Enio Lins
Bolsonarismo é antipatriotismo em sua forma mais abjeta

SERIA TÃO-SOMENTE PATÉTICA, não fosse extremamente grave, a atitude do deputado federal vulgo “Dudu Bananinha” e/ou “Zero-três” em pedir licença do mandato para se homiziar nos Estados Unidos. É um direito democrático, sim, se autoexilar. Ativistas à esquerda, à direita e ao centro sempre fizeram isso como gesto de protesto. O problema é que o filho do Zero-zero justifica sua temporada em solo americano para liderar uma campanha pela intervenção estrangeira em nosso país.
EXTREMAMENTE PERICULOSO é o gesto do deputado porque ele oferece seu país como prenda para os Estados Unidos, exatamente quando aquela superpotência padece do agravamento de uma velha enfermidade moral e política, crônica, de se achar dona do mundo e de se sentir na obrigação de invadir nações alheiras para satisfazer seus próprios interesses. E muitos são os interesses dos extremistas estadunidenses, hoje no poder, contra a autonomia brasileira. Inclusive, tanto o atual presidente americano, Trump, quanto seu parceiro Musk tentaram acionar na justiça americana o Ministro Alexandre de Moraes – ações que “floparam”, conforme preconizam as leis norte-americanas, mas o afã intervencionista é escancarado. É nessa onda liberticida, no geral, e antibrasileira, no particular, que o citado deputado quer surfar.
LITTLE BANANA, O DEPUTADO que já está nos Estados Unidos antes mesmo de pedir licença de seu mandato, se jacta de ser “amigo pessoal” de familiares de Donald – mas nem Zezinho, Huguinho ou Luizinho conseguiram convites pro parça entrar na posse do parente como presidente, e restou a Dudu, acompanhado da madrasta Micheque e outras celebridades bolsonaristas, comemorar (debaixo da neve) no meio da rua. O dito, filho do mito, afirma ter pilotado um carrinho de cachorro-quente pelas esquinas de Portland, Oregon. Diz ele. Mas, nestes dias em curso, Dudu se tornou um vendedor ambulante da cachorrada-quente de convencimento de poderosos americanos (juízes, parlamentares, mídia, máfia...) da ideia de intervir no Brasil. Assumiu-se como gigolô da Pátria.
“YES, NÓS TEMOS BANANAS” – É o canto de sereia do Dudu nos inferninhos ianques. “Bananas pra dar e vender/ Banana menina tem vitamina/ Banana engorda e faz crescer” cantarola aquele pequeno notável, se achando uma Carmen Mirada reencarnada em versão de extrema-direita e antipatriótica (a cantora original jamais entraria numa dessa, como protestou, em 1940, na canção “Disseram que voltei americanizada”). Zero-três, cheio de balangandãs fake news, e, à título de turbante, o boné vermelho “Make America Great Again”, vai sapatear nos portões de quartéis e bordéis americanos, rogando por uma intervenção, quiçá invasão, para evitar que o papito dele preste contas à Justiça e venha a ver o sol nascer quadrado tal qual em 1986 (quando, ainda sujando a farda das forças armadas, insubordinado e indisciplinado, alardeava planos terroristas).
NÃO É UMA BRINCADEIRA de filhinho mimado o autoexílio de Dudu nos States. O bolsonarismo aposta na possibilidade de reverter a desaprovação americana à proposta de golpe de Estado no Brasil. Essa objeção ianque foi explicitada publicamente durante o mandato de Jair Messias (2019/2022), conforme lembra Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV: “A partir da reunião com Jake Sulivan [embaixador dos Estados Unidos] e Bolsonaro no final de 2021, o governo americano começou a fazer um mapeamento para identificar as maiores vulnerabilidades da democracia brasileira. E iniciou desenhar um plano para uma campanha de pressão para garantir que as Forças Armadas brasileiras, [e] que Bolsonaro, aceitariam o resultado das eleições". A entrevista de Stuenkel está disponível no site globo.com. Voltaremos ao tema, ele merece.

Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.