Petrucia Camelo

À FLOR DE MARÇO

Petrucia Camelo 07 de março de 2025

Levanta-te, ó imagem de mulher, que seduz! A hora é vida, é luz, é o que se quer, o que se tem, o que se é, o que não se acredita que possa mais existir, o que reflete o olhar de mundo. Encontra no outrem o que tem significados próprios, o que constrói, desconstrói. Ah! espelho da íris em exposição desdobrável, que espelha dons, conforta, desconforta ou, mais ainda, guarda, torna-se um olhar sereno de altar, eterno, que nem o tempo o desmonta!

A mulher é um ser humano capaz, com dose altíssima de sensibilidade a acordá-la no dia, com a alma a inspirar ares de espera de felicidade, que acredita que tudo pode ser criado, revisto, reinventado, um ser que escuta o som da palavra na busca da paz.

A idade feminina leva aos mistérios existenciais. Não promove fronteira e, sim, universo, como se estivesse a retirar os véus onde se refugia, atravessando o mundo. O tempo é uma composição de véus que cobrem a alma a render-se ao pranto, ao canto, ao amor, a construir a sabedoria tal qual o artista na arte manifesta da imagem, que dormita na face bruta da madeira, da pedra, do metal, da ancestralidade.

Sem priorizar a sensualidade e a nudez, a natureza feminina alteia-se em voos a receber a luz em sonhos diversos. Busca no regaço da sensibilidade os sentimentos expressos no canto de ninar, da saudade, do lamento, das asperezas do caminho até a contemplação; ascende ao sagrado em contas de terços e de rosários passadas, contorcidas, com dedos molhados de lágrimas, mesmo sabendo que os céus também enganam.

Acompanha o bulício das folhas sopradas pelo vento, sente o manejo do mar, com a alegria de acolhimento ouve passos retumbantes da volta sob a iluminação do céu, chega junto ao tremular do cair das pétalas soberbas presas em jarros sobre a mesa, e em alcova de cetim ou em quarto de cortiço, faz-se intermediária entre o homem e Deus e logo expulsa o feto de suas entranhas. Mas continua a descer à condição humana, acompanhada do tilintar de taças de vinho, a sorver em brindes o néctar da uva, continuando a embriagar-se de sonhos de amor que, em frêmitos de prazer, dor e suor, fazem com que ela descanse em sono reparador.

Segredos femininos, guardados a sete chaves em um quarto calafetado de cuidados, cheirando a jasmim, proibida a entrada de estranhos; há ali preparos de alquimia, que dá forma às formas do cuidar de si mesma, de cuidar de amar, de amar-se. Mas o sol, de vez em quando, penetra pelas treliças e desbota o vivaz da fantasia guardada, construída pelos sonhos e pelo tempo vencida.

O grande espelho monta guarda, capta a iluminação do sol que ilumina o desfilar das imagens da contemplação. E, como se falasse, diz com sabedoria que há sempre a necessidade de novos modelos, do abrir e fechar gavetas, portas de armários, de folhear páginas no sentido de encontrar a moda da renovação, recebidos como presente em embrulho de papel de seda, no modelo da variedade da cor das estações.

Quando a dúvida leva os dias de convívio a ficarem penosos, ultrapassando a medida do conhecimento e da tolerância, o feminino não abre mão do que é belo, pois a mulher, como portadora do amor, impõe-se, não desiste de si mesma. Induzida à persistência por sua natureza, continua acreditando em aptidões, em méritos e, nessa luz evidente, constrói imagens de fascínio.

Mesmo que se sinta como a seda em mãos grosseiras, acredita que o amor que planta poderá um dia ser colhido, nem que seja por alguns instantes; mas o avesso do avesso poderá também levar à morte que, escondida como serpente no arbusto, poderá apresentar-se abruptamente, covardemente furtando o instante que seria de futuro contemplado.

Mulher! Responde ao intelecto, alimentando o preparo do mês de março que te homenageia, dizendo que, consagrada, transcendes, fazes jus à condição feminina!