Petrucia Camelo
DIAS E NOITES DO ANO NOVO
Não somente os dias, mas também as noites continuarão como se fossem uma paixão renovada, inspirada em um concerto de violão de 7 cordas, acompanhado de violinos nos meandros das horas que se esvaziam ou se completam ou fazem a hora. Os dias e as noites se expõem no palco do tempo apresentando um ballet coreografado de possibilidades que se apresenta a uma plateia indefinida, porém, constante, que nem sempre aplaude, mas também ri ou chora.
Novos dias, novas noites do novo ano se aproximam, revezamse, revestem-se, estendem-se e acontecem a se fazerem olhar como se rendessem aos caprichos dos deuses das imagens de espelhos, até retrógradas, mas multicoloridas, renováveis de esperanças, ou mesmo cinza como a tristeza assentada na mesa de bar curtindo uma viuvez. Ao derredor, anjos mensageiros trazem e levam notícias, transmitem as violações ocorridas no acontecer dos dias, das noites, mas ainda há a espera de notícias alvissareiras. E quem não as espera?
Porém, os acontecimentos dos novos dias e noites não fazem esquecer os registros da historicidade dos primórdios: cavernas, feras e homens indomáveis; agora, vivencia-se outra era, com restrição: não há mais abrigos em cavernas, mas há feras nas ruas,
em prisões, em fortalezas, em gaiolas de ouro; sim, há homens e homens apresentando a barbárie da natureza humana de fera.
Mas a humanidade continua o mundo, nos dias, nas noites, em tempos vários, escrevendo a hora em seus diários, fazendo história, indo ao encontro do que fascina, sem se preocupar em prender-se ao ficar e nem ao passar adiante. Vivencias as horas, que passam como a correnteza de um rio; coisa alguma a prende colocando o funcional, amoroso, religioso à mercê do ser humano que, por vezes e por engano, à maneira irresponsável, canta, pensando em aproveitar o tempo presente, buscando a felicidade em pedestais, mas, para aqueles a quem não satisfaz, dos feitos ficam as sequelas; daí o desencanto, a morte do sonho, da vida perdida.
Dias e noites de um novo ano, há o quê, espera-se o quê? Angústia, talvez, para fazer surpreender o que é apenas uma pequena alegria, nas há os que creem no mundo, pois cavam poços de realizações com competências; há almas novas caminhando à procura de bússolas, da crença de valores, acreditando no esforço, na vontade das horas, para aprender; há quem aproveita as horas para ver o aspecto cordial da natureza; há quem sofre os efeitos das catástrofes, durante o ano inteiro; há quem acende lampiões, apenas com a palavra. Isso faz continuar acreditando na esperança.
No primeiro dias e noite do ano novo, logo se pensa na felicidade das realizações, e, sem saber onde exatamente ela se encontra, e nem quando irá chegar, e nem por quanto tempo ela irá ficar, promovem-se horas de espera dolorosa e, mais ainda, incompreendida, até mesmo porque, às vezes, não se percebe que a felicidade é como a violeta, que vive escondida entre a folhagem.
A felicidade pode estar presente há muito tempo, camuflada nos questionamentos humanos: desbotada pelas vivências, torturada pelas dúvidas, obcecada pelo desejo de mudança da natureza do outrem, escondida pelo tapume de uma construção torpe, fragilizada por materiais descartáveis e não há coisa alguma que a faça apresentar-se
Entretanto, mesmo assim, com as dificuldades para a prática das realizações, para a permanência da felicidade, os programas e projetos viáveis prometem novos dias e noites, pois não obstam o retorno, o desempenho, a redescoberta da felicidade; basta que se renovem as intenções, que se reavalie o até então. Daí, surge o encanto do momento, do sonho e da vida que prioriza todo o fazer, pois a vida está mais além do que se vê, do que se pensa, do que se tem, do que se atribui a dias e noites de um novo ano.
Petrucia Camelo
Sobre
Petrucia Camelo é Assistente Social, nasceu em Viçosa-AL. Casada com o médico e escritor Arnaldo Camelo. Possui 14 livros publicados, dois livros premiados. Pertence a Academia Alagoana de Letras. Sócia Honorária do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Sócia da UBE-PE. Fundadora e Presidente do Clube Café, Vinho e Arte - CCVA.