Enio Lins
Operação França 2025: um filme de suspense comercial com final feliz?

#partiuLulaparaaFrança em mais uma missão diplomática. E uma das tarefas para essa viagem não é nada fácil: aliviar a posição contrária francesa em relação ao acordo Mercosul/União Europeia. Paris se opõe por conta dos interesses de agricultores franceses e, secundariamente, das militâncias ecologistas.
NÃO É DE HOJE que esse imbróglio se arrasta, tem um histórico cerca de 26 anos de desencontros. Mas se aguçou logo em seguida à assinatura do primeiro acordo efetivamente importante entre o Mercosul e UE, em 2019. Aquele êxito para os países signatários, se converteu em um problema diplomático e comercial para o Brasil pelas diatribes cometidas, a partir daquele ano, pelo Falso Messias, que na condição de presidente brasileiro – em sua tradicional estupidez – resolveu jair transformando o presidente francês, Emmanuel Macron, em mais um adversário pessoal.
SEMPRE É EDUCATIVO relembrar o esgoto no qual o Brasil mergulhou entre 2019 e 2022. O fedor emanado daquele tempo ainda paira no ar e precisa ser lembrado, para que não se repita jamais. Vejam o que a Veja publicou em agosto de 2019: “As relações entre os governos de Brasil e França estão estremecidas desde o início do mês, quando Bolsonaro cancelou, de última hora, um encontro com o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, e publicou um vídeo no Facebook enquanto cortava o cabelo, no mesmo horário em que estava programada a reunião”. Em seguida, no mesmo mês, o energúmeno falso messias disparou mais uma agressão gratuita ao presidente francês ao endossar uma comparação sexista e etarista, feita por um áulico bolsonarista, entre as primeiras-damas francesa e brasileira. Para prejuízo exclusivo do Brasil, as provocações do meliante no Planalto contra o Chefe de Estado francês, se estenderam até o final do mandato do miliciano ignavo. Reconstruir um campo de diplomacia civilizada entre Brasil e França tem sido, para além do Mercosul, uma tarefa estratégica.
INTENSA E EXTENSA é a programação de Lula em solo francês, conforme informa a EBC: “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja à França entre os dias 4 e 9 de junho, com o objetivo de aprofundar a relação entre os dois países. Trata-se da primeira visita de Estado de um presidente brasileiro ao país em 13 anos, e da segunda visita do presidente Lula ao país”. A lista de tributos franceses ao brasileiro é extensa: Doutor Honoris Causa pela Universidade de Paris 8, homenagem na Academia Francesa (criada em 1635, concedeu honraria semelhante, em seus quase 400 anos de história, a apenas outros 19 chefes de Estado. Antes de Lula, somente um brasileiro teve a essa distinção: Dom Pedro II, em 1872. Um momento histórico, sem precedentes, entre Brasil e França. Fato muito importante para a diplomacia brasileira, indubitavelmente. Essa retomada do prestígio e da civilidade nas relações ajuda, e muito, às negociações comerciais, mas não tem o condão de resolver os impasses estabelecidos no campo da Economia, inclusive e destacadamente, no destravamento acordo Mercosul/União Europeia.
NÃO SÃO NOVIDADES as dificuldades de negociação entre países e, mais ainda, entre blocos de países. Mercosul e União Europeia, cada grupamento plurinacional em si, tem inúmeras divergências internas a resolver. Nada fácil. Mas num mundo cada vez mais dilacerado por disputas imperialistas (há quem ache que o imperialismo não mais existe, vejam só), sangrado por guerras cruentas, são alvissareiros quaisquer movimentos em prol da diplomacia civilizada, e do fortalecimento de blocos econômicos alternativos. Enfim, parodiando aquele famoso hino: “Avante, filhos da pátria/ O dia do entendimento chegou”.

Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.