Enio Lins

O 1º de maio: lembranças do passado recente e a atualidade

Enio Lins 01 de maio de 2025

MINHA PRIMEIRA LEMBRANÇA do 1º de maio, como militante, data de 1979. Estava no movimento estudantil. Cursava Arquitetura e ciscava no jornalismo. Um pouco antes da data, o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Freitas Neto, procurou o Diretório Central dos Estudantes da UFAL para uma parceria com os sindicalistas combativos no Dia do Trabalho, ou do Trabalhador, como queiram. Naquele tempo, a ditadura militar ia se ajeitando para sair de cena, mas as liberdades democráticas continuavam sendo tratadas como coisa de subversivo. Em São Paulo, os metalúrgicos do ABC, com sua corajosa onda de greves, a partir de 1978, eram a nova referência de luta, e os atos pelo Dia do Trabalhador começam a mudar.

NOS TEMPOS DO REGIME MILITAR, o 1º de maio era coisa oficial, amarelada, controlada para não sair dos limites meramente recreativos, com a colaboração subserviente dos pelegos. A agenda do dia era autorizada e acompanhada pela Delegacia do Trabalho, instituição herdada do período Vargas e que, depois do golpe de 1964, tinha se transformado em algo mais próximo de um posto policial – especializado na coação aos sindicalistas – do que um órgão de fiscalização das condições de trabalho. Se não me falha a memória, nosso 1º de maio em 1979 não foi lá essas coisas. Mas foi um marco, pois estudantes e sindicalistas trabalharam juntos. No ano seguinte, a coisa andou. A comemoração independente foi se liberando das amarras da Delegacia do Trabalho.

EM 1980, O 1º DE MAIO teve ato montado na Praça do Pirulito, Centro de Maceió, perto do Palácio do Trabalhador (prédio construído por Muniz Falcão para sediar vários sindicatos – e que já deveria ter sido tombado como Patrimônio Histórico, mas aí é tema para outro artigo). No 1º de maio de 1980 o palanque foi uma carroceria de caminhão de onde saía um fio até o carro de som (uma perua Veraneio do Camerino ou do Jorge HI FI, não me lembro com exatidão), transmitindo os discursos. Freitas Neto, mais uma vez, pelo Sindicato dos Jornalistas, no comando, desta vez compartilhando a liderança com Adelmo dos Santos, presidente do Sindicato dos Radialistas, e Pedro Luís, presidente do Sindicato dos Urbanitários. Uma foto daquela noite, que não sei por onde anda, mostrava Freitas discursando e o jornalista Carlos Pompe erguendo um exemplar da Tribuna Operária como se fosse um cartaz, cuja manchete era – como sempre – uma palavra de ordem contra a ditadura. Tempos emocionantes, combativos.

COM A DEMOCRACIA, o 1º de maio foi se convertendo em showmício, às vezes só show. Minguou como ato de luta e conscientização. Resiste, sim, o sindicalismo combativo, mas sem a presença do passado recente. Vila Euclides, nem pensar. Em primeiro lugar, o mundo do trabalho é outro, isto é certo, e universos paralelos como o da uberização e da pejotização são reais. Em segundo lugar, no Brasil, o Partido dos Trabalhadores está no governo. E é necessário reconhecer que sindicalismo autêntico e governo amigo não têm conseguido, nestes anos todos, acertar o passo no fortalecimento e enraizamento de um movimento de massas combativo (isso exige um formato próprio, não criado até agora).

NO AR, PAIRA A SAUDADE dos primeiros de maio na Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, epicentro do movimento operário que projetou Lula para o infinito e além (como diria Buzz Lightyear). Em 1980, em Maceió, a Praça Sinimbu era ocupada por umas 500 pessoas (um feito, à época), e o estádio do ABC transbordava com uma multidão com mais de 100 mil ativistas no ato coordenado pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Lula. Bons tempos aqueles? Prefiro hoje, 45 anos depois, com Lula presidente da República, mesmo com um 1º de maio chocho. Mas que o movimento sindical de massas faz falta, ah, isso faz. E não só no Dia do Trabalho, falta mesmo faz todo dia.