Enio Lins
E o Trump, hein, gente? Que bagunça danada o galego d’água doce está fazendo!

“QUAC!” – EXCLAMARIA DONALD, o pato, ao ver a desarrumação feita por Donald, o Trump, no capitalismo mundial. No universo de Walt Disney, tendo os vilões endinheirados como ponto de partida, o atual presidente dos Estados Unidos pode ser entendido como uma fusão do Tio Patinhas com João Bafo de Onça, ou – mais apropriadamente – um amálgama entre Pãoduro MacMônei (pato sul-africano, boer de origem escocesa, o maior rival do Tio Patinhas) com Scar (a fera malévola de “Rei Leão”).
SURPRESA NÃO É, mas muitos esperavam uma baderna menos radical. Tamanha está a barafunda que o espalhafatoso miliardário Elon, o Musk, até então maior parceiro de Donald, sumiu da mídia. Não é pra menos. Trump está querendo impor ao restante da terra um repeteco das repercussões mundiais do Crack de 1929, em benefício único (de determinados setores) da economia americana. Parece um Plano Marshall ao avesso, ou um New Deal para milionários.
COMO SABEMOS, o Plano Marshall (1948/1951) injetou dinheiro na Europa no pós-guerra financiando a reconstrução capitalista na região, evitando então o ascenso do socialismo, e aprofundando o domínio americano sobre a banda ocidental do Velho Mundo. Mais atrás, o New Deal
(1933/1939) foi um intervalo social no pensamento liberal, com o governo Franklin Roosevelt intervindo na economia estadunidense para evitar a destruição das suas classes médias e da sua burguesia de menor porte, que estavam ambas – e a maioria do povo norte-americano – sob insuportável esmagamento causado pelo cataclisma financeiro de 1929. Em 2025, faltando apenas quatro anos para completar um século do maior tropeço mobiliário do capitalismo mundial, e a 80 anos da derrota no nazifascismo, Trump quer quebrar o resto do globo para restaurar a opulência solitária dos milionários ianques.
ENGANA-SE QUEM PENSA ser pura maluquice a estratégia trumpista. Tem objetivo e método: é o big stick, de Theodore Roosevelt, em formato big techs; ou a Doutrina Monroe reescrita por Steve Bannon. Objetiva detonar a atual ordem mundial que cede (cedia) alguns espaços às negociações multilaterais – onde grupos de países conseguem condições mais vantajosas – para impor transações bilaterais onde os Estados Unidos, naturalmente, impõem suas regras e levam a parte do leão, da leoa, dos bacurinhos e das hienas. Trump é a expressão legítima da desfaçatez de quem tem os dentes mais afiados, quer tudo para si, no velho modelo imperialista, sem essas conversas-moles de “liberdade de mercado”, “Estado não-intervencionista”, “multilateralismo capitalista”, “nações amigas”, “mundo livre” etc. É o entendimento redivivo de Sir Francis Drake (1540/1596) sobre o “livre comércio” em pleno século XXI.
CHORAM OS CRENTES no livre-mercado. No Estadão: “China não é santa no comércio, mas Trump faz liberalismo econômico passar vergonha”, “Tarifaço de Trump encerra o século americano e inicia o século chinês”, “Pausa em tarifa afasta temor de recessão”. N’O Globo: “Tarifaço de Trump vai implodir as cadeias produtivas globais e gerar inflação com estagnação”. Na Folha: “Trump assina decreto sobre pressão de água e diz que leva 15 minutos para molhar [seus] ‘lindos cabelos’”. Donald, em verdade, repete a estratégia de inundar a mídia com atos estapafúrdios, declarações bombásticas e patéticas, atraindo toda atenção para si, e – nesse carnaval de impropérios – vai definindo os passos que realmente serão dados. O fato é que ele desmoraliza mitologias sobre o liberalismo econômico e sobre o “intangível caráter democrático” dos Estados Unidos. Assume-se como argentário, autoritário, reacionário, ordinário, hilário, temerário e quer fazer de otário o resto do planeta. Diz ele que o mundo está lhe beijando a bunda por acordos comerciais. Pois é, vamos ver o que o mundo, ao fim e ao cabo, fará com o traseiro de Donald.

Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.