Enio Lins

Operação França 2025: um filme de suspense comercial com final feliz?

Enio Lins 04 de junho de 2025

#partiuLulaparaaFrança em mais uma missão diplomática. E uma das tarefas para essa viagem não é nada fácil: aliviar a posição contrária francesa em relação ao acordo Mercosul/União Europeia. Paris se opõe por conta dos interesses de agricultores franceses e, secundariamente, das militâncias ecologistas.

NÃO É DE HOJE que esse imbróglio se arrasta, tem um histórico cerca de 26 anos de desencontros. Mas se aguçou logo em seguida à assinatura do primeiro acordo efetivamente importante entre o Mercosul e UE, em 2019. Aquele êxito para os países signatários, se converteu em um problema diplomático e comercial para o Brasil pelas diatribes cometidas, a partir daquele ano, pelo Falso Messias, que na condição de presidente brasileiro – em sua tradicional estupidez – resolveu jair transformando o presidente francês, Emmanuel Macron, em mais um adversário pessoal.

SEMPRE É EDUCATIVO relembrar o esgoto no qual o Brasil mergulhou entre 2019 e 2022. O fedor emanado daquele tempo ainda paira no ar e precisa ser lembrado, para que não se repita jamais. Vejam o que a Veja publicou em agosto de 2019: “As relações entre os governos de Brasil e França estão estremecidas desde o início do mês, quando Bolsonaro cancelou, de última hora, um encontro com o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, e publicou um vídeo no Facebook enquanto cortava o cabelo, no mesmo horário em que estava programada a reunião”. Em seguida, no mesmo mês, o energúmeno falso messias disparou mais uma agressão gratuita ao presidente francês ao endossar uma comparação sexista e etarista, feita por um áulico bolsonarista, entre as primeiras-damas francesa e brasileira. Para prejuízo exclusivo do Brasil, as provocações do meliante no Planalto contra o Chefe de Estado francês, se estenderam até o final do mandato do miliciano ignavo. Reconstruir um campo de diplomacia civilizada entre Brasil e França tem sido, para além do Mercosul, uma tarefa estratégica.

INTENSA E EXTENSA é a programação de Lula em solo francês, conforme informa a EBC: “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja à França entre os dias 4 e 9 de junho, com o objetivo de aprofundar a relação entre os dois países. Trata-se da primeira visita de Estado de um presidente brasileiro ao país em 13 anos, e da segunda visita do presidente Lula ao país”. A lista de tributos franceses ao brasileiro é extensa: Doutor Honoris Causa pela Universidade de Paris 8, homenagem na Academia Francesa (criada em 1635, concedeu honraria semelhante, em seus quase 400 anos de história, a apenas outros 19 chefes de Estado. Antes de Lula, somente um brasileiro teve a essa distinção: Dom Pedro II, em 1872. Um momento histórico, sem precedentes, entre Brasil e França. Fato muito importante para a diplomacia brasileira, indubitavelmente. Essa retomada do prestígio e da civilidade nas relações ajuda, e muito, às negociações comerciais, mas não tem o condão de resolver os impasses estabelecidos no campo da Economia, inclusive e destacadamente, no destravamento acordo Mercosul/União Europeia.

NÃO SÃO NOVIDADES as dificuldades de negociação entre países e, mais ainda, entre blocos de países. Mercosul e União Europeia, cada grupamento plurinacional em si, tem inúmeras divergências internas a resolver. Nada fácil. Mas num mundo cada vez mais dilacerado por disputas imperialistas (há quem ache que o imperialismo não mais existe, vejam só), sangrado por guerras cruentas, são alvissareiros quaisquer movimentos em prol da diplomacia civilizada, e do fortalecimento de blocos econômicos alternativos. Enfim, parodiando aquele famoso hino: “Avante, filhos da pátria/ O dia do entendimento chegou”.