Enio Lins
Nise da Silveira rediviva em seu 120º aniversário na sua terra natal

NISE MAGALHÃES DA SILVEIRA, como se sabe, nasceu em Maceió no ano de 1905 (15 de fevereiro) e morreu no Rio de Janeiro, em 1999, aos 94 anos intensamente vividos. Como se deveria saber, ela é a maior expressão da Psiquiatria brasileira, e mais: é umas das grandes referencias mundiais para o tratamento humanizado de pacientes com graves problemas mentais. Não se sabe o que sua terra natal tem feito em sua memória, a não ser um solitário (e belo) tributo de uma estátua em bronze fixada no Corredor Vera Arruda. Não sei se você sabe, mas está em curso uma programação especialmente voltada para a passagem do 120º aniversário de seu nascimento – uma ótima notícia.
OFICIALMENTE ABERTA na segunda-feira, 8, a agenda contempla Oficinas e Murais do Inconsciente, em outubro, ministradas nos CAPs (Centro de Apoio Psicossocial, da Rede SUS) dos municípios de Arapiraca, Capela, Maceió, Matriz de Camaragibe, São Miguel dos Campos, Santana do Ipanema, Palmeira dos Índios, Penedo, Piranhas e União dos Palmares – sempre nos horários das 10 às 16 horas. Ainda em outubro, nos dias 9, 16, 23, 30, serão realizadas as ações “Nise para Crianças”, no Corredor Vera Arruda, em Maceió, das 16 às 20 horas. Em novembro será a vez das exposições Imagens do Inconsciente, em Maceió e Arapiraca. Para dezembro está previsto o espetáculo “Nise e os Malucos Beleza”, com apresentações nos dias 3, 4, 5 e 6, no Teatro Gustavo Leite (Centro de Convenções Ruth Cardoso), sempre às 20 horas.
VINÍCIUS PALMEIRA, pelo Instituto de Ação e Desenvolvimento para a Cidadania, é o idealizador e produtor do programa “Nise em Cores e Formas”, executado em parceria com o Governo estadual. Uma iniciativa exemplar de preservação da memória das personalidades alagoanas mais expressivas, ideia que deveria ser incorporada como política pública permanente para todas as destacadas criaturas nascidas aqui e que se tornaram referências nacionais, como – citando apenas meia dúzia de exemplos – Zumbi, Ganga Zumba, Calabar, Visconde de Sinimbu, Deodoro, Floriano...
NISE DA SILVEIRA foi uma gigante além da Psiquiatria. É um exemplo eterno de vida e de luta como humanista, feminista, intelectual, cientista, comunista, democrata, defensora dos animais... Viveu, juntamente, com o marido, anos sob clandestinidade, depois de ser liberada da prisão (foi detida em 1937, por conta se sua militância antifascista). Sua biografia – no mínimo, um resumo didático de sua vida – deveria ser tema para estudo obrigatório nas escolas alagoanas. O livro “A Terra dos Meninos Pelados”, obra de Graciliano Ramos dedicada a ela e ao trabalho dela, deveria ser leitura obrigatória. As produções culturais sobre ela, como o filme “Nise – O Coração da Loucura” (com Glória Pires no papel principal) deveriam fazer parte das bibliotecas e videotecas de todas as instituições de ensino, assim como seus livros e os livros que a tenham como mote.
E MAIS: MÁRIO MAGALHÃES DA SILVEIRA, primo e marido de Nise, precisa ter sua história salva do esquecimento. Companheiro de toda vida, igualmente um personagem notável nos territórios generosos do humanismo, da medicina, e da militância por um mundo melhor. Médico sanitarista formado em 1926 pela Faculdade de Medicina da Bahia, é um dos nomes mais importantes para a história da Saúde Pública no Brasil. Preso pela ditadura do Estado Novo, como comunista, foi amigo de Luís Carlos Prestes e de Celso Furtado, integrou a nata intelectual da esquerda brasileira. Morreu em 9 de setembro de 1986, no Rio de Janeiro. Filho de Maria de Araújo Lobo e José Magalhães da Silveira (seu pai era irmão de Faustino Magalhães da Silveira, pai de Nise), nasceu no dia 24 de abril de 1905, em Maceió – há 120 anos. Fica a sugestão para algo ser feito no 40º ano de sua morte, no ano que vem. Viva Mário! Viva Nise! Que as histórias de ambos jamais sejam esquecidas.

Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.