Enio Lins

A velha pedofilia e o novo campo fértil na terra sem lei da internet

Enio Lins 21 de agosto de 2025

FELCA PUBLICOU um vídeo bombástico denunciando delitos contra crianças. Hytalo, ligado a essa prática, foi preso juntamente com o marido. Que você acha disso? Nunca tinha ouvido falar sobre Felca, até saber que ele detonou um dos crimes mais lucrativos acobertados pela falácia da “liberdade de expressão na Internet”.

ANTES DAS DENÚNCIAS, Felca tinha cerca de 20 milhões de seguidores nas redes sociais. Após detonar a utilização de menores por Hytalo, pulou para 30 milhões. Isto pelas contas do Estadão, que sobre Hytalo informa ser seguido por 13 milhões de internautas até ser denunciado (e preso), e ter suas contas apagadas por evidências de crimes contra menores de idade.

QUEM É FELCA? – responde o site InfoMoney: “Felca é uma figura bem conhecida na internet, especialmente entre os jovens. Ele possui mais de 6 milhões de seguidores em seu canal principal do YouTube, o @felcaseita. Já seu canal secundário, o @felquinhas, acumula mais de 2 milhões de inscritos. É natural de Londrina, no Paraná, e começou na internet em 2012. Atualmente, conta com 17,2 milhões de seguidores no Instagram e 6,6 milhões no TikTok. Seus conteúdos possuem tom humorístico, em geral, lendo comentários de vídeos e publicações, reagindo a memes e comentando sobre temas engraçados da semana”. Tem 27 anos de idade.

QUEM É HYTALO? – responde O Globo: “Hítalo José Santos Silva, nome artístico Hytalo Santos, tem 28 anos e é natural de Cajazeiras, no Sertão da Paraíba. Ele ganhou fama com conteúdo envolvendo menores de idade nas redes sociais. (...) Até o Instagram de Hytalo sair do ar, ele tinha mais de 17 milhões de seguidores na plataforma e 2,4 milhões no TikTok. No YouTube, eram mais de 5 milhões de seguidores (...). Hytalo gerenciava no Instagram um perfil de sorteio de prêmios com mais de 1,9 milhões de seguidores. Os prêmios variavam entre celulares e automóveis (...). Ele postava vídeos de dancinhas com meninas a quem ele chamava de ‘filhas’ e meninos a quem ele chamava de ‘genros’”.

QUAL É O NÓ? Felca denunciou o que classificou como “adultização” de menores, apresentando provas contundentes. Segundo o Estadão, “até esta quarta-feira, 13, o vídeo postado [por Felca] no YouTube tinha quase 36 milhões de visualizações. Somados os cortes publicados em outras redes sociais, o total de visualizações chega a 66 milhões”. Sem eufemismos, a denúncia trata de pedofilia, exploração sexual, prostituição de menores. Hytalo e o marido foram presos, por determinação do juiz Antônio Rudimacy de Sousa, da 2ª Vara da Comarca de Bayeux, na Paraíba. E o caso caiu como um míssil sobre as teses de defesa da “liberdade total de expressão” nas redes sociais.

PEDOFILIA NÃO É NOVIDADE na comunicação de massas. Obras contemporâneas como “Lolita”, de Vladmir Nabokov, 1955, narra a tara do ponto de vista do criminoso; o filme brasileiro “Iracema, Uma Transa Amazônica”, de 1974, censurado até 1981, desnuda a prostituição juvenil escancarada e irmanada com a pobreza; “Taxi Driver”, de 1976, eterniza a prostituta Iris, de 12 anos, seu cafetão Sport e o herói atormentado Travis. Hoje, as redes sociais desreguladas, monetizadas, deixam de lado quaisquer traços de arte & denúncia e mergulham no cyberespaço pedófilo, fazendo fortunas na cafetinagem digital.

ENQUANTO ESTA COLUNA está sendo escrita (quarta pela manhã), se anuncia a votação na Câmara Federal de um projeto de lei, sob regime de urgência aprovada no dia anterior, sobre o tema “adultização”. Numa leitura rápida do resumo, a proposta parece muito tímida – mas como parte do bando bolsonarista considera essa proposta “um risco de censura”, deve ser um bom avanço. Oxalá seja o início da (indispensável) regulamentação das redes. Felca, agora estou lhe seguindo. Receba meus parabéns.