Enio Lins

Padre Cícero revisitado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas

Enio Lins 23 de julho de 2025

PADRE CÍCERO será o centro das atenções, hoje e amanhã, no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Caso tenha interesse na temática, compareça. Sempre cabe mais uma pessoa na plateia. A programação é de primeira qualidade.

NESTA QUARTA-FEIRA, duas serão as palestras. Às 14:30, Inácio de Loiola, deputado e profundo conhecedor dos temas sertanejos, falará sobre “Vida e Obra de Padre Cícero”. Às 15:30 será a vez da pauta “Conflitos entre o Padre Cícero e a Igreja Católica”, tendo como palestrante o pesquisador Marcello Fausto. Ambas as conferências serão mediadas pelo professor e escritor Álvaro Queiroz, um dos maiores pesquisadores das questões religiosas brasileiras e Secretário Perpétuo do IHGAL.

NA QUINTA-FEIRA, às 14 horas, Luiz Otávio Gomes – 2º vice-presidente e diretor de relações institucionais do IHGAL – será o moderador de uma mesa-redonda com palestras de Keylle Lima, do SEBRAE/AL e de Joaquim Cartaxo, do SEBRAE/CE, sobre “Padre Cícero e a Economia Criativa do Nordeste”. Às 15 horas, “A experiência gerada pela fé no Padre Cícero” será abordada por um dos mais expressivos líderes dos romeiros nordestinos, Elias Romeiro. Como moderador, este curioso sobre a fé alheia que vos escreve.

DESDE QUE COMEÇOU a ser contado o número de pessoas em romaria ao Juazeiro do Padre Cícero, Alagoas é o estado campeão em delegações. Dizia Padre Murilo – Monsenhor Francisco Murilo de Sá Barreto, vivente entre 1930 e 2005, considerado o Vigário do Nordeste, pároco da Matriz de Juazeiro do Norte, e principal religioso católico a estudar e zelar pela memória do Padre Cícero – que a presença alagoana sempre foi a mais expressiva entre os romeiros, e que em Juazeiro uma das ruas de referência para as romarias era chamada de “Rua dos Alagoanos”. Essa devoção popular era visível nas estradas alagoanas graças ao grande fluxo dos caminhões pau-de-arara. Nunca foi moleza penar nas carrocerias daqueles toscos veículos. A viagem, em condições precaríssimas, já era pagamento de parte da promessa feita. Hoje, apesar das normas rodoviárias proibirem o uso desse tipo transporte para passageiros, dizem que segue sendo usado, mas não existem notícias de desastres, o que pode ser considerado milagre.

DETALHES ALAGOANOS: Flavius Flaubert Pimentel Torres, saudoso ex-prefeito da Viçosa, sustentava a tese de que a Beata Mocinha, primeira-ministra ad hoc do reino terreno do Padre Cícero, seria alagoana, nascida em território viçosense. Pelas pesquisas de Flaubert, a poderosa e devota Mocinha era filha do Coronel Apolinário Rebelo Pereira Torres, e que – muito jovem – teria sido seduzida por um cunhado. A garota, a título de penitência, foi remetida (a pé, segundo algumas versões) ao Juazeiro para pedir perdão ao Padre Cícero. Perdoada, lá resolveu ficar de vez, como beata. Fato é que, dedicada, rigorosa e muito competente, Mocinha tornou-se a gestora do patrimônio e dos negócios materiais do místico pároco, tão influente que virou Santa em música na voz de Luiz Gonzaga. Flaubert compartilhou essa hipótese com várias pessoas interessadas em história, como o também viçosense Aldo Rebelo, convidou outras tantas para uma pesquisa consubstanciada, mas – infelizmente – morreu sem conseguir dar sequência à tese. Fica aqui como registro. Quem sabe, algum dia, alguém possa retomar esse estudo.

AMANHÃ E DEPOIS, portanto, serão dias dedicados ao instigante Padre Cícero do Juazeiro, a maior das referências religiosas brasileiras de base essencialmente popular, preservada e ampliada em devoção genuína, à revelia do Vaticano e da alta hierarquia católica no Brasil. Repetindo o endereço: Instituto Histórico, localizado na Ladeira do Brito, centro histórico de Maceió. Pertinho, para chegar lá não precisa romaria, muito menos de caminhão pau-de-arara. Se achegue.