Enio Lins
Nazismo redivivo extermina quem considera “raça inferior” em pleno Século XXI

EM 18 DE MAIO, O ESTADÃO publicou o artigo “Alemanha deve proibir seu segundo maior partido?”, cujo bigode é: “O avanço da AfD na Alemanha reabre o debate sobre os limites da tolerância democrática – e evoca as consequências trágicas da hesitação diante do nazismo nos anos 1930”. Oliver Stuenkel, o autor, chama a atenção para o dilema do regime democrático ter, ou não, a prerrogativa de colocar na ilegalidade um partido nazifascista. A resposta ulula, óbvia: a democracia deve ilegalizar os partidos nazifascistas, golpistas e assemelhados; trata-se de legítima defesa.
NO CASO EM TELA, o crescimento da Alternativa para a Alemanha (AfD), acende a luz laranja, enrubescendo o resto do mundo. Obteve a segunda maior votação: 20,8%. Führerin Alice Weidel? Não se deve duvidar da capacidade alemã em retomar os passos do Führer Adolf, mas -convenhamos – esta não é, no momento, a principal ameaça nazista no mundo. Na Itália, Giorgia Meloni não arrisca ser aclamada como Duchessa, apesar da montanha de votos conquistados. Mas, como alerta Stuenkel, é necessário berrar, denunciar, para evitar a repetição da vacilada da República de Weimar, nos anos 30, quando permitiu seguir na legalidade um partido baseado no ódio racial, no ultranacionalismo, e na violência como método principal para resolução de conflitos. Entretanto, esses princípios assassinos estão sendo praticados, às escâncaras, noutro local, e não na Europa.
EM ISRAEL, sua forma peculiar de nazismo acelera o extermínio de uma população (nativa) indesejada. Fiel à concepção da “raça superior” o sionismo de extrema-direita considera aquele povo árabe como untermenschen (“subumanos” no linguajar hitlerista). Estima-se que Israel tenha assassinado mais de 50 mil palestinos, desde o início do atual massacre (cuja justificativa foi um ataque do Hamas, que teria assassinado cerca de mil israelenses). Na terça, 20, o Estadão noticiou: “Apesar da entrada altamente limitada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, cerca de 14 mil bebês podem morrer de fome nas próximas 48 horas a contar da manhã desta terça-feira, 20, alertou o subsecretário para temas humanitários da ONU, Tom Fletcher”.
ESCANDALOSAMENTE, o mundo tolera a Endlösung der Palästinafrage (Solução Final para a Questão Palestina) imposta por Israel e sua política baseada no ódio racial, no ultranacionalismo, e na violência como método principal para resolução de conflitos A população árabe de Gaza está sendo varrida do mapa com tal velocidade e virulência que o tresloucado Trump já se propôs transformar o atual matadouro de palestinos numa Disneylândia turística de alto luxo. E o Hamas? Apesar de ser justíssima a resistência armada palestina, legítimo direito à autodefesa, toda ação violenta contra o terrorismo israelense é instantaneamente transformada em justificativa pelos sionazistas para violências desproporcionalmente maiores contra o povo palestino indefeso. O caminho correto seria o apontado por Yasser Arafat em sua fase final: ofensiva política ampla, não-violenta, em defesa dos direitos humanos do povo árabe, e pelo estabelecimento do Estado Palestino conforme decisão da ONU. Seria. Mas o fato, cruel, é que está sendo finalizada a total espoliação dos territórios palestinos, e sua população exterminada implacavelmente. Apesar de recentes posicionamentos positivos, mas tardios, como o do governo britânico e do governo espanhol, é escassa a viabilidade de salvamento das vidas árabes que ainda restam nos escombros das regiões massacradas por Israel. Sim, o nazismo e o fascismo estão tendo votos, na Alemanha e na Itália. Mas o campo de extermínio contemporâneo, modelo HH (Hitler-Himmler), está montado na Faixa de Gaza, transformada num misto de Gueto de Varsóvia e Auschwitz–Birkenau. Com uma diferença: este holocausto tem transmissão em tempo real para o resto do mundo.

Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.