Petrucia Camelo
O ASSALTO
Logo surge o dia, espera-se o retorno do despertar e que se pense que se é feliz, pois tudo o que se encontra em redor conspira a favor da vida. Mas à espreita dessa espera há também os demais elementos, que se revelarão de modo contraditório, inesperado, mesmo que se há de pensar que se está preparado para o momento que estará por vir.
Em uma tarde chuvosa de sexta-feira do mês de agosto, no passeio da calçada, pessoas paravam para assistirem à apresentação de uma peça de um ato só, à moda de um teatro mambembe, que por sinal está corriqueiro no Brasil, e não é preciso ir à geografia: tem-se, bem próximo, a apresentação do mesmo drama que aquela senhora, a chorar copiosamente, relatava aos transeuntes.
O relato daquela senhora, a dizer que apenas em alguns instantes, ao descer do carro, fora abordada abruptamente por assaltantes, que, armados, logo tomaram de suas mãos a chave do carro e a bolsa que trazia a tiracolo, e, entre soluços, ainda dizia que agradecia a Deus por não ter sido morta – espetáculo de dor, de terror, de trauma psicológico e de perda de pertences valiosos. Chocante forma de delinquência em exposição, em pleno dia.
Há em todo processo da criação divina uma dualidade, o bem e o mal, que faz supor que a célula embrionária que deu origem à criatura tenha sido gerada por naturezas antagônicas. Nessa combinação, vê-se, no âmago do ser humano, o irracional e a consciência do que é certo, à razão, em dúbia disposição, que são explícitos nas atitudes e nos comportamentos, que afloram diferenciados nas formas e na proposição dos objetivos a serem alcançados.
Daí, como se vê, há uma necessidade premente da existência dos meios que ressaltam o equilíbrio psicossocial do ser humano desde a mais tenra idade, ordenados pela família, pela escola, pela religiosidade, e, é claro, em auxílio à natureza do ser mesmo favorecido pelos bons sentimentos e, ainda mais, é preciso contar com a responsabilidade do sistema governamental condizente com horizontes de desenvolvimento.
Caso contrário, têm-se indivíduos voltados para a marginalidade, cães à solta, dando vazão ao lado negativo, escuro da alma, em um verdadeiro embrutecimento, como dissera alguém, a aprenderem que se deve comer o fruto sem plantar a árvore, que se tem que atirar pedras na árvore para sentir o amargor do fruto verde, sem poder saborear o doce do amadurecimento.
A ciência ainda defende que o ser criado perpetua a espécie, passando aos filhos os genes que os concebem, e depois virá a velhice e depois, a morte; porém, se há de considerar que no gênero humano há também os resíduos da existência, do esforço individual; ainda, associações do espírito e da vontade, que devem servir e dar exemplo às novas gerações.
Os indivíduos despreparados, alienados da realidade, voltam-se para os instintos cruéis, tornam-se portadores de atos execráveis, e no futuro somente lhes restarão a mudez das palavras, resquícios dos atos de maus pensamentos, atitudes, pois não cuidaram de construir fortes alicerces, fortalecimento para levantar construções de desenvolvimento humano e social. Daí pensa-se, também, que a última palavra continua com Deus, na observância de sua Lei.

Petrucia Camelo
Sobre
Petrucia Camelo é Assistente Social, nasceu em Viçosa-AL. Casada com o médico e escritor Arnaldo Camelo. Possui 14 livros publicados, dois livros premiados. Pertence a Academia Alagoana de Letras. Sócia Honorária do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Sócia da UBE-PE. Fundadora e Presidente do Clube Café, Vinho e Arte - CCVA.