Enio Lins

Um momento histórico, sem par, em 525 anos de existência do Brasil

Enio Lins 25 de abril de 2025

ERAM AS ELITES BRASILEIRAS, e suas camadas aderentes, viciadas na impunidade total e absoluta no quesito “golpes de Estado”. Eram. Não são mais desde as apurações, absolutamente inéditas, da tentativa de golpe ocorrida em 8 de janeiro de 2023. É fato este avanço, numa mudança radicalíssima de atitude. Uma virada histórica que merece ser elogiada dia sim outro também. Elogiada e apoiada diuturnamente, pois trata-se de um processo dinâmico, e forças poderosas, nada ocultas, seguem à espreita – e em crise de abstinência – desde a redemocratização, em 1985.

QUANDO O STF AVANÇA, cumprindo todos os ritos próprios da Constituição brasileira, no chamamento do feito à ordem, e vai dando os passos adequados, sem pulos nem pra frente nem pra trás, no indiciamento da súcia responsável pelo planejamento e pela tentativa de golpe de Estado (abolição violenta do Estado Democrático de Direito), o Brasil se enxerga, enfim, amadurecendo do ponto de vista ético, jurídico e cidadão. É um momento histórico de gigantesca relevância. Algo único em mais de cinco séculos de existência brasileira.

FOI MANCHETE IDÊNTICA em praticamente toda mídia brasileira no dia 22 de abril: “Por unanimidade, STF torna réus seis acusados de organizar tentativa de golpe”. Pequenas variações de texto concluíam “em 8 de janeiro”, “bolsonarista”, “contra Lula” etc. Complementos secundários em termos de título para uma reportagem. O alvo do golpe mesmo era a Democracia. Note-se que a ânsia golpista se potencializava desde a derrubada de Dilma em 2016, entrou em euforia com as manobras que levaram à eleição do mito coprófilo em 2018 e desabou no desespero com a derrota do ex-capitão em 2022. Em 8 de janeiro de 2023, capitaneados por alguém homiziado nas vizinhanças da Disney (nos Estados Unidos), tentaram o golpe. Perderam. E começam a pagar a fatura. Na data de comemoração dos 525 anos do achamento do Brasil, uma segunda patota de golpistas, meia dúzia de meliantes, descobriram que a Lei existe para ser cumprida.

QUEM SÃO OS SEIS GOLPISTAS tornados réus em 22 de abril? Silvinei Vasques (diretor da Polícia Rodoviária Federal em 2022), Marília Ferreira (então diretora de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF), Fernando Oliveira (delegado), Mario Fernandes (general da reserva), Marcelo Câmara (coronel da reserva), Filipe Martins (assessor presidencial de Jair Messias). Esse sexteto foi identificado como o “Núcleo 2” do comando subversivo, cada qual cumprindo missões específicas no organograma da tentativa de abolição violenta do Estado de Direto, acusados – com fartura de provas – pela PGR por “tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado”. Apesar dos autos centrarem nos acontecimentos do “domingo da vagabundagem” (8 de janeiro de 2023), há que se recordar a escandalosa e insolente atuação do (hoje réu) Silvinei Vasques em 30 de outubro de 2022. É um exemplo notório do golpismo pré-8 de janeiro.

ENTÃO DIRETOR-GERAL da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei, na cara de pau, se expôs ao colocar a PRF em ação no dia do segundo turno das eleições 2022. Bloqueios foram feitos nas rodovias federais, nas áreas onde a oposição havia obtido uma margem maior no primeiro turno. Ônibus que faziam o transporte (de forma legal) do eleitorado eram “parados para vistoria” e mantidos fora da estrada para que perdessem o horário de votação. Inconfundível – em empáfia e semelhança física com Ernst Röhm (1887/1934), nazista líder das Tropas de Assalto –, Vasques, naqueles dias, era a própria expressão do desprezo pela Lei, pleno na certeza da impunidade absoluta que emanava da história golpista brasileira. Ele tinha suas razões, era assim até aquela época. Mas, já era.