Enio Lins

Nazismo redivivo extermina quem considera “raça inferior” em pleno Século XXI

Enio Lins 23 de maio de 2025

EM 18 DE MAIO, O ESTADÃO publicou o artigo “Alemanha deve proibir seu segundo maior partido?”, cujo bigode é: “O avanço da AfD na Alemanha reabre o debate sobre os limites da tolerância democrática – e evoca as consequências trágicas da hesitação diante do nazismo nos anos 1930”. Oliver Stuenkel, o autor, chama a atenção para o dilema do regime democrático ter, ou não, a prerrogativa de colocar na ilegalidade um partido nazifascista. A resposta ulula, óbvia: a democracia deve ilegalizar os partidos nazifascistas, golpistas e assemelhados; trata-se de legítima defesa.

NO CASO EM TELA, o crescimento da Alternativa para a Alemanha (AfD), acende a luz laranja, enrubescendo o resto do mundo. Obteve a segunda maior votação: 20,8%. Führerin Alice Weidel? Não se deve duvidar da capacidade alemã em retomar os passos do Führer Adolf, mas -convenhamos – esta não é, no momento, a principal ameaça nazista no mundo. Na Itália, Giorgia Meloni não arrisca ser aclamada como Duchessa, apesar da montanha de votos conquistados. Mas, como alerta Stuenkel, é necessário berrar, denunciar, para evitar a repetição da vacilada da República de Weimar, nos anos 30, quando permitiu seguir na legalidade um partido baseado no ódio racial, no ultranacionalismo, e na violência como método principal para resolução de conflitos. Entretanto, esses princípios assassinos estão sendo praticados, às escâncaras, noutro local, e não na Europa.
EM ISRAEL, sua forma peculiar de nazismo acelera o extermínio de uma população (nativa) indesejada. Fiel à concepção da “raça superior” o sionismo de extrema-direita considera aquele povo árabe como untermenschen (“subumanos” no linguajar hitlerista). Estima-se que Israel tenha assassinado mais de 50 mil palestinos, desde o início do atual massacre (cuja justificativa foi um ataque do Hamas, que teria assassinado cerca de mil israelenses). Na terça, 20, o Estadão noticiou: “Apesar da entrada altamente limitada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, cerca de 14 mil bebês podem morrer de fome nas próximas 48 horas a contar da manhã desta terça-feira, 20, alertou o subsecretário para temas humanitários da ONU, Tom Fletcher”.

ESCANDALOSAMENTE, o mundo tolera a Endlösung der Palästinafrage (Solução Final para a Questão Palestina) imposta por Israel e sua política baseada no ódio racial, no ultranacionalismo, e na violência como método principal para resolução de conflitos A população árabe de Gaza está sendo varrida do mapa com tal velocidade e virulência que o tresloucado Trump já se propôs transformar o atual matadouro de palestinos numa Disneylândia turística de alto luxo. E o Hamas? Apesar de ser justíssima a resistência armada palestina, legítimo direito à autodefesa, toda ação violenta contra o terrorismo israelense é instantaneamente transformada em justificativa pelos sionazistas para violências desproporcionalmente maiores contra o povo palestino indefeso. O caminho correto seria o apontado por Yasser Arafat em sua fase final: ofensiva política ampla, não-violenta, em defesa dos direitos humanos do povo árabe, e pelo estabelecimento do Estado Palestino conforme decisão da ONU. Seria. Mas o fato, cruel, é que está sendo finalizada a total espoliação dos territórios palestinos, e sua população exterminada implacavelmente. Apesar de recentes posicionamentos positivos, mas tardios, como o do governo britânico e do governo espanhol, é escassa a viabilidade de salvamento das vidas árabes que ainda restam nos escombros das regiões massacradas por Israel. Sim, o nazismo e o fascismo estão tendo votos, na Alemanha e na Itália. Mas o campo de extermínio contemporâneo, modelo HH (Hitler-Himmler), está montado na Faixa de Gaza, transformada num misto de Gueto de Varsóvia e Auschwitz–Birkenau. Com uma diferença: este holocausto tem transmissão em tempo real para o resto do mundo.