Enio Lins
A UFAL e sua aula magna de história, cidadania e coragem

DOMINGO, 9 DE NOVEMBRO, a Universidade Federal de Alagoas realiza a cerimônia de diplomação póstuma de estudantes cujas vidas foram tiradas por responsabilidade da ditadura militar que aterrorizou o Brasil entre 1964 e 1985. Três serão os diplomas post mortem concedidos por autorização expressa do órgão supremo da UFAL, o CONSUNI (Conselho Universitário) em reunião realizada em 1º de abril deste ano.
DIPLOMAS QUE SERÃO ENTREGUES às famílias de Dalmo Lins, Gastone Beltrão e Manoel Lisboa em ato solene no último dia da 11ª Bienal do Livro de Alagoas, o mais tradicional evento permanente no campo cultural em nosso Estado. Uma ótima escolha, pois o livro é um símbolo do saber, da transferência do conhecimento. Livro é um uma referência universal para o combate à ignorância, à desinformação, à brutalidade.
SAUDANDO ESSA ATITUDE da UFAL, copiarei e colarei os três próximos parágrafos de artigo aqui publicado em 29 de março de 2025. São ínfimos resumos das biografias de Dalmo, Gastone e Manuel. Recentemente foi publicado um livro sobre Manoel Lisboa e devem ser publicadas pesquisas sobre Gastone e Dalmo. Esses textos a seguir, resumidos, servem apenas para situar quem esteja lendo esta coluna sobre quem foi cada uma dessas lideranças, que ousaram combater uma ditadura sanguinária.
GASTONE LÚCIA DE CARVALHO BELTRÃO – Estudante da Faculdade de Economia da UFAL e militante da Juventude Estudantil Católica (JEC). Com a implantação ditadura, passou à resistência clandestina, mudando-se de Alagoas. Foi sequestrada, torturada e fuzilada sumariamente pelos militares. Têm-se como dia de seu assassinato 22 de janeiro de 1972, cometido por agentes do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS-SP), conforme investigações dos grupos de defesa dos Direitos Humanos.
JOSÉ DALMO GUIMARÃES LINS – Estudante da Faculdade Direito na UFAL, foi expulso sob a acusação de envolvimento com a “subversão”. Atuou como militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), e posteriormente, tendo se mudado para o Rio de Janeiro, se vinculou à ALN (Aliança Libertadora Nacional), liderada por Carlos Marighella. Ele e a esposa Marilu foram presos e barbaramente torturados, o que causou graves danos à sua saúde. Os relatos indicam que se suicidou em 11 de fevereiro de 1971, mas existem suspeitas de assassinato cometido por agentes da repressão.
MANOEL LISBOA DE MOURA – Cursava Medicina na UFAL e teve uma intensa atuação política como aluno e militante, atuando na União Nacional dos Estudantes (UNE), na Juventude do PCB, depois no Partido Comunista do Brasil (PCdoB), e, finalmente, no Partido Comunista Revolucionário (PCR). Foi preso, torturado, e passou a viver na clandestinidade, até ser capturado novamente. Foi assassinado sob tortura em 1973, provavelmente no dia 4 de setembro.
JOSEALDO TONHOLO, REITOR, merece todos os elogios pela aula de cidadania, história e coragem que a UFAL, sob sula liderança, está ministrando para toda a sociedade alagoana, e para o Brasil. Aplausos que devem ser estendidos para todas as pessoas que fazem a Universidade Federal de Alagoas. História é algo além de lembranças e, até, das pesquisas acadêmicas. “A História é um carro alegre/ Cheio de um povo contente/ Que atropela indiferente/ Todo aquele que a negue”, como canta Pablo Milanés. História é movimento, luta, irresignação, alegria de quem tem coragem para enfrentar as injustiças, mesmo sob as condições mais adversas. História é o que a UFAL está fazendo ao restituir dignidade à memória de quem morreu por resistir ao autoritarismo.
VENHA VOCÊ TAMBÉM fazer parte deste momento histórico. Diplomação póstuma de seus estudantes vítimas da ditadura: Domingo, 9 de novembro, 10 horas, Sala Ipioca, Centro de Convenções Ruth Cardoso – Bienal do Livro de Alagoas.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.





