Petrucia Camelo

DIAS E NOITES DO ANO NOVO

Petrucia Camelo 17 de janeiro de 2025

Não somente os dias, mas também as noites continuarão como se fossem uma paixão renovada, inspirada em um concerto de violão de 7 cordas, acompanhado de violinos nos meandros das horas que se esvaziam ou se completam ou fazem a hora. Os dias e as noites se expõem no palco do tempo apresentando um ballet coreografado de possibilidades que se apresenta a uma plateia indefinida, porém, constante, que nem sempre aplaude, mas também ri ou chora.

Novos dias, novas noites do novo ano se aproximam, revezamse, revestem-se, estendem-se e acontecem a se fazerem olhar como se rendessem aos caprichos dos deuses das imagens de espelhos, até retrógradas, mas multicoloridas, renováveis de esperanças, ou mesmo cinza como a tristeza assentada na mesa de bar curtindo uma viuvez. Ao derredor, anjos mensageiros trazem e levam notícias, transmitem as violações ocorridas no acontecer dos dias, das noites, mas ainda há a espera de notícias alvissareiras. E quem não as espera?

Porém, os acontecimentos dos novos dias e noites não fazem esquecer os registros da historicidade dos primórdios: cavernas, feras e homens indomáveis; agora, vivencia-se outra era, com restrição: não há mais abrigos em cavernas, mas há feras nas ruas,
em prisões, em fortalezas, em gaiolas de ouro; sim, há homens e homens apresentando a barbárie da natureza humana de fera.

Mas a humanidade continua o mundo, nos dias, nas noites, em tempos vários, escrevendo a hora em seus diários, fazendo história, indo ao encontro do que fascina, sem se preocupar em prender-se ao ficar e nem ao passar adiante. Vivencias as horas, que passam como a correnteza de um rio; coisa alguma a prende colocando o funcional, amoroso, religioso à mercê do ser humano que, por vezes e por engano, à maneira irresponsável, canta, pensando em aproveitar o tempo presente, buscando a felicidade em pedestais, mas, para aqueles a quem não satisfaz, dos feitos ficam as sequelas; daí o desencanto, a morte do sonho, da vida perdida.

Dias e noites de um novo ano, há o quê, espera-se o quê? Angústia, talvez, para fazer surpreender o que é apenas uma pequena alegria, nas há os que creem no mundo, pois cavam poços de realizações com competências; há almas novas caminhando à procura de bússolas, da crença de valores, acreditando no esforço, na vontade das horas, para aprender; há quem aproveita as horas para ver o aspecto cordial da natureza; há quem sofre os efeitos das catástrofes, durante o ano inteiro; há quem acende lampiões, apenas com a palavra. Isso faz continuar acreditando na esperança.

No primeiro dias e noite do ano novo, logo se pensa na felicidade das realizações, e, sem saber onde exatamente ela se encontra, e nem quando irá chegar, e nem por quanto tempo ela irá ficar, promovem-se horas de espera dolorosa e, mais ainda, incompreendida, até mesmo porque, às vezes, não se percebe que a felicidade é como a violeta, que vive escondida entre a folhagem.

A felicidade pode estar presente há muito tempo, camuflada nos questionamentos humanos: desbotada pelas vivências, torturada pelas dúvidas, obcecada pelo desejo de mudança da natureza do outrem, escondida pelo tapume de uma construção torpe, fragilizada por materiais descartáveis e não há coisa alguma que a faça apresentar-se

Entretanto, mesmo assim, com as dificuldades para a prática das realizações, para a permanência da felicidade, os programas e projetos viáveis prometem novos dias e noites, pois não obstam o retorno, o desempenho, a redescoberta da felicidade; basta que se renovem as intenções, que se reavalie o até então. Daí, surge o encanto do momento, do sonho e da vida que prioriza todo o fazer, pois a vida está mais além do que se vê, do que se pensa, do que se tem, do que se atribui a dias e noites de um novo ano.