Alisson Barreto
Algoritmo: o mito e as manipulações

Algoritmo: o mito e as manipulações
Muito se fala em algoritmo, mas muito do que se fala é mito, ilusão, contos a convencer, contos de convencidos pelas versões tendenciosas de quem as orquestra.
Na inocência ou ignorância, muitos ainda acham que estão no tempo em que as redes sociais reproduziam aquilo que procurávamos, na época em que as mensagens que apareciam em nossos perfis eram as postagens dos nossos amigos e das pessoas a quem escolhíamos seguir.
Não. As redes sociais são um negócio bilionário, onde se vendem não apenas produtos e serviços, mas estilos de vida, ilusões, sonhos, pessoas e dados pessoais.
Há pessoas que acreditam que o que veem é fruto daquilo que clicam. Primeiro, não percebem que muito do que clicam é fruto do bombardeio do que lhes é mostrado. Segundo, não se dão conta de quantas contas clicaram para seguir, mas suas postagens não aparecem porque seus amigos, familiares não pagam para promoverem as próprias publicações. Quando foi a última vez que você, leitor(a), viu umas postagem (feed) do seu pai, de sua mãe, irmão, irmã ou de seus melhores amigos ou amigas?
Terceiro, muito do que vemos nas redes sociais tem como base dados não baseados no que escolhemos clicar, mas com base nos nossos perfis etários, geográficos e sexuais. Se você é de uma determinada faixa etária, o algoritmo te oferecerá coisas que os patrocinadores supõem que você consumirá, seja relacionado a sexo, suplementos alimentares ou outras realidades. Se você é de um determinado lugar, o algoritmo muitas vezes direcionará publicações mais com base na sua região do que com base em lugares que você gostaria de estar vendo.
Por trás de um acesso a uma rede social, há uma multidão de interessados em seus cliques, pessoas que querem que você consuma suas redes de conteúdos adultos, empresas interessadas em que você consuma produtos de seus bancos, políticos interessados em que você consuma suas ideologias.
Nas redes sociais, ou você paga para que outros consumam seus produtos ou seus dados são o pagamento a que outros tanto almejam e tanto pagam. Seus cliques, suas postagens e seus acessos valem mais do que a inocência ou simplicidade que aparentam.
Postagem breve em acessos constantes, tanto se multiplicam que cativam. No fim, seus cliques podem tornar-se seu cativeiro e você tornar-se escravo ou escrava de coraçõezinhos ou legaizinhos. Assim, as horas passam, os dias, os anos, a vida, as pessoas, as amizades e os tempos em família. Passam não só para quem acessa, como também para seu país. Enquanto o mundo gira, seu país paira em berço esplêndido de ilusões apaixonadas de ideologias políticas, medos multiplicados por compartilhamentos, desejos dominadores ou megalomanias econômicas.
Não obstante, nem tudo está perdido. Com perspicácia, astúcia, dedicação e ferramentas como bloquear, denunciar e gerenciamento de interesses, o jogo pode ser mudado… Não sei por quanto tempo nem a que custo, porém, em alguns casos, é possível escolher os interesses e bloquear o que não quer ver, ocultar ou denunciar perfis ou postagens que não condizem com os valores pessoais ou propósitos que nos motivaram a usar redes sociais. Mas nisso, pergunto ao leitor: você ainda se lembra qual foi o porquê que o motivou a abrir as contas nas redes sociais que acessa?
A verdade é que, de tempos em tempos, temos que nos lembrar do que é realmente o mais importante para nós. Como está a nossa hierarquia de valores? Deus, família, realização pessoal, espiritual e profissional, como estão em nossas prioridades? Como está o reflexo disso no uso de redes sociais? Ou quem sabe seja o momento de frear a intensidade de usos ou mesmo interromper e redirecionar os próprios tempos e energias? Somos seres dotados de corpo e alma espiritual, como estamos cuidando da integralidade desses aspectos?
Enfim, onde estão as rédeas de nossas vidas: direcionando os meios de nossas locomoções ou direcionando-nos para destinos traçados por outros?
Maceió, 5 de outubro de 2025.
Alisson Francisco Rodrigues Barreto

Alisson Barreto
Sobre
Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió), bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado em Direito Processual (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), com passagens pelos cursos de Engenharia Civil (Universidade Federal de Alagoas) e Teologia (Seminário Arquidiocesano de Maceió). Autor do livro “Pensando com Poesia”, escritor na Tribuna com o blog “Alisson Barreto” (outrora chamado de “A Palavra em palavras”), desde 2011. O autor, que é um agente público, também apresenta alguns dos seus poemas, textos e reflexões, bem como, orações no canal Alisson Barreto, no Youtube, a partir do qual insere seus vídeos aqui no blog.