Enio Lins
A frente alagoana é exemplo nacional, mas tem fios soltos

SEQUENCIANDO TEXTOS anteriores sobre a urgência na construção de frentes amplas antibolsonaristas, no patamar nacional e nos ambientes locais (estado, município, bairro, rua, dentro de casa...), arroxo na mesma tecla: é indispensável a máxima ampliação de forças para dar o adequado combate ao crime organizado bolsonarista – e sem discriminar quem tenha estado ao lado do mito do mal até ontem. A traição nacional escancarada por Dudu Bananinha, sob a orientação e financiamento de seu pai e mentor, Jair Falso Messias, comprova o quão tão baixo e tão desleal essa quadrilha é capaz de jogar.
EM ALAGOAS, REPITO: é um grande salto adiante a aliança entre Renan Calheiros, Renan Filho, Arthur Lira, e JHC. É muito significativa para o cenário nacional, apesar de ter sido tecida com linhas dos interesses estaduais. Se confirmada (haja água para passar sob e sobre essa ponte), essa composição amplíssima garantirá seu lugar na história como um marco progressista. Isto posto, vamos a algumas observações sobre estes movimentos, várias delas antecipadas por colegas blogueiros.
FERNANDO FARIAS tem sido, corretamente, destacado pela mídia local por seu papel na inclusão de JHC à essa frente. É verdade. O senador, a partir de uma visão acurada, e de suas ligações com os Caldas, é o principal tecelão dessa malha de incontáveis fios. Fernando Farias é exageradamente discreto, atuando numa quase semiclandestinidade, postura contraindicada para quem faz parte do parlamento – mas é da personalidade dele. Daí ser importante reconhecer e divulgar sua iniciativa. Nessas costuras do senador, outro Farias, Fábio, merece mais destaque como um dos responsáveis pela costura dessa nova frente. Alagoas, confirmada essa aliança, só tem a ganhar.
FÁBIO FARIAS, que pilotou com maestria o Gabinete Civil no governo Renan Filho, também é protagonista desta operação ampliadora nas Alagoas. Fábio foi convocado por Fernando para a missão de ser o articulador político de seu mandato no Senado. Formam uma dupla e tanto: Fernando é um habilíssimo construtor de pontes sobre áreas conflituosas, como se comprova por seus sucessos nos segmentos empresariais nos quais atua há mais de 40 anos. Fábio, doutor em articulações complexas, traz a experiência adquirida num dos principais centros formadores da Política (com maiúscula): o movimento estudantil, e à essa base inicial (esquerdista) soube somar a vivência empresarial, e uma longa história de parceria com Renan Calheiros, desde os tempos do PMDB histórico.
FARIAS – FERNANDO E FÁBIO, fizeram um grande trabalho, além das tratativas com JHC. Com a inclusão de Arthur Lira (num movimento com participação de Lula), estão dadas as condições de ser obtido um bom avanço – inclusive – na delicada e perigosa escalada de conflitos entre o Congresso Nacional e a presidência da República (quadro preocupante e sem solução possível na atual correlação de forças). É vital persistir neste caminho com determinação, e cuidado extra, pois é um campo muito minado.
APESAR DOS AVANÇOS, não parece que o cenário alagoano esteja totalmente pacificado. Daí se faz necessário mais cuidado, mais atenção às engrenagens locais. Nota-se, aqui e ali, que fagulhas, pontas de agulhas, brilham estrelas de São João com cara de fogo amigo. Blogs têm caprichado nas lapadas em JHC, revitalizando um palanque municipal que deveria estar desarmado desde o final do ano passado. Da mesma forma, quase não se realçou, em Alagoas, um fato importante no Congresso, uma vitória para Lula e para o Brasil, que conquistou destaque na mídia nacional, como se pôde ler na manchete da Carta Capital, há uma semana: “Reforma do IR: [Arthur] Lira amplia faixa de desconto e mantém imposto para alta renda”. Sei não, mas acho que são sinais... Articuladores, sigam em campo; o trabalho não terminou.

Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.