Enio Lins
Mais um ano de luta e vitórias pelo jornalismo independente

HOJE A TRIBUNA INDEPENDENTE completa mais um aniversário, o 18º. Oficialmente, alcança a maioridade, apesar de ter nascido “de maior”, sem nunca ter passado por infância nem adolescência. Este diário veio ao mundo no dia 10 de julho de 2007, parido num doloroso processo de afirmação pelo direito ao trabalho, que uniu jornalistas, gráficos, motoristas, distribuidores, funcionários administrativos. A irresignação contra o desaparecimento sumário de um jornal histórico era o foco da resistência.
CONFORME RELATAM as crônicas do período, frente à falência da antiga Tribuna de Alagoas, seus trabalhadores ocuparam a sede da empresa e lá montaram acampamento, distribuindo-se em grupos de mobilização para a resistência. Colchões foram espalhados pelas principais dependências para que lá pudessem pernoitar durante o tempo que fosse necessário, o refeitório foi transformado em cozinha de campanha (com gêneros alimentícios recebidos em doação). Penosas negociações foram conduzidas pelos resistentes junto aos credores, Justiça, governo e órgãos financiadores para construir uma solução que não fosse o desemprego em massa nem a dispersão dos instrumentos de produção.
AO FIM E AO CABO, uma grande vitória: uno novo jornal surgiu das cinzas, assumido coletivamente pela mão-de-obra trabalhadora antes contratada pela empresa falida. Um novo empreendimento surge, tomando forma como uma cooperativa inovadora em Alagoas (e rara no Brasil), reunindo jornalistas, gráficos e trabalhadores nas demais áreas técnicas e administrativas. Já se vão 18 anos. Hoje a Tribuna Independente é o único veículo de mídia impressa com circulação diária em nosso Estado – e para além deste marco histórico, se expandiu aos demais formatos digitais, desde as redes sociais até os espaços televisivos na internet. E sempre independente.
É UMA LONGA HISTÓRIA de resistência e luta por um jornalismo – de fato – independente. com raízes fincadas há quase meio século, desde a criação de um ousado diário em 1979, numa iniciativa do jornalista Noaldo Dantas. Ainda sob o regime autoritário, a Tribuna de Alagoas marcou época pela independência e pela coragem, o que levou à sua primeira quebra pela pressão contra os financiadores do projeto, em 1981. Naquele tempo, as dependências do jornal foram também ocupadas pelos trabalhadores, com colchões espalhados pelos cantos e refeições servidas no local para que a vigília fosse mantida 24 horas no ar. Não foi pensada uma cooperativa, mas a solução se deu através da decisão do senador Teotônio Viela em assumir sozinho a empresa, depois de receber o apelo levado por uma comissão formada pelos saudosos Dênis Agra, Freitas Neto, Teófilo Lins, Jurandir Queiróz e outros componentes. Essa experiência, também inovadora, foi interrompida pela morte do Senador da Anistia, em 2023. A partir daí, o diário passou por várias administrações e proprietários, até falir, enquanto empresa, em 2007.
SURGIDA DESTA HISTÓRIA PENOSA, trágica em certos momentos, a Tribuna Independente é outra história. Inova desde 10 de julho de 2007. É empreendimento totalmente distinto, sem mais sócios-proprietários convencionais. Não só é outro CNPJ, é outro entendimento sobre uma empresa de comunicação. As raízes seguem fincadas na história das mídias alagoanas, desde a coragem editorial do final dos anos 70, honrando a redação instalada na Rua do Sol, defronte ao Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Hoje, portanto, se comemora 18 anos de uma trajetória inovadora, transformadora, filha legítima de uma experiência iniciada ainda no século passado. Parabéns! Vida longa à Tribuna Independente e aos ideais da imprensa livre, defensora da Democracia e das transformações sociais, inimiga das injustiças e das fake news!
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Com o apoio do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas, Sindicato dos Gráficos de Alagoas e da Federação Nacional dos Jornalistas, trabalhadores da Tribuna de Alagoas transformaram a sede do jornal em um alojamento, ocupando o espaço com colchões, utensílios de cozinhas e produtos alimentícios. Isto tudo para resistir e não ser vencido pelo cansaço. A mobilização ganhou apoio dos movimentos sociais e entidades sindicais, a exemplo do Sinteal, Sindprev, Sindbancários, Sindgráficos e Central Única dos Trabalhadores.Com a forte adesão desse segmento sindical, os trabalhadores da Tribuna de Alagoas articularam a formação da cooperativa dos jornalistas e de gráficos, a partir da discussão da proposta em assembleias unificadas das duas categorias
10 de julho de 20
18 anos
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O jornal alagoano Tribuna Independente foi fundado em 1º de maio de 2007.
Fundação da Jorgraf
Março de 2007. Após quatro meses de salários atrasados e prenunciando que seriam alvo de calote financeiro de mais um grupo político que administrava o então jornal Tribuna de Alagoas, periódico que ganhou fama do país por ser o estopim do impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, jornalistas, gráficos e funcionários administrativos resolvem ocupar a sede do jornal diário, na ocasião sob controle de um consórcio político-empresárial entre o ex-governador Ronaldo Lessa e o usineiro Robert Lyra. Os bens patrimoniais pertenciam ao Banco do Nordeste, instituição financeira financiadora de todo o projeto editorial, em 1991, mas que até 2007 não havia parcelas do empréstimo. Os gastos exacerbados dos patrões, entre viagens e festas, foram motivos para a Tribuna de Alagoas ir a caminho da falência, além das dívidas com fornecedores que a cada dia cresciam.
Com o apoio do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas, Sindicato dos Gráficos de Alagoas e da Federação Nacional dos Jornalistas, trabalhadores da Tribuna de Alagoas transformaram a sede do jornal em um alojamento, ocupando o espaço com colchões, utensílios de cozinhas e produtos alimentícios. Isto tudo para resistir e não ser vencido pelo cansaço. A mobilização ganhou apoio dos movimentos sociais e entidades sindicais, a exemplo do Sinteal, Sindprev, Sindbancários, Sindgráficos e Central Única dos Trabalhadores.Com a forte adesão desse segmento sindical, os trabalhadores da Tribuna de Alagoas articularam a formação da cooperativa dos jornalistas e de gráficos, a partir da discussão da proposta em assembleias unificadas das duas categorias.
O processo de construção da cooperativa teve início com a criação de um blog cujo conteúdo era o relato diário das atividades dos profissionais. Posteriormente, os trabalhadores reativaram a máquina rotativa e os computadores da Redação que serviram para a edição do jornal Tribuna Independente, denominação deliberada em assembleia e que, de início, teve o objetivo de denunciar o calote tomado pelos trabalhadores e os políticos envolvidos com as irregularidades na gestão da Tribuna de Alagoas. A primeira edição foi distribuída no dia 1º de Maio de 2007 durante as manifestações promovidas pelas entidades sindicais para comemorar o Dia do Trabalhador.

Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.