Enio Lins

Uma visita rápida à tal inteligência artificial: a coisa não é brinquedo não

Enio Lins 22 de janeiro de 2025

Principiarei com uma paródia medíocre d’A Banda, do grande Chico: “Estava à toa na vida/ o computador me chamou/ pra ver a IA passar/ contando coisas sem calor”. Não sei, mas só sei que foi assim: ao abrir a página para escrever a TIC TAC, o word postou um ícone no alto da folha imaculada. Era um convite para usar uma ferramenta de inteligência artificial. O programa já tinha feito essa intromissão mais de uma vez, e nunca dei trela, mas – curioso e buscando inspiração, fui lá e ultrapassei o umbral: desafiei a dita cuja escrever um texto sobre “A importância do governo Lula melhorar sua comunicação”.

TEXTO ARRUMADO
De repente, nem cheguei a cronometrar os segundos, a ferramenta IA sapecou um texto com 3.382 caracteres contados com espaços, divididos em 15 parágrafos curtos, com 14 intertítulos. Normalmente escrevo entre 3.550 e 3.590 caracteres contados com espaços, compartimentados em coisa de quatro parágrafos, com três intertítulos. Pois não é que a enxerida leva jeito? Prestou atenção em como escrevo. Algoritmo é algo sério, comprovei. Vigia detalhadamente qualquer vivente que ouse passear no cyberespaço, como denunciam as teorias da conspiração. Naturalmente, ao texto artificial falta algo, falta alma, mas parecença tem com o escrevinhar humano, de fato.

RESULTADO SATISFATÓRIO
Querendo ocupar meu lugar, a IA formulou o seguinte parágrafo, com cinco linhas, dentre as 48 linhas totais do artigo (escrevo, quase religiosamente, 45 linhas no total): “Educar e conscientizar a população sobre as políticas públicas e suas implicações é uma tarefa contínua. Campanhas informativas sobre temas como saúde, educação, meio ambiente e economia devem ser conduzidas de forma a alcançar populações diversas, inclusive as mais vulneráveis. A linguagem utilizada deve ser acessível e inclusiva, evitando jargões técnicos que possam alienar partes da população”. Para esse trecho, ela usou como intertítulo “Educação e Conscientização”. Danadinha, quer meu emprego!

QUER PILOTAR
Copilot é o nome dessa ferramenta. Mas a copilotagem é eufemismo, manha. Ela quer mesmo é pegar o manche e voar por conta dos interesses das big techs... Tô ligado. Mas podemos trabalhar em parceria, de vez em quando, caso a IA se adapte aos limites de fazer pesquisas e corrigir o vernáculo. Porém, o conteúdo será sempre produto da desinteligência natural deste periodista que vos escreve – jornalismo não é só informar, é posicionamento. É sentimento. É coisa humana. É responsabilidade. Em relação à IA, comecei a me sentir com um copiloto etéreo ao meu lado, um ectoplasma envolvente pronto a pegar minha mão e psicografar opiniões de outrem, superficialmente parecidas, maliciosamente dispersivas, inócuas. Fia da peste! Arrisquei mais um teste e pedi pr’ela dissertar sobre “Principal perigo de Trump para o mundo”. Cronometrei! Em 9,52 segundos a ferramenta respondeu: “Copilot não pode gerar conteúdo de alta qualidade para isso. Altere sua descrição e tente novamente”. Alterei para “Principal perigo de Trump para o mundo como presidente da maior superpotência mundial com discurso supremacista e belicista” – em 9,52 segundos veio a resposta: “Copilot não pode gerar conteúdo de alta qualidade para isso. Altere sua descrição e tente novamente”. Tento nada! Já entendi. A coisa é trumpista, já vi. Vou ter mais cuidado com essa alma penada que, já percebi, vai ficar circulando no éter, procurando uma oportunidade para baixar no terreiro como uma entidade perversa, traquina, procurando fazer meu computador de cavalo. Esconjuro, coisa solerte. Tô de olho.