Enio Lins
Em boa hora, um ótimo exemplo em torno da obra de Cacá Diégues

COMEÇOU ONTEM, NO CINE ARTE PAJUÇARA, a programação “O Brasil de Cacá Diégues”. A iniciativa vai muito além do tributo pretendido, superando o evento e se constituindo num exemplo para outros entes privados e, mui especialmente, para os poderes públicos.
ESTÁ DE PARABÉNS O MARCÃO (Marcos César Sampaio), um gigante da nossa Cultura, nome especialmente vinculado ao cinema, e responsável pelo continuado funcionamento de duas salas (alternativas) de exibição em Maceió, o Cine Arte Pajuçara, hoje abrigando espaço teatral, galeria e livraria. Destaque-se que esta experiência é única na história dos cinemas alagoanos, e tem conseguido superar todos os obstáculos, e sobrevivido a todas as crises de financiamento ao longo de mais de quatro décadas, desde sua fundação em 1984. Marcão tem seu nome ligado àquele espaço a partir da derradeira década do Século XX: entre 1990 e 1997, pela empresa Art Filmes; de 2006 a 2013, pelo Cine Sesi, e de 2013 em diante (ad aeternum, torço eu) como criador e gestor do Arte Pajuçara. São 35 anos de luta em defesa de uma causa. É um herói.
ESTA PROGRAMAÇÃO, de 10 a 14 de fevereiro, envolve seis filmes e uma mesa-redonda (realizada na segunda-feira, com Carlito Lima, Edson Bezerra e Celso Brandão). Foram selecionadas seis películas, exibidas na seguinte ordem: Segunda-feira, dia 10, “Oito Universitários” (produzido em 1967); terça, 11, “Joana Francesa” (1973); quarta, 12, “Xica da Silva” (1976); quinta, 13, “O Maior Amor do Mundo” (2006); sexta, 14, programa duplo, com “Chuvas de Verão” (1978) e “Bye Bye Brasil” (1979). No caminhar desta semana, esta coluna vai relembrar algumas dessas obras cinematográficas, todas antológicas, como todos sabem. Aguardem cartas.
ALÉM DESTA AGENDA 10-14 de março, a proposta da mostra “O Brasil de Cacá Diégues”, repito, é um grande exemplo a ser seguido, e de forma permanente. Outros entes culturais (públicos e privados), na Capital e nos demais municípios, podem e devem fazer suas programações em torno do legado de Carlos José Fontes Diegues, o Cacá. Ao longo de mais de meio século de produção, Cacá Diégues não só fez história como um dos maiores cineastas brasileiros, como, em praticamente toda sua obra, inseriu, de alguma forma, Alagoas. Seja na inspiração, seja nas locações, seja no elenco, seja numa canção, Alagoas está representada em cada filme dele. Essa presença não se manifesta apenas de forma explícita, como em “Bye Bye Brasil” e “Deus é Brasileiro”. Em alguns casos, são lendas urbanas (e rurais), ou com aparições de rostos alagoanos em filmes sobre temáticas outras, como o largo sorriso (de relance) de Beto Leão em “Xica da Silva”, ou o protagonismo de Jofre Soares em “Chuvas de Verão”.
REEXIBIR FILMES DE CACÁ DIÉGUES é uma obrigação cidadã e educacional alagoana. Precisa ser agenda e política perenes. Várias de suas produções, como “Joana Francesa”, “Ganga Zumba” e “Quilombo”, são aulas de história, sociologia, política e economia de Alagoas. Todo ano, em todo recando deste Estado, deveria ser iluminada uma tela de exibição com algum filme de Cacá Diégues; e, sempre, com algum debate associado, pois cada um dos enredos dieguianos é tema de estudo, de discussão. Casas como o Museu da Imagem e do Som, Arquivo Público Estadual, entidades do Governo do Estado, assim como órgãos culturais e educacionais das prefeituras municipais, precisam se inspirar nesta iniciativa do Cine Arte Pajuçara – que, inclusive, pode e deve ser estendida para outros diretores, como Nelson Pereira dos Santos e Leon Hirszman, em cujos currículos constam obras-primas do tipo “Vidas Secas” e “São Bernardo”. Filmes não faltarão, afinal Alagoas é coisa de cinema.

Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.