Enio Lins

Maceió, a Lagoa da Anta, e a tresloucada anarquia imobiliária

Enio Lins 14 de fevereiro de 2025

SEGUNDO O JORNALISMO INVESTIGATIVO local, avançam a todo vapor, e na surdina, os conciliábulos para o que pode vir a ser um tremendo golpe ambiental, patrimonial e urbanístico contra a capital alagoana. Pelo noticiado no G1, e TV Gazeta, no dia 6 deste mês, “Negociações sobre venda do Hotel Jatiúca, em Maceió, e projeto de novo empreendimento na Lagoa da Anta seguem sob sigilo”.

DIZ MAIS A REPORTAGEM: “Projeto prevê construção de cinco torres com 15 andares no local. Ambientalistas se preocupam com a descaracterização da Lagoa da Anta”. PQP! – como bradaria o saudoso Pasquim, com suas siglas dribladoras da censura vigente nos anos 70. Quinze andares não são moleza, e vezes cinco, teremos 75 (setenta e cinco) pavimentos, algo assustador, mesmo sem saber agora quantos apartamentos serão ofertados em cada piso. Esse número, ainda incerto, para efeito de cálculo genérico, deve ser multiplicado por – no mínimo – dois veículos por apartamento (ou além, pois quanto maior a área da residência se depreende que seus proprietários disponham de vários carrões). Imaginem agora essa frota extra de automóveis somada ao já engarrafado e atabalhoado trânsito entre Cruz das Almas, Jatiúca e Mangabeiras...

APOIS PARECE QUE JATIÚCA e adjacências se desencaminham para transitar do caos ao armagedon em termos de mobilidade urbana. Explica a prestativa Copilot, inteligência artificial gratuita do Windows: “Embora ambos os termos descrevam condições extremas, ‘caos’ e ‘Armagedon’ diferem significativamente em suas implicações e contextos de uso. O caos representa desordem e confusão que, embora perturbadoras, ainda permitem a possibilidade de recuperação e restauração. Armagedon, por outro lado, evoca a imagem de uma destruição apocalíptica final, sem chances de retorno à normalidade”. A ferramenta não conhece ainda as vizinhanças da Lagoa da Anta, mas acertou na configuração de como é e como ficará o trânsito naquela área no caso dessa quíntupla ameaça se concretizar. Acrescente-se ser o cenário caótico um traço característico do Litoral Norte maceioense, onde torres arranham os céus sem terem os pés devidamente fixados na terra de um planejamento urbano minimamente responsável.

E A LAGOA DA ANTA? Desde seu nascimento, o Hotel Jatiúca despertou preocupações acerca da privatização da pequena alagoa, problema amenizado pela utilização pública do empreendimento hoteleiro, tradicionalmente aberto a visitantes ali não hospedados. E aos transeuntes nunca foi obstado o acesso a, pelo menos, parte da ponta sul da laguna, onde crianças seguem timbungando como nos velhos tempos. E, justiça seja feita, o hotel dos Lundgren preservou a saúde da lagoinha, repovoando-a com algumas espécies de peixes e até umas simpáticas tartarugas. Imagina-se que a relação das cinco torres de 15 andares e suas centenas de condôminos/proprietários sofrerá drástica transformação, assomando o risco de eliminação completa do uso público remanescente naquele acidente geográfico natural, a menor e mais simpática das muitas alagoas que deram nome ao Estado. O perigo da privatização absoluta da Lagoa da Anta e da faixa de praia correspondente ao atual Hotel Altesa Jaitúca precisa ser alvo de atenção especialíssima e de novos termos de uso capazes de assegurar o livre acesso público ao local – no caso desse desastre anunciado da instalação das cinco torres vir a acontecer.

LUTAR PARA QUE A LAGOA DA ANTA não venha a ser surrupiada de vez à população é um dos objetivos desta batalha cidadã, assim como evitar a subversão da ambiência urbana, preservando a harmonização (a horizontalidade é outro mérito do antigo projeto do Hotel Jatiúca) naquela área emblemática de Maceió. São as tarefas cidadãs da hora.