em três anos consecutivos, disse que teve um pouco mais de ‘sorte’. “Diferente de muitos vizinhos e parentes, eu ainda consegui salvar ao menos a cama, geladeira, fogão e algumas roupas. Mas, isso foi o que achei essencial para salvar enquanto a água entrava. Graças a Deus tudo aconteceu por volta das 9h da manhã”, contou lembrando-se da última enchente na cidade.

Vitória Valkíria, moradora de Rio Largo, na Região Metropolitana de Maceió, também foi afetada pela enchente no ano de 2022. Ela se lembrou da situação e contou que em 2023 ficou mais atenta para não perder mais móveis.

“Em 2022 tudo aconteceu muito rápido que a gente nem pensou em salvar nada, quem iria imaginar que a água chegaria aqui e ainda cerca de três metros. Nessas horas a vida é mais importante. Corremos para casa da minha cunhada deixando tudo para trás. Estamos vivos e isso é o que importava naquele momento. Depois a gente batalhava para começar do zero. Mas não nego que, quando vi tudo perdido, bateu uma vontade de chorar, um desespero, porque não sabíamos por onde começar. Este ano ficamos atentos e a água veio com menos força, desta vez não nos atingiu”, comemorou.