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A Epidemia Silenciosa: O Aumento de Transtornos Mentais como Doenças Ocupacionais no Brasil Pós-Pandemia

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O Direito no Cotidiano 30 de junho de 2025
A Epidemia Silenciosa: O Aumento de Transtornos Mentais como Doenças Ocupacionais no Brasil Pós-Pandemia
Depressão - Foto: Ilustração

Enquanto o Brasil se recupera dos impactos visíveis da COVID-19, uma crise silenciosa avança nos ambientes de trabalho. Os transtornos mentais ocupacionais, já preocupantes antes de 2020, atingem hoje níveis alarmantes no país. Dados recentes do INSS confirmam essa realidade: os afastamentos por problemas mentais e comportamentais cresceram mais de 30% nos últimos dois anos, com depressão, ansiedade e burnout liderando os diagnósticos.

Este aumento expressivo resulta de uma combinação crítica de fatores. O home office borrou as fronteiras entre vida pessoal e profissional, dificultando a desconexão do trabalho. A insegurança econômica intensificou o medo do desemprego, gerando pressão constante por desempenho. Equipes reduzidas por cortes orçamentários sobrecarregaram os profissionais remanescentes. A hiperconectividade criou um estado permanente de alerta com a expectativa de respostas imediatas em múltiplos canais.

Um avanço importante foi o reconhecimento desses transtornos como doenças ocupacionais pelos Ministérios da Saúde e do Trabalho. Quando comprovado o nexo causal entre o adoecimento e as condições laborais, o empregado tem garantidos direitos como estabilidade provisória e cobertura previdenciária específica. Contudo, estabelecer essa relação causal permanece desafiador, como explica o psiquiatra Dr. Paulo Mendes: "Diferente de um acidente físico, o adoecimento mental tem múltiplos fatores e se desenvolve gradualmente".

O impacto econômico é substancial. Empresas brasileiras perdem bilhões anualmente em produtividade, afastamentos e rotatividade relacionados à saúde mental, sem contar o incalculável custo humano. Organizações mais atentas já implementam medidas preventivas como políticas de desconexão, programas de apoio psicológico, flexibilidade genuína na organização do trabalho e capacitação de lideranças para identificar sinais precoces de esgotamento.

A transformação desse cenário exige ação coordenada. Empresas precisam entender que saúde mental não é luxo, mas necessidade básica para a sustentabilidade dos negócios. O poder público deve fortalecer a fiscalização e as políticas de proteção ao trabalhador. Como sociedade, precisamos romper o estigma que ainda cerca os transtornos mentais e reconhecer que o adoecimento relacionado ao trabalho não indica fraqueza individual, mas revela falhas sistêmicas que demandam correção urgente.

Não podemos mais ignorar esta epidemia silenciosa. Afinal, qual o valor de uma recuperação econômica construída sobre o adoecimento coletivo de quem a sustenta?