Petrucia Camelo

A HORA DO PÁSSARO

Petrucia Camelo 22 de setembro de 2025

Realmente, há tempo para tudo, principalmente para a eclosão das coisas do eterno. Todos os anos, a primavera desperta as flores, promove a volta dos buquês em jarros, em altares, a alegria dos jardins, que fazem a festa do ambiente, das criaturas aladas, da sensibilidade humana.

No transcurso da primavera observa-se também que é a hora do pássaro, que, com sua característica plumal, com seu canto, revela a sua natureza, ao assediar as flores, ao sugar-lhes o néctar que adoça e alimenta, também lhe permitindo banquetear-se da profusão de insetos que carregam pólen de uma flor para outra. Os pássaros complementam a beleza da estação floral.

No entanto, aquela árvore frondosa que exalta a natureza, prendendo a minha atenção pelo aconchego de sua copa, onde a vida se oferece em diversificadas formas, faz com que eu veja, por entre a folhagem iluminada pela luz solar, uma criatura com características de pássaro canoro a cantar alegremente, a saltitar, entre uma bicorada e outra. Mas, que perigo! Ele não sabe que, ao fazer-se olhar pela beleza do canto, desperta em mim o desejo de tê-lo ao alcance da mão, engaiolado, em minha varanda, cantando somente para mim.

Mas, pensando bem, aquele pássaro, preso em uma gaiola, não sei se ele cantaria assim, tão bem. Talvez não cantasse, apenas emitiria uma mensagem em busca de alguma companheira, avisando que não estava muito feliz, que preferia estar livre junto a ela; o seu canto poderia ser um lamento: sonhei que era um pássaro e não sabia que sabia voar.

E, assim, preso, estaria sempre a repetir um canto triste e solitário em busca de alguma resposta, isto e, ele, perdendo a condição de pássaro, não saberia mais o que é ser um pássaro. Mas acho mesmo que ele agiria dessa forma, cantando a solidão, a dor irreparável por estar preso em uma gaiola, sem nenhuma liberdade, vivendo de alpiste e água, sem sentir o direcionamento do vento, a aragem dos aromas, das sombras, sem beber a água fria dos córregos, e sem se aquecer sob os raios do sol, sem poder conquistar o objeto dos seus desejos.

Mas, lembro bem que, ao olhar novamente para aquela árvore, logo observei que o pássaro havia desaparecido, e depois o esperei por várias manhãs, e nunca mais ele voltou. Sob a angústia da espera, foi pouco a pouco também com ele o meu desejo de tê-lo sob o meu jugo ou de ter algum outro pássaro, pois, ao esperá-lo, ele me fez repudiar a ideia de tê-lo preso em uma gaiola. Aquela espera me fez compreender a arbitrariedade do sentimento de posse, frente ao sentimento maior da liberdade de viver de acordo com a própria natureza.

Certamente, aquele pássaro canoro, com sua plumagem de nuances amarela, faz que eu pense que continua feliz, junto aos demais de sua espécie; certamente continua livre, em revoadas de pássaros, marcando outros territórios com sua natureza indomável, emitindo o mesmo canto alegre que me cativou, a sonorizar a beleza das arvores em manhãs de primavera. Seria mesmo uma infelicidade tê-lo tão perto, em uma prisão arbitrária, perdendo o seu dialeto, ensaiando um canto triste.

A árvore continuará a sua sucessão sazonal, mesmo após a primavera, com sua hospedagem aos pássaros e às demais criaturas silvestres, oferecendo os seus serviços, os seus préstimos, porém não consegue fazer que eu esqueça aquele pássaro que por instantes fez com que eu tivesse a ideia inconsequente de sonhar que, um dia, eu teria um pássaro cantando somente para mim, preso em uma linda gaiola, a enfeitar o meu alpendre.