Petrucia Camelo
PRIMAVERIL
Eis que chega a estação da primavera, a se apresentar verdejante e em nuances flóreas, a propiciar a vida ao ar livre, a levar o olhar a se banquetear ao deparar a estrela da vez, a flor.
Após as nuances cinzentas do inverno derramarem-se sobre a terra, ressurge a primavera e, com o seu ensaio, as flores chegam como se fossem um presente de Deus, e dão-se a colher em róseos buquês.
Trata-se, então, de uma estação comportada, com seus atributos voltados para o Belo, que insinua inspiração; e entre os seus argumentos, a vez é da flor, que, para eclodir, vale-se da vivacidade da cor, instituída pela luz do sol, e para perfumá-la, parece aspergida do perfume dos deuses, dando à estação um realce de festa contínua, colorida e aromatizada.
A flor é uma espécie decorativa da natureza vegetal; faz-se presente na vida humana, acompanha-a desde os mais sérios dos sentimentos, como a dor da perda e da saudade, até os momentos alegres, solenes, comemorativos.
A flor é sempre uma presença fiel, e, sem se importar com a manipulação dos seus genes, enfeita jarros em flor, espraia a cor, a textura e o perfume das pétalas sobre mesas, altares, derramando-se em buquês. Os arranjos florais, dos mais variados possíveis, decoram dos mais simples aos grandes salões de festas, aureolam passarelas como se estivessem a desfilarem vestidas solenemente com seda, e, com o seu “frufru”, vivem o tempo finito.
Sabe-se que, se a terra for bem adubada, assegura à primavera dar vez à diversidade da flor em profusão, sobremaneira que a caracteriza como a estação das flores. Porém, dão-se à palavra primavera outros significados, e, no sentido figurado, dentre outros, tem-se a primavera da idade, no sentido das datas aniversárias, do começo relativo à origem, aos primórdios, no sentido de movimentação política, como recentemente ocorreu a denominação dada aos levantes políticos dos países Árabes: A primavera árabe.
Dada a importância que se imprime à primavera, vê-se, ainda, no estudo da mitologia, o sentido dessa força vegetativa que faz florescerem as plantas, designada pelos deuses do Olimpo, como se pode citar: o culto à deusa Flora, introduzido em Roma por Titus Tatius, cuja festa romana celebrada em sua honra é denominada de Florálias. Ainda, a deusa Clóris, representada entre os gregos como deusa da primavera (Dicionário de Mitologia, Best Seller, 2000).
A haste fisionômica que se pode ter apresentada pela flor, habilitada à distinção da qualidade, a destilar aroma floral, oportuniza aos mais sensíveis trazer a primavera florida para dentro da própria casa em arranjos florais ou tê-la ao alcance da mão, no jardim, no alpendre, ou no quintal.
No entanto, na primavera, ao colher a flor, não se deve esquecer que flor e espinhos crescem juntos. Ao levar a flor, levam-se também os espinhos. Segredos da estação primaveril.

Petrucia Camelo
Sobre
Petrucia Camelo é Assistente Social, nasceu em Viçosa-AL. Casada com o médico e escritor Arnaldo Camelo. Possui 14 livros publicados, dois livros premiados. Pertence a Academia Alagoana de Letras. Sócia Honorária do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Sócia da UBE-PE. Fundadora e Presidente do Clube Café, Vinho e Arte - CCVA.