Enio Lins
Palmeira dos Índios & Graciliano: um exemplo a ser seguido

VOLTAMOS AO TEMA abordado na quinta passada, 13 de março: O 1º Encontro de Gracilianistas. Realizado em Palmeira dos Índios, começou ontem e prossegue até amanhã. Três dias básicos para um projeto grandioso, ideia sem data de validade determinada, e indicada para uso sem moderação.
DOUGLAS APRATTO TENÓRIO, maior historiador alagoano em atividade, foi o nome escalado para a aula-magna de abertura do evento. Não é um acaso nessa história. Escrevo a coluna horas antes da palestra do autor do antológico “A Metamorfose das Oligarquias”, mas com plena segurança para assegurar a alta qualidade do que será exposto, considerando a profundidade dos conhecimentos do palestrante sobre Graciliano Ramos, Educação, Cultura – e, no particular, interiorização do Ensino Superior. Afinal, não é uma coincidência fortuita o Encontro Gracilianista estar sendo realizado no Campus Sertão do CESMAC, em Palmeira dos Índios.
INTERIORIZAR É PRECISO. Alagoas tem ótimos exemplos dessa política ao longo da história, como no caso do Festival de Verão de Marechal Deodoro e do Festival de Cinema de Penedo, pioneiros há meio século, eventos de grande porte que legaram grandes lições, sendo a principal delas a retomada da programação cinematográfica penedense pela UFAL & prefeitura local. E temos mais: Desde a década de 80, a agenda do 20 de Novembro coloca União dos Palmares no centro das solenidades do Dia Nacional da Consciência Negra. E o 28 de Julho traz, todo ano, para Piranhas, a memória do Cangaço – em mobilização coordenada por Expedita e Vera Ferreira, respectivamente filha e neta de Maria Bonita e Lampião. Infelizmente descontinuadas ao longo das décadas, ações (regionais e nacionais) uniram nomes e fatos históricos às suas cidades, como Jorge de Lima & União dos Palmares, Calabar & Porto Calvo, Delmiro Gouveia & Delmiro Gouveia. Descentralizar o fazer cultura, com eventos de abrangência universal, é indispensável.
REALIZAR AGENDAS ATRAENTES noutras cidades, além da capital do Estado, é democratizar – também – a agenda econômica. Quanto mais municípios forem base de programações de interesse geral, melhor. Obviamente, isso se aplica para todos os campos e não só aos territórios da arte & cultura – mas como o mote desta coluna hoje, tomando como base o Encontro de Gracilianistas, vamos seguir nesse foco cultural. A própria Palmeira dos Índios, como o nome bem diz, poderia sediar eventos periódicos com a temática dos povos originários, e para continuar nas celebridades nacionais palmeirenses, a cidade pode muito bem abrigar agendas em torno de Jofre Soares, e – por que não? – ter Tenório Cavalcanti também como alvo. E mais: São Luiz do Quitunde tem Pontes de Miranda, Passo de Camaragibe tem Aurélio Buarque de Hollanda, Marechal Deodoro tem toda família Fonseca e os Tavares Bastos (pai e filho), Pilar tem Arthur Ramos (e pode reivindicar Jararaca), Satuba tem Hekel Tavares, São Miguel dos Campos tem o Visconde de Sinimbu, Penedo tem o Barão de Penedo, Arapiraca e Lagoa da Canoa podem celebrar Hermeto Pascoal em vida... isso só para falar nos nomes mais conhecidos nacionalmente – e sem citar estrelas radiosas nascidas em Maceió.
EM RESUMO: NÃO FALTAM motes a Alagoas para interiorizar eventos permanentes capazes de atrair os públicos mais variados em torno de personagens relevantes. Basta apostar na força (indiscutível) de nomes cuja vida e obra tenha capacidade de gerar estudos e debates. Naturalmente, eventos como o Encontro de Gracilianistas não caem do céu, nem brotam do chão espontaneamente. São frutos de trabalho árduo: precisam ser semeados, adubados, apartados das ervas daninhas e das pragas, para, enfim, vir a colheita. Solo fértil e sementes nos sobram, só falta quem plante, cuide e colha.

Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.