Enio Lins

Luz, câmera, mobilização: “Resistências Democráticas” em cartaz

Enio Lins 10 de setembro de 2025

COMEÇA AMANHÃ, no Centro Cultural Cine Arte Pajuçara, a temporada “Resistências Cinematográficas”. Serão exibidos nove filmes em seis dias, de 11 a 17 de setembro. Programação Super 9! Obras imperdíveis, aulas de história e cidadania.

ESSA AGENDA aterrissa em Maceió numa parceria entre a Cinemateca Brasileira, a Vice-Governadoria de Alagoas e o Centro Cultural Arte Pajuçara. Comparecem os longas-metragens “Eles Não Usam Black-Tie”, “O Caso dos Irmãos Naves”, “O Que É Isso, Companheiro?”, “Cabra Marcado Para Morrer”, “Opinião Pública”, “ABC da Greve”, “Pra Frente Brasil”, “Terra em Transe”, “Os Fuzis”.

RONALDO LESSA, vice-governador de Alagoas, é o principal promotor dessa realização, ideia surgida quando dos debates promovidos por ele por ocasião das celebrações pelos 40 anos da Redemocratização no Brasil. Perseguido pela ditadura militar brasileira, o então líder estudantil Ronaldo Lessa, estudante de Engenharia Civil e craque da seleção alagoana de voleibol, teve de deixar Alagoas e passar a viver no Rio de Janeiro, a partir de 1973, para sair do radar da repressão. Em 1982, retorna ao Estado e se elege deputado estadual pelo PMDB, posteriormente vereador, prefeito de Maceió, governador do Estado, deputado federal, vice-prefeito de Maceió e vice-governador.

É O CINEMA, desde sua invenção, em 1885, um poderoso instrumento cultural de educação, de debate, de informação. Como toda forma de arte, assinale-se. Mas a arte cinematográfica possui um apelo especial, uma capacidade de repassar ideias com eficiência superior às demais formas artísticas-culturais clássicas. “Tempos Modernos”, de 1936, ainda hoje pode ser assistido como uma aula de economia política; “O Garoto”, lançado em 1921, é um libelo atualíssimo contra a infância desassistida, assim como “O Grande Ditador”, exibido desde 1940, segue sendo uma das mais contundentes denúncias do nazifascismo – e estamos falando de apenas três das muitas obras-primas imortais de Charles Chaplin (1889/1977).

DE PRIMEIRA QUALIDADE é a seleção feita pela Cinemateca Brasileira para o programa “Resistências Cinematográficas”. Não se restringe ao período da ditadura de 1964/1985 e traz enredos como “O Caso dos Irmãos Naves”, filme de Luís Sérgio Person e Jean-Claude Bernardet, foca numa terrível violência policial acontecida (de verdade) durante a ditadura do Estado Novo (1937/1945), mas com analogias poderosas com o Regime Militar imposto em 1964, pois foi filmado em 1967, antes da censura prévia do AI-5. Por sua vez, “Cabra Marcado Para Morrer” é um filme-reportagem iniciado em 1962, interrompido em 1964 (a equipe de cineastas foi presa, acusada de comunismo) e só retomado, e concluído, 20 anos depois, em 1984. “Pra Frente Brasil” é a mais crua denúncia do terror da tortura ditatorial, produzido em 1982, logo após a derrubada da censura prévia, mas sob as ameaças do autoritarismo militar ainda no poder; a aprovação do financiamento do filme causou a demissão do então presidente da Embrafilme, o diplomata Celso Amorim. Fico por aqui, nesses três filmes como exemplo, mas todos os nove são imperdíveis.

FAÇA SUA AGENDA, chegue cedo cada dia para retirar seu ingresso na bilheteria, pois estarão disponíveis uma hora antes da projeção e a fila pode ser grande, pois é “de grátis”. Daí não perca tempo. Parabéns para Ronaldo Lessa e Marcão, articuladores dessa bela realização. Agradecimentos ao patrocínio nacional do Instituto Cultural Vele, da Shell Brasil, e do Itaú Cultural. Aplausos ao Ministério da Cultura e ao Governo Federal. A mostra “A CINEMATECA É BRASILEIRA” chega à capital alagoana depois de “percorrer 25 cidades e atingir um público de cerca 20 mil pessoas em suas duas edições”, conforme informam as entidades promotoras. Vamos ao cinema, gente – é sétima arte de primeira!