Preocupação com a família aumenta a procura por seguros de vida na pandemia

Crescimento foi de 17,7% nos dois primeiros meses de 2022, em comparação com o mesmo período de 2021. Isso significa um montante de R$ 3,90 bilhões.

Por Thayanne Magalhães | Redação Tribuna Hoje

A pandemia da Covid-19 fez com que as preocupações das pessoas mudassem. Infelizmente a perspectiva de alguma fatalidade aumentou e a proteção da família se tornou primordial.

No Brasil foram mais de 665 mil mortes causadas pela doença e em Alagoas o número chega a 7 mil pessoas que perderam a vida por complicações causadas pelo coronavírus até a publicação desse material. Muitas pessoas passaram pelo trauma de ver parentes ou amigos morrendo por causa da doença e a preocupação em deixar a família desamparada nesses tempos sombrios fez com que o número de seguro de vida aumentasse em 17,7% nos dois primeiros meses de 2022, em comparação com o mesmo período de 2021. Isso significa um montante de R$ 3,90 bilhões.

Para o presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros de Alagoas (Sincor-AL), Gustavo Olimpio, apesar do aumento ter sido motivado pelo medo da pandemia, trouxe para a população um novo entendimento sobre o seguro de vida. Ele acredita que mesmo após a volta da normalidade, agora as pessoas entendem a importância de deixar a família amparada na sua falta.


“A pandemia está indo embora e, apesar de muitas pessoas ainda sentirem medo, 90% da população voltou à vida normal. Mas, não tem como negar que ficou um trauma causado pelo grande número de mortes causadas pela Covid-19. Agora as pessoas buscam mais o seguro de vida e as previdências privadas porque se preocupam com a família. Pensam em não deixar seus entes queridos desamparados na sua falta”, opinou o presidente.

Ele destaca que há alguns anos existia o estigma machista de “não deixar a viúva rica”, mas com o isolamento social e a convivência mais intensa das famílias, essa mentalidade mudou.

“As pessoas se uniram mais durante a pandemia, com todos dentro de casa, ficando mais tempo juntos e passando por uma fase tão difícil. As pessoas passaram a questionar ‘e se eu pegar Covid, e se eu morrer, como vai ficar minha família?’. Ninguém sabia no início quando aquilo tudo ia passar e a busca por seguro de vida aumentou muito”, conta Olimpio.

“Criou-se uma consciência muito boa entre as pessoas. É importante pensar na segurança financeira da família com a sua falta. O índice de sinistralidade na pandemia foi altíssimo e isso deixou as pessoas receosas e mais conscientes da importância de deixar a família amparada”, continuou.

Especialistas avaliam que a pandemia trouxe um olhar atento das pessoas à busca por proteção da vida e também por proteção de bens materiais. “A grande importância do seguro é a garantia de uma proteção para o dia a dia, proporcionando mais tranquilidade ao segurado e sua família, caso venham a enfrentar algum evento adverso”, opina Larissa Amaral, assessora de produtos e serviços da Sicredi Expansão.

“A pandemia mudou diversos comportamentos e um deles foi o maior entendimento sobre a importância de contar com um planejamento financeiro diante dos riscos, que ficaram cada vez mais próximos de nós. Em 2020, estudos de consultorias já apontavam um crescimento do setor, algo que temos visto se concretizando com esta demanda cada vez mais latente por seguro de vida”, continuou.

Mas o seguro cobre pandemia?


O fato é que a maioria das apólices possuem uma ampla garantia, mas uma situação igual a vivida na pandemia não era projetada, o que deixa muitas famílias descobertas em um momento de urgência, mas as empresas estão se preocupando em ficar ao lado dos clientes.

“A maioria dos seguros de vida [segundo as condições gerais das companhias] não cobrem pandemia. O que pode assustar em um primeiro momento os clientes, mas fato importante é que essas organizações vieram a público individualmente e se manifestaram solidárias aos segurados, comprometendo-se a indenizar em caso de morte por Covid-19”, explica a diretora da Camillo Seguros, Cristina Camillo.

Nas situações das pessoas que têm seguro de vida com Cobertura Diária por Incapacidade Temporária [DIT] que dá proteção financeira ao segurado, caso ele se afaste temporariamente de sua ocupação remunerada, as seguradoras estão avaliando a cobertura ou não diante da constatação do afastamento pela Covid-19, por se tratar de pandemia.

“A doença acionou uma preocupação extra para as famílias, chamando a atenção para o problema de perder alguém que sustente a família ou que a renda seja imprescindível para manutenção”, analisa.

Cristina complementa que com essa sensibilidade das seguradoras esse tipo de seguro se mostra imprescindível neste e em todos os momentos da vida das pessoas.

Mãe solo fez seguro para assegurar auxílio financeiro para o filho de 7 anos

A servidora federal Katia Barra, de 41 anos, procurou o corretor de seguros para ser orientada a fazer o melhor seguro de vida para o seu perfil. Ela contou ao portal Tribuna Hoje que durante a pandemia, percebeu a necessidade de garantir que, caso acontecesse algo com ela, o filho, João Pedro Barra, de 7 anos, precisaria ter um auxílio financeiro.

“Eu crio meu filho sozinha e fiquei receosa de algo acontecer comigo durante a pandemia e meu filho ficar sem auxílio financeiro. Um seguro de vida ajuda bastante e, no meu caso, se acontecer algo comigo, ele receberá cem mil reais. Eu sou servidora federal, mas a pensão por morte, com as recentes mudanças na reforma da previdência, não ficou muito significativa, já que os gastos básicos com uma criança de sete anos são altos”, comentou Katia.


Mesmo não tendo problemas de saúde, a servidora entendeu que até chegar ao valor do seguro, precisaria investir ainda por muitos anos.

“Aconselho a todas as mães e pessoas responsáveis por suas famílias que busquem o seguro de vida. O valor pago mensalmente é baixo, dando para se comprometer com a parcela sem se endividar e seu filho fica assegurado”, aconselhou.

Para uma indenização de R$ 50 mil, é possível encontrar seguros em torno de R$ 40 mensais. Para uma cobertura de R$ 100 mil em caso de morte ou de invalidez, é possível chegar a R$ 80 por mês. Isso, claro, dependendo da seguradora e das coberturas contratadas.

Mas existem seguros de vida (os mais simples) que custam menos de R$ 20 por mês. Outros podem atingir R$ 300. Tudo depende dos tipos de cobertura, da seguradora e do valor da indenização.

Katia Barra conta que a orientação de um corretor foi importante para a sua decisão.

“Quando senti necessidade de fazer o seguro de vida, busquei um corretor para me auxiliar na decisão e ele me indicou um seguro de acordo com meu perfil. O meu seguro de vida ainda pode me auxiliar em vida, já que é um seguro mulher, então, se a mulher vier a ter um câncer de mama, por exemplo, a seguradora irá custear o tratamento”, explicou.

“Acho que quando se tem filhos, ter seguro de vida é uma necessidade”, concluiu.

Aumento no valor dos bens também incentivou a busca pelo seguro

O presidente do Sincor-AL, Gustavo Olimpo, também comentou sobre o aumento na busca por seguros de automóveis e residências. “Durante a pandemia tivemos uma queda no seguro de automóveis porque as pessoas estavam trabalhando em home office, usando pouco o carro. Muitas pessoas que tinham dois veículos venderam um deles naquele período, porém, hoje, um carro não está custando menos de cem mil reais então, as pessoas agora voltaram a buscar o seguro”, explicou.


Gustavo Olimpio conta que a procura tem aumentado e sido espontânea. “Antes o corretor oferecia o seguro do automóvel ao cliente mas agora é o cliente quem nos procura para comprar. Ninguém quer pagar cem mil reais em um carro sem ter seguro. Além dos automóveis, as pessoas também têm buscado os seguros residenciais para garantir a segurança do bem que ela trabalhou uma vida inteira para comprar. O índice de sinistros em residências também é enorme. Não é raro os casos de panelas pegando fogo, celular que estoura na tomada. Isso acontece todos os dias”, ressaltou.

O presidente do Sincor também destaca a importância das empresas em terem seguro. “Um dia desses cobrimos um grande sinistro que aconteceu em um sushi localizado no bairro de Ponta Verde, dentro de uma galeria. Foi muito importante para que o local fosse recuperado e a empresa voltasse a funcionar rapidamente”, explicou.

História


Em 1808, o seguro surgiu com a finalidade de proteger cargas e mercadorias transportadas por via marítima. De lá para cá, ele veio se aperfeiçoando e surgiram novas possibilidades de proteção, a exemplo do seguro de automóveis, de vida, de casa, de negócios, de patrimônio e tantos outros.

O seguro de danos também se destaca, com uma alta de 24,1% na arrecadação de prêmios no primeiro bimestre de 2022, em relação ao primeiro bimestre de 2021. Já a arrecadação de prêmios no seguro auto atingiu R$ 6,72 bilhões nos primeiros dois meses, o que representa 21,1% de elevação, se comparado com os dois primeiros meses de 2021.

Com a crescente retomada e liberação das atividades, as pessoas estão mais nas ruas, nos espaços – tanto abertos quanto fechados – e isso possibilitou um convívio social mais amplo: viagens, abertura das fronteiras, mais carros e motos nas ruas e um convívio mais próximo, o que também seria um fator para o aumento da procura por diversos tipos de seguros.