Robótica: dos filmes de ficção ao alcance de todos nas salas de aula

Ciência proporciona conhecimento tecnológico aliado à pesquisa, inovação e habilidades socioemocionais

Por Lucas França e Valdete Calheiros - Repórteres / Bruno Martins: Revisão | Redação

A presença da robótica há muito tempo já não figura apenas em trechos de filmes de ficção, produções hollywoodianas ou nos sonhos de vanguarda de um professor mais futurista. A robótica chegou para ficar e está presente dentro das salas de aula.

A ciência faz parte da rotina de centenas de estudantes alagoanos. Seja em instituições da rede pública de ensino, nas escolas privadas de ensino regular ou ainda nas instituições particulares que ensinam línguas estrangeiras.

Por sua definição mais elementar, robótica é a ciência que estuda as tecnologias associadas à concepção e construção de robôs. É um ramo educacional e tecnológico que trata de sistemas compostos por partes mecânicas automáticas em conjunto com circuitos integrados, tornando sistemas mecânicos motorizados controlados por circuitos elétricos e inteligência computacional.

O professor e roboticista Urandy Carlos Marinho dos Santos, 51 anos, 12 dos quais dedicados à robótica, conhece como ninguém e aplica muito bem esses conceitos em sua rotina de trabalho com seus alunos. Ele avalia que o ensino da robótica nas escolas significa uma grande inovação e oportunidade de crescimento para os estudantes, principalmente no pós-pandemia.

Inovação, explicou o roboticista, por dar ao estudante oportunidade de aprender soluções para os problemas atuais não só na área tecnológica, mas em situações futuras do dia a dia. “Oportunidade de crescimento no aprender e desenvolver novas habilidades como coordenação motora fina, raciocínio lógico, tomada de decisões, aprender a trabalhar em equipe e um grande desenvolvimento intelectual que serão de grande utilidade para crescimento como ser proativo nos dias de hoje”, argumentou Urandy Carlos. Graduado em Matemática, o professor é também CEO e fundador da Startup Oficina de Ideias Robótica Educacional.

Enquanto alguns adultos – não seria errado dizer uma boa parcela da população – ainda ficam de cabelo em pé diante da robótica, se recusam a até mesmo ouvir o vocábulo ou pior, se sentem verdadeiros extraterrestres diante do tema, as crianças e adolescentes que nasceram e cresceram em um mundo praticamente tecnológico estão muito antenados em relação ao uso da internet, aplicativos e alguns até se destacam com habilidades em marketing digital.

No entanto, nem tudo é só teclar, digitar ou comandar através de pequenos, luminosos, chamativos e multifacetados controles remotos. Há uma diferença primordial entre conhecer e dominar a robótica.

De acordo com o professor Urandy Carlos, que é pós-graduado em Educação Matemática e roboticista com diversas formações na área de robótica, os interessados em conhecer a ciência precisam entender a estrutura da robótica. “A criação e montagem de estruturas mecânicas, o básico de eletrônica na construção dos circuitos eletrônicos utilizando os diversos dispositivos eletrônicos como, por exemplo, motores, atuadores, sensores e a linguagem de programação que vai desenvolver um conhecimento para aplicar em materiais como Lego, Arduino, Raspberry Pi, ESP 32 e as novas placas robóticas que estão surgindo que servem para bastante coisas principalmente na automação em geral”, detalhou.

(Foto: Edilson Omena)

Os primeiros contatos com a robótica não precisam ser necessariamente feitos através de laboratórios ultramodernos, com investimentos impagáveis para a maioria das pessoas comuns.

Criador de conteúdos na área de Robótica e Cultura Maker e professor de robótica, matemática, física e empreendedorismo, Urandy Carlos garante que uma pessoa pode dar seus primeiros passos na robótica e iniciar o aprendizado com um kit básico que tem um baixo custo. “Com o tempo de estudo mais apurado, o interessado vai inserindo novos componentes”, acrescentou.

“A mesma dica serve para as escolas da Oficina de Ideias Robótica Educacional, na qual trabalhamos com Cultura Maker usando um método de ensino próprio baseado no STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) e no Construcionismo de Seymour Papert onde são aplicados os materiais do dia a dia para criar uma cultura de sustentabilidade onde inserimos os pilares da robótica para um desenvolvimento tecnológico dos nossos aprendizes na ciência e fazer com que eles consigam uma alta performance no aprendizado educacional”, discorreu Urandy Carlos, que atua também como treinador de equipes para Olimpíadas Científicas, é membro da Maratona Alagoana de Raciocínio Lógico e da Rede Global de Empreendedorismo (RGE) de Alagoas e possui ainda formação em foguetes.

Engana-se quem pensa que a robótica é algo distante, fora do alcance da maioria dos “simples mortais”. A robótica está em todo o lugar, em toda parte. Mesmo que, em um primeiro momento, a pessoa não perceba.

“A robótica já está completamente inserida na nossa rotina, através dos robôs industriais, aspiradores robóticos, assistentes virtuais, carros autônomos, cirurgia robótica, drones, dispositivos médicos, sistemas de segurança, robôs de entretenimento e até mesmo na assistência ao idoso”.

Conseguiu identificar alguma dessas realidades próximas a você? Se sim, não se espante! Esses são apenas alguns dos exemplos listados pelo professor para ilustrar o que você já sabe, mas pode ainda não ter se dado conta. “A robótica está integrada às nossas vidas de maneira significativa, tornando muitas tarefas mais eficientes, convenientes e acessíveis”, explicou o especialista no assunto, que é alumni [é um termo em latim e significa ‘ex-aluno’] da rede STEM TechCamp BRASIL 2020 (USP e Missão Diplomática dos EUA no Brasil).

Urandy Carlos ensina Robótica Educacional, Foguetes e Cultura Maker, através da Oficina de Ideias Robótica Educacional presente atualmente em quatro escolas de Maceió, além de comandar um projeto no município alagoano de Belém.

A Oficina de Ideias Robótica Educacional é uma startup de inovação em robótica, automação e produtos de tecnologia que oferece soluções disruptivas, impulsionando a eficiência e a experiência do usuário no mundo tecnológico. Para maiores informações, acesse @oficinadeideias.educ.

“A robótica já está inserida na rotina, com os robôs industriais, aspiradores robóticos, assistentes virtuais, carros autônomos, cirurgia robótica, drones, dispositivos médicos, sistemas de segurança, robôs de entretenimento e até na assistência ao idoso"

Professor e roboticista Urandy Carlos Marinho dos Santos, 51 anos, 12 dos quais dedicados à robótica (Foto: Edilson Omena)



Ensino tecnológico se destaca em escolas de Alagoas

Em Alagoas, o ensino impulsiona a pesquisa, inovação, criatividade e ajuda as crianças e adolescentes a desenvolverem habilidades socioemocionais. Dayse Teixeira, gerente da unidade Sesi Senai Benedito Bentes, diz que a educação tecnológica que inclui a robótica é benéfica para a sociedade atual.

“Eles desenvolvem habilidades socioemocionais que permitem a articulação dos conhecimentos das diversas áreas para a solução de problemas de forma prática. Isso possibilita uma formação crítica e a preparação para os desafios da sociedade contemporânea, além, claro, da pesquisa, criatividade, preparação para o mercado de trabalho e inovação”, pontua Teixeira.

O técnico de robótica da unidade, Rian Gabriel conta que as habilidades desenvolvidas dentro dos laboratórios de fato vão muito além da construção de um robô. “Por aqui eles desenvolvem conhecimentos em diversas áreas, matemática, ciência, economia, enfim... A robótica está presente no dia a dia da população e os alunos entendendo isso conseguem achar soluções para problemas simples e complexos do cotidiano”.

Técnico de robótica Rian Gabriel e seus alunos da equipe de competição (Foto: Edilson Omena)

Gabriel diz que tanto as aulas de robótica educacional quanto de robótica de competição despertam os interesses dos alunos. “Todos têm acesso às aulas de robótica educacional, pois fazem parte do currículo da escola. E na de competições eles passam por uma seletiva, mostram suas habilidades e treinam para conseguir chegar aos campeonatos preparados e maduros. A robótica também trabalha o emocional de cada um”, esclarece.

Para a estudante Renata Porto, do 8º ano da escola Sesi Senai Benedito Bentes, a robótica lhe prepara para o futuro e lhe ensinou a ter mais disciplina e desempenho nas demais atividades escolar e de sua rotina pessoal.

“Eu também acreditava, assim como muitas pessoas, que era só fazer um robô, com engrenagens, parafusos, materiais recicláveis, mas vai muito além, a gente adquire conhecimento em várias áreas da educação. Aprendemos a trabalhar em equipe, ser pacientes e a resolver problemas que parecem complicados de uma maneira mais prática. Seria muito bom que todo mundo tivesse pelo menos uma experiência com o ensino de robótica. Sou da equipe de competição FTB da escola e prendo continuar até o fim do ensino médio”, disse a estudante, que já é campeã em campeonato de robótica.

Método prepara estudantes para o mercado de trabalho


Já Alessandra Damacena é pedagoga, relações públicas, especialista na formação de Jovens e Adultos (EJA), recursos humanos, com mestrado em educação e diretora da Escola Sesi Cambona que atualmente tem 1.119 alunos, sendo 504 estudantes do ensino médio e 615 do fundamental. Ela diz que em 2014, quando as escolas em Alagoas ainda não pensavam em robótica como incremento pedagógico, a escola já incluiu no currículo.

“Foi feito isso porque a rede tem o DNA de ensino de vanguarda, ou seja, que fomenta nos estudantes a autonomia e prepara para o mundo, incluso aqui o mercado de trabalho. Desde esta época a gente entendia que o ensino de robótica vai além de construir robôs, percebemos isto a partir dos nossos estudos e vimos que ela estimula os estudantes a encontrar soluções para problemas atuais e melhora o desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes e que incentiva a eles a trabalhar em equipe, o que é no tempo atual uma habilidade importante e cobiçada. A robótica estimula isso tudo e a partir daí entramos nas competições já com conquista de prêmios”, explica Damacena.

Alessandra diz que o ensino de robótica educacional é ministrado a partir do sexto ano do fundamental até o terceiro do médio. “Todos os alunos têm a robótica educacional. Ela contempla a educação tecnológica como chamamos na Rede Sesi – o pilar da tecnologia”. Veja a explicação na íntegra da diretora no áudio abaixo:

O coordenador de robótica da rede Sesi Senai, Eduardo Cerqueira, diz que a robótica está presente na vida de todos e é uma ferramenta usada para resolver problemas rotineiros. "A robótica está presente em praticamente tudo, não só nas grandes indústrias, mas no nosso dia, em nossa casa. E aprender como usar é importante porque facilita a gente a resolver problemas que parecem complicados de uma forma mais suave - quando a gente entende como funciona. E isso é o que as aulas na unidade ensinam aos estudantes, a se prepararem para a vida, para atuar no mercado de trabalho e encontrar soluções para resolver problemas.” 

Rede de ensino tem 98 prêmios em competições de robótica e abre editais anuais para alunos


A diretora Alessandra fala que além da robótica educacional há a robótica de competições e que os estudantes da rede podem participar de editais abertos anualmente.

“Os alunos interessados participam de um edital que é lançado nas escolas a cada ano e os alunos conquistam suas vagas nas equipes e competem mundo afora. São alunos entre 11 e 17 anos em média, de qualquer série, pois todos podem participar do edital. Eles se tornam competidores premiados nas categorias que a gente compete e premiações, temos até o momento 98 prêmios, locais, nacionais e internacionais – desde categoria Lego (robôs mais simples, iniciante), até robôs com 40 metros de altura e 48 amperes, bem grandes - é uma categoria com robôs mais complexos, categoria mais madura. Ressalto que falo madura, mas são alunos até 17 anos, apesar de não serem maduros em relação à idade, mas são maduros intelectualmente, cognitivamente, emocionalmente, pois a robótica traz isso e eles se sobressaem no que se propõem a fazer. Destes prêmios, são 23 estaduais, 35 regionais, 31 nacionais e nove internacionais. Já participamos de competições na Dinamarca, Estados Unidos, Uruguai, Espanha etc.”

Damacena diz que o futuro aponta para caminhos mais dinâmicos e conectados e, por isso, a robótica é essencial. “O consumo de conteúdos hoje em dia é mais autônomo, o estudante é assim, então temos que colocar o ensino mais atrativo – temos que compreender o estudante, então a robótica prepara o aluno para a vida, para o mercado de trabalho. Somos uma rede de vanguarda que compreende há muito tempo que o caminho de aprendizagem significativa leva à formação de jovens críticos, realizadores e isso é gigante e importante - entregamos à sociedade alagoana um ensino que forma jovens capazes de resolver problemas complexos, atuais e melhorar o mundo em que eles vivem”, finaliza. informando que nas escolas há laboratórios para aulas de robótica educacional – dupla docência e para a de competições.

Para Dayse Teixeira, a participação dos estudantes nas competições é importante porque mostra os conhecimentos adquiridos através das aulas e projetos desenvolvidos.

Dayse Teixeira é gerente da unidade Sesi Senai Benedito Bentes (Foto: Arquivo pessoal)

"Os eventos da área tecnológica, além de serem integradores e inspiradores, são um grande incentivo para alunos e professores, uma vez que neles é possível demonstrar os conhecimentos adquiridos e os projetos desenvolvidos ao longo de um período, concorrer a premiações com critérios pré-estabelecidos e elevar, cada vez mais, o nível das equipes”.

Dayse conta que na Unidade Sesi Benedito Bentes são 1.896 alunos, sendo 1.027 no Ensino Fundamental anos finais e 869 no Ensino Médio. E todos frequentam as aulas de robótica. “As aulas de Educação Tecnológica fazem parte do currículo da rede e todos os alunos têm acesso. Além disso, oferecemos a robótica de competição como atividade extracurricular e todos os alunos podem participar da seletiva. Os candidatos aprovados em todas as etapas compõem as equipes e participam dos treinos e das competições regionais, nacionais e internacionais. A escola dispõe de laboratório para a Robótica Educacional, Sala Maker e laboratórios específicos para cada modalidade da Robótica de competição (FLL, FTC e FRC)”.

A origem da robótica

Robótica é o termo que usamos para reunir as fases de planejamento, projeto, montagem e programação de equipamentos eletrônicos, entre eles robôs, para executar determinadas tarefas de forma automática. A palavra robô foi usada pela primeira vez na década de 1920 e a robótica se tornou um campo de conhecimento restrito a inventores, cientistas matemáticos e engenheiros. De onde surgiu a ideia de se ensinar robótica na escola? Em 1960. Isto mesmo. (Não se assuste, a internet tem sua origem em 1945. Na segunda guerra mundial). O idealizador é Seymour Papert, também criador de uma linguagem chamada LOGO, inicialmente direcionada a crianças, quando computadores ainda eram algo distante da população em geral. O objetivo da robótica é permitir ao educando construir seu próprio conhecimento através de alguma ferramenta – neste caso o computador e robôs especificamente. E ao longo dos anos, a robótica tem se modernizado e acompanhado as diversas fases produtivas por qual passa a humanidade. Antes utilizada para automação industrial em substituição do ser humano em tarefas repetitivas, agora ela passa por uma transformação para realizar tarefas com tomada de decisões.

Robótica multiplicando conhecimentos e mudando histórias de vida

O coordenador pedagógico da Oficina de Ideias, professor Aurélio Cesar Damásio de Lima, teve sua iniciação na área ainda na escola. Primeiramente, como uma ferramenta de auxílio em matérias da área de ciência. Diante de uma oportunidade, passou a fazer parte da equipe de competição da escola e assim teve um maior contato com a robótica.

Durante essa época, teve um desenvolvimento pessoal gigantesco, recordou Aurélio Cesar. “A participação em equipes de robótica provoca um desenvolvimento social e intelectual nos competidores, pois sempre somos colocados em situações em que devemos solucionar problemas propostos, testando assim nossas capacidades criativas, lógicas e sociais (já que trabalhamos como uma equipe). Durante o período em que eu estive como competidor, realizava o papel de programador e capitão da minha equipe (TecMade da escola Sesi Marechal Deodoro). Entre as diversas competições que participamos, a que mais tive um desenvolvimento foi a OBR – Olimpíada Brasileira de Robótica –, quando fui bicampeão pela equipe”, contou.

Ao fim da carreira como competidor, Aurélio Cesar foi convidado a ser mentor das equipes Sesi Maceió. Graças a essa experiência, foi convidado a ser técnico de equipes de outros colégios da cidade. Estava com a vida programada já. Era técnico e professor de robótica.

“Essa experiência me fez ter um apreço pelo lado educacional que a robótica pode proporcionar para a vida de adolescentes. Assim, iniciei a faculdade de pedagogia, com intuito de agregar a robótica de uma forma mais positiva dentro do ambiente educacional”, frisou o professor.

Professor Aurélio Cesar e sua aluna Rhayana Letícia (Foto: Edilson Omena)

Eis que em 2019, as duas mentes brilhantes se encontram. Urandy Carlos e Aurélio Cesar passaram a trabalhar juntos. Como em um jogo de videogame em que os protagonistas aprendem juntos, Urandy Carlos convidou Aurélio Cesar para fazer parte da equipe Oficina de Ideias.

“Pude, então, vivenciar de uma forma diferente o ensino da robótica, aplicando-a junto ao Steam+. Atualmente, como coordenador da Oficina de Ideias, estou à frente de diversos projetos na rede pública e na rede privada, buscando sempre melhorar a realidade educacional na área tecnológica”, afirmou, com orgulho.

Nesses projetos, mencionou o professor, “buscamos potencializar nossos alunos, através de uma metodologia construtivista, onde os discentes são estimulados a buscar o conhecimento. Após esses anos dentro da Oficina de Ideias, pude vivenciar a parte inclusiva do ensino com ferramentas tecnológicas”.

“Atualmente, meus principais projetos estão no âmbito das competições, sendo técnico de equipe para competir na OBR e na OBA – Olimpíada Brasileira de Astronomia. No currículo, medalhas de ouro e prata conquistadas pela Escola Municipal Arizio de Vasconcelos, no município alagoano de Belém, e prata com o Colégio Sacramento da cidade de Maceió)”, ressalta Aurélio.

No meio predominantemente masculino da robótica, meninas se destacam

Estudante do 9° ano do Colégio Sacramento, aos 15 anos Rhayana Letícia Wanderley Alves já sabe que pode inspirar outras meninas a sentirem vontade de ingressar no mundo da robótica.

Enquanto Urandy Carlos ajudou a lapidar o talento já existente em Aurélio Cesar, este, por sua vez, está ajudando a capacitar Rhayana Letícia. A jovem recebeu o convite para entrar para a equipe de robótica e, meio sem grandes propósitos, aceitou. O que inicialmente aconteceu apenas por curiosidade, logo era um dos propósitos de vida.

“Eu sei que a robótica vai me proporcionar muitas coisas no futuro, as medalhas e certificados que vou conquistar vão ficar no meu currículo, o que vai me ajudar muito mais para frente. A robótica é uma ótima disciplina extracurricular, principalmente se eu decidir investir em uma faculdade no exterior”, discorreu a adolescente de pouca idade e uma visão futurista ancorada na robótica.

Rhayana Letícia tem ciência de que são poucas mulheres na área de robótica. “Saber que faço parte desse time tão pouco quantitativo, mas com excelência em qualidade me deixa muito emocionada. Poder saber que posso inspirar outras mulheres a entrar nesse ramo é incrível”, frisou. E inspira mesmo. A estudante está de olho no calendário. Assim que setembro iniciar, dia 2, ela estará na etapa regional Alagoas da OBR, quando apresentará seus conhecimentos na modalidade prática da Olimpíada Brasileira de Robótica.

Campeonato internacional de robótica realizado em Alagoas (Foto: Cortesia)

Para as estudantes Anazelia Viktoria e Letícia Vitória da Escola Sesi Senai, o ensino de robótica é uma experiência gratificante que vai além da construção de maquinários.

“É gratificante compartilhar para as pessoas esse mundo que nós vivemos todos os dias, explicar as competições, quais são os valores que nós praticamos e, principalmente, o que nós fazemos durante as aulas. Desmistificar aquele pensamento de que a robótica é só o robô, vai muito além disso”, destaca Anazelia Viktoria.

Assim como Anazelia, Letícia garante que é um ensino que fica guardado na memória. “Quando a gente entra, vive o que realmente é a robótica: a gente entende que não é composta só por robôs, é amizade, família, aprendizado, conhecimento e compartilhamento do que a gente sabe. Enfim, são experiências que a gente vai guardar na nossa memória para sempre”, disse.

Assista ao vídeo e veja na íntegra o que o especialista Eduardo Cerqueira, coordenador de robótica da rede Sesi Senai, fala da complexidade do ensino e sua importância para a humanidade.

Algumas escolas da rede pública de ensino em Alagoas ofertam a robótica como disciplina eletiva

Atualmente na rede estadual a robótica é ofertada como disciplina eletiva em 52 escolas de ensino médio integral, com turmas que variam de 10 a 50 alunos. São 54 turmas eletivas de robótica, ou seja, tem duas escolas com mais de uma turma.

Alguns destes trabalhos foram exibidos nos últimos dias 9, 10 e 11 de agosto durante o Encontro Estudantil da Rede Estadual de Ensino, no Ginásio Lauthenay Perdigão, o antigo Ginásio do Sesi.

REDE MUNICIPAL


Já a rede pública de Maceió não tem previsão para a inserção da robótica nas aulas. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação de Maceió (Semed), no ano passado houve um projeto piloto de robótica organizado pela Coordenaria Técnica do Ensino Fundamental da Secretaria, com a participação da estudante Ana Júlia de Carvalho e alunos da Escola Municipal Pompeu Sarmento.

O projeto consistia na realização de uma série de palestras e foram utilizados kits de robótica de mostruário. No entanto, não houve continuidade ou avanços. Atualmente, a Semed não tem ensino de robótica nas unidades escolares.

A robótica como aliada ao estudo do inglês é a mais recente aposta de escola de língua estrangeira


E qual o ganho para um aluno que aprende uma língua estrangeira associada ao ensino da robótica? Extraordinário! Inimaginável!

O ensino da robótica, incluindo as escolas de inglês, tem ganhado cada vez mais importância atualmente. A introdução da robótica no currículo educacional busca atingir diversos objetivos educacionais e preparar os alunos para os desafios do mundo moderno.

Robótica já é utilizada até mesmo no ensino de inglês (Foto: Edilson Omena)

A escola Fun Kids & Agers aposta e muito na robótica por acreditar que a ciência desenvolve habilidades técnicas e criativas envolvendo a aplicação prática de conceitos de ciência, tecnologia e engenharia.

“Ao aprender robótica, os alunos desenvolvem habilidades técnicas, como programação, design, eletrônica e mecânica, ao mesmo tempo em que são incentivados a solucionar problemas de maneira criativa”, explicou o diretor de marketing da Fun Kids, Richard Rodrigues.

Nos dias atuais, a robótica é vista pelas crianças e adolescentes como algo que só os grandes cientistas podem ter acesso, tendo assim uma visão equivocada. A robótica não se limita apenas à tecnologia, explicou Richard Rodrigues, ela incorpora aspectos de várias disciplinas, como ciência, matemática, artes e as línguas estrangeiras. “Em nossa escola, por exemplo, os alunos podem aprender a programar robôs e criar projetos relacionados à língua inglesa, como histórias interativas ou apresentações”.

O diretor de marketing afirmou que na rotina escolar da Fun Kids, a robótica tem papel fundamental ao frequentemente desafiar os alunos com problemas complexos que exigem pensamento crítico e habilidades na resolução de problemas.

“Eles aprendem a dividir um problema maior em etapas menores, desenvolvendo abordagens sistemáticas para encontrar soluções eficazes. Muitos destes projetos são realizados em equipes, o que promove a colaboração e o trabalho em grupo. Os alunos aprendem a comunicar suas ideias, compartilhar responsabilidades e trabalhar juntos para alcançar objetivos comuns”, detalhou.

A robótica está se tornando cada vez mais presente em várias indústrias, desde manufatura até medicina e exploração espacial. “Ao ensinar robótica, nós preparamos os alunos para futuras carreiras em um mundo onde a automação e a tecnologia desempenharão um papel significativo na sociedade”, frisou Richard Rodrigues.

Na Fun Kids, a robótica é uma ferramenta valiosa para ensinar tanto a língua inglesa quanto as habilidades mencionadas acima. Os alunos podem aprender a programar em inglês, seguir instruções em inglês e comunicar suas ideias em projetos relacionados à robótica, tudo isso enquanto aprimoram suas habilidades linguísticas.

Aprimorar as habilidades linguísticas é uma das possibilidades que a robótica apresenta (Foto: Edilson Omena)

No entanto, é importante ressaltar que a inclusão da robótica no currículo requer planejamento cuidadoso. Os recursos, a infraestrutura e a formação de professores são fatores cruciais para garantir que os alunos obtenham benefícios significativos com este tipo de educação.

A escola possui uma didática específica para crianças e adolescentes. São mais de 50 alunos, na faixa etária de 5 a 13 anos de idade apenas no curso de robótica. Os estudantes são separados por níveis, sem misturar as turmas e aprendem através de uma metodologia moderna com um sistema de titulações internacionais e equipe qualificada.

Ufal tem projetos de vanguarda na área da robótica


Dentro dos muros da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), os projetos de robótica continuam ultrapassando as fronteiras do conhecimento universitário para serem aplicados em prol da sociedade.

Um deles é o Agrover. Um veículo autônomo que deverá percorrer, a princípio, os canteiros de milho para extrair características importantes como estágio de desenvolvimento da cultura, contagem e cor da plantação, entre outras características importantes para serem disponibilizadas ao engenheiro agrônomo responsável.

O Agrover é desenvolvido por Glauber Rodrigues Leite que está concluindo o doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ele atuou como professor substituto no Instituto de Computação (IC) da Ufal, onde ministrou a disciplina de robótica. Atualmente, está alocado como técnico em tecnologia da informação no IC.

“Como o veículo está sendo projetado para ser autônomo, uma série de algoritmos de planejamento de trajetórias, inteligência artificial para encontrar caminho e fusão de sensores são usados. Além disso, estamos trabalhando para conseguir construir o projeto com o máximo de componentes de prateleira, apresentando disponibilidade no mercado brasileiro”, detalhou o responsável.

Uma das dificuldades ainda é encontrar determinadas peças, uma vez que alguns componentes são muito específicos e precisam ser importados, como sensores de precisão e placas de processamento com poder computacional para rodar os algoritmos de inteligência artificial.

“Como tem um lado do projeto voltado para pesquisa e capacitação de pessoal, tivemos um artigo aprovado em um evento científico, o Latin America Robotics Symposium, onde falamos sobre a arquitetura de software para detecção das plantas e do caminho que o robô precisa seguir”, contou.

Glauber Rodrigues Leite está encabeçando também outro projeto. Um manipulador com câmera acoplada para fazer inspeção de peças complexas através de visão computacional.

Da direita para a esquerda, estão os pesquisadores Glauber Rodrigues Leite, Andressa Martins Oliveira e Hugo Tallys Martins, membros do projeto Agrover (Foto: Cortesia)

Esse trabalho já é mais focado no processo de inspeção de qualidade de peças produzidas em massa, que podem apresentar defeito, ou mesmo peças complexas, como peças impressas com impressora 3D.

“Seguimos a mesma prerrogativa de desenvolver tanto a mecânica do robô como os algoritmos de forma que possamos replicar com componentes disponíveis no mercado. Enquanto o foco do Agrover é na agricultura de precisão, o foco do outro projeto é em aplicação industrial de inspeção”, comparou.

Veja exemplos de funcionalidades de equipamentos e sistemas feito com a robótica:


Acender a luz de sua casa ao entrar

Detectar a presença de alguém e fazer a ligação para um celular

Automatizar a irrigação de sua horta caseira

Enviar uma mensagem de texto sempre que você esquecer o portão da garagem aberto

Fazer robôs dos mais variados e diversos tipos

Construir protótipos de carros autônomos

Criar robôs para competição e muito mais, pois depende da imaginação de cada um…