Alisson Barreto

Seria a Guerra Cinzenta a nova Guerra Fria?

Alisson Barreto 13 de outubro de 2025
Seria a Guerra Cinzenta a nova Guerra Fria?
Seria a Guerra Cinzenta a Nova Guerra Fria? - Foto: Alisson Barreto

Seria a Guerra Cinzenta a nova Guerra Fria?


Supõe-se que quem viveu a Guerra Fria saiba a sensação do risco de uma mútua destruição assegurada. Com a Queda do Muro de Berlim, eclodiu o sonho de um mundo integrado e pacífico. Mas nunca se apagou, em alguns, a tentação de um império generalizado. De repente, percebem-se sinais de um risco maior.


Mas qual risco poderia ser maior do que o risco de uma Guerra Fria? Quais sinais seriam? Seriam perceptíveis por todos ou apenas por uma minoria?


1. A GUERRA FRIA E O XADREZ GEOPOLÍTICO


Quem se lembra da Guerra Fria logo recordaria da polarização ou capitalista ou socialistas, ou do lado dos Estados Unidos ou da Rússia (URSS, em português; CCCP, em russo), em meio a um risco de ataques recíprocos com armas nucleares e a possibilidade da extinção da vida humana na Terra.


As peças do xadrez geopolítico andaram novas casas. Viram-se países socialistas abraçarem o capitalismo em suas economias. Mas muitos não perceberam que muitos dos ideais ou práticas marxistas permaneceram. Assim, muitos baixaram a guarda. Nem todos se dão conta que algumas sementes secam ao Sol, antes de germinarem.


Antes da nova fase do cenário global, produtos, tecnologias e conhecimentos se multiplicaram até confins do mundo. Em alguns casos, deram origens a novos riscos. O Mal às vezes finge-se de inócuo para subsistir e persistir em seus propósitos. Às vezes um enxadrista dá uma torre para ganhar uma rainha, enquanto o que captura a torre relaxa por acreditar estar com a vitória garantida.


2. A GUERRA CINZENTA


Ocorre que aquele que conhece a linguagem do outro e aprende a utilizar, reproduzir e desenvolver as tecnologias do outro jogador passa a ter, em suas mãos, armas que o outro pode desconhecer.


De repente, as solidezes da democracia e do conhecimento desenvolvidos no dito mundo ocidental – o que é irônico, pois países orientais como Japão e Israel são inseridos nesse rótulo – passam a ser bombardeadas com embates de narrativas.


Os embates de narrativas são apenas um dos aspectos de uma guerra mais ampla que visa a minar a credibilidade de conceitos e nomenclaturas, passando pelo engendramento de novas roupagens e interpretações a palavras, símbolos e instituições. Sim, isso existia na Guerra Fria. Sim, isso exista na Guerra Cinzenta.


Na Guerra Cinzenta, não há a pressuposta lealdade em brancura de paz, nem o nítido contraste da escuridão de uma guerra declarada. Enquanto nesta o tiro é desferido contra o uniforme do soldado rival; na Guerra Cinzenta, o ataque é contra qualquer instituição, símbolo ou situação do país ou povo atacado. Nesta, a mira não está apontada para o soldado, os veículos aéreos não chegam a disparar e os campos de batalhas não precisam de suportes físicos: são bancos, sistemas de comunicações e controles energéticos.


A Guerra Cinzenta não te deixa na paz não te ataca com guerra, prefere a penumbra do terror da dúvida do que está por vir.


3. O HORIZONTE BRASILEIRO


Diante do exposto, como o nobre leitor vê os embates ideológicos travados nas redes sociais? Já parou para observar como, do nada, sites e postagens em redes sociais são bombardeados por mensagens pró-Fulanos e pró-Sicranos? Muitas delas são criadas por bots e replicadas por pessoas que se deixam levar pelas marés das correntes. No ímpeto da emoção ideológica, muitos curtem, compartilham e replicam os cernes das mensagens inventadas por bots, agindo como robôs. Tais feitos acabam levando a descréditos significativa parte das informações e credibilizando muito do que é gerado por direcionadores do cognitivo coletivo.


Cabe aqui recordar o que, na Guerra Fria, era chamado de domínio cognitivo. Quando o senhorio de uma corrente de poder alcança o coração de parte de um povo, tal parte passa a ser massa motriz de luta para fomentação do ideológico de tal corrente.


Instaurado um horizonte de “guerra de narrativas, eclode o empenho opinativo não fundamentado na verdade e, por conseguinte, pondo ameaçada a democracia, em decorrência da diminuição do fair play argumentativo.


No mesmo cenário, os meios de comunicação sendo atacados, os bancos e fontes de energia tornando-se alvos de sabotagens e ataques crackers, instaura-se uma perturbação econômico social. Quando isso é fomentado por um grupo ou governo estrangeiro, tem-se um ato de Guerra Cinzenta e a dificuldade maior é identificar que efetivamente há um governo alienígena por trás de problemas com redes de internet ou de fornecimento de algum tipo de energia, ou ataques a bancos e empresas de um país.


Uma vez que essas guerra atinge fortemente ambientes civis e nem sempre tais ataques são identificados como eventos de Guerra Cinzenta, toda a infraestrutura civil deve estar atenta para obter meios suficientes para protegerem-se. Assim, bancos, distribuidoras de energia e empresas de telefonia devem ter significativos investimentos em segurança digital. E as polícias, agências de inteligência e forças armadas devem estar aptas a identificarem as fontes e os alcances de tais interferências.


Estaria o Brasil pronto para isso? Algum país conseguiria blindar-se em tal cenário? Portanto, a espionagem ganhou novos horizontes e as organizações criminosas podem ter outros mandantes.


Por fim, parece-me que a Guerra Cinzenta tem sua parcela de terrorismo social e fomentação de dualismos capazes de rachar países ou blocos de países e redesenhar a geopolítica. Nisso, assemelha-se à Guerra Fria, mas de uma forma pior, pois nem sempre fica claro quem está do lado de quem, quem sabotará quem, nem quem estará a exercer o domínio cognitivo num dado lugar.


Então, só me resta alertar e rezar, enquanto espero que vença o amor pelas virtudes vença as amarras das paixões político ideológicas. Afinal, chega de assistirmos a tantos atos de crendices de que os fins justificariam os meios!


Maceió, 13 de outubro de 2025.


Alisson Francisco Rodrigues Barreto